Páscoa
A Páscoa tem por fundamento a celebração cristã da ressurreição de Cristo, tendo para os cristãos uma significação especial de salvação. Foi trazida em 1913 por imigrantes alemães ao Brasil, e a tradição do coelho e dos ovos de Páscoa no Brasil data de muito tempo. Os ovos são símbolos pascais inspirados no costume chinês de colorir ovos de pata para celebrar a vida que deles se origina. Diversos países europeus fabricam ovos de chocolate na Páscoa. O coelho, da mesma época, tem origem anglo-saxônica e simboliza fecundidade. Essas tradições são representações culturais adquiridas e modificadas com o tempo, mas muito difundidas pelo Brasil.
Festas Juninas:
É a comemoração dos três santos de junho: Santo Antônio, São Pedro e São João. Essas comemorações têm outros significados, como a ocasião de encontros de amigos e parentes. Fogueiras e fogos de artifício iluminam as noites e animam a população com os casamentos caipiras, as quadrilhas, as cirandas e xibas, sempre acompanhadas de comidas e bebidas típicas. Uma das mais famosas é a de Parati (RJ), e a de Juazeiro do Norte.
Finados:
Não se trabalha no dia 2 de novembro, Dia dos Mortos. As superstições portuguesas, proibições e respeitos do Dia de Finados continuam em todo o Brasil. É o dia em que os finados visitam os lugares onde viveram ou foram mortos. A comemoração Omnium Fidelium Defunctorum, datando do século X, mantém tradição imemorial em todos os cultos religiosos. A decoração dos túmulos com flores e velas e a visita aos cemitérios ambientam crendices incontáveis. Os negros iorubanos realizam os adamorixás, funerais com preces, cantos e danças. Em outros lugares, as refeições fúnebres tinham um cerimonial impressionante pela compostura e silêncio dos componentes. A Festa dos Mortos em Alagoas e no Rio de Janeiro, constando de danças, jejuns, sacrifícios de animais e banquetes.
Danças:
Teria sido a primeira manifestação grupal de homenagem às forças sobrenaturais. Os vestígios de coreografias em círculo estão na França, onde os feiticeiros desenhando nas rochas dançam seduzindo cervos e vestindo as peles dos animais representados; no Brasil do século XVI, referente às danças indígenas, dançava-se em círculos para transmitir coragem aos guerreiros. As danças só podiam ser expressões sagradas, depois o espírito lúdico as modificou.
Dançar para recreação é conquista milenar do homem às exigências dos cultos rurais. Durante milênios, só existiam as danças para pedir chuva, caça e vitórias e agradecer as mercês aos deuses. O europeu trouxe para o Brasil os bailes de par, homem e mulher, e parte daí a iniciativa do dançarino solista, independente. A influência europeia plasmou a multiplicidade criadora das danças nativas, técnicas dos brancos e essência inspiradora local. Todos os povos dançaram e dançam, e será milagre um baile totalmente original, sem cores e elementos recebidos por aculturação.
1- Dança da Peiga:
Na cidade de Bom Jesus, no Recôncavo baiano, a dança da peiga é apresentada no mês de maio, durante as festas de Santa Cruz. É uma dança de fileira, só para homens, vestidos de branco, gravata escura e chapéu. A apresentação se inicia com a saudação. E a cantoria continua até começar a dança, coreografia marcada como quadrilha. O acompanhamento musical é feito por duas violas, a do mestre e a do contra-mestre, um surdo feito de barril, uma caixa artesanal, um triângulo e um reco-reco de bambu.
2- Dança de São Gonçalo:
É talvez a última dança como ação religiosa e oferenda litúrgica. Prometem fazer a dança moças que têm seus noivos problemáticos, pessoas doentes, principalmente do estômago e do ventre. Além de promover a dança, o devoto promete comer certa parte do animal abatido para a festa e dançar com a imagem de São Gonçalo.
A disposição era simples. Dançavam doze pessoas, em duas filas de seis. Um homem com viola é o Guia, atrás se punha uma mulher, a contraguia. Seguiam-se homens e mulheres. Os quatro músicos eram homens. O canto, uníssono, era acompanhado de bolandas para direita e esquerda, e depois desfilavam em frente ao altar de São Gonçalo. Os dançadores fazem um círculo e os devotos que têm promessas a cumprir ficam dentro, formando um círculo menor. A mulher que prometeu dançar com o santo cobre este em parte com um pano branco, os outros andam com velas brancas, só os dançadores de fora batem os pés, os de dentro andam em passos miúdos e concentrados. São os cantos finais:
“São Gonçalo está contente,
De se ver nas suas mãos.”
Os devotos abandonam a roda de dentro. O ciclo externo faz as voltas prometidas. É a hora do lenço, a despedida. Os folgazões agitam os lenços, despedindo-se. Rezam um pai-nosso.
3- Balaio:
Dança introduzida pelos açorianos, acompanhada por sanfona. É uma espécie de fandango, coreografia em círculo e pares determinados.
4- Catira ou Cateretê:
Essa dança remonta os tempos coloniais. É uma dança só de homens, em fileira, tendo à frente dois violeiros que cantam moda de viola que relata uma história de amor ou satírica. Após a parte inicial, os dançadores, colocados frente a frente, sapateiam e palmeiam ao ritmo de violas. Em seguida, os cantadores cantam a segunda parte até o final do tema. A dança termina com o recortado, uma coreografia em que os dançadores, sempre sapateando, trocam de lugares.
5- Chupim:
Dança do Mato Grosso do Sul, com o mesmo ritmo da polca paraguaia. Três pares volteiam os braços em asas e fazem toques de castanholas com os dedos. As mulheres vestem-se com saia rodada e blusa branca, com flores no cabelo, os homens com calça marrom, camisa xadrez e chapéu de palha.
6- Ciranda:
Dança de roda muito comum no Brasil. Samba rural de Parati, e também dança paulista de adultos, terminando o baile rural do Fandango, em rodas concêntricas, homens por dentro, mulheres por fora. Um dos versos mais conhecidos é:
“Esta ciranda
Quem me deu foi a Lia
Que mora na ilha
Da Itamaracá”
A dança é ritmada, ao som de percussão: ganzá e caixas. Música e letra das cirandas são rondas permanentes na literatura oral brasileira, atestando que as cantigas infantis são as mais difíceis de renovar porque as crianças são as mais conservadoras, repetindo as fases de cultura peculiares.
7- Samba:
Baile popular urbano e rural. Sinônimo de pagode, função, fobó, arrasta-pé. É uma dança de roda, inicialmente o mesmo batuque, dançando com par enlaçado. Samba é nome angolano que teve sua ampliação no Brasil.
- Samba de Caboclo: pertencentes aos terreiros de Angola-Congo e Moxicongo. Dependendo de interpretações baseadas em lendas, estórias de valentia, presença de santos católicos e sua atuação nos acontecimentos de vida cotidiana, seus adeptos organizam um calendário festivo. Durante a festa, é costume fumar cachimbo e cigarro de palha com fumo de corda.
- Samba do Cacete: é uma dança de círculo, com participação de homens e mulheres que seguram dois pedaços de madeira, para repercutir numa das extremidades de um tambor, enquanto outro tocador dá o ritmo com as mãos, batendo na outra extremidade. Em um dado momento, as mulheres, com as mãos na cintura, giram para todos os lados, enquanto os homens dão saltos diante delas, depois voltam a se posicionar.
- Samba-lenço: dança introduzida pelos negros africanos, ainda encontrada na capital paulista. Os homens vestem calças largas, as mulheres saias rodadas coloridas, brincos e muitos colares, fazendo girar um lenço branco. As melodias são simples, com versos tradicionais ou improvisados. Os grupos cantam em louvor de São Benedito.
- Jongo: espécie de samba, em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Sua coreografia difere de uma para outra localidade. “No centro da roda, exibem-se os dançadores individualmente, numa coreografia complicada de passos, contorções violentas e sapateados, no que revelam grande agilidade. O acompanhamento é feito por instrumentos de percussão, pequenos tambores, chamados tambores de jongo, que são barrilotes fechados por uma pele esticada. Às vezes, o cantador traz um chocalho na mão. O interesse do jongo está na disputa que fazem os dançadores de suas habilidades, sendo comum irem ao centro da roda dois deles – um homem e uma mulher – e, encorajados pela vibração da assistência, realizam um verdadeiro desafio de passos. O canto é de estrofe e refrão, sustentado pelo ritmo surdo dos tambores, às vezes acompanhados por palmas. Conserva-se sua característica de dança de roda, que se movimenta em sentido lunar, isto é, no sentido anti-horário. O jongo só é dançado à noite e mantém para seus dançadores a fama de feiticeiros, sabedores de segredos mirabolantes e de poderes mágicos. O jongo é cantado por um ou mais solistas, e o refrão respondido pelo coro. O jongo segue por toda a madrugada. Na favela da Serrinha, no Rio de Janeiro, existe um grupo de Jongo, o Jongo da Serrinha que, além de dar continuidade a essa celebração, tem também um trabalho social de inserção na cultura popular e folclórica da comunidade.
8- Frevo:
Dança de rua ou salão, trata-se de uma marcha de ritmo frenético, obsessivo e violento. O frevo é uma marcha, mas mais pesada e barulhenta. A maior característica do frevo é ser uma dança de multidão, que engloba todos que o ouvem, como se todos passassem uma corrente eletrizante. Centenas e centenas de dançadores ao som da mesma música excitante dançam diversamente, com passos pessoais.
9- Pau-de-fita:
Portugueses e espanhóis trouxeram a dança para o continente americano. Também pau-de-fitas, dança de roda em volta de mastros floridos, com quatro ou oito pares de dançadores. Com a mesma quantidade de dançadores, as fitas ficam presas no alto do mastro, e cada um, com movimentos simultâneos, sempre seguindo o ritmo da sanfona ou gaita, vão envolvendo o mastro.
10- Carimbó:
Dança de roda, típica dos folguedos caboclos, encontrada na ilha de Marajó e arredores de Belém, com acompanhamento de percussão. O carimbó não é hoje uma dança exclusiva de negros. Além de caboclos e mestiços, os brancos também participam, e em sua formação há uma influência indígena tanto na música quanto na coreografia.
Artesanato:
Obra de artesão, pessoa que trabalha por conta própria em trabalho manual, sozinho ou com assistentes e aprendizes, muitas vezes da própria família. Os artesãos utilizam materiais acessíveis como madeira, argila, fios, fibras e sucata. Em quase todo o Brasil, a produção de mini-indústrias é vendida como artesanato. Embora muitas dessas peças tenham deixado de ser artesanais, ainda revelam aspectos da cultura e dos costumes dos povos das regiões onde se encontram.
1- Cerâmica:
Uma das formas de arte popular e de artesanato mais desenvolvidas no Brasil. Nas feiras e mercados do Nordeste, os bonecos de barro reconstituem personagens do cotidiano. Os mais conhecidos são os de Mestre Vitalino (1900-1963), pernambucano que ajudou a dar fama à feira de Caruaru, onde, segundo o baião de Luís Gonzaga, “de tudo que há no mundo, nela tem pra vendê”. Outros ceramistas de renome em Pernambuco são: Manuel Eudócio, Zezinho de Tracunhaém e alguns dos filhos e sobrinhos de Vitalino. O Vale do Jequitinhonha (MG) também tem cerâmica de características próprias: em geral, grandes bilhas em formato de mulher com as mãos na cintura, formando vãos por onde passa o ar, que mantêm a água fresca.
2- Escultura de Madeira:
As carrancas são uma das manifestações mais expressivas do trabalho em madeira na arte popular. São figuras reais ou mitológicas, com formas humanas ou de animais, geralmente com expressões iradas, que os navegantes costumam colocar à proa de suas embarcações, vistas como um meio de enfrentar os maus espíritos. São muito conhecidas as carrancas do rio São Francisco, obras de artesãos desconhecidos pelos pesquisadores, chamadas também de cabeças-de-proa.
Outro tipo de escultura popular em madeira é o produzido em Teresina (PI) por Mestre Dezinho (José Alves de Oliveira), um marceneiro que se especializou em esculpir anjos e santos marcados pelo rosto triangular e pelos olhos esbugalhados.
3- Renda de Bilros:
Trazida pelos portugueses, a renda de bilros ou de almofada é um trabalho tradicional de vários pontos do litoral brasileiro. A rendeira usa uma almofada onde é preso um papelão com o motivo da renda. Os bilros – peças de madeira ou metal semelhantes a fusos – movimentam as linhas que são presas no papelão por cravos de madeira, alfinetes ou espinhos de mandacaru. Os papelões são passados de geração a geração e alguns motivos são exclusivos de uma família.
Rodeios e Vaquejadas:
São provas que mostram a habilidade dos peões e vaqueiros na lida com cavalos e gado. Os rodeios têm estilo americano. Tornam-se cada vez mais populares nos últimos anos, em especial no interior paulista. Têm origem nas viagens de boiadeiros, as comitivas, levando gado para corte ou para invernada. A maior e mais antiga festa de peão de boiadeiro acontece em Barretos (SP), há quarenta anos. Começa com a “queima do alho”, numa referência às paradas para refeição das tropas, e segue com apresentações de grupos folclóricos e provas eqüestres.
Na vaquejada, os participantes competem em duplas para apartar e marcar o gado. A cada rês dominada, o público comemora, com gritos e foguetes. As vaquejadas acontecem, sobretudo, no Nordeste. A mais famosa é a de Orós (CE).
Literatura:
Compreende as formas literárias, tanto escritas quanto verbais: quadrinhas, sextilhas, mitos, assombrações, lendas, causos, anedotas. Classifica a literatura em três gêneros distintos:
1- Literatura oral:
Reúne contos, lendas, mitos, adivinhações, parlendas, cantos, orações, frases feitas tornadas tradicionais ou denunciando uma estória. Enfim, todas as manifestações culturais, de fundo literário, transmitidas por processos não-gráficos.
Essa literatura oral sofreu influências dos portugueses, africanos e índios, preservando-se na memória do povo. Conto, causo e conto folclórico constituem o relato oral e tradicional de contornos verossímeis ou não. Tanto podem se referir a fatos possíveis quanto a abstrações histórico-geográficas. Há contos que reproduzem a realidade vivida, mas há também os que se situam no sobrenatural. É que o homem, na luta pelo próprio sustento, sempre gostou de ouvir narrativas fictícias, acima das misérias cotidianas. Exemplos de literatura oral:
- Boitatá: gênio protetor dos campos. Aparece sob a forma de enorme serpente de fogo, que mata quem destrói as florestas. O padre José de Anchieta, em 1560, é o primeiro a mencionar o boitatá como personagem de mito indígena brasileiro. Esse é o nome dado pelos índios ao fenômeno do fogo-fátuo.
- Boto: mito amazônico. É o pai das crianças de paternidade ignorada. Descrito como rapaz bonito, bem-vestido, boêmio e ótimo dançarino. Nos bailes, encanta as moças, leva-as para igarapés afluentes do Amazonas e as engravida. Antes da madrugada, mergulha no rio e se transforma em boto. Chamado também de boto tucuxi.
- Caipora: segundo a mitologia tupi, um personagem das florestas, com a propriedade de atrapalhar os negócios de quem o vê. Quando um projeto sai errado, se diz que seu autor viu o caipora, ou caapora. Em algumas regiões, é um indiozinho de pele escura. Em outras, uma indiazinha feroz. É descrito também como criança de uma perna só e cabeça enorme.
- Cuca: influenciada pela bruxa de origem europeia, é uma velha feia que ameaça crianças desobedientes, em especial as que não querem dormir à noite.
- Curupira: mito conhecido de vários índios sul-americanos. Na Venezuela, o chamam de Máguare. Na Colômbia, Selvage. Os incas peruanos o denominam Chudiachaque. A cabeça também varia: em alguns lugares, ele é careca, em outros tem cabeleira vermelha. Mas todos o descrevem como um anão com os pés às avessas, calcanhar para frente, dedos para trás. Seu rastro engana os caçadores inescrupulosos, fazendo com que eles se percam na floresta. Não varia, também, sua função de ente protetor das árvores e dos animais.
- Iara: tem as mesmas características das sereias: mulher da cintura para cima, peixe da cintura para baixo, canto irresistível aos ouvidos dos homens, que atrai para a profundidade das águas, onde habita.
- Lobisomem: homem aparentemente comum. Vive e trabalha como os demais da comunidade. Nas noites de lua cheia se transforma em um lobo, ou em um homem com cabeça de lobo e mata quem cruza o seu caminho. Antes do dia clarear, readquire forma humana.
- Matintapereira: segundo a mitologia tupi, é uma pequena coruja que canta à noite para anunciar a morte próxima de uma pessoa. Descrevem-na também como mulher grávida que deixa o feto na rede de quem lhe nega fumo para o cachimbo.
- Mula-sem-cabeça: personagem monstruosa em que se transforma a mulher que tem relações sexuais com padres ou compadres. Acredita-se que a metamorfose se dá nas noites de sexta-feira, quando o galope da mula-sem-cabeça assombra pessoas da comunidade.
- Negrinho do pastoreio: na tradição gaúcha, uma espécie de anjo bom, ao qual se recorre para achar objetos perdidos ou conseguir graças. É o negrinho escravo que o dono da estância pune injustamente, açoitando-o e depois amarrando-o sobre um formigueiro. Mas seu corpo aparece intacto no dia seguinte, como se não tivesse sofrido nenhuma picada, e sua alma passa a vaguear pelos pampas.
- Saci-pererê: Negrinho de uma perna só, fuma cachimbo e cobre a cabeça com carapuça vermelha. É inofensivo: diverte-se assustando gado no pasto, dando nó em rabo de cavalo e criando pequenas dificuldades domésticas.
2- Literatura popular:
Tipicamente impressa, não exclui a passagem à oralidade. É veiculada por meio de folhetos que abordam os mais variados assuntos. Denominada literatura de cordel, expressa-se sob forma de ABCs, décimas, sextilhas, abordando temas sociais, políticos, fatos e casos do cotidiano. Por exemplo, a história do Padre Cícero. Cícero Romão Batista nasceu no Crato, Ceará, tornou-se sacerdote em 1870, fixou-se no arraial de Juazeiro. Foi o único brasileiro a tornar-se centro de interesse sobrenatural, motivando romarias com finalidades morais, que a morte não desvaneceu.
Sua presença física permanece uma constante psicológica dentro da dinâmica social do povo nordestino. Suspenso de ordens religiosas em 1897, a proibição de ministrar os sacramentos em nada lhe afetou o prestígio transbordante e avassalador. Foi deputado federal e vice-presidente do estado. Determinou uma bibliografia riquíssima em folhetos, opúsculos, pesquisas sociológicas, e seu nome vive na boca de cantadores e na literatura oral do Nordeste. Morto, a devoção continua.
3- Literatura tradicional:
Sempre impressa, tem sua permanência no tempo constantemente renovada pela reimpressão que teve sua escalada, a partir de 1840. Pertencem a esta categoria as novelas: Donzela Teodora, Imperatriz Porcina, Roberto do diabo, além das histórias de Carlos Magno e os Doze Pares de França, uma obra popularíssima em Portugal e no Brasil, leitura indispensável por todo o sertão, inúmeras vezes reimpressa e tendo ainda o seu público leitor fiel e devotado. Fornece material aos cantadores, e muitos episódios tiveram redação em versos, constituindo temas de cantos e leituras entusiásticas.
Um exemplo de literatura popular e oral é a Literatura de Cordel, referente aos folhetos impressos, compostos em todo o Nordeste e depois divulgados pelo Brasil… “As raízes da nossa literatura de cordel, narrativa em versos e registro de fatos memoráveis, em folhetos, estão fincadas, sem nenhuma dúvida, em velha tradição portuguesa ibérica” (Veríssimo de Melo). A literatura de cordel, migrante de países europeus, ingressou no patrimônio de cultura oral. O Nordeste tinha o ambiente social ideal para surgir esse tipo de literatura, oferecendo condições que propiciam o surgimento dessa forma de comunicação literária e difusão da poesia popular através de cantorias em grupo e de forma escrita.
Nas cantorias da literatura oral do Nordeste encontramos dois tipos de poesia: um tradicional, que está sempre na memória dos cantadores, e outro é o improvisado, ou o repente, dito em face de um fato momentâneo ou a propósito de uma pessoa presente; este último é o autêntico improviso, muito comum, sobretudo, no desafio.
A literatura de cordel são relatos históricos de crimes, pecados gravíssimos ligados a tabus, usos e costumes, herdados dos antigos pela via das tradições e da literatura oral, na herança da cultura popular anônima e da poesia ágrafa não-oficial. Como exemplo de poeta-cantador, um alagoano chamado Cordeiro Manso, quando começou a fazer versos, mandou imprimi-los em formato de folheto e xilogravura e saiu vendendo nas fazendas e nas cidades vizinhas, outro cantador famoso é o cego Aderaldo, que junto com Zé Pretinho, foi sempre desafiante. Eis alguns versos improvisados de Aderaldo:
“Eu vou mandar de toada
Pra uma que mete medo
Nunca encontrei cantador
Que desmanchasse este enredo.
É um dedo, é um dado, é um dia
É um dia, é um dado, é um dedo.
Zé Preto, esse teu enredo
Te serve de zombaria
Tu hoje cega de raiva.
E o diabo será teu guia
É um dia, é um dedo, é um dado
É um dado, é um dedo, é um dia.”
Produto cultural de origem europeia, o cordel, ou folheto de literatura popular, desenvolveu-se no Nordeste. Compõe um vasto acervo de manifestações literárias, a maioria com autores desconhecidos. A literatura de cordel dá um sentido de uniformidade às criações dos poetas populares pela circunstância especial de se apresentar impressa, reproduzidas de textos previamente manuscritos.
Os temas principais desse tipo de literatura são as grandes enchentes, as vidas dos artistas mais populares, as façanhas de Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e seus cangaceiros, a epopéia do rei Carlos Magno e os Doze Pares de França são alguns dos temas dos cordéis de maior tiragem. Um dos campeões de vendas é A morte de Getúlio Vargas. Lançado logo após o suicídio de Getúlio, em agosto de 1954, vendeu 70 mil exemplares em 48 horas. Um dos poetas de cordel mais conhecidos é o pernambucano Leandro Gomes de Barros (1865-1918), autor de mais de mil títulos.
Artistas contemporâneos influenciados pelo folclore e pela cultura popular:
Ivo Meireles:
Ivo Meirelles ficou conhecido nos anos 80, quando foi autor, com os parceiros Paulinho e Lula, do famoso samba-enredo “Da Mangueira, Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm” (“Tem xinxim e acarajé/ Tamborim e samba no pé”). Depois se juntou a Lobão na busca de uma fusão do rock com o samba. Nos anos 90, liderou o grupo Funk’n’lata que teve um sucesso efêmero com “Não é mole não!”.
Ele sempre batalhou por fusões e por dar uma cara moderna para o samba, algo que o tire do gueto de raiz e o coloque na rota da popularidade nacional. Ele acha que o samba carioca perdeu o bonde nos anos 90 e se deixou engolir pela versão pagodeira criada no túmulo do samba.
“- Eu odeio a expressão samba rock, eu e Benjor não gostamos dessa expressão. Eu faço samba misturado com funk e soul, que eu prefiro chamar de suingue. Agora, chega em São Paulo e falam ‘pô meu, isso é samba rock’. Eu não estou nessa, eu faço disco na contramão.”
O cantor prega uma ofensiva da música carioca que una as diversas vertentes que praticam a mistura, como Fernanda Abreu, Farofa Carioca, Seu Jorge e Pedro Luís e a Parede:
“- A gente não se encontra, não bate papo, não se entende. Você vê que na Bahia o pessoal do axé canta música uns dos outros, se promovem e falam dos outros.”
Ivo lembra que, no começo da década passada, o pagode carioca dominava as paradas com Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara e outros, depois foi jogado para trás:
“- Eu fiquei triste ao ver o samba carioca em quarto plano. Quando chegava em São Paulo com o Funk’n’Lata diziam que era muito carioca, quer dizer, não tem no Brasil uma música carioca como tem o axé, o pagode e o Manguebeat.”
Ele diz que vibrou com um clipe que viu na televisão de “Sou negrão”, do rapeiro paulista Rappin Hood com Leci Brandão.
“- Se eu tivesse feito isso iam vomitar em cima de mim. Era uma cozinha de samba bem carioca, sensacional.”
Ivo já deu muito murro em ponta de faca para que a turma do samba aceitasse fugir da ortodoxia, mas deu azar de estar numa das escolas mais conservadoras da cidade. Indagado sobre o Monobloco, o bloco regido por Pedro Luís e a Parede, que desfila pela Zona Sul carioca antes e durante o carnaval fazendo uma mistura de ritmos, ele solta o verbo:
“- O Monobloco preenche uma lacuna que a escola de samba não sabe fazer. Se sugerisse de pegar a bateria e fazer uma coisa misturada tipo James Brown e Tim Maia ia ser expulso, aí vem um monte de branquelo, faz e todo mundo acha do cacete. O Monobloco precisa vir aqui dar uma aula de interatividade para a escola de samba. Imagine se a escola de samba abrisse um espaço no fim do ensaio, lá para as três da manhã, para a rapaziada mostrar o hip hop. Seria a bateria e o pessoal mandando.”
Seu Jorge:
A vida de Seu Jorge é daquelas nas quais o clichê “isso daria um filme” se encaixa perfeitamente. No entanto, apenas para usar um outro chavão, no caso do ex-vocalista do grupo Farofa Carioca, a vida foi mais fantástica que a ficção. E não apenas rendeu um filme, mas também um musical de teatro e – principalmente – um disco.
“Eu precisava tomar uma iniciativa em nome do samba”, reflete Seu Jorge. “Devo muito ao samba, não só musicalmente, mas como pessoa também. Foi conhecendo artistas como Jovelina Pérola Negra, Bezerra da Silva e João Nogueira que eu aprendi a me comportar, a ser gente. Daí meti na cabeça que meu trabalho tinha que ser a evolução do samba, mostrar para onde o ritmo ainda pode seguir.” De fato, o cd Samba Esporte Fino é uma verdadeira viagem que aponta novos caminhos para o (bom) batuque. Miscigenado com o funk, o sacundin de Jorge Ben, o reggae e o mais puro e enraizado fundo de quintal, o som de Seu Jorge é também um verdadeiro retrato cantado da musicalidade carioca.
“Quem me deu esse estalo foi o Chico Science. Quando vi um show dele, aquela mistura do regionalismo nordestino com a modernidade pop, aquilo foi uma porrada… Fiquei imaginando um jeito de fazer isso com as referências que eu tinha aqui no Rio.” Daí surgiu o Farofa Carioca, ponta de lança do dito movimento MPC (Música Popular Carioca), em 1996, junto com Pedro Luís & A Parede, O Berro, Bangalafumenga e outros jovens grupos. Jorge conta: “Quando formei o Farofa, queria fazer uma coisa pop fundamentada na tradição, no cavaquinho, no tantã. Era para ser um grupo que pudesse tocar em qualquer canto – na praia, na calçada, sei lá – só com aquele instrumental básico.”
Em 1999, a MPC (rótulo criado pela imprensa, e esnobado pelo cantor – “nunca tivemos uma bandeira, um manifesto, ou coisa parecida”) ficou pequena para o horizonte musical de Seu Jorge. “Nessa época eu precisava de uma abertura para cantar só que fosse natural e verdadeiro para mim. Porque o Farofa sempre teve uma proposta de misturar muito os sons, pegar vários estilos diferentes de uma vez só. E eu estava querendo outra coisa, queria ter o meu som próprio, falar só do que era importante para mim.”
“Eu sentia muita falta da música que aparecia no Brasil por volta do final dos anos 70, começo dos 80. Gente como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, João Nogueira (a quem o disco é dedicado). Esse pessoal faz falta. É uma boa fase da música que estava sem ‘visitantes’, e meu disco é como uma visita a essa época. Nos anos 90, acho que a MPB ficou estagnada, repetindo os velhos clichês. Pô, estava na cara de todo mundo, mas ninguém ouvia mais. É como o Chico (Science) dizia: ‘modernizar o passado é uma evolução musical’. No disco eu brinco com várias referências: Zeca Pagodinho, Chico Buarque, Jorge Ben, mas tudo do meu jeito, soando do meu modo. Até quando eu toco um reggae (Hágua), não soa como Bob Marley. O meu reggae também é brasileiro.”
Seu Jorge é mais um a engrossar o revival do samba-rock, que vem trazido por novatos como ele mesmo e veteranos como o Trio Mocotó. “O samba-rock não é moda. Todo mundo que está fazendo este som hoje é autêntico, de raiz mesmo. O problema é que o Brasil esqueceu do samba-rock, esqueceu que até Erasmo Carlos já fez samba-rock – o Tremendão já foi cabelo-duro, cara!” afirma Seu Jorge. “Mas a mídia fica muita em cima do que acontece em São Paulo. Tem muita gente incrível aqui no Rio que ninguém conhece… Serginho Meriti, Dhema, Bruno Maia, uma turma do suingue mesmo. Podem tentar pasteurizar o ritmo, explorar comercialmente, só que isso é normal, também aconteceu com o forró: o estilo tem altos e baixos, mas a raiz se mantém”, crê o cantor.
O Maracatu
Um pouco sobre Pernambuco:
O Estado de Pernambuco formou-se absorvendo tradições de diversas raças: negro, índio e europeu, de cada um dos povos que se miscigenaram para gerar uma cultura única. Traços dessa mistura de raças podem ser encontrados nos usos e costumes característicos da região. A cultura da civilização do açúcar, das terras áridas do Sertão, do sincretismo religioso está presente na música, na literatura, nas artes plásticas e nos temperos. Em todas essas manifestações há traços fortes de uma “pernambucanidade” latente – construída ao longo de séculos de história.
Cores, sons, movimentos e alegria estão presentes em todas as manifestações folclóricas, cuja maior expressão são danças e ritmos. O frevo é o mais conhecido. Dançá-lo é “fazer o passo”, um agitar de pernas e braços, um descer e subir, um rodopiar constante, alegre e rico.
Sobre Pernambuco, Lenine afirma:
“- A maior expressão da cultura afro-brasileira é sem dúvida o maracatu. Eu que tive a felicidade de nascer recifense e de ser criado em meio a tanta diversidade cultural, adquiri muito cedo o gosto pela música de rua, a dança de rua, a cultura da rua, e em matéria de Rua, não creio que exista outro lugar como Pernambuco. Ciranda, Coco, Caboclinho, Bumba-meu-boi, Frevo, Pastoril, Nau Catarineta, Repente, Xote, Xaxado, Baião, Quadrilha, etc. São tantas expressões da cultura popular que é possível se perder diante de tanta exuberância, de tanta pluralidade e beleza. Mas o maracatu, acima de todos, me comove profundamente. Me comove pela realeza de sua dança e a imponência de sua coroação, me comove pela diversidade de seus personagens e a complexidade de seu cortejo, e além de tudo, me comove pela riqueza de seus ritmos e pelo banzo de suas loas. Maracatu é beleza elevada ao cubo. É o híbrido poderoso conclamando a mistura e é a cara mestiça do Brasil.”
Origem do Maracatu:
Músicos e folcloristas acreditam que o maracatu seja fruto das festividades de coroação dos Reis negros nomeados na instituição do Rei Congo em ato solene realizado no dia de N. Sr.ª do Rosário, durante o mês de março. As coroações consistiam na consagração de um líder negro, o Muquino-riá Congo ou Muchino Riá Congo, a quem seriam delegadas as atividades de chefia entre os escravos e de representatividade perante o senhor de engenho da região. Os outros negros integravam as nações, subdivisões que agregavam escravos de tribos diversas ocupando cargos mais modestos. O elemento central desta manifestação era a presença da nobreza na festa de eleição dos chefes. A instituição do Rei Congo durou até meados do século XIX, esvaziando-se o sentido da figura do Rei com a abolição da escravatura e a proclamação da República.
Os cortejos dos reis negros passaram a ter como chefe temporal e espiritual os babalorixás do terreiro do culto gegê-nagô. O espaço deixado pela extinta nobreza no desfile foi ocupado pelos membros das nações que, a partir do século XX, popularizaram definitivamente a festa, referência até hoje no carnaval do Recife. O antigo cortejo passou a ser chamado de maracatu, palavra que, na linguagem popular, expressa confusão, desarrumação. Os maracatus tornaram-se agremiações ou sociedades carnavalescas organizadas.
O maracatu divide-se em dois grupos: o de baque virado ou nação e o de baque solto ou rural; o primeiro atuando nas áreas urbanas e o segundo, como diz o nome, nas rurais.
1- Maracatu de baque solto ou rural:
Também é chamado de Maracatu de Orquestra, tem suas origens na segunda metade do século XIX e deve ser uma transfiguração dos grupos chamados Cambindas (brincadeira masculina, homens travestidos de mulher). O Maracatu Rural é uma espécie de fusão de elementos dos vários folguedos populares, indo às ruas das cidades do interior do estado; não apresenta reis ou rainhas no desfile.
Um ritmo rápido de chocalhos, percussão e acelerada do surdo, acompanhada da marcação do tarol, do ronco da cuíca, da batida cadenciada do gonguê, do barulho característico dos ganzás, com solo de trombone e outros instrumentos de sopro que, juntos, dão ao conjunto características musicais próprias e bem diferenciadas dos maracatus tradicionais.
O maracatu desfila em um círculo, tendo ao centro o estandarte. Em volta da roda, mulheres vestidas de baianas, as damas-de-buquê com seus ramos de flores de goma, a boneca ou calunga feita de pano ou plástico, e os caboclos de pena. Os caboclos de lança vêm abrindo espaço entre a multidão, com suas lanças de mais de 2 metros de comprimento, feitas de madeira com uma ponta fina e uma enorme cabeleira de papel celofane. Traz, como destaque, em sua indumentária, a gola bordada e o surrão. A gola de sua fantasia é feita em tecido brilhante, de cores vivas. O surrão é uma bolsa confeccionada em couro de carneiro, cobrindo uma estrutura de madeira, onde são presos chocalhos.
2- Maracatu de baque virado ou nação
No Maracatu de Baque Virado ou Nação é mais fácil apontar elementos característicos das religiões afro-brasileiras da linha nagô. A Calunga, presente também no maracatu rural, encarna a divindade dos orixás, recebendo em sua cabeça os axés, que reúnem a força dos antepassados da nação. O instrumental, composto essencialmente por elementos percussivos, é executado por toques, batidas de candomblé referentes a cada um dos orixás. As alfaias, instrumentos de percussão semelhantes ao surdo, junto às zabumbas, ao gonguê, ao tarol e caixa-de-guerra comandam o ritmo das toadas.
O início e o fim dos cânticos são determinados pelo som de um apito. O tirador de loas é o cantador das toadas que os integrantes respondem ou repetem sob seu comando.
O desfile segue o princípio do cortejo de coroação dos Reis negros da instituição do rei do Congo. É composto pelos seguintes personagens: rei, rainha, dama-de-honra da rainha, dama-de-honra do rei, príncipe, princesa, ministro, embaixador, duque, duquesa, conde, condessa, vassalos, damas-de-páço (que portam as calungas durante o desfile do maracatu), porta-estandarte, escravo sustentando a umbrela ou pálio (chapéu-de-sol que protege o casal real e que está sempre em movimento), figuras de animais, guarda-coroa, corneteiro, baliza, secretário, lanceiros, brasabundo (uma espécie de guarda-costas do grupo), batuqueiros (percussionistas), caboclos de pena e baianas.
Os maracatus de baque virado ainda presentes no carnaval do Recife são: Nação Elefante, fundado em 1800, Nação Leão Coroado, de 1863, Nação Estrela Brilhante, de 1910, Nação Indiano, de 1949, Nação Porto Rico do Oriente, de 1967. No Rio de Janeiro, o Rio Maracatu é o representante.
Chico Science & Nação Zumbi:
“Se uma lição os dez anos da manguetown nos deixaram foi de que a melhor maneira de resolver o dilema modernidade versus tradição é não tratando o antigo como algo intocável, a ser conservado em formol. Quem fez mais pela música tradicional, Chico misturando suas batidas com o hip hop ou Ariano Suassuna com seu fundamentalismo armorial? A belíssima homenagem prestada pelos mestres do Maracatu no velório de Science parece suficiente para responder essa pergunta.”
Dj e jornalista Renato L., idealizador do movimento Manguebeat.
“Fui seu aluno na faculdade e cheguei a quebrar altos paus com ele. É engraçado porque ele evita falar do Chico, do mangue, manguebeat. Tanto que quando vão entrevistá-lo, ele pede para que não pergunte nada sobre o movimento porque ele sabe que não tem argumento. O que ele tem é uma opinião formada – ele detesta! Ele odeia! Já brigou com o Chico várias vezes. Não admitia o cara usar tambor de maracatu e se chamar Science. Até hoje ele detona o Tom Jobim. Ele não aceita a Bossa Nova, nem a Semana de Arte Moderna! Do Villa Lobos ele aceita só a parte que compôs na viola. Se o que fez no piano ele não aceita. Ele é padrinho da Orquestra Armorial e com essa postura aristocrática, eles se julgam donos da cultura popular, mas sempre acham que a cultura popular precisa de certos filtros acadêmicos para poder ser vendida para a classe média.”
LISTA DE MÚSICAS DO CD
01- Folclore português como tema de música (Roberto Leal – Cana Verde)
02- Folclore brasileiro (Alecrim)
03- Capoeira angola (Paranauê)
04- Folclore brasileiro: moda de viola com catira ao fundo.
05- Folclore celta: harpa celta e flauta
06- Folclore africano: tambores
07- Folclore italiano: tarantela napolitana
08- Folclore português (Nosso bailinho)
09- Folclore canadense: província de Quebec
10- Folclore italiano: tarantela siciliana
11- Folclore brasileiro: frevo
12- Folclore grego
13- Folclore mexicano
14- Boi bumbá (Luiz Gonzaga)
15- Folclore brasileiro (Meu galinho)
16- Folclore chileno (Mi banderita)
17- Folclore brasileiro: trava língua (O doce)
18- Folclore português
19- Folclore brasileiro: festa junina (Pula a fogueira)
20- Folclore brasileiro: maracatu (Rio Maracatu – Pau de Arara)
21- Folclore brasileiro (A barata)
22- Folclore brasileiro: Folia de reis (festejo religioso brasileiro)
OBSERVAÇÕES:
Tendo em vista as músicas acima, é observada a diversidade do folclore brasileiro. As músicas usadas para ninar e educar crianças não se assemelham com o Boi Bumbá, por exemplo. Essa diversidade não é apenas visualizada no Brasil, já que tanto a Tarantela napolitana é bem diferente da Tarantela siciliana, e ambas são características do mesmo país.
Além da multiplicidade do nosso folclore, ele também não é compartilhado por todos os brasileiros. A música “A barata” é um exemplo disso, ela é muito conhecida em cidades mineiras e ao mesmo tempo é estranha para muitos cariocas.
Uma outra observação a ser feita é a utilização de temas folclóricos em músicas. A primeira faixa retrata muito bem isso, “Cana verde” é típica de Portugal, mas perdeu todo o seu folclore ao ser reproduzida com instrumentos modernos. As faixas 14 e 22 também usam o folclore, porém sem descaracterizá-lo.
Essa coletânea de músicas permite a percepção de que uma música da cultura africana jamais poderá ser confundida com uma da Grécia. Cada povo produz a sua arte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros:
ARANTES, Antônio Augusto. O que é cultura popular? – Coleção Primeiros Passos, Ed. Brasiliense
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore? – Coleção Primeiros Passos, Ed. Brasiliense
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro – Ed. Global
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