A visão científica positivista dos fatos não permite o uso de entidades não observáveis nas deduções científicas. Essa visão de mundo refletiu no plano filosófico e, embora criticada no plano teórico, teve muita influência no plano prático.
O positivismo Comtiano não pretende ser somente uma filosofia, mas mostrar a necessidade de uma reforma social fundamentando-se na descrição e análise objetiva dos fatos ou fenômenos.
“O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”
Augusto Comte
A vida de Augusto Comte
Filósofo e sociólogo francês (19/01/1798-05/09/1857), é considerado o fundador do positivismo. Nasceu em Montpellier, filho de um fiscal de impostos. Aos dezesseis anos, ingressou na Escola Politécnica, recebendo influência do pensamento científico de Carnot, Lagrange e Laplace. Em 1816, a Escola Politécnica foi temporariamente fechada, devido a questões políticas. No ano seguinte, Comte tornou-se secretário do filósofo Sain-Simon, de cujo pensamento social e político recebeu profunda influência. Em 1824, discordâncias teóricas provocaram a separação desses dois pensadores. Neste mesmo ano, casou-se com Caroline Massin e passou a ministrar aulas particulares de matemática.
Dois anos depois, Comte iniciou em sua própria casa um curso, onde pretendia abordar as ideias centrais de sua filosofia. Contudo, uma crise mental seguida de profunda depressão, sofrida pelo filósofo, impediu-o de levar adiante seu projeto. Em 1832, Comte retornou à Escola Politécnica, na função de repetidor de análise matemática e de mecânica. Apesar de várias tentativas, jamais conseguiu ocupar uma cátedra nesta escola. Em 1842, Comte separou-se de sua esposa. Dois anos depois, perdeu seu cargo, passando a depender de amigos e admiradores. Em 1844, conheceu Clotilde de Vaux, por quem se apaixonou. Esta relação influenciou seu pensamento a ponto de criar uma nova religião, a religião da humanidade.
Algumas de suas principais obras são:
- plano de trabalhos científicos necessários à reorganização da sociedade;
- curso de filosofia positiva;
- sistema de política positiva; catecismo positivista.
O Positivismo
Corrente de pensamento formulada na França por Augusto Comte. O termo identifica a filosofia que busca seus fundamentos na ciência e na organização técnica e industrial da sociedade moderna. O método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo método científico, como os postulados da metafísica, não levam ao conhecimento e não têm valor.
Características gerais
O objetivo do método positivo de investigação é a pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico somente aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande ideal das ciências. Com base nessas leis, o homem torna-se capaz de prever os fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade. Ver para prever é o lema da ciência positiva. O conhecimento científico torna-se, desse modo, um instrumento de transformação da realidade, de domínio do homem sobre a natureza. As transformações impulsionadas pelas ciências visam o progresso; este, porém, deve estar subordinado à ordem. Temos, então, um novo lema positivista aplicado à sociedade: ordem e progresso.
Na obra Discurso sobre o espírito positivo, Comte aponta as características fundamentais que distinguem o positivismo das demais filosofias:
- Realidade – pesquisa de fatos concretos, acessíveis à nossa inteligência, deixando de lado a preocupação com mistérios impenetráveis, referentes às causas primeiras e últimas dos seres;
- Utilidade – busca de conhecimentos destinados ao aperfeiçoamento individual e coletivo do homem, desprezando as especulações ociosas, vazias e estéreis;
- Certeza – obtenção de conhecimentos capazes de estabelecer a harmonia lógica na mente do próprio indivíduo e a comunhão em toda a espécie humana, abandonando as dúvidas indefinidas e os intermináveis debates metafísicos;
- Precisão – estabelecimento de conhecimentos que se opõem ao vago, baseados em enunciados rigorosos, sem ambigüidades;
- Organização – tendência a organizar, construir metodicamente, sistematizar o conhecimento humano;
- Relatividade – aceitação de conhecimentos científicos relativos. Se não fossem relativos, não poderia ser admitida a continuidade de novas pesquisas, capazes de trazer teorias com teses opostas ao conhecimento estabelecido. Assim, a ciência positiva é relativa porque admite o aperfeiçoamento e a ampliação dos conhecimentos humanos.
A lei dos três estados
A lei dos três estados resume o pensamento de Comte sobre a evolução histórica e cultural da humanidade. Conforme escreveu em seu Curso de filosofia positiva, essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado científico ou positivo.
Vejamos como o próprio Comte caracteriza cada um desses três estados:
- No estado teológico – o espírito humano, dirigindo essencialmente suas investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos, apresenta os fenômenos como produzidos pela ação contínua e direta de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do universo.
- No estado metafísico – que no fundo nada mais é do que simples modificação geral do primeiro: os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas, verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada uma entidade correspondente.
- No estágio positivo – o ser humano desiste de procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da observação e do método científico, estabelecer as leis gerais que os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade do espírito humano que não é mais enganado por explicações vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso.
Classificação das Ciências
As ciências no decurso da história não se tornaram “positivas” na mesma data, mas numa certa ordem de sucessão que corresponde à célebre classificação: matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia.
Das matemáticas à sociologia, a ordem é a do mais simples ao mais complexo, buscando uma proximidade crescente em relação ao homem.
Esta ordem corresponde à ordem histórica da aparição das ciências positivas. As matemáticas – que com os pitagóricos eram ainda, em parte, uma metafísica e uma mística do número – constituem-se, entretanto, desde a antiguidade, numa disciplina positiva – elas são, aliás, para Comte, antes um instrumento de todas as ciências do que uma ciência particular. A astronomia descobre bem cedo suas primeiras leis positivas, a física espera o século XVII para, com Galileu e Newton, tornar-se positiva. A oportunidade da química vem no século XVIII (Lavoisier). A biologia se torna uma disciplina positiva no século XIX. O próprio Comte acredita coroar o edifício científico criando a sociologia.
Para Comte, as ciências mais complexas e mais concretas dependem das mais abstratas – é preciso ser matemático para saber física. Um biólogo deve conhecer matemática, física e química. Entretanto, se as ciências mais complexas dependem das mais simples, não podemos deduzi-las de, nem reduzi-las a estas últimas.
A Reforma da Sociedade
A reforma da sociedade proposta por Comte deveria obedecer aos seguintes passos: reorganização intelectual, depois moral e, por fim, política. Segundo ele, a Revolução Francesa destruiu uma série de valores importantes da sociedade tradicional europeia, não sendo capaz, entretanto, de impor novos e permanentes valores para a emergente sociedade burguesa. E nisso residia a grande tarefa a ser desempenhada pela filosofia positiva: restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial.
Em relação aos conflitos entre proletários e capitalistas, Comte assumiu uma posição considerada reacionária e conservadora. Defendendo a legitimidade da exploração industrial, concordava com a divisão das classes sociais e considerava indispensável a existência dos empreendedores capitalistas e dos operadores diretos, o proletariado. Para os trabalhadores, defendia um tipo de doutrinação positivista destinada a confirmar a necessidade dos trabalhos práticos e mecânicos, inspirando o gosto por eles, quer enobrecendo seu caráter habitual, quer adoçando suas consequências penosas. Conduzindo, de resto, a uma sadia apreciação das diversas posições sociais e das necessidades correspondentes, predispõem a perceber que a felicidade real é compatível com todas e quaisquer condições, desde que sejam desempenhadas com honra e aceitas convenientemente.
A Religião de Comte
Nos últimos quinze anos de sua vida, Comte decidiu criar uma nova seita religiosa, denominada Religião da Humanidade. A deusa dessa religião tinha os traços de sua amada Clotilde de Vaux e os “santos” eram pensadores como Dante, Shakespeare, Galileu, Adam Smith etc.
Elaborou também o Catecismo Positivista, destinado a difundir os princípios religiosos da nova seita. Nessa obra, deixou explícitas suas verdadeiras intenções, formulando o que estava oculto em outros trabalhos anteriores, isto é, suas concepções dogmáticas, autoritárias e conservadoras.
A Religião da Humanidade, fundada por Comte, sobre a Angélica inspiração de Clotilde, pode ser caracterizada como a Religião do Amor, a Religião da Ordem ou a Religião do Progresso. O amor procura a Ordem e leva ao Progresso; a Ordem consolida o Amor e dirige o Progresso; o Progresso desenvolve a Ordem e conduz ao Amor, daí a característica do positivismo – Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim.
A Influência Positivista no Brasil
O Brasil foi o país do mundo onde a influência de Augusto Comte se fez mais sentir. Os apóstolos brasileiros que mais trabalharam no sentido de propagar o positivismo foram: Miguel Lemos, Raymundo Teixeira Mendes e Benjamin Constant.
Uma grande influência do positivismo de Comte em nosso país está em um dos nossos símbolos nacionais – é de Comte a ideia de “Ordem e Progresso”, que viria a fazer parte da bandeira do Brasil republicano.
Obras de Augusto Comte
Adquira aqui algumas obras de Augusto Comte e outras similares
- Sistema de Filosofia Positiva, em 6 volumes – 1830-1842, 5ª edição, 1892-1894. Versão Inglesa, por Miss Matineau, 2 volumes, 1853; 3ª edição 1893, versão francesa deste volume, por M. Avezac Lavigne, 1871. Nova edição 1895.
- Sistema de Política Positiva, ou Tratado de Sociologia instituindo a Religião da Humanidade. 4 vol, Paris, 1851-1854; 2ª edição, 1881-1884; 3ª edição Tradução para o Inglês por Richarde Congreve e outros.
- Catecismo Positivista, ou Sumária Exposição da Religião Universal. 1 volume, Paris 1852; 2ª edição, 1874; 3ª edição 1890. Nova edição 1891, com prefácio de J. Lagarrigue e notas de Miguel Lemos.
- Apelo aos Conservadores; 1 volume, Paris 1855, 2ª edição Tradução em Inglês e Português.
- Síntese Subjetiva, ou Sistema Universal das Concepções próprias do Estado Normal da Humanidade. 1 volume, Paris, 1856, tomo 1 único publicado, contendo o Sistema de Lógica Positiva ou Tratado de Filosofia Matemática, 2ª Edição.
- Testamento, Orações Quotidianas, Confissões anuais e Correspondências com Madame Clotilde de Vaux, 1 volume, Paris 1884, 2ª edição Tradução inglesa do Testamento.
- Circulares Anuais (1850 – 1857) 1 volume 1866 – tradução inglesa.
- Tratado Filosófico D’Astronomia Popular, 1 vol, Paris, 1845; 2ª edição, 1893.
- Tratado Elementar de Geometria Analítica. 1 volume, Paris, 1841; 2ª edição, precedida da Geometria de Descartes, em 1895. Tradução para o português, por vários alunos da Escola Militar do Rio de Janeiro. – Esgotada.
- Cartas à M. Vallat (1815-1844), Paris 1870.
- Cartas à John Stuart Mill (1841-1844), 1 volume Paris 1877.
- Correspondências Inéditas de Augusto Comte. Paris elaborado pela Sociedade Positivista – 1903 (4 volumes).
- Cartas de Augusto Comte a Diversos – Publicado pelos seus Executores Testamenteiros, Paris – 1902. Três Volumes.
Algumas máximas de Comte
Amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim;
A família, a pátria, a humanidade:
“– Se o Indivíduo não se subordina à Família, desconhece seus deveres, invoca os seus direitos e se dedica a explorar outros Indivíduos na Família, na Pátria e na Humanidade. Assim gera-se o Individualismo e a Maldade”;
“-Se a Família não se subordina à Pátria, desconhece seus deveres, e se dedica a explorar as outras Famílias na mesma Pátria e na Humanidade. Assim se gera o Capitalismo Egoísta”
“-Se a Pátria não se subordina à Humanidade, desconhece seus deveres e se dedica a explorar as outras Pátrias na Humanidade. -É daí que se gera o Nacionalismo e as Guerras”
A sociocracia:
- Organiza disciplinarmente o Indivíduo subordinando-o à Família.
- Organiza disciplinarmente a Família subordinando-a à Pátria.
- Organiza disciplinarmente a Pátria subordinando-a à Humanidade.
- Amar, pensar, agir;
- Saber para prever, a fim de prover;
- Conheça-te a ti mesmo para melhorares;
- O joelho do homem jamais se dobrará se não diante da mulher honrada e amada e não feminista;
- Saber não maximizar os detalhes para melhor utilizar o conjunto;
- Ninguém possui outro direito se não de fazer sempre o seu dever;
- Satisfazer os pobres mas mantendo os ricos;
- Dirigir toda a natureza viva, contra a natureza morta, para explorar o domínio terrestre;
- Ajustar o presente, projetando o futuro, com base no passado;
- Não existe como princípio, família sem sociedade, como sociedade sem família;
- O proletariado participa do meio da sociedade ocidental sem estar ainda absorvido;
- Transformar os debates políticos em pactos sociais;
Ao longo dos anos, surgiram várias correntes de pensamento, que tinham por objetivo maior compreender as diferentes formas de enfrentamento da realidade e entender também as possibilidades da razão humana captar o real e interpretá-lo. O positivismo não fugiu à regra e surgiu durante a segunda metade do século XX e teve como principal teórico e divulgador Augusto Comte, o qual se baseia na ciência e na organização técnica e industrial da sociedade moderna.
Autor: Ercilio Ferreira Duarte
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