Psicanálise
Acredita-se geralmente, que a psicanálise renovou o interesse tradicionalmente atribuído aos eventos da existência para compreender ou interpretar o comportamento e as obras dos homens excepcionais.
Isso não é verdade, e Freud sobre isso, é categórico: “Quem quiser se tornar biógrafo deve se comprometer com a mentira, a dissimulação, a hipocrisia e até mesmo com a dissimulação de sua incompreensão, pois a verdade biográfica não é acessível e, se o fosse, não serviria de nada”.(carta a A. Zweig, de 31 de maio de 1936).
SIGMUND SCHLOMO FREUD, nasceu em 06 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia (atualmente Pribor, Checoslovaqia), nascido em uma família de abastados comerciantes judeus, Freud sempre se destaca a complexidade das relações intrafamiliares. Seu pai, Jakob Freud, casou-se pela primeira vez, aos dezessete anos, e teve dois filhos- Emmanuel e Philippe.
Jakob Freud, viúvo casa-se novamente com Amália Nathonson, de vinte anos, idade do segundo filho de Jakob.
Freud será o mais velho dos oito filhos do segundo casamento de seu pai, e seu companheiro preferido de brinquedos foi seu sobrinho, que tinha um ano a mais do que ele. Quando tinha três anos, a conjuntura econômica provou uma queda dos rendimentos familiares e a família precisou deixar Freiberg, indo se instalar em Viena, onde jamais iria encontrar as condições anteriores.
O pai de Freud, era rigoroso e autoritário. Quando jovem sentia medo e amor pelo pai. Sua mãe era protetora e amorosa, e ele tinha por ela um apego apaixonado. Esse medo do pai e a atração sexual pela mãe formam o que Freud mais tarde denominou Complexo de Édipo– que parece ter sido deixado de suas experiências e lembranças da meninice.
Um entre oito filhos, Freud cedo demonstrou grande capacidade intelectual, que a família tudo fez para encorajar. Seu quarto era o único da casa que tinha uma lâmpada de azeite, o que era uma iluminação melhor para o estudo do que as velas usadas pelos outros.
As outras crianças, pelas quais Freud demonstrava considerável ressentimento, não podiam estudar musica para que sua prática não perturbasse o jovem estudioso.
Foi um aluno mito bom em seus estudos secundário, e foi sem uma vocação especial que começou estudar medicina. Devem se destacar duas coisas, uma ambição precocemente formulada e reconhecida, e “o desejo de contribuir com alguma coisa, durante sua vida, para o conhecimento da humanidade” (psicologia dos Estudantes, 1914).
Sua curiosidade, “que visava mais às questões humanas do que as coisas da natureza” (Um Estudo Autobiográfico, 1925), leva-o a acompanhar, ao mesmo tempo, durante três anos, as conferências de Franz Brentano, varias delas dedicadas a Aristóteles.
Em setembro de 1886, depois de um noivado de vários anos, desposa Martha Bernays, com quem terá cinco filhos. Em 1883, é nomeado docente privado (que equivale na França, ao titulo de mestre conferencista), e professor honorário em 1902.
Apesar de todos os tipos de hostilidade e dificuldades, Freud sempre se recusará a abandonar Viena.
Foi somente pela pressão de seus alunos e amigos que irá finalmente partir para Londres.
Freud entrou no Instituto de Fisiologia, dirigido por Ernest Brücke, após três anos de estudos médicos, 1876.
De 1884 e 1887, publicou vários artigos sobre cocaína.
Durante seu treinamento medico, Freud fez experiências com cocaína.
Usou-a, ofereceu a noiva, às suas irmãs e aos seus amigos, sendo responsável pela introdução da substância na pratica médica. Entusiasmado com ela, descobriu que a cocaína curava sua depressão e ajudava sua indigestão quase crônica. Freud estava convencido de ter encontrado uma droga milagrosa que curaria da ciática ao enjôo marítimo, e lhe daria a fama e o reconhecimento por qual ansiava.
Freud havia descoberto as propriedades analgésicas dessa substância, negligenciando as propriedades anestésicas, que seriam utilizadas com sucesso por K. Koller.
Freud foi criticado por defender o uso da cocaína e por desencadear essa peste no mundo. Pelo resto da vida, ele tentou deliberadamente apagar toda a herança do seu endosso à cocaína, chegando a omitir referências ao seu trabalho em sua biografia. Por muitos anos acreditava-se que Freud parara de usar cocaína dos dias da escola médica, mas dados descobertos da história, na forma de suas próprias cartas, revelam que ele usou a droga por ao menos dez anos, até a meia-idade.
Freud se formou em 1881, e no ano seguinte começou a praticar a neurologia clínica.
Freud se encontrava no inicio da década de 1880, na posição de pesquisador em neurofisiologia e de autor de trabalhos de valor, mas que não lhe permitia, por falta de assegurar a subsistência de uma família. Apesar de suas reticências, a única oferecida era abrir um consultório de neurologia na cidade, o que fez, de forma surpreendente no domingo de Páscoa-25 de abril de 1886.
Através de uma bolsa, conseguiu ir à Paris.
Foi assim que teve um encontro determinante com J. M. Charcot. Deve-se observar que Charcot não ficou entusiasmado pelos cortes histológicos que Freud lhe levou, como prova de seus trabalhos, nem pelo relato do tratamento de Ana O; cujos elementos clínicos principais, seu amigo J. Breuer lhe tinha comunicado, a partir de 1882, Freud começa a utilizar os meios de que dispunha, a eletroterapia de W. H. Erg, a hipnose e a sugestão.
Em 1890, consegue convencer seu amigo Breur, a escrever com ele uma obra sobre a histeria, considerada por muitos, o marco do início formal da psicanálise.
Naquela época, portanto, Freud abandonou a hipnose e a sugestão, pois inaugurou a técnica das associações livres.
Sua posição doutrinaria está centrado na teoria do núcleo patogênico, constituído na infância, por ocasião de um trauma sexual real, decorrente da sedução por um adulto.
Freud iniciou sua auto-analise em 1897, ao examinar seus sonhos e fantasias, contando com o apoio emocional de seu amigo íntimo, Wilhelm Fliess.
A interpretação dos sonhos (Die Traumdeutung), o qual Freud considerou como sendo o mais importante de todos os seus livros, foi publicado em 1899, com data de impressão de 1900, pois ele queria que sua grande descoberta fosse associada ao inicio do novo século.
No final, a Interpretações dos Sonhos, teve tanto sucesso que mereceu oito edições durante a vida de Freud.
Nos anos produtivos a 1900, Freud desenvolveu e expandiu suas idéias. Em 1901, publicou Psicopatologia da Vida Cotidiana, que contem uma descrição do hoje famoso lapso-freudiano.
Seus pares, na área médica, ainda encaravam seus trabalhos com hostilidade e Freud trabalhava em completo isolamento.
Foi nomeado professor na Universidade de Viena e, fundou a Sociedade das “Quartas-feiras”, em 1902 (reunião semanal de amigos, em sua casa, com o propósito de discutir trabalhos que vinha desenvolvendo), o qual veio a se tornar Associação de Psicanálise de Viena em 1908.
Freud descobriu que tinha câncer na boca em 1923 e, mesmo assim se manteve produtivo, durante dezesseis anos, tolerando tratamentos constantes e dolorosos, resistindo a trinta e três cirurgias.
Hitler tornou-se chanceler do Reich (1933), livros de Freud foram queimados numa fogueira em Berlim.
A Gestapo investigou a casa de Freud; prendeu sua filha Anna durante um dia inteiro. Ameaçado pela ocupação Nazista da Áustria (1938), Freud emigrou para a Inglaterra com sua família.
Seu duradouro legado teve grande influência na cultura do século XX.
Sigmund Freud, faleceu aos 83 anos de idade, no dia 23 de setembro de 1939, em Londres
Seu duradouro legado teve grande influência na cultura do século XX
OS ASPECTOS CONSCIENTES E INCONSCIENTES DA PERSONALIDADE
Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior ? Perguntara-se Freud. O ponto de partida dessa investigação é um fato sem paralelo, que desafia toda explicação ou descrição, o fato da consciência. Não distante quando se fala de consciência, sabemos imediatamente e pela experiência mais pessoal o que se quer dizer com isso, o consciente é somente uma pequena parte da mente, inclui tudo do que estamos cientes num dado momento. Embora Freud estivesse interessado nos mecanismos da consciência, seu interesse era muito maior com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava pré-consciente e inconsciente.
O esquecido era sempre algo penoso para o individuo, e era exatamente por isso que havia sido esquecido e o penoso não significava, necessariamente, sempre algo ruim, mas podia se referir a algo bom que se perdera ou que fora intensamente desejado. Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico com os pacientes e os deixou dar livre curso a idéias, observou que, muitas vezes, eles ficavam embaraçados, envergonhados com algumas idéias ou imagens que lhes ocorriam. A esta força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma idéia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma . Estes conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente.
Tais descobertas constituíram a base principal da compreensão das neuroses e impuseram uma modificação do trabalho terapêutico. Seu objetivo era descobrir as repressões e suprimi-las através de um juízo que aceitasse ou condenasse definitivamente o excluído pela repressão. Considerando este novo estado de coisas, dei ao método de investigação e cura resultante o nome de psicanáliseem substituição ao de catártico.
Certas inadequações de nosso funcionamento psíquico, e certas ações que são aparentemente involuntárias demonstram ser bem motivadas quando submetidas à investigação psicanalítica (Freud, 1901).
Em 1900, no livro A Interpretação dos Sonhos, Freud apresenta a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade. Essa teoria refereÀse a existência de três sintomas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente.
O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/ consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isto é, “foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente é um sistema de aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento. Por exemplo, é atemporal, não existem as noções de passado e presente.
No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis a consciência. Além disso, há material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afeta a consciência, mas apenas indiretamente.
Há uma vivacidade e imediatismo no material inconsciente. Memórias muito antigas quando liberadas a consciência, não perderam nada de sua força emocional. “Aprendemos pela experiência que os processos mentais inconscientes são em si mesmos” “intemporais”. Isto significa em primeiro lugar que não são ordenados temporalmente, que o tempo não lhes pode ser aplicada” (1920, livro 13, pp.41-42.).
A maior parte da inconsciência é inconsciente. Ali estão os principais determinantes de personalidade, as fontes da energia psíquica, e pulsões ou instintos.
O pré-consciente refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis a consciência, é aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode estar.
Pré-consciente. Estritamente falando, o pré-consciente é uma parte do inconsciente, mas uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória que são acessíveis fazem parte do pré-consciente. Estas podem incluir lembranças de tudo o que você fez ontem, seu segundo nome, todas as ruas que morou, a data da pesquisa da Normandia, seus alimentos prediletos, o cheiro de folhas de outono queimando, o bolo de aniversario de formato estranho que você teve quando fez dez anos, e uma grande quantidade de outras experiências passadas. O pré-consciente é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções.
O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e nas do mundo interior na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção do mundo exterior, a atenção, o raciocínio.
Id: É a parte mais primitiva da personalidade. É profundo, obscuro, inconsciente e muito poderoso. Contem tudo que é herdado, que está presente no nascimento, acima de tudo, os instintos.
Os seus maiores componentes são os impulsos sexuais instintivos, mais tem também tendências de hábitos que a pessoa supriu, e uma espécie de sabedoria cega herdada da raça.
O Id é desprovido de percepção, é amoral, inculto, despótico e audacioso. Não diferencia certo ou errado. Busca o prazer do momento exige na satisfação insistente, mas cegamente.
Consiste na satisfação das idéias inatas.
Ego:desenvolve-se a partir do Id, pelo contato do eu com a realidade externa e torna-se o mediador entre o eu e o mundo externo. O Ego conhece a realidade de um modo diferente do Id- ele percebe enquanto o Id deseja desesperadamente.
A percepção e a capacidade para manipular o meio ambiente e regular o Id com referência ao mesmo, é a atividade característica do Ego. Mesmo que ponha diferentes limites ao Id, muitas vezes resistindo firmemente as suas vontades, o Ego, seja aproveitando ou criando oportunidades, realiza quais quer satisfações verdadeiras que o Id admite.
Nestas atividades, o Ego torna-se algo como oportunista, mesmo um tanto diplomata. Torna-se também objeto de amor por parte de Freud, encontra-se no amor a si próprio um componente libidinoso fornecido diretamente do Id.
Superego: A melhor maneira de descrever o superego é falar que ele é a concepção da consciência, segundo Freud, uma consciência infantil, inculta em grande parte inconsciente e poderosa ao externo.
O superego é formado quando a criança, em seus primeiros contatos com o mundo, incorpora em si mesma o pai ideal (pai e mãe) e adota como parte de si as proibições inaladas pelos pais na meninice e na tenra infância.
O superego tem sido chamado de herdeiro do “Complexo de Édipo”. Provém da tentativa infantil de autodisciplina, de resistência contra os atos proibidos pelo estabelecimento dentro do eu dos padrões do mundo dos pais. O superego portanto inclui as emoções que caracterizem o Complexo de Édipo e está organizado na base dos “faça isso” e “não faça aquilo”, que provém das circunstâncias morais impensadas, e incompreendidas e confusamente emocionais da infância.
Por sua intensidade emocional e pela grande insistência, é mais parecido com o Id do que o Ego, se comunica mais livremente do que o Ego, é capaz de severidade nas punições ao desobedecer a seu código. Um exemplo disso é o remorso. O superego é moralidade inconstante do individuo.
Em consequência, há um conflito interminável no interior da personalidade humana. O ego está numa posição difícil, pressionado por todos os lados por forças insistentes e oposto. Ele tem:
1) Adiar os anseios incessantes do Id;
2) Perceber e manipular a realidade para aliviar as tensões das pulsões do Id;
3) Lidar com o anseio de perfeição.
PULSÕES OU INSTINTOS
Instintos são pressões que dirigem um organismo para determinados fins particulares. Quando Freud usa o termo, ele não se refere aos complexos padrões de comportamento herdados dos animais inferiores, mas aos seus equivalentes humanos. Tais instintos são “a suprema causa de toda atividade” (1940, livro 7, p. 21 na ed. bras.). Freud reconhecia os aspectos físicos dos instintos como necessidades, enquanto denominava seus aspectos mentais de desejos. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação.Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto.
A fonte é quando emerge uma necessidade, podendo ser uma parte ou todo corpo. A finalidade é reduzir essa necessidade até que nenhuma ação seja mais necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele deseja no momento. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer o instinto e é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente.
O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.Tomamos como exemplo uma pessoa com sede. O corpo desidrata-se até o ponto em que precisa de mais líquido, portanto, a fonte é a necessidade crescente de líquidos. À medida que a necessidade se torna maior, torna-se consciente como a sensação de sede.
Enquanto esta sede não for satisfeita, torna-se mais pronunciada e, ao mesmo tempo em que aumenta sua intensidade, também aumenta a pressão ou energia disponível para fazer algo no sentido de aliviar a sede. A finalidade é reduzir a tensão e o objeto não é simplesmente um líquido, seja leite, água ou cerveja, mas todo o ato que busca reduzir essa tensão. Isto inclui levantar-se, ir a um determinado lugar, escolher entre várias bebidas, preparar uma delas e bebê-la.Enquanto as reações iniciais de busca podem ser instintivas, o ponto crítico a ser lembrado é que há a possibilidade de satisfazer o instinto de várias maneiras. A capacidade de satisfazer necessidades nos animais é via de regra limitada a um padrão de comportamento estereotipado de cada espécie.
Os instintos humanos servem apenas para iniciar a ação. Mas esta, por sua vez, não é predeterminada pela biologia de nossa espécie e nem se caracteriza sempre numa determinada ação particular.O número de soluções possíveis para um ser humano satisfazer uma finalidade instintiva é uma soma de sua necessidade biológica inicial, mais seu desejo mental (que pode ou não ser consciente) e mais uma grande quantidade de idéias anteriores, hábitos e opções disponíveis. Freud assume que o modelo mental e comportamental normal e saudável tem a finalidade de reduzir a tensão a níveis previamente aceitáveis.
Uma pessoa com certa necessidade continuará buscando atividades que possam reduzir esta tensão original. O ciclo completo de comportamento que parte do repouso para a tensão e a atividade, e volta para o repouso, é denominado modelo de tensão-redução. As tensões são resolvidas pela volta do corpo ao nível de equilíbrio que existia antes da necessidade emergir.
Ao examinar analiticamente um determinado comportamento, Freud considerava que a pessoa procurava satisfazer, por essa atividade, suas pulsões psicofísicas subjacentes. Se observarmos pessoas comendo, supomos que elas estão satisfazendo sua fome, da mesma forma como se estão chorando será provável que algo as perturbou. O trabalho analítico envolve a procura das causas dos pensamentos e comportamentos, de modo que se possa lidar de forma mais adequada com uma necessidade que está sendo imperfeitamente satisfeita por um pensamento ou comportamento particular. No entanto, vários pensamentos e comportamentos parecem não reduzir esta tensão. De fato, eles aparecem para criar mais tensão ou ansiedade.
Estes comportamentos podem indicar que a expressão direta de um instinto pode ter sido bloqueada. Embora seja possível catalogar uma série ampla de instintos, Freud tentou reduzir esta diversidade a alguns instintos que chamou de básicos.
INSTINTOS BÁSICOS
Num primeiro momento Freud descreveu duas forças instintivas opostas, a sexual (erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas últimas descrições, mais globais, encararam essas forças ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte. Essas formulações supõem dois conflitos instintivos básicos, biológicos, contínuos e não-resolvidos. Tal antagonismo básico não costuma ser visível ou consciente, e a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada por estas ambas forças instintivas em combinação.
Freud impressionou-se com a diversidade e complexidade do comportamento que emerge da fusão das pulsões básicas. Por exemplo, ele escreve: “Os instintos sexuais fazem-se notar por sua plasticidade, sua capacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se substituírem, permitindo uma satisfação instintiva ser substituída por outra, e por sua possibilidade de se submeterem a adiamentos…” (1933, livro 28, p. 122 na ed. bras.). Os instintos seriam então, canais através dos quais a energia pudesse fluir.
LIBIDO E ENERGIA AGRESSIVA
Cada um destes instintos gerais teria uma fonte de energia separadamente. Libido (da palavra latina para “desejo” ou “anseio”) é a energia aproveitável para os instintos de vida. “Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenômenos psicossexuais observados” (1905 a, livro 2, p. 113 na ed. bras.). Outra característica importante da libido é sua mobilidade, ou a facilidade com que pode passar de uma área de atenção para outra. A energia do instinto de agressão ou de morte não tem um nome especial, como tem o instinto da vida (Libido). Ela supostamente apresenta as mesmas propriedades gerais que a Libido, embora Freud não tenha elucidado este aspecto.
CATEXIA
Catexia é o processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é vinculada a ou investida na representação mental de uma pessoa, idéia ou coisa. A libido que foi catexizada perde sua mobilidade original e não pode mais se mover em direção a novos objetos. Está enraizada em qualquer parte da psique que a atraiu e segurou.
Tomando a Libido como exemplo de uma dada quantidade de dinheiro, a Catexia seria o processo de investir esse dinheiro. Digamos, então, que uma porção do dinheiro foi investida (catexizada), permanecendo nessa hipotética aplicação e deixando algo a menos do montante original para investir em outro lugar. Estudos psicanalíticos sobre luto, por exemplo, interpretam o desinteresse das ocupações normais e a preocupação com o recente finado como uma retirada de Libido dos relacionamentos habituais e uma extrema Catexia na pessoa perdida.
A teoria psicanalítica se interessa em compreender onde a libido foi catexizada inadequadamente. Uma vez liberada ou redirecionada, esta mesma energia ficará disponível para satisfazer outras necessidades habituais. A necessidade de liberar energias presas também se encontra nos trabalhos de Rogers e Maslow, assim como no Budismo. Cada uma dessas teorias chega a diferentes conclusões a respeito da fonte da energia psíquica, mas todos concordam com a alegação freudiana de que a identificação e a canalização dessa energia são uma questão importante na compreensão da personalidade.
MECANISMO DE DEFESA
São diferentes tipos de operações em que a defesa pode ser especificada. Os mecanismos predominantes diferem segundo o tipo de afecção considerado, a etapa genética, o grau de elaboração do conflito defensivo, etc.
Não há divergências quanto ao fato de que os mecanismos de defesa são utilizados pelo ego, mas permanece aberta a questão teórica de saber se a sua utilização pressupõe sempre a existência de um ego organizado que seja o seu suporte.
Foi este nome que Freud adotou para apresentar os diferentes tipos de manifestações que as defesas do “ego” podem apresentar, já que este não se defronta só com as pressões e solicitações do Id e do Superego, pois aos dois se juntam o mundo exterior e as lembranças do passado.
Quando o Ego está consciente das condições reinantes, consegue ele, sair-se bem das situações sendo lógico, objetivo e racional, mas quando se desencadeiam situações que possam vir a provocar sentimentos d culpa ou ansiedade, o Ego perde as três qualidades citadas. É quando a ansiedade-sinal (ou sinal de angustia), de forma inconsciente, ativa uma serie de mecanismos de defesa, com o fim de proteger o Ego contra uma dor psíquica iminente.
Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes do que os outros. Há os que exigem menos dispêndio de energia para funcionar a contento. Outros há que são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de energia psíquica.
As defesas do Ego podem dividir-se em:
- Defesas bem sucedidas, que geram a cessação daquilo que rejeita;
- Defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção dos impulsos rejeitados.
As defesas patogênicas, nas quais se radicam as neuroses, pertence à segunda categoria. Quando os impulsos opostos não encontram descarga, mas permanecem suspensos no inconsciente e ainda aumentam pelo funcionamento continuado das suas fontes físicas, produz-se estado de tensão, com possibilidade de irrupção.
Daí por que as defesas bem sucedidas, que de fato, menos se entendem, tem menor importância na psicologia das neuroses. Nem sempre, porém, se definem com nitidez as fronteiras entre as duas categorias; há vezes em que não se consegue distinguir entre “um impulso que foi transformado pela influencia do ego” e “um impulso que irrompe com distorção, contra a vontade do ego e sem que este o reconheça”. Este último tipo de impulso há de produzir atitudes constrangedoras, há de repetir-se continuamente, jamais permitirá relaxamento pleno gerará fadiga.
A SUBLIMAÇÃO
É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e aceitável.
As defesas bem sucedidas podem colocar-se sob o título de sublimação, expressão que não designa mecanismo específico; vários mecanismos podem usar-se nas defesas bem sucedidas; por exemplo: a transformação da passividade em atividade; o rodeio em volta do assunto, a inversão de certo objetivo no objetivo oposto. O fator comum está em que, sob a influência do ego, a finalidade ou o objeto (ou um e outro) se transforma sem bloquear a descarga adequada.
A REPRESSÃO
É a operação psíquica, que pretende fazer desaparecer da consciência, impulsos ameaçadores, sentimentais, desejos, ou seja, conteúdos desagradáveis, ou inoportunos.
Em sentido amplo, é uma operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: idéia, afeto, etc. neste sentido, o recalque seria uma modalidade especial de repressão.
Em sentido mais restrito, designa certas operações do sentido amplo, diferentes do recalque:
a)- Ou pelo caráter consciente da operação e pelo fato de o conteúdo reprimido se tornar simplesmente pré-consciente e não consciente;
b)- Ou, no caso da repressão de um afeto, porque este não é transposto para o inconsciente mais inibido, ou mesmo suprimido.
A RACIONALIZAÇÃO
É uma forma de substituir, por boas razões, uma determinada conduta
Que exija explicações, de um modo geral , da parte de quem a adota. Os psicanalistas, em tom jocoso, dizem que racionalização é uma mentira inconsciente que se põe no lugar do que se reprimiu.
É um processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma idéia, um sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros não percebe; fala-se mais especialmente da racionalização de um sintoma, de uma compulsão defensiva, de uma formação reativa. A racionalização intervém também no delírio, resultando numa sistematização mais ou menos acentuada.
A PROJEÇÃO
Manifesta-se quando o ego não aceita reconhecer um impulso inaceitável do Id e o retribui a outra pessoa. É o caso do menino que gostaria de roubar frutas do vizinho sem entretanto ter coragem para tanto, e diz que soube que um menino, na mesma rua, esteve tentando pular o muro do vizinho.
Termo utilizado num sentido muito geral em neurofisiologia e em psicologia para designar a operação pela qual um fato neurológico ou psicológico é deslocado e localizado no exterior, quer passando do centro para a periferia, quer dor sujeito para o objeto
No sentido propriamente psicanalítico, operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro-pessoa ou coisa-qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos” que ele desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma defesa de origem muito arcaica, que vamos encontrar em ação particularmente na paranóia, mas também em modos de pensar “normais”, como a superstição.
O DESLOCAMENTO
É um processo psíquico através do qual o todo é representado por uma parte ou vice-versa. Também pode ser uma idéia representada por uma outra, que, emocionalmente, esteja associada a ela. Esse mecanismo não tem qualquer compromisso com a lógica. É o caso de alguém que tendo tido uma experiência desagradável com um policial, reaja desdenhosamente, em relação a todos os policiais.
É muito corrente nos sonhos, onde uma coisa representa outra. Também se manifesta na Transferência, fazendo com que o individuo apresente sentimentos em relação a uma pessoa que, na verdade, lhe representa uma outra do passado.
Fato de a importância, o interesse, a intensidade de uma representação ser suscetível de se destacar dela para passar a outras representações originalmente pouco intensas, ligadas a primeira por uma cadeia associativa.
Esse fenômeno, particularmente visível na análise do sonho, encontra-se na formação dos sintomas psiconeuróticos e, de um modo geral, em todas as formações do inconsciente.
A teoria psicanalítica do deslocamento apela para a hipótese econômica de uma energia de investimento suscetível de se desligar das representações e de desligar por caminhos associativos,
O “livre” deslocamento desta energia é uma das principais características do modo como o processo primário rege o funcionamento do sistema inconsciente.
A IDENTIFICAÇÃO
É o processo psíquico por meio do qual um indivíduo assimila um aspecto, uma característica de outro, e se transforma, total ou parcialmente, apresentando-se conforme o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma serie de identificações.
Freud descreve como característico do trabalho do sonho o processo que traduz a relação de semelhança, o “tudo como se”, por substituição de uma imagem por outra ou “identificação”.
A identificação não tem aqui valor cognitivo: é um processo ativo que substitui uma identidade parcial ou uma semelhança latente por uma identidade total.
A REGRESSÃO
É o processo psíquico que o Ego recua, fugindo de situações conflitivas atuais, para um estagio anterior. É o caso de alguém que depois de repetidas frustrações na área sexual, regrida, para obter satisfações, à fase oral, passando a comer em excesso.
Considerada em sentido tópico, a regressão se dá, de acordo com Freud, ao longo de uma sucessão de sistemas psíquicos que a excitação percorre normalmente segundo determinada direção.
No sentido temporal, a regressão supõe uma sucessão genética e designa o retorno do sujeito a etapas ultrapassadas do seu desenvolvimento (fases libidinais, relações de objeto, identificações, etc.).
No sentido formal, a regressão designa a passagem a modos de expressão e de comportamento de nível inferior do ponto de vista da complexidade, da estruturação e da diferenciação.
A regressão é uma noção de uso muito freqüente em psicanálise e na psicologia contemporânea; é concebida, a maioria das vezes, como um retorno a formas anteriores do desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e da estruturação do comportamento.
Freud é levado então a diferenciar o conceito de regressão, como o demonstra esta passagem acrescentada em 1914 em três espécies de regressões:
a) Tópica, no sentido do esquema do aparelho psíquico. A regressão tópica é particularmente manifestada no sonho, onde ela prossegue até o fim. Encontra-se em outros patológicos em que é menos global (alucinação) ou mesmo em processos normais em que vai menos longe (memória).
b) Temporal, em que são retomadas formações psíquicas mais antigas.
c) Formal, quando os modos de expressão e de figuração habituais são substituídos por modos primitivos. Estas três formas de regressão, na sua base, são apenas uma, e na maioria dos casos coincidem, situa-se mais perto da extremidade perceptiva.
O ISOLAMENTO
É um processo psíquico da neurose obsessiva, que consiste em isolar um comportamento ou um pensamento de tal maneira que as suas ligações com os outros pensamentos, ou com o autoconhecimento, ficam absolutamente interrompidas, já que foram (os pensamentos, os comportamentos), completamente excluídos do consciente.
Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no decurso do pensamento, formulas, rituais, e, de um modo geral, todas as medidas que permitem estabelecer um hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos atos.
Certos doentes defendem-se contra uma idéia, uma impressão, uma ação, isolando-as do contexto por uma pausa durante a qual “…nada mais tem direito a produzir-se, nada é qualificada de mágica por Freud; aproxima-a do processo normal de concentração no sujeito que procura não deixar que seu pensamento se afaste do seu objeto atual”.
O isolamento manifesta-se em diversos sintomas obsessivos; nós o vemos particularmente em ação no tratamento, onde a diretriz da associação livre, por lhe se oposta coloca-o em evidencia (sujeitos que separam radicalmente a sua analise da sua vida, ou determinada seqüência de idéia do conjunto da cessão ou determinada representação do contexto ideoafetivo).
Freud reduz, em ultima analise, a tendência para o isolamento a um modo arcaico de defesa contra a pulsão, a interdição de tocar, uma vez que “…o contato corporal e a finalidade imediata do investimento de objeto, quer o agressivo quer o terno”.
Nesta perspectiva, o isolamento surge como “…uma supressão da possibilidade de contato, um meio de subtrair uma coisa ao contato; do mesmo modo quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por pausa, dá-nos simbolicamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhes dizem respeito entrem em contato associativo com os outros”.
Na realidade, pensamos que seria interessante reservar o termo isolamento para designar um processo especifico de defesa que vai da compulsão a uma atitude sistemática e concentrada, e que consiste numa ruptura das conexões associativas de um pensamento ou de uma ação, especialmente com o que os precede e os segue no tempo.
A FORMAÇAO REATIVA
É um processo psíquico que se caracteriza pela adoção de uma atitude de sentido oposto a um desejo que tenha sido recalcado, constituindo-se, então, numa reação contra ele.
Uma definição: é o processo psíquico, por meio do qual um impulso indesejável é mantido inconsciente, por conta de uma forte adesão ao seu contrario.
Muitas atitudes neuróticas exigem que são tentativas de negar ou reprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo instintivo. São atitudes tolhidas rígidas, que impedem a expressão de impulsos contrários, os quais, no entanto, de vez em quando, irrompem por diversos modos.
Nas peculiaridades desta ordem, a psicanálise, psicologia “desmascaradora” que é, consegue provar que a atitude oposta original ainda está presente no inconsciente. Chamam-se formações reativas estas atitudes opostas secundárias.
As formações reativas representam mecanismo de defesa separado e independente . Dão mais impressão de constituir conseqüência e reafirmação de uma repressão estabelecida. Quando menos, contudo, significam certo tipo de repressão que é possível distinguir de outras repressões.
Digamos: é um tipo de repressão em que a contractexia é manifesta e que, portanto, tem êxito no evitar atos repressivos muito repetidos de repressão secundária. As formações reativas evitam repressões secundarias pela promoção de modificação definitiva, “uma vez por todas”, da personalidade.
O individuo que haja constituído formações reativas não desenvolve certos mecanismos de defesa de que se sirva ante a ameaça de perigo instintivo; modificou a estrutura da sua personalidade, como se este perigo estivesse sem cessar presente, de maneira que esteja pronto sempre que ocorra.
A SUBSTITUIÇÃO
Processo pelo qual um objeto valorizado emocionalmente, mas que não pode ser possuído, é inconscientemente substituído por outro, que geralmente se assemelha ao proibido. É uma forma de deslocamento.
A FANTASIA
É um processo psíquico em que o individuo concebe uma substituição em sua mente, que satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito.
É um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente.
A fantasia apresenta-se sob diversas modalidades:
- Fantasias conscientes ou sonhos diurnos.
- Fantasias inconscientes como as que a análise revela, como estruturas subjacentes a um conteúdo manifesto.
- Fantasias originárias.
A COMPREENSÃO
É o processo psíquico em que o individuo se compensa por alguma deficiência, pela imagem que tem de si próprio, por meio de outro aspecto que o caracterize, que ele,, então, passa a considerar como um triunfo.
A EXPIAÇÃO
É processo psíquico em que o individuo quer pagar pelo seu erro imediatamente.
A NEGAÇÃO
A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de dor. Nas crianças pequenas, é muito comum a negação de realidades desagradáveis, negação que realiza desejos e que simplesmente exprime a afetividade do principio do prazer.
A capacidade de negar pares desagradáveis da realidade é a contrapartida da “realização alucinatória dos desejos”. Anna Freud chamou este tipo de recusa do reconhecimento do desprazer em geral “pré-estágios da defesa”.
A INTROJEÇÃO
Originalmente, a idéia de engolir um objeto exprime afirmação; e como tal é o protótipo de satisfação instintiva, e não de defesa contra instintos.
No estágio do ego prazeroso purificado, tudo quanto agrada é introjetado. Em ultima análise, todos os objetos sexuais derivam de objetivos de incorporação.
Do mesmo passo, a projeção é o protótipo da recuperação daquela onipotência que foi projetada para os adultos. Contudo, a incorporação, embora exprima “amor”, destrói objetivamente os objetos como tais, como coisas independentes do mundo exterior.
Percebendo este fato, o ego aprende a usar a introjeção para fins hostis como executora de impulsos destrutivos e também como modelo de um mecanismo definido de defesa.
A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se dirigem para um objeto. A identificação, realizada através da introjeção, é o tipo mais primitivo de relação com os objetos.
A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Trabalhar sobre idéias que ocorrem aos pacientes, quando se submetem à regra principal da psicanálise (associação livre), não é o nosso único método técnico de descobrir o inconsciente. Dois outros procedimentos atendem o mesmo propósito: a interpretação dos sonhos dos pacientes e a exploração de suas ações falhas ou casuais…
A interpretação dos sonhos é, de fato, a estrada real para o conhecimento do inconsciente; é o alicerce mais seguro da psicanálise…”(Extraído da terceira das cinco conferências sobre psicanálise, feitas na América e publicadas em 1900)”.
Freud e Martha Bernays tiveram seis filhos (Mathilde, 1887; Jean-Martin, 1889; Olivier, 1891; Ernest, 1892; Sophie, 1893; Anna, 1895). Tanto Freud como Martha já não queriam mais filhos quando Anna nasceu, não favorável aos métodos contraceptivos da época, decidiu abster-se do sexo. Nesse mesmo ano começou a monumental tarefa de auto-análise, empregando o método da análise dos sonhos.
Para Freud os sonhos são expressões dos pensamentos (pensamento latente, oculto) que foram recalcados por serem incompatíveis com as normas, papéis sociais e valores éticos. Portanto a interpretação dos sonhos desvela, sobretudo, os conteúdos mentais, pensamentos, dados e experiências que foram reprimidos, excluídos da consciência pelas atividades de defesa do ego e superego e enviadas para o inconsciente. Freud no curso das investigações sobre a trama da neurose, descobre que os sonhos eram formados pelas mesmas leis que estabelecem um sintoma neurótico. Eles surgem numa zona congestionada do entrelaçamento dos campos, de onde resulta um conteúdo referente a diversos temas psíquicos simultaneamente.
Freud, por meio da análise dos sonhos, mostrou a existência do inconsciente e transformou algo tido pela ciência como o lixo do pensamento, no caso dos sonhos, em um instrumento revelador da personalidade humana, constituindo um meio de tornar o interior oculto da mente, acessível a nosso conhecimento.
Afirmava Freud que os estímulos iniciais dos sonhos, por um lado, podem ser internos e por outros externos. Um estímulo pode ser externo quando, por exemplo, ouvimos o toque de um relógio e sonhamos com sinos, ou com tudo que nos de idéias de sons. Mas, desse estímulo inicial (o toque do relógio), desdobra-se uma série infinita de acontecimentos que se emaranha, complica-se, e que constitui a totalidade do sonho propriamente dito, na maioria das vezes, visto como incompreensíveis e confusos. Essa excitação “chama”, “desperta”, as repressões adormecidas no inconsciente.
O sonho é o aviso de que a vida consciente parou para dar lugar à do inconsciente. É o equilíbrio de duas realidades que se trocam: a própria realidade e a realidade psíquica. É a compensação sábia da própria natureza. Pois a vida é uma luta tremenda entre o prazer e a realidade, e se na vida consciente, vence sempre a realidade, no sonho é o prazer que concentra o psiquismo, satisfazendo integralmente os mais recônditos desejos da personalidade. Tudo aquilo que não pode ser realizado na vida real, o sonho realiza na realidade psíquica. Entretanto, nem sempre a realização de desejos é uma causa de prazer, como podemos citar:os pesadelos, isso depende da atitude do indivíduo em relação aos seus desejos inconfessáveis.
Na maioria dos casos, desejamos muita coisa que o preconceito e a moral proíbem e que, por isso mesmo, a “censura íntima” recalca. Não é de admirar, nessas condições, a forma angustiosa que eles, os desejos, tomam quando se revelam nos sonhos.
A DIFERENÇA ENTRE OS SONHOS DAS CRIANÇAS E DOS ADULTOS
O conteúdo manifesto, aquilo que lembramos dos sonhos, se apresenta de maneira diferente para adultos e crianças. Os sonhos infantis são simples e demonstram a realização disfarçada dos desejos que o dia anterior produziu, mas que não foram realizados durante o estado consciente. Nos adultos, aos poucos, os desejos vão se tornando velados, à medida que a censura vai se desenvolvendo com os princípios estabelecidos pela educação corrente, daí os sonhos passam a se apresentar ininteligíveis, sem sentido e de caráter exótico, causando descaso de nossa parte.
A resposta para essa diferença entre os sonhos veio a partir do reconhecimento de distorções que impedem a visualização do verdadeiro sentido do sonho. Essa deformação é resultado de forças defensivas do ego (mecanismo de resistência) que, mesmo enfraquecidas durante o sono, não permite a sua clara passagem para a consciência. Quando estamos acordados, estas resistências impedem completamente os desejos reprimidos do inconsciente de entrarem na consciência. Nas crianças o ego está ainda em formação, por isso o sonho se apresenta com clareza, sem o trabalho efetivo da deformação pela resistência.
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
O protótipo de toda a interpretação consiste sobretudo em resolver os problemas pela própria boca do analisado, mesmo este adiantando que seu sonho é muito louco e não consegue entender o que o tal emaranhado quer dizer. Primeiro, de acordo com a regra psicanalítica de procedimento, desconsidera-se inteiramente as conexões aparentes entre os elementos do sonho manifesto e reuni-se as idéias que lhes ocorram em conexão com cada elemento separado, do sonho, pela associação livre. A partir desse material, chegam às idéias referentes ao sonho disfarçado, tal como chegam aos complexos ocultos do paciente, a partir de suas associações para os sintomas e lembranças. A verdadeira significação do sonho, que tomou lugar de seu conteúdo manifesto, é sempre claramente inteligível; tem seu ponto de partida em experiências do dia prévio e se comprova ser uma satisfação de desejos insatisfeitos. Mesmo os pesadelos como anteriormente citado.
Freud distinguiu quatro maneiras diferentes pelas quais um sonho pode se originar:
1) Um fato recente e importante da vida emocional da pessoa que sonha é diretamente representado, no sonho. Isso é freqüentemente evidente por si mesmo, como os sonhos simples de satisfação de desejos de crianças, e na verdade, não requer interpretação;
2) Várias idéias recentes e importantes são misturadas num simples todo, pelo sonho. Aqui, a análise é necessária, mas simplesmente para resolver aquele aspecto da elaboração dos sonhos, que Freud chama de condensação;
3) Um ou certo número de acontecimentos importantes na vida emocional da pessoa que sonha, podem ser representados, no sonho, por uma lembrança igualmente recente, mas relativamente indiferente. Aqui o mecanismo inclui o que Freud chamou de “deslocamento”; será necessária uma análise mais complicada, através da associação livre, para revelá-lo;
4) Uma lembrança ou idéia muito importante, mais muito antiga e sepultada, é representada no sonho, por uma impressão recente e relativamente indiferente. Este é o tipo mais complexo de deslocamento, e ocorre mais freqüentemente nos sonhos daqueles que já estão manifestando sintomas de distúrbio emocional, na vida de vigília.
Principais mecanismos de elaboração dos sonhos responsáveis pela deformação dos mesmos:
CONDENSAÇÃO
Os efeitos da condensação são muito fáceis de demonstrar. Não raras vezes sonhemos com várias pessoas fundidas em uma só. A função condensadora do sonho é unificar os elementos diferentes nas idéias, é a capacidade das imagens inconscientes de corresponderem a vários desejos, que na vida real seriam contraditórios.
DESLOCAMENTO
Este é um processo em que a carga emocional é separada de seu objeto real e incorporada em um completamente diferente.
DRAMATIZAÇÃO
É a seqüência dramática do sonho, encadeada com relações não expressas, que somente a interpretação pode revelar. É como se a pessoa que sonha estivesse tanto observando, como envolvida num jogo misterioso ou um filme desafiante e perturbador, ainda que abertamente incompreensível.
SIMBOLIZAÇÃO
Um dos exemplos mais simples e mais vivos que Freud deu as imagens mentais visuais num sonho, dramatizando um desejo oculto, para iludir a repressão. A simbolização é um tipo diferente de distorção, mas com um encadeamento semelhante ao conteúdo oculto. É a transformação das idéias em imagens visuais.
ELABORAÇÃO SECUNDÁRIA
Esse é o mais fácil de compreender. É simplesmente o resultado da tendência natural de quem sonha, ao acordar, de dar algum tipo de sentido, para si mesmo, de sua recordação do sonho. Entretanto, tal arrumação caótica, mas vívida, de idéias, pensamentos, sentimentos, lembranças fragmentadas, ou deformadas e experiências carregadas emocionalmente, desafiam a recordação ou a descrição, na forma verdadeira, pela qual é experienciada.
Freud considera o propósito biológico do sonho como a preservação do sono. Ele permite que as idéias e sentimentos sejam elaborados por completo, preservando dessa maneira o sono da pessoa. A figura central do sonho é sempre a própria pessoa que sonha. Não existe, além disso, nenhum sonho sem que o Eu do indivíduo represente o principal papel, ainda que disfarçado no conteúdo manifesto. As lacunas que encontramos nos sonhos, os espaços em branco, se dão devido à intervenção da censura onírica.
Podemos agora compreender o sentido, dado por Freud, a frase “O sonho é uma expressão disfarçada e deformada de um desejo proibido.”
LAPSOS, ERROS, ATOS FALHOS
A obra de Freud que trata desse assunto é o livro intitulado “A Psicopatologia da Vida Cotidiana“, publicado em 1901. Freud considerou que essas ocorrências não eram exemplos de possibilidades ao acaso, agindo livremente na vida humana, mas eram de fato simbólicas de atitudes inconscientes. Como os sonhos tais erros aparentemente ao acaso, omissões e lapsos tinham uma significação e, como os sonhos, este significados somente poderiam ser descoberto pelo método psicanalítico da associação livre; mas, uma vez descoberto era claro e inquestionável, pelo menos para o discernimento do autor do ato, omissão ou erro. São eles:
- O esquecimento de nomes próprios;
- O esquecimento de palavras estrangeiras;
- O esquecimento de nomes e seqüências de palavras
- Lembranças da infância e lembranças encobridoras;
- Lapsos da fala;
- Lapsos da leitura e da escrita
- O esquecimento de impressões, conhecimentos e intenções;
- Equívocos na ação;
- Atos casuais e sintomáticos;
- Erros
- Atos falhos combinados;
Podem ser distinguidas três categorias principais de tais erros, omissões ou lapsos:
1) Em que um impulso emocional é liberado sem repressão; isto é de fato, um *ato sintomático ou casual;*Os atos casuais ou sintomáticos aparecem por conta própria e são permitido por não se suspeitar de que haja neles algum objetivo ou intenção. São executados “sem que se pense que há alguma coisa neles”, de maneira “puramente casual”, “habitual”, “só pra manter as mãos ocupadas”. Eles expressam algo de que o próprio agente não suspeita neles e que, em regra geral, não pretende comunicar,e sim guardar para si. Como exemplos podemos citar: brincar com a corrente do relógio, retorcer a barba, fazer tilintar moedas no bolso, rabiscar com um lápis que se tenha na mão, alterações em seus trajes habituais,etc.
2) Em que um impulso emocional é incompletamente reprimido e em que existe um ato perturbado;
3) Em que um impulso emocional é completamente reprimido e o ato é inibido.
Resumindo, diremos que em todos os lapsos há sempre um jogo de intenções, ou tendência oculta que perturba a outra (a que se deve exteriorizar). Os lapsos apresentam na maioria das vezes interpretações fáceis, mas seguras, que não raras passam despercebidas, ou então aceitas como acaso, os quais o indivíduo justifica por simples ou meros enganos. Estes, como já nos é fácil conceber, exprimem intenções várias, impulsos, que deveriam ficar ocultos em nosso espírito, alheios à consciência. Os lapsos são segredos que agente revela sem querer, no correr da nossa vida normal. Eles ocorrem, portanto, por explosões dos “recalcamentos”, contidos no inconsciente, de maneira mais ou menos eficaz.
CHISTES
Do mesmo modo que os lapsos, os chistes possuem uma estreita relação com o sistema inconsciente. O chiste (gracejo) revela-se sempre em busca do prazer tendencioso ou não. Qualificam-se em inocentes e intencionais. No segundo caso, rompendo-se o obstáculo interno da censura e o externo da pessoa envolvida, visa-se a ferir a suscetibilidade alheia, enganando-se a ofensa, através do efeito cômico do chiste. Aqui são incluídos os gracejos cínicos, obscenos, hostis, satíricos, céticos, etc.No primeiro caso, não há outra intenção senão a de extrair prazer dos processos intelectivos. Por este motivo, são denominados chistes abstratos, ou ainda intelectuais, oriundos da simples associação de idéias, de onde a graça ressalta sob a forma de uma idéia oculta, escondida. Os efeitos prazerosos do chiste inocente são quase sempre de pouco efeito cômico. Ao contrário, os tendenciosos logram integralmente a satisfação cômica. O primeiro provoca sorrisos. O segundo, gargalhadas…
Nos chistes inocentes não se pretende levar ninguém ao ridículo. Nos tendenciosos, ao contrário, alveja-se alguém pela intenção criadora dos gracejos, abrindo-se fontes de prazer que, sem a graça, se tornariam inacessíveis ao agressor. Por isso, o chiste tendencioso precisa de três pessoas para a sua realização. A pessoa que emite o gracejo, a que é atingida pelo ridículo da frase a que se tira o prazer pela expressão chistosa. Já nos gracejos inocentes, não, porque eles encerram em si mesmos toda a sua finalidade. Os chistes são uma transação entre o pré-consciente e o inconsciente. Enfim, os gracejos consistem em extrair prazer da nossa própria atividade psíquica, para expressar o bom humor e provocar finalmente a nossa euforia.
A DESCOBERTA DA SEXUALIDADE INFANTIL
Durante um determinado período e com base no processo metodológico voltado para a hipnose desenvolvida pelo médico vienense Dr. José Breuer, Freud veio a desenvolver seus estudos de natureza clínica, desta vez munido da técnica da associação livre investigando as causas e o funcionamento das neuroses.
Com os estudos realizados em pleno avanço, Freud veio a descobrir que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos, tinham sua origem no campo sexual, os quais ocorriam nos primeiros anos de vida de um indivíduo e que indubitavelmente deixavam seqüelas em sua vida atual. Com efeito, as considerações feitas acerca destas afirmações, tiveram consideráveis impactos em uma sociedade arraigadas a comportamentos austeros.
Vejamos os principais aspectos destas descobertas:
- A função sexual existe desde o princípio da vida e não só a partir da puberdade.
- O período de desenvolvimento da sexualidade é complexo e detalhado até atingir a vida adulta, na qual as funções de prazer e reprodução, estão inerentes ao homem e a mulher.
- A libido, que vem a ser a energia do instinto sexual a qual está na base de todo comportamento.
No que tange a questão do desenvolvimento psicossexual, pode-se dizer que a função sexual está caracterizada no indivíduo nos primeiros anos de vida, por uma questão de sobrevivência e, conseqüentemente, o prazer está localizado no próprio corpo.
Estas considerações, levaram Freud a postular cinco etapas no desenvolvimento sexual:
- Fase oral, é a fase do desenvolvimento em que a criança concentra-se na manipulação e estimulação oral, estímulos táteis e recepção sensorial. Abrange aproximadamente o primeiro ano de vida.
- Fase anal, segundo Freud, é a fase de desenvolvimento na qual o interesse da criança se dá por via de excreção. Esta fase, perdura-se pelo segundo e terceiro anos de vida.
- Fase fálica, segundo Freud, é o marco da primeira etapa edipiana, ou genital. Exibição da masculinidade recém – descoberta pelo menino, ostentação e um desejo de impressionar são mais visíveis que o interesse pelo progenitor de sexo oposto ou por outras pessoas desta família.
- Fase de latência, é o desenvolvimento libídico do ser humano, o período dos 6 aos 12 anos aproximadamente, o tempo entre o fim da primeira fase genital e o começo da última (puberdade). Neste período estão latentes os interesses sexuais da criança por membros imediatos da família, em especial o genitor de sexo oposto, e os conflitos com o genitor do mesmo sexo.
- Fase genital, é a fase em que o indivíduo toma consciência da diferença anatômica entre os dois sexos e começa a aceitar a exist6encia dos mesmos se o seu sexo como uma realidade.
Com base nestas fases apresentadas anteriormente, um processo que deve ser mencionado é o do complexo de Édipo, fase esta em torno da qual se dá a estruturação do indivíduo, por volta dos 3 e cinco anos. Nesta fase, após a descoberta de diferença anatômica, o menino vem a cobiçar a mãe e toma a figura do pai por algo que ameace a sua existência. Esta atitude tomada pelo filho, vem acompanhada de certos ditames sociais impostos pela autoridade paterna.
Com efeito, o mesmo tipo de atitude ocorre com a menina em proporções opostas.
PSICOPATOLOGIA
O temo psicopatologia é de origem grega – psykhé, alma, e patologia, literalmente seria uma patologia do espírito. Essa concepção poderia levar a uma conceituação errônea do problema já que a alma, o psíquico, no sentido de espírito, não pode adoecer. É impróprio falar de enfermidade da alma, o que constituiria uma “metáfora inaudita”, conforme a expressão de Kronfeld. Só existe enfermidade no biólogo, ou melhor, no antropológico. Segundo o conceito de Kurt Schneider, só existe enfermidade no corporal: “os fenômenos psíquicos são patológicos somente quando sua existência está condicionada por alterações patológicas do corpo”.
Jaspers fez a primeira tentativa de conceituar a Psicopatologia. Desde a primeira edição de sua famosa Allgemeine Psychopatologie que procurou, conceituá-la como ciência pura que visa exclusivamente o conhecimento. Com essa orientação, a psicopatologia tem por objetivo estudar a vida psíquica anormal independente dos problemas clínicos. A psicopatologia “não tem a missão de recapitular todos os resultados, senão de formar um todo, sua função visa o estabelecimento, a ordenação, a cultura. Tem de esclarecer o saber nos tipos básicos dos fatos e na multiplicidade dos métodos, resumi-los numa ordenação natural e, finalmente, levá-los a autoconsciência no todo cultural do homem. Cumpre uma tarefa específica que vai além da investigação especial do conhecimento.
Gabriel Deshaies completou: “a Psicopatologia não se define por dogmas consagrados, senão pelo objetivo de certa investigação sobre o homem enfermo”. A psicopatologia tem um âmbito mais restrito que a psiquiatria, visando conhecer os fenômenos psíquicos patológicos e assim oferecer a psiquiatria as bases para a compreensão de sua origem, mecanismo íntimo e futuro desenvolvimento.
Compete à Psicopatologia reunir os materiais para a elaboração da teoria do conhecimento dos fenômenos com os quais a psiquiatria possa coordenar sua ação curativa e preventiva. Segundo Eugen Minkowski, o termo psicopatologia corresponde mais a uma “psicologia do patológico” do que a uma “patologia do psicológico”. Para ele a psicopatologia procura compreender os elementos específicos do Erlebnisse patológico do enfermo psíquico, permanecendo aberta a questão de determinar qual o tipo de compreensão que se torna pertinente.
Para Jaspers, as vias de acesso ao fato psicopatológico são a compreensão e a explicação: a primeira é um método subjetivo; a Segunda, um procedimento objetivo. A compreensão consiste num esforço de penetração e de intuição do fenômeno mórbido com seu significado, tal como o considera o enfermo. A explicação é uma ação intelectual que completa a compreensão, por sua interpretação e ao estabelecer laços de causalidade entre os diferentes dados proporcionais pela observação.
NEUROSE
Entre os anos 1895 a1900, Freud parece Ter encontrado na cultura psiquiátrica de língua alemã uma distinção relativamente segura do ponto de vista clínico entre psicose e neurose. Excetuando-se algumas raras flutuações na sua terminologia, ele designa por estes termos afecções que ainda hoje são classificadas assim.
Mas a principal preocupação de Freud não é então delimitar neurose e psicose, mas por em evidência o mecanismo psicogênico em toda uma série de afecções. Daí resulta que o eixo da sua classificação passa entre as neuroses atuais, onde a etiologia é procurada num disfuncionamento somático da sexualidade, e as psiconeuroses, onde o conflito psíquico é o determinante. Este grupo, o das “psiconeuroses de defesa”, inclui neuroses como a histeria, e psicoses por vezes designadas pela expressão “psicoses de defesa”, como a paranóia.
Na mesma perspectiva, Freud mais tarde fazer prevalecer o termo psiconeurose (ou neurose) narcísica para designar o que em psiquiatria, na mesma época, é definido como psicose. Acaba voltando à classificação psiquiátrica corrente e conservando a expressão neurose narcísica apenas para designar a maníaco-depressiva. O quadro abaixo, esquematiza a evolução, em extensão, do conceito de neurose na nosografia psicanalítica:
Ainda que as subdivisões possam variar segundo os autores dentro do grupo das neuroses (é o caso da fobia, que pode ser ligada à histeria ou considerada uma afecção específica), podemos verificar atualmente um amplo acordo quanto à delimitação clínica do conjunto das síndromes consideradas neuróticas. O reconhecimento dos “casos-limite” pela clínica contemporânea vem em certo sentido atestar que, pelo menos de direito, considera-se o campo da neurose bem especificado. Pode-se dizer que o pensamento psicanalítico está amplamente de acordo com a delimitação clínica adotada na grande maioria das escolas psiqiátricas.
Quanto a uma definição abrangente da noção de neurose, pode ser concebida teoricamente, quer ao nível da sintomatologia, como agrupamento de um certo número de características que permitiriam distingir os sintomas neuróticos dos sintomas psicóticos ou perversos, quer ao nível da estrutura.
Na realidade, quando não se limitam a estabelecer uma simples distinção de grau entre desordens “mais graves” e desordens “menos graves”, a maior parte das tentativas de definição propostas em psiquiatria oscilam entre estes dois níveis. A título de exemplo, citaremos esta tentativa de definição de um manual recente: “a fisionomia clínica das neuroses é caracterizada:
- por sintomas neuróticos: são as perturbações dos comportamentos, dos sentimentos ou das idéias que manifestam uma defesa contra a angústia e constituem relativamente a este conflito interno um compromisso do qual o sujeito, na sua posição neurótica, tira certo proveito (benefícios secundários da neurose).
- Pelo caráter neurótico do ego: este não pode encontrar na identificação do seu próprio personagem boas relações com os outros e um equilíbrio interior satisfatório.
Dificilmente poderemos considerar concluída a diferenciação entre as estruturas psicóticas, perversas e neuróticas. Por isso a nossa definição corre o risco inevitável de ser ampla demais, na medida em que pode aplicar-se, pelo menos parcialmente, às perversões e às psicoses.
Alguns exemplos de neuroses:
Neurose narcísica: expressão usada para designar uma doença mental caracterizada pela retirada da libido sobre o ego.
Neurose Obsessiva: exprimi-se a sintomas compulsivos como o ato de realizar ações indesejáveis e por um modo de pensar caracterizado por ruminação mental, dúvida, escrúpulos, e que leva a inibições do pensamento e da ação.
Neurose Traumática: os sintomas aparecem devido à um choque emotivo, ligado ao momento em que o sujeito sentiu sua vida ameaçada, manifestando-se por uma crise ansiosa paroxística que pode provocar
Neurose atual: tipo de neurose que Freud distingue das psiconeuroses:
- a origem das neuroses atuais não deve ser procurada nos conflitos infantis, mas no presente;
- nelas, os sintomas não são uma expressão simbólica e superdeterminada, mas resultam diretamente e da ausência ou da inadequação da satisfação sexual. Freud incluiu inicialmente nas neuroses atuais a neurose de angústia e a neurastenia, e propôs posteriormente incluir também a hipocondria.
Neurose de abandono: denominação introduzida por psicanalistas suíços (Charles Odier, Germaine Guex) para designar um quadro clínico em que predominam a angústia do abandono e a necessidade de segurança. Trata-se de uma neurose cuja etiologia seria pré-edipiana. Não corresponderia necessariamente a um abandono sofrido na infância. Os sujeitos que apresentam esta neurose chamam-se “abandônicos”.
Neurose de angústia: tipo de doença que Freud isolou e diferenciou:
- do ponto de vista sintomático, da neurastenia, pela predominância da angústia (espera ansiosa crônica, acessos de angústia ou equivalentes somáticos desta);
- do ponto de vista etiológico, da histeria. A neurose de angústia é uma neurose atual, mais especificamente caracterizada pela acumulação de uma excitação sexual que se transformaria diretamente em sintoma, sem mediação psíquica.
Neurose de caráter: tipo de neurose em que o conflito defensivo não se traduz pela formação de sintomas nitidamente isoláveis, mas por traços de caráter, modos de comportamento, e mesmo uma organização patológica do conjunto da personalidade.
Neurose de destino: designa uma forma de existência caracterizada pelo retorno periódico de encadeamentos idênticos de acontecimentos, geralmente infelizes, encadeamentos a que o sujeito parece estar submetido como a uma fatalidade exterior, a passo que, segundo a psicanálise, convém procurar as suas causas no inconsciente, e especificamente na compulsão à repetição.
Neurose (ou Síndrome) de Fracasso: denominação introduzida por René Laforgue e cuja acepção é muito ampla. Designa a estrutura psicológica de toda uma gama de sujeitos, desde aqueles que, de um modo geral, parecem ser os artífices da sua própria infelicidade até os que não podem suportar obter precisamente aquilo que mais ardentemente parecem desejar.
Neurose de transferência: a libido ser sempre deslocada para objetos reais ou imaginários, em lugar de se retirar sobre o ego.
Neurose familiar: em uma família, as neuroses individuais se completam, se condicionam reciprocamente e para evidenciar a influência patogênica que a estrutura familiar, principalmente a do casal parental, pode exercer sobre as crianças.
Neurose mista: caracteriza-se pela coexistência de sintomas provenientes; de neuroses etimologicamente diferentes: agitação, entorpecimento, ou confusão mental.
ANSIEDADE
Medo é a resposta emocional a um perigo real. Ansiedade é uma reação de temor ou apreensão diante de situações inócuas ou pode ser uma resposta desproporcional ao grau real de “stress” externo. Os sintomas psicossomáticos podem ser: palpitações, boca seca, dilatação das pupilas, falta de ar, transpiração, sintomas abdominais, tremores e tontura. As reações emocionais também incluem irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação e evitação da situação ou objeto temido.
Ansiedade é a expressão sintomática de um conflito emocional interno que ocorre quando certas experiências, sentimentos e impulsos muito perturbadores são suprimidos da consciência. Mesmo fora da consciência, os conteúdos mantidos no inconsciente retêm grande parte da catexia psíquica original. A liberação de lembranças ou impulsos proibidos, que buscam gratificação, provoca ansiedade por ser ameaçadora para o ego. O mesmo ocorre quando experiências traumáticas, profundamente soterradas, assolam o ego, exigindo uma elaboração mais aprofundada.
HISTERIA
A histeria é uma psiconeurose cujos conflitos emocionais inconscientes surgem na forma de uma severa dissociação mental ou como sintomas físicos (conversão), independentemente da qualquer patologia orgânica ou estrutural conhecida, quando a ansiedade subjacente é “convertida” num sintoma físico.
O termo origina-se do grego, hystéra, que significa útero. Uma antiga teoria sugeria que o útero vagava pelo corpo e a histeria era considerada uma moléstia especificamente feminina, atribuída a uma disfunção uterina. Na verdade, os sintomas histéricos podem se manifestar em homens e mulheres e são mais comumente observados na adolescência.
No final do século XIX, Jean Martin Charcot (1825-1893), um eminente neurologista francês, que emprega a hipnose para estudar a histeria, demonstrou que idéias mórbidas podiam produzir manifestações físicas. Seu aluno, p psicólogo francês Pierre Janet (1859-1947), considerou como prioritárias, para o desencadeamento do quadro histérico, muito mais as causas psicológicas do que as físicas.
Posteriormente, Sigmund Freud (1856-1939), em colaboração com Breuer, começou a pesquisar os mecanismos psíquicos da histeria e postulou em sua teoria que essa neurose era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional. Casos clássicos de histeria, como aqueles freqüentemente descritos pelos médicos do século XIX, atualmente são raros e a maioria das psiconeuroses são formas mistas, nas quais os sintomas histéricos podem estar mesclados com outros tipos de distúrbios neuróticos.
Os sintomas sensoriais e motores da histeria são denominados conversão pois geralmente não seguem as costumeiras inervações do sistema nervoso.
Os distúrbios sensoriais podem:
- abranger os sentidos da visão, audição, paladar e olfato;
- variar desde sensações peculiares até a hipersensibilidade ou anestesia total;
- causar grande sofrimento com dores agudas, para as quais nenhuma causa orgânica pode ser determinada.
Os distúrbios motores podem incluir uma gama de manifestações, como paralisia total, tremores, tiques, contrações ou convulsões. Afonia, tosse, náusea, vômito, soluços são muitas vezes de origem histérica.
Episódios de amnésia e sonambulismo são considerados reações de dissociação histérica.
HIPNOSE
O médico austríaco, Franz Anton Mesmer (1734 – 1815), ao tratar pacientes neuróticos, além de empregar a técnica da hipnose, a qual ele originou e que veio posteriormente a ser aceita como uma técnica terapêutica, também se utilizavam ímãs, pois acreditava que uma força oculta fluía do hipnotizador para o paciente.
Sigmund Freud ao estudar com Charcot, na França, em 1885, ficou impressionado com o potencial terapêutico da hipnose para o tratamento de distúrbios neuróticos. Ao voltar para Viena, ele empregou a hipnose em seus pacientes com o intuito de facilitar a lembrança de eventos perturbadores aparentemente esquecidos. Conforme ele começou a desenvolver a Psicanálise, suas considerações teóricas bem como a dificuldade que encontrou para hipnotizar alguns de seus pacientes, levaram-no a descartar a hipnose em favor da associação livre.
A hipnose pode ser auto-induzida através de técnicas de relaxamento ou de várias práticas disseminadas em cultos religiosos, filosóficos ou místicos. A indução da hipnose é geralmente percebida pelo estabelecimento de uma relação harmoniosa entre o hipnotizador e o paciente, quando este último deve demonstrar confiança e estar disposto a cooperar durante todo o processo hipnótico.
Geralmente o hipnotizador prende a atenção do paciente, enquanto murmura sugestões monótonas e repetitivas.
A hipnose, um fenômeno de gradações, que varia de transes leves a profundos, caracterizados constitui-se num estado alterado de consciência, completamente diferente dos estados de vigília ou sono, durante o qual a atenção retirada do mundo externo concentra-se em experiências mentais, sensoriais e fisiológicas.
O sujeito hipnotizado parece seguir instruções de forma automática e acrítica. Durante a hipnose sua percepção do mundo real é balizada pelas sugestões do hipnotizador, as quais são literalmente seguidas, mesmo que estejam em total desacordo com os estímulos que lhe são impingidos. Neste sentido, o fenômeno tem sido descrito como sendo um estado de “quase-sonho”, sugerindo um funcionamento mental regredido por parte do sujeito hipnotizado.
A amnésia pós-hipnótica pode tanto ser o resultado espontâneo de um transe profundo como também da sugestão do hipnotizador durante o transe hipnótico. Por outro lado, ela pode ser removida com êxito através de sugestões hipnóticas adequadas. Se a amnésia for induzida durante o transe, posteriormente, quando o indivíduo estiver em estado de vigília, não ficará ciente da fonte do seu impulso para se comportar de acordo com a instrução recebida.
Por outro lado, a hipermnésia – capacidade de memória que transcende a habilidade cotidiana – é um outro aspecto do comportamento hipnótico, quando o sujeito consegue se lembrar de vivências profundamente reprimidas, não tendo porém nenhuma lembrança delas ao nível normal de consciência. O reviver de lembranças precoces reprimidas pode, porém, estar mesclado a fantasias.
A hipnose vem recebendo endosso oficial como método terapêutico por parte de médicos, psiquiatras, dentistas e psicólogos do mundo inteiro.
A PSICOTERAPIA PSICANALITICA
A psicanálise reconhece como meta fundamental o tornar consciente o inconsciente. Mas a experiência clínica nos permite comprovar que essa finalidade traz, além disso, a perspectiva simultânea de uma reconstrução da estrutura da personalidadedo analisando como resultado terapêutico talvez mais transcendente. Essa reconstrução envolve a resolução de conflitos básicos e de seus derivados através da elaboração e do conseqüente ganho de um maior bem-estar, com o qual se pretende eliminar ou aliviar os sintomas de modo franco e duradouro.
Na terapia de objetivos limitados, como o próprio nome indica, as metas são reduzidas e mais modestas que as do tratamento psiquiátrico. A limitação dos objetivos terapêuticos é característica do procedimento de que nos ocupamos, e aparece em função de necessidades mais ou menos imediata do indivíduo. Os objetivos podem colocar-se em termos da superação dos sintomas e problemas atuais da realidade do paciente, o que implica, antes de tudo, o propósito de que este possa enfrentar mais adequadamente determinadas situações conflitivas e recuperar sua capacidade de autodesenvolvimento, de modo que na prática se ache em condições de adotar certas determinações quando isso se revele necessário.
De preferência e na medida do possível, a solução dos problemas imediatos e o alívio sintomático deverão, em um sentido psicodinâmico, corresponder à obtenção de um princípio de insight do paciente a respeito dos conflitos subjacentes (o que supõe que em certa medida também nos propomos a tornar conscientes aspectos inconscientes, ainda que a meta central, em si, não seja a exploração do inconsciente como ocorre na psicanálise).
ESCOLAS PSICANALÍTICAS
Embora não contestassem por inteiro os conceitos da psicanálise, alguns analistas que também são freudianos, discordaram de Freud em pontos básicos, tentaram corrigir o que consideravam deficiências e inadequações sérias nas formulações freudianas, promovendo suas próprias concepções.
Alguns deles são:
Sándor Ferenczi (1873-1933)
Médico psiquiatra, psicanalista húngaro, originário de uma família de judeus poloneses imigrantes e o clínico mais talentoso da história do freudismo. Estava ligado a Freud, desde 1906, sendo o discípulo favorito, e um dos raros amigos; é com E. Jones e K. Abraham, um dos maiores colaboradores para o desenvolvimento da psicanálise fora da Áustria. A partir de 1923, começam as divergências entre Freud e Ferenczi, alimentada pela complexidade dos vínculos afetivos existentes entre eles.
Foi no plano técnico que Ferenczi desenvolveu suas contribuições mais originais. Propôs uma “técnica ativa” que poderia encorajar a enfrentar as situações patológicas, e evitar assim, que parte da energia psíquica encontrasse satisfações substitutivas, travando o tratamento. No plano teórico, as pesquisas objetivam a bioanálise, que é uma extensão da teoria psicanalítica à área da biologia, ou à psicanálise das origens, segundo a qual a existência intra-uterina será a repetição de formas anteriores de vida, cuja origem é marinha. Interessou-se ao longo de toda a sua obra pela Hipnose, sem se utilizar técnicas hipnóticas para realizar curas psíquicas. Ferenczi também contribuiu à teoria do simbolismo, e abriu caminho para uma abordagem mais atenta das relações primárias da mãe com o filho.
Anna Freud (1895-1982)
Psicanalista britânica, de origem austríaca, foi a caçula dos seus filhos de Sigmund e Martha Freud. Presidente do Instituto de Formação Psicanalítica de Viena, de 1925 a 1938, refugiou-se com o pai em Londres, em 1938, onde fundou, em 1951, a Clínica Hampstead, centro de tratamento, formação e pesquisas em psicoterapia Infantil. Foi uma das primeiras pessoas a realizar psicanálise infantil. Anna Freud contribuiu para a revisão da posição teórica ortodoxa do pai, ampliando o papel do ego em seu funcionamento independente do Id.
Na teoria das relações objetais, também tentou modificar a psicanálise freudiana; o foco dessa abordagem é a intensa relação emocional que se desenvolve entre o bebê e a mãe, que ela descreve em termos sociais e cognitivos, e não em termos exclusivamente sexuais. Ela publicou: “Introdução à Técnica da análise Infantil” (1927), “O ego e os mecanismos de defesa” (1937), “O normal e o patológico na criança” (1965).
Melaine Klein (1882-1960)
Nasceu em Viena, e aos 37 anos, rompe com a ortodoxia religiosa e cursa Medicina. Abandonou a Medicina e seguiu cursos de Arte e História na Universidade de Viena, sem graduar-se. Em Budapeste – 1916, teve seu primeiro contato com a obra de Freud e inicia análise com Sándor Ferenczi. Estimulada por ele, inicia o atendimento de crianças. Em 1925 radicaliza-se em Londres e em 1932 publica simultaneamente, em inglês e alemão, da obra:
A psicanálise da criança. A Psicanálise Kleiniana constitui-se como um sistema de pensamento que modificou inteiramente a doutrina e a clínica freudiana, cunhando novos conceitos e instaurando uma prática original da análise, da qual decorreu um tipo de formação didática diferente da do freudismo clássico. Esteve na origem tanto do fundamento analítico da prática dos tratamentos com crianças quanto de uma corrente da psicanálise, em que a clínica do narcisismo chegou a seu auge.
Jaques Lacan (1901-1980)
Nasceu na França em Orleans. Formou-se em medicina, atuando como reurolista e psiquiatra e se considerava um Psicanalista Freudiano. Foi o seguidor que mais contribuiu e deu continuidade à obra de |Freud. Lacan nasceu numa família na qual a religião católica tinha um grande valor íntimo, mas no final dos anos 20, Lacan perdeu a fé e esse foi o clímax de uma verdadeira interrogação. Lacan mostrou que o inconsciente se estrutura como a linguagem. A verdade sempre teve a mesma estrutura de uma ficção, em que aquilo que aparece sob a forma de sonho ou devaneio é, por vezes, a verdade oculta sobre cuja repressão está a realidade social. Considerava que o desejo de um sonho, não é desculpar o sonhador, mas o grande “Outro” do sonhador.
O desejo é o desejo do “Outro”, e a realidade é apenas para aqueles que não podem suportar o sonho. Lacan preferia a não interferência no discurso do paciente, ou seja deixava fluir a conversa para que o próprio analisando descobrisse as suas questões, pois o risco da interpretação, é o analista passar os seus significantes para o paciente.
Alfred Adler (1870-1937)
Era um médico vienense que se ligou desde cedo ao grupo que se reunia com Freud para discutir a psicanálise; foi um dos mais antigos seguidores de Freud. Mas, rompeu com Freud em 1911. Formulou uma teoria do comportamento parcialmente independente e estabeleceu uma escola rival, e que deu o nome de psicologia individual. A análise dos mecanismos compensatórios foi considerada por Adler a tarefa principal tanto da teoria como da prática psicanalítica. Na teoria de Adler, vemos que os conflitos importantes ocorrem, freqüentemente, entre o indivíduo e o seu meio, mais do que no íntimo do indivíduo, como Freud sustentava. Via o homem como um indivíduo dinâmico e integrado. Adler e sua escola fizeram da terapia um processo mais breve e, pelo menos em algumas ocasiões, dispensaram o divã freudiano. Considerava a motivação humana um esforço por atingir a superioridade e acentuava a importância dos fatores sociais no desenvolvimento da personalidade.
Carl Jung (1875-1961)
Era um psiquiatra suíço que se interessou pelas teorias de Freud depois de ler A Interpretação de Sonhos, publicado em 1900, ano que se formava médico. Jung visitou Freud e os dois imediatamente ficaram ligados por fortes laços de amizade. Freud considerou Jung o príncipe herdeiro do movimento psicanalítico. Mas pouco depois, as relações entre Jung e Freud começaram a enfraquecer; Jung diminuía a importância do sexo em conferências e análises terapêuticas, e alterou por sua conta o conceito de libido. A relação dos dois estava se tornando cada vez mais tensa, em 1914 Jung retirara-se completamente do movimento e logo fundou uma nova escola, a que deu o nome de psicologia analítica.
A terapia de Jung deu menos relevo ao passado do indivíduo e mais à sua situação presente e desejos para o futuro. Viu o homem como um recipiente mais criador e menos passivo das influências ambientais do que Freud; Jung acreditava que os impulsos primitivos do homem podiam ser canalizados para uma busca de individuação ou de divino; se a energia não fosse reconhecida e utilizada apropriadamente pelo ego, poderia perturbar tanto o funcionamento do ego que o homem se converteria num neurótico ou psicótico. Suas obras tinham muita influência sobre campos diversos como: religião, história, arte e literatura; as idéias de Jung tinham base mística e religiosa.
Karen Horney (1885-1952)
Nasceu em Hamburgo, Alemanha. Formou-se médica em 1913. Foi uma das primeiras feministas. Descreveu sua obra como uma modificação e extensão do sistema de Freud; Propôs a ansiedade básica, acrescida do relacionamento pais-filhos, como a principal força que motiva as pessoas a procurar segurança e proteção. Não concordava com Freud quanto ao fato de a personalidade depender de forças biológicas imutáveis. Ela negava a posição destacada dos fatores sexuais, contestava a validade da teoria edipiana e descartava os conceitos de libido e da estrutura freudiana da personalidade. Afirmou que os homens são motivados pela inveja do útero, que invejam a capacidade feminina de gerar filhos; e esta inveja gera ressentimento no homem fazendo com que reaja depreciando e diminuindo as mulheres, negando a elas direitos iguais.
Sustentava também que a personalidade pode mudar ao longo da vida. E nada no desenvolvimento da criança era visto como universal, tudo dependia de fatores culturais, sociais e ambientais.
DIFERENCIAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E PSICOLOGIA
A palavra neurose é uma impropriedade hoje, tanto que se tem preferência por psico-neurose. Quando surgiu, pensavam que se tratava de afecção do sistema nervoso, daí o nome.
O estudo da neurologia é sumamente importante a psicanálise, como bagagem de informação e capacitação do psicanalista para entender o todo do complicado do ser humano, mas, no fundo, não tem nenhuma relação de objeto ou conteúdo.
A psicologia tem afinidade com a psiquiatria apenas por empregar os mesmos métodos de tratamento (psicoterapia) não medicamentosos que a psiquiatria também o faz.
Digamos que a psicologia está mais para a psicanálise do que para a psiquiatria, que é um ramo e modo medico de tratar o psiquismo, quase sempre de modo alopático e como panacéia.
“Não pode haver mais duvida alguma de que ela (a Psicanálise) continuará: comprovou sua capacidade de sobreviver e de desenvolver-se tanto como um ramo do conhecimento, quanto como um método terapêutico”. ( Sigmund Scholomo Freud 1856 – 1939)
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- Autor: Marilene de Lima Dassoler
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