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Atualizado em 10/08/2024

Dislexia: Diagnóstico e Tratamento do Problema

Descubra tudo sobre dislexia, como diagnosticar e tratamento. Oferecemos soluções eficazes para ajudar crianças e adultos que sofrem deste distúrbio. Saiba mais agora!

Dislexia: Definição, Sinais e Avaliação

Definida como um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior incidência nas salas de aula. Pesquisas realizadas em vários países mostram que entre 5% e 17% da população mundial é disléxica. Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico. Por esses múltiplos fatores, a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento mais efetivo das dificuldades após o diagnóstico, direcionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a resultados mais concretos. Para mais informações sobre a importância do diagnóstico, veja A Educação Inclusiva e as Adaptações Curriculares.

Sinais de Alerta

Como a dislexia é genética e hereditária, se a criança possuir pais ou outros parentes disléxicos, quanto mais cedo for realizado o diagnóstico, melhor para os pais, a escola e a própria criança. A criança poderá passar pelo processo de avaliação realizada por uma equipe multidisciplinar especializada (vide adiante), mas se não houver passado pelo processo de alfabetização, o diagnóstico será apenas de uma “criança de risco”.

Haverá sempre:

  • dificuldades com a linguagem e escrita;
  • dificuldades em escrever;
  • dificuldades com a ortografia;
  • lentidão na aprendizagem da leitura;

Haverá muitas vezes:

  • disgrafia (letra feia);
  • discalculia, dificuldade com a matemática, sobretudo na assimilação de símbolos e de decorar tabuada;
  • dificuldades com a memória de curto prazo e com a organização;
  • dificuldades em seguir indicações de caminhos e em executar sequências de tarefas complexas;
  • dificuldades para compreender textos escritos;
  • dificuldades em aprender uma segunda língua.

Haverá às vezes:

  • dificuldades com a linguagem falada;
  • dificuldade com a percepção espacial;
  • confusão entre direita e esquerda.

Pré-Escola

Fique alerta se a criança apresentar alguns desses sintomas: Dispersão; Fraco desenvolvimento da atenção; Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem; Dificuldade em aprender rimas e canções; Fraco desenvolvimento da coordenação motora; Dificuldade com quebra-cabeça; Falta de interesse por livros impressos. O fato de apresentar alguns desses sintomas não indica necessariamente que ela seja disléxica; há outros fatores a serem observados. Porém, com certeza, estaremos diante de um quadro que pede uma maior atenção e/ou estimulação.

Idade Escolar

Nesta fase, se a criança continua apresentando alguns ou vários dos sintomas a seguir, é necessário um diagnóstico e acompanhamento adequado, para que possa prosseguir seus estudos junto com os demais colegas e tenha menos prejuízo emocional:

  • Dificuldade na aquisição e automação da leitura e escrita;
  • Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
  • Desatenção e dispersão;
  • Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
  • Dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pintura) e/ou grossa (ginástica, dança, etc.);
  • Desorganização geral: podemos citar os constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares e perda de materiais escolares;
  • Confusão entre esquerda e direita;
  • Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas, etc.;
  • Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou sentenças longas e vagas;
  • Dificuldade na memória de curto prazo, como instruções, recados, etc.;
  • Dificuldades em decorar sequências, como meses do ano, alfabeto, tabuada, etc.;
  • Dificuldade na matemática e desenho geométrico;
  • Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomias);
  • Troca de letras na escrita;
  • Dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua;
  • Problemas de conduta como: depressão, timidez excessiva ou o “palhaço da turma”;
  • Bom desempenho em provas orais.

Se nessa fase a criança não for acompanhada adequadamente, os sintomas persistirão e irão permear a fase adulta, com possíveis prejuízos emocionais e, consequentemente, sociais e profissionais.

Adultos

Se não teve um acompanhamento adequado na fase escolar ou pré-escolar, o adulto disléxico ainda apresentará dificuldades:

  • Continuada dificuldade na leitura e escrita;
  • Memória imediata prejudicada;
  • Dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua;
  • Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomia);
  • Dificuldade com direita e esquerda;
  • Dificuldade em organização;
  • Aspectos afetivos emocionais prejudicados, trazendo como consequência: depressão, ansiedade, baixa autoestima e, algumas vezes, o ingresso para as drogas e o álcool.

DIAGNÓSTICO

Os sintomas que podem indicar a dislexia, antes de um diagnóstico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem, não confirmam a dislexia. E não pára por aí, os mesmos sintomas podem indicar outras situações, como lesões, síndromes, etc. Então, como diagnosticar a dislexia? Identificado o problema de rendimento escolar ou sintomas isolados, que podem ser percebidos na escola ou mesmo em casa, deve-se procurar ajuda especializada. Uma equipe multidisciplinar, formada por Psicóloga, Fonoaudióloga e Psicopedagoga Clínica, deve iniciar uma minuciosa investigação. Essa mesma equipe deve ainda garantir uma maior abrangência do processo de avaliação, verificando a necessidade do parecer de outros profissionais, como Neurologista, Oftalmologista e outros, conforme o caso. A equipe de profissionais deve verificar todas as possibilidades antes de confirmar ou descartar o diagnóstico de dislexia. É o que chamamos de AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR e de EXCLUSÃO. Outros fatores deverão ser descartados, como déficit intelectual, disfunções ou deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais (congênitas e adquiridas), desordens afetivas anteriores ao processo de fracasso escolar (com constantes fracassos escolares, o disléxico irá apresentar prejuízos emocionais, mas estes são consequências, não causas da dislexia). Neste processo, ainda é muito importante tomar o parecer da escola, dos pais e levantar o histórico familiar e de evolução do paciente. Essa avaliação não só identifica as causas das dificuldades apresentadas, como também permite um encaminhamento adequado a cada caso, por meio de um relatório por escrito.

Depois de Diagnosticada a Dislexia

Sendo diagnosticada a dislexia, o encaminhamento orienta o acompanhamento consoante às particularidades de cada caso, o que permite que este seja mais eficaz e proveitoso, pois o profissional que assumir o caso não precisará de um tempo para identificação do problema, bem como terá ainda acesso a pareceres importantes. Conhecendo as causas das dificuldades, o potencial e as individualidades do indivíduo, o profissional pode utilizar a linha que achar mais conveniente. Os resultados irão aparecer de forma consistente e progressiva. Ao contrário do que muitos pensam, o disléxico sempre contorna suas dificuldades, encontrando seu caminho. Ele responde bem a situações que possam ser associadas a vivências concretas e aos múltiplos sentidos. O disléxico também tem sua própria lógica, sendo muito importante o bom entrosamento entre profissional e paciente. Outro passo importante a ser dado é definir um programa em etapas e somente passar para a seguinte após confirmar que a anterior foi devidamente absorvida, sempre retomando as etapas anteriores. É o que chamamos de sistema MULTISSENSORIAL e CUMULATIVO. Também é de extrema importância haver uma boa troca de informações, experiências e até sintonia dos procedimentos executados, entre profissional, escola e família.

Dificuldades na Leitura e na Ortografia.

Atualmente, entende-se por dislexia o distúrbio isolado do aprendizado da leitura e da escrita em crianças com uma inteligência normal. Cerca de 3% a 8% das crianças são portadoras desse distúrbio. Pais e professores são chamados a procurar ajuda eficaz. Veja alguns pontos de vista para melhor compreensão e atenuação desses distúrbios.

Aprender a grafia das letras exige da criança a capacidade e a prontidão para decifrar fonemas isolados a partir das palavras que ela conhece como um todo, ou seja, fragmentos da palavra. Em vez de captar seu sentido pela audição, ela deve prestar atenção somente numa parte do som da palavra. Ao mesmo tempo, exige-se ainda uma segunda abstração: acreditar que um sinal gráfico não-figurativo seja o próprio som.

Esses sinais abstratos, constituídos de retas e curvas, só adquirem sentido devido a uma posição bem determinada em relação a nós mesmos. Nós nem sequer conseguimos pronunciá-las sem juntar-lhes uma vogal. Fazer surgir palavras a partir dessas coisas imprecisas é, realmente, uma “arte enigmática”. Por que não escrevemos a palavra “papel” com “u” no fim, e por que ouvimos “toque” e escrevemos “toque”? Quando pronunciamos o “q” sozinho, tampouco ele é escrito com um “u” depois.

Essas indicações podem apontar algumas das causas que provocam inseguranças e distúrbios. Crianças que ainda reconhecem um sinal como uma imagem terão dificuldade; e também aquelas que tomam as afirmações do professor ao pé da letra, principalmente quando este lhe diz: “escreva como você ouve e fala” e elas acreditam fielmente nisso. Isto já mostra que, para fazermos jus à criança, o processo da aprendizagem da escrita e da leitura deve ocorrer num período de tempo bem amplo. Mas também aparece o desejo de que o professor seja realmente um entendido em escrita, no sentido de conhecer as armadilhas para os disléxicos, e assim estruturar o processo de escrever em etapas seguras, pesquisadas pela análise fonética.

Podemos notar que algumas crianças aprendem a ler e escrever quase por si mesmas, e elaboram todas as exceções às regras brincando. Elas dão a impressão de estarem apenas recordando como se escreve. Para outras, ao contrário, parece que o mundo desaba, pois até então elas aparentemente não tinham qualquer dificuldade de orientação, ou muito pouca, e facilmente participavam de tudo, enquanto agora subitamente lhes é exigido algo que elas não compreendem. Por algum tempo, elas ainda escrevem seguindo leis que os especialistas de dislexia identificam como tentativas de ouvir muito bem: mais tarde aparecem erros cada vez mais pronunciados na estrutura da palavra escrita, o que lhes permite reconhecer a resignação crescente da criança. Nessa época, muitas vezes se manifestam sintomas vegetativos, como: palidez, predisposição a doenças, cansaço, fraqueza, distúrbios do sono, dores de barriga, enurese e agressividade. Encontram-se até mesmo doenças orgânicas graves no rol das crianças não reconhecidas como disléxicas e que vêm para tratamento médico. Especialmente nessas crianças com doenças orgânicas, facilmente se deixa considerar como causa ou como fator de piora um distúrbio de escrita. Mas também os sintomas vegetativos e psíquicos indicam claramente que agora a situação adquire valor de doença. É importante que na presença de todos esses sintomas também se pense numa dislexia, fazendo os testes correspondentes.

Naturalmente, não é suficiente apoiar-se apenas nas trocas entre ‘b’ e ‘d’ ou ‘p’ e ‘q’. Mais difícil é avaliar as outras falhas do desempenho do aluno surgidas nesse meio tempo, quanto à sua origem. Aqui se faz necessário um diagnóstico minucioso, seguido de um trabalho de estímulo individual.

Devem-se analisar detalhadamente os erros da escrita da criança, e também sua capacidade global de orientação, o domínio corporal, a percepção estrutural, a capacidade de compreender o que é dito e a capacidade de falar. A terapia é planejada individualmente, de acordo com cada situação. Logo que a criança percebe progressos e os primeiros resultados da terapia se manifestam, sua confiança aumenta e os sintomas vegetativos cedem rapidamente.

Para o êxito do ensino da escrita e da leitura, é preciso estimular por períodos longos; quando o problema é constatado precocemente e a criança recebe atendimento integral, deve-se contar com um a dois anos, caso contrário o tempo geralmente será maior. Em casos graves, recomenda-se procurar uma instituição especializada na terapia da dislexia. O tratamento pode ser complementado com uma terapia de integração sensório-motora e/ou com eurritmia curativa, para melhorar as condições de êxito do tratamento. Em todos os casos, é preciso haver estreita cooperação entre o terapeuta, professores e pais.

Crianças pequenas que parecem apresentar retardo no desenvolvimento da fala podem ser estimuladas quanto à sua atividade sensorial e à formação de sua memória. Esses estímulos dão suporte à necessária metamorfose das forças de crescimento em forças de pensamento, a precondição para qualquer atividade mental, que ocorre de forma irregular na dislexia. Para crianças com distúrbios de orientação espacial, temporal e de consciência, recomenda-se medidas que possam ser executadas por um professor ou terapeuta no contexto escolar, nos primeiros anos escolares, tais como:

– exercícios de percepção;

– seguir o trajeto de formas e suas imagens espelhadas no chão;

– desenhar formas com o pé (prender o giz entre os dedos do pé e desenhar sobre o papel de embulho claro – melhor ainda, com giz de cera grosso);

– desenhar no ar a forma com a mão, tendo os olhos fechados;

– no dia seguinte, desenhar a forma de memória no papel, depois de todo o processo ter sido rememorado e repetido concretamente com a criança;

– repetir todos os passos, tendo como modelo as formas das letras;

– fazer exercícios progressivos em que o aluno escreva o que ouviu, começando com sílabas simples. Passar de maneira lúdica, mas sistemática, para palavras de várias sílabas, cuja grafia seja fonética, e somente mais tarde para palavras que só possam ser escritas corretamente obedecendo a certas regras;

– Posteriormente, fazer com regularidade ditados breves com palavras de grafia fonética, que acarretam o mínimo de experiências de fracasso;

– tratamento com eurritmia curativa. (arte do movimento desenvolvida por Rudolf Steiner entre os anos de 1911 e 1924, em que os elementos da linguagem e da música tornam-se visíveis em formas dinâmicas e específicas. Seu fundamento é a compreensão exata das diferentes qualidades da linguagem, dos fonemas e tons.)

Quando se lida com crianças disléxicas, deve-se irradiar alegria e otimismo. Muitas vezes, os problemas presentes ainda pioram porque as crianças sofrem com as situações de fracasso, sem receber apoio suficiente, ou até vendo adultos resignados.

Referência bibliográfica:

GOEBEL, Wolfgang; GLÖCKLER, Michaela. Consultório Pediátrico. São Paulo: Antroposófica, 2003.


Este texto foi publicado na categoria Educação Inclusiva e Especial.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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