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Atualizado em 09/04/2013

PEDAGOGIA DE PROJETOS

Fala da função social da escola.

“A educação é um processo de vida, não uma preparação para a vida presente, tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, bairro ou nos pátios.”
(Dewey)

Autora: Soraya Mendonça Marques
(Pedagoga e professora pós graduada em Educaão infantil)

A prática de projetos é inerente à própria história da humanidade e utilizar esta prática em todas as fases escolares, propicia o desenvolvimento e a aproximação com uma atividade que é e faz parte do nosso desenvolvimento. Com isso, precisamos antes de tudo, auxiliar os nossos alunos a sonhar; a pensar; a traçar objetivos, estratégias, caminhos, alternativas; a tirar conclusões e a construir o seu conhecimento.

INTRODUÇÃO

O maior dos projetos que encontramos como exemplo é o da criação do próprio Universo. Explicar esse início é uma afirmação distante de um consenso. A Ciência busca caminhos, a Teologia há muito determinou seu padrão. E nesse contexto vai se desenvolvendo a História da humanidade.

Apesar de não conhecermos efetivamente o início de tudo, se trata do mais perfeito projeto que conhecemos. Assim, o desenvolvimento desta fantástica aventura possui fases e caminha, na maioria das vezes, na incerteza. Os novos rumos são construídos, surgem novos desafios e novos caminhos são tomados. Existem as diversidades, divergências, concepções diferentes, ou seja, estão presentes os elementos do inesperado.

BASE CONCEITUAL

A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Surgiu no início do século, com John Dewey e outros representantes da chamada Pedagogia Ativa. William Heard Kilpatrick, discípulo de Dewey, professor de Pedagogia da Universidade de Colúmbia, lançou, em 1918, a idéia de projetos como uma atitude didática. E, segundo ele, “o projeto constitui uma atitude intencional, com sentido, que se realiza em um ambiente social…, um ato interessado em um propósito”. Esta proposta de Kilpatrick foi inspirada, principalmente em Dewey: “todo conhecimento verdadeiro deriva de uma necessidade”. A humanidade desenvolveu-se tratando de obter conhecimentos que satisfizessem as suas necessidades.

Na atualidade, a Pedagogia de Projetos ganha força com César Coll, Fernando Hernandez, entre outros, quando ocorre uma série de reflexões sobre o papel da escola, sua função social, o significado das experiências escolares para aqueles que dela participam. Apresenta-se ainda como uma concepção de posturas pedagógicas, e não meramente como uma técnica de ensino mais atrativa. Ela possibilita uma escola alicerçada no real, aberta a múltiplas relações com o exterior, onde o aluno trabalha intensamente e dispõe dos meios para afirmar-se. Permite que ele construa o sentido de sua atividade e oportuniza ao aluno viver com alegria, entusiasmo e conflito suas experiências, propiciando-lhe melhor compreensão da historicidade do nosso tempo, facilitando sua formação como pessoa consciente de seu papel de construtor da história.

FUNÇÃO DO PROJETO
A função do projeto é a de tornar a aprendizagem ativa, interessante, significativa, real e atrativa para o aluno, englobando a educação em um plano de trabalho agradável, sem impor os conteúdos de forma autoritária. Assim, o aluno busca e consegue informações, lê, conversa, faz investigações, formula hipóteses, anota dados, calcula, reúne o necessário para a solução dos conflitos cognitivos e, por fim, converte para a construção e ampliação de novas estruturas de pensamento.

No processo de inovação curricular, do qual o trabalho por projetos é apenas uma parte, há que se romper com a concepção de neutralidade dos conteúdos escolares, que passam a ganhar significados diversos dos alunos. O acervo de conhecimentos transmitidos, na classe, durante as fases de um projeto, supera em muito os conhecimentos que poderiam ser adquiridos em aulas expositivas e outras atividades, uma vez que os alunos buscam os conhecimentos por necessidade e interesses, como meio e não como fim. Essa função é importante na elaboração do projeto, porque a escola deve colaborar para tornar a aprendizagem significativa para o aluno.

Segundo César Cool, projeto é uma metodologia de trabalho que visa organizar os alunos em torno de objetivos previamente definidos coletivamente, por alunos e educadores; apresenta um conjunto de procedimentos metodológicos de média ou longa duração, com tarefas que atendem a um progressivo envolvimento individual e social do aluno nas atividades empreendidas voluntariamente, por ele e pelos colegas sob a coordenação do educador.

Portanto, um projeto situa-se como uma proposta de investigação pedagógica que dá à atividade de aprender um sentido novo; permite ao aluno viver experiências positivas de confrontos com os colegas, de decidir e comprometer-se pela escolha, de projetar-se no tempo, mediante o planejamento de suas ações e de seus aprendizados como agente na construção do seu próprio conhecimento, quando as necessidades de aprendizagem afloram na tentativa de resolver situações problemáticas reais e diversificadas.

Afirma Souza, que este é um trabalho comprometido com a transformação da instituição de ensino que auxilia na superação do fracasso escolar, pois acreditam na possibilidade de sucesso de todos os alunos. É um processo que leva a turma a organizar-se, a estabelecer as regras de convivência e de funcionamento, a gerir seu espaço, seu tempo, a construir saberes e competências com prazer e significado. Favorece, assim, a construção da autonomia e da autodisciplina por meio de situações criadas em sala de aula para reflexão, discussão, tomada de decisão, observância de combinados, críticas e avaliação do trabalho em andamento, proporcionando ao aluno, ainda, a implementação do seu compromisso com o social tornando-o sujeito ativo e atuante em seu contexto.

É muito difícil que o aluno, de um momento para o outro, comece a ter iniciativa e ter autonomia, sem ter tido anteriormente à oportunidade de decidir, escolher, opinar, dizer o que pensa e sente.

ORGANIZAÇÃO DE UM PROJETO
Dewey (1952) formula as condições para um bom projeto da seguinte forma:

Um projeto prova ser bom se for suficientemente completo para exigir uma variedade de respostas diferentes dos alunos e permitir a cada um trazer uma contribuição que lhe seja própria e característica. A prova posterior é que haja suficiente tempo para que se inclua uma série de trabalhos e explorações e que suponha um procedimento tal, que cada passo abra um novo terreno, suscite novas dúvidas e questões, desperte a exigência de mais conhecimentos e sugira o que se deva fazer com base no conhecimento adquirido. (p.27).

O projeto deve visar à solução de um problema amplo, composto de várias indagações que, de preferência, sirva de título ao projeto.

O projeto não é uma tarefa determinada pelo educador. Deve ser escolhido, discutido e planejado pela classe toda: educador e alunos, o que, aliás, é o seu grande mérito.

O fixo no projeto serão seus objetivos, suas metas. O planejamento inicial vai sendo redefinido, conforme seja necessário, de acordo com as idéias que vão surgindo e com o próprio crescimento da turma. Assim, acostumam-se os alunos a enfrentar com criatividade situações que, por serem reais, são freqüentemente inesperadas.

O que caracteriza um trabalho com projetos não é a origem do tema, mas o tratamento dado segundo César Cool a este tema, no sentido de torná-lo uma questão do grupo como um todo e não apenas de alguns alunos ou educadores, de maneira a garantir o envolvimento efetivo de todos os alunos nas diferentes etapas, criando condições necessárias para a eficácia da aprendizagem.

A construção de um projeto só se dá através do tema desenvolvido com caráter de estimular os alunos de forma bem criativa e espontânea. Isso torna um projeto bem mais atrativo e com mais significado.

Durante o desenvolvimento de um projeto, o trabalho dos alunos é variado e multidisciplinar. Pode constar de experimentos em classe ou nos laboratórios; relatórios e registros de observações realizadas; entrevistas com especialistas e autoridades no assunto em estudo; pesquisa e coleta de dados em livros, revistas, vídeos, slides, jornais; pesquisa de campo para coleta de dados importantes e pertinentes ao tema do projeto; montagem de glossário, livros, maquetes, boletins informativos; escritas de cartas, bilhetes, convites, confecção de peças, diagramas, esquemas, desenhos, memoriais de cálculo e outros tipos de produções escritas; excursões relacionadas ao tema; realização de passeatas, panfletagens sobre atitudes importantes relacionadas ao tema de estudo.

O educador, através do seu potencial, suas possibilidades e limitações deve desenvolver o seu lado técnico e afetivo. O conhecimento é construído pelo aluno e o contrato didático que o educador estabelece com a classe é de fundamental importância. O respeito e o afeto ao aluno serão elementos indispensáveis à ação educativa e às intervenções que favorecem a aprendizagem.

A relação entre pares deve ser maximizada, a fim de propiciar a análise de pontos de vista diferentes. É assim que o aluno aumenta a capacidade de pensar em nível cada vez mais complexo, porque é incentivado a refletir para comprovar ou argumentar em defesa da suas idéias. E quando o aluno tem de pensar ativamente para produzir um resultado, aprende também o prazer de ser pensante.

Entretanto, o educador nunca deverá ensinar respostas “certas”, nem tampouco corrigir as “erradas”. Ele deverá incentivar o aluno a ter sua própria opinião e deixá-lo decidir por outra resposta, quando esta lhe parecer mais adequada. As idéias “erradas” para César Cool não podem ser eliminadas pelo educador. Elas devem ser modificadas pelos alunos que, com certeza, chegarão à resposta correta, se discutirem o suficiente entre eles, favorecidos por sua intervenção “maiêutica” e inteligente.

O educador precisa desenvolver sua capacidade de observar e pesquisar a própria prática, procurar ir além e tornar-se melhor mediador da aprendizagem a cada atividade que realiza com seus alunos, pois um projeto pedagógico deve, em seu desenvolvimento, ganhar vida e interesse também para o educador. Assim, em pouco tempo, ele vai perceber que há uma grande diferença entre a transmissão do conteúdo e o estímulo do pensamento, por meio do diálogo permanente entre alunos, mediados por um educador que se motiva com o ato de ensinar.

Além de promover a interação ativa entre seus alunos e os meios físico e social, o educador vai perceber ainda, que quando estão interessados, todos aprendem mais rapidamente e muito mais do que os conteúdos programáticos tradicionalmente propõem. Isso porque, há um sujeito cognoscente, alguém que pensa que constrói interpretações, um sujeito da construção do seu próprio conhecimento que age sobre o real para torná-lo seu.

Com certeza, há algum tempo, já está sendo discutido o trabalho com projetos. Também com certeza têm-se estudado muito a respeito. Sabemos que é preciso não utilizar a Pedagogia de Projetos como metodologia de trabalho transformando-a apenas em unidades ou projetos temáticos estabelecidos pelos educadores ou equipe pedagógica da instituição escolar e executados com os alunos. É fundamental que o educador e o aluno construam o projeto.

VANTAGENS DA PEDAGOGIA DE PROJETOS
Existem vários tipos de projetos: simples, complexos, alguns puramente manuais e também os que podem levar os alunos a uma atividade intelectual intensa, através da pesquisa.

A pedagogia de Projetos pode ser aplicada a todas as disciplinas do programa curricular, podendo realizar sistemática ou ocasionalmente. Suas vantagens são incontestáveis:

 proporciona conteúdo vivo, ao contrário dos programas livrescos;
 segue o princípio de ação organizada em torno de um fim ao invés de impor aos alunos lições cujo objetivo e utilidade não compreendem;
 possibilita melhorar a compreensão do aluno sobre as necessidades do contexto social; o valor do planejamento cooperativo; os processos do trabalho em grupo e a importância da participação de cada um na atividade coletiva; a relevância dos serviços prestados aos outros e da solidariedade;
 favorece a construção das aprendizagens significativas e interessantes para o aluno;
 indica sempre um propósito para a ação do aluno, pois a cada atividade ele sabe o que faz e para que o faz;
 propõe ou encaminha soluções aos problemas levantados pelos alunos;
 oportuniza integração de atividades e é um recurso fácil de ser utilizado;
 concentra o aluno em sua atividade, ajudando-o a ter disciplina e esforço pessoal ao realizar suas tarefas com objetividade e concentração;
 possibilita um diálogo entre as ciências, dando a elas unidade e interdisciplinaridade;
 desenvolve o pensamento divergente e possibilita a descoberta das aptidões pessoais e das inteligências dominantes;
 desperta o desejo de aprender, levando-o à iniciativa, à inventividade, à criação, à responsabilidade e à investigação;
 habitua o aluno ao esforço, à perseverança no trato e ao enfrentamento de problemas reais;
 ativa e socializa o ensino, levando os alunos a se inserirem conscientemente na vida social e cultural do seu meio;
 pressupõe ação direta do aluno sobre o seu processo de aprendizagem de modo a proporcionar-lhe opções de escolha, abertura para tomada de decisões com comprometimento, oportunidade de planificar ações e conscientização de responsabilidade para o domínio da própria aprendizagem;

CONCLUSÃO
O projeto deve ser considerado como um recurso, uma ajuda, uma metodologia de trabalho, destinada a dar vida ao conteúdo, a tornar a escola mais atraente. Significa ainda acabar com o monopólio do educador tradicional que decide, recorta e define, ele mesmo, o conteúdo e as tarefas tornando-o meio cético. Na Pedagogia de Projetos a atividade do sujeito aprendiz é determinante na construção de seu saber operatório e esse sujeito, que nunca está sozinho ou isolado, age em constante interação com os meios ao seu redor.

Porém, o fato de os projetos terem todo esse potencial não é garantia de sucesso. Se não houver planejamento cuidadoso, previsão de recursos e, principalmente, interesse e compromisso por parte dos alunos, qualquer esforço pode resultar em desperdício de tempo.

A Pedagogia de Projetos permite aos alunos terem novos conhecimentos, autonomia e responsabilidade, não só no espaço escolar, bem como no contexto em que eles estão inseridos, as experiências vividas possibilitam aprender a pensar mais criticamente a respeito das informações que são beneficentes para o seu desenvolvimento, tanto intelectual, como cultural sobre o seu aprendizado que é construído para atuarmos na sociedade.

REFERÊNCIAS

PEGORETTE, Josemar Francisco; SOUZA, Flaviani Almeida; et alii. Pedagogia de projetos. Vitória, SENAI. ES, 2003. 50 p.

DEWEY, John. Democracia e educação breve tratado de filosofia de educação. 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1952.

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