Problemas de aprendizagem também são identificados em adultos
Engana-se quem pensa que problemas de aprendizagem só ocorrem com crianças, e que o adulto está pronto para a era do conhecimento. A queixa de universitários que não entendem nada do que leem é uma realidade, onde uma certa confusão de termos precisa ser esclarecida:
A Dificuldade de aprendizagem é o transtorno simples, experimentado por todos nós em algum momento. É transitório e é comum ocorrer.
Problema de aprendizado é a dificuldade mais intensa, não patológica, decorrente de determinantes psicológicos, sociais e pedagógicos.
Distúrbios de aprendizagem são transtornos mais complexos de natureza patológica, excluindo, porém, outros fatores primários como retardo mental, deficiências sensoriais, incapacidades motoras e/ou perturbações emocionais graves.
Dentre os fatores que interferem na aprendizagem, pode-se citar:
Autoestima baixa – a pessoa não tem ânimo, mesmo a leitura não lhes interessa.
Falta de desejo de aprender – o aluno não se encontra motivado para novas descobertas.
Fator sócio/afetivo – alguns alunos sentem-se sem vínculos afetivos, pensam que ninguém gosta dele.
Transtornos emocionais – aí registram-se depressões, ansiedades e fobias, entre outros.
Hiperatividade – o aluno não fica quieto para assimilar a aprendizagem.
Falta de interação professor/aluno – por melhor que seja o professor, sem interação não há aprendizagem.
Os processos de construção de conhecimento e de aprendizagem dos adultos são, assim, muito menos explorados na literatura psicológica do que aqueles referentes às crianças e adolescentes. Palacios, em um artigo, enfatiza a importância dos fatores culturais na definição das características da vida adulta e no que diz respeito ao funcionamento intelectual do adulto. O mesmo autor afirma que as pessoas humanas mantêm um bom nível de competência cognitiva até uma idade avançada (desde logo, acima dos 75 anos).
Os psicólogos evolutivos estão, por outro lado, cada vez mais convencidos de que o que determina o nível de competência cognitiva das pessoas mais velhas não é tanto a idade em si mesma, quanto uma série de fatores de natureza diversa. Entre esses fatores, pode-se destacar, como muito importantes, o nível de saúde, o nível educativo e cultural, a experiência profissional e o tônus vital da pessoa (sua motivação, seu bem-estar psicológico…). É esse conjunto de fatores e não a idade cronológica que determina boa parte das probabilidades de êxito que as pessoas apresentam ao enfrentar novamente a sala de aula.
Novo panorama
Diante do novo cliente que se apresenta para cursar uma faculdade, o desnível etário é muito grande. Tenho numa mesma sala jovens de 19 anos e alunos de 56 anos, e é claro que a dificuldade de aprendizagem se faz presente. Outro dia, me procurou em particular uma aluna dizendo que não estava acompanhando muito bem as aulas, pois com 52 anos, já bastante tempo fora de sala de aula, alguns termos ela desconhecia completamente. Obteve nota baixa e resolvi ajudá-la, encaminhei-a para o serviço pedagógico. Passado algumas semanas, procurei a pedagoga para saber o resultado e ela não havia aparecido. Fui procurá-la para ver o que poderíamos fazer, e ela me disse que estava realizando seu sonho de ser assistente social, mas que a dificuldade de entender os teóricos como Bordier, Karl Marx, Freud e outros era muito grande, pois lia e não compreendia. Então, na aula seguinte, partimos para a leitura do texto, fiz leitura individual e coletiva. Quando chegou a vez da referida aluna, ela não sabia ler, não compreendia o que lia, ou seja, apresentava um problema de aprendizagem chamado dislexia.
A dislexia, segundo Jean Dubois et alii (1993, p.197), é um defeito de aprendizagem da leitura caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes mal identificados.
A dislexia, segundo o linguista, interessa de modo preponderante tanto à discriminação fonética quanto ao reconhecimento dos signos gráficos ou à transformação dos signos escritos em signos verbais.
A dislexia, para a linguística, assim, não é uma doença, mas um fracasso inesperado (defeito) na aprendizagem da leitura, sendo, pois, uma síndrome de origem linguística.
As causas ou a etiologia da síndrome disléxica são de diversas ordens e dependem do enfoque ou análise do investigador. Aqui, tendemos a nos apoiar em aportes da análise linguística e cognitiva ou simplesmente da psicolinguística.
Muitas das causas da dislexia resultam de estudos comparativos entre disléxicos e bons leitores. Podemos indicar as seguintes:
- a) Hipótese de déficit perceptivo,
- b) Hipótese de déficit fonológico e
- c) Hipótese de déficit na memória.
Atualmente, os investigadores na área de psicolinguística aplicada à educação escolar apresentam a hipótese de déficit fonológico como a que justificaria, por exemplo, o aparecimento de disléxicos com confusão espacial e articulatória.
Desse modo, são considerados sintomas da dislexia relativos à leitura e escrita os seguintes erros:
a. Erros por confusões na proximidade espacial:
- a) confusão de letras simétricas;
- b) confusão por rotação;
- c) inversão de sílabas.
b. Confusões por proximidade articulatória e sequelas de distúrbios de fala:
- a) confusões por proximidade articulatória;
- b) omissões de grafemas;
- c) omissões de sílabas.
Segundo Mabel Condemarín (1987, p.23), outras perturbações da aprendizagem podem acompanhar os disléxicos:
Alterações na memória;
Alterações na memória de séries e sequências;
Orientação direita-esquerda;
Linguagem escrita;
Dificuldades em matemática;
Confusão com relação às tarefas escolares;
Pobreza de vocabulário;
Escassez de conhecimentos prévios (memória de longo prazo).
Algumas perguntas foram formuladas por e-mail, ei-las abaixo com as respectivas respostas.
Como é feito o diagnóstico de dislexia?
É feito a partir de testes aplicados por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, oftalmologistas, neurologistas e outros quando necessário. Esta equipe fará um diagnóstico de exclusão após verificar todas as possibilidades de diagnóstico para a confirmação da dislexia.
A dislexia tem cura?
Não existe cura para a dislexia, pois ela é um distúrbio e, por isso, um disléxico sempre será disléxico. Entretanto, mediante uma avaliação adequada e um acompanhamento específico, individualizado, gradativo e cumulativo, o disléxico terá condições de evoluir de maneira satisfatória e obter grande sucesso. Vale lembrar que a dislexia não é impedimento para o aprendizado, ele só deverá ser feito de maneira adequada.
Qual a melhor maneira de tratar a dislexia?
Não existe um único método para se tratar a dislexia, o que deve ser feito é considerar as dificuldades de cada um e estipular um plano de trabalho que seja multisensorial, gradativo e cumulativo. Levando em consideração que as maiores dificuldades da dislexia estão na relação entre a letra e o som (fonema-grafema), na terapia deve ser enfatizado o método fônico. Deve-se também treinar a memória imediata, a percepção visual e a auditiva.
Autor: Angela Vieira é psicóloga clínica, professora de psicologia com graduação e pós-graduação, especialista em recursos humanos.
A necessidade da leitura no processo de ensino/aprendizagem é um tema que se entrelaça com a compreensão dos problemas de aprendizagem em adultos.
Educação de Jovens e Adultos – EJA é um campo que também deve ser considerado ao discutir as dificuldades enfrentadas por adultos em ambientes acadêmicos.
Materiais didáticos específicos podem ser úteis para auxiliar adultos com dificuldades de aprendizagem.
Onde consigo este tipo de acompanhamento para um adulto?