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Atualizado em 10/08/2024

O Existir e a Falta de Sentido nos Dias Atuais: Uma Análise Monográfica

Esta monografia aborda o significado do existir diante da falta de sentido na vida moderna, trazendo reflexões e novas perspectivas para a compreensão do homem contemporâneo. Saiba mais e descubra como superar essa sensação de vazio.

SUMÁRIO

Introdução 06
Capítulo 1
Filosofia e Psicopatologia Existencial 08
1.1 – Um breve Histórico do Existencialismo 08
1.2 – A Psicoterapia Existencial 09
1.3 – As Bases da Psicoterapia Existencial – A Natureza Humana 11
1.4 – A Existência Humana 12
Capítulo 2
Sociedade contemporânea: A Falta de Sentido Pós-Moderno 14
Conclusão
O papel do psicólogo frente à existência humana 17
Bibliografia 19

Introdução

Nos dias atuais, o Parecer-Ser e o Parecer-Ter já são parte integrante das relações estabelecidas entre as pessoas no trabalho, na educação, na família, na religião e até mesmo nas relações mais íntimas, enquanto forma de comunicação e relacionamento afetivo.

De acordo com RUDIO (2001), Ser, enquanto construção pessoal, é fruto da responsabilidade assumida em relação à própria existência, na busca de mantê-la e aperfeiçoá-la; é buscar realizar-se dentro das condições de seu existir no mundo. Para uma compreensão mais aprofundada sobre a importância da educação, consulte Educação ambiental para formação do cidadão do campo.

Não-Ser é a negação de si, infidelidade para consigo mesmo e a frustração das próprias realizações pessoais. É a busca pelo Parecer-Ser e Parecer-Ter, representando papéis na busca de estima, admiração, prestígio e poder, papéis estes que não têm nada a ver com o indivíduo em questão.

ROJAS (1996) nomeia este novo modelo de existência como uma “vida light”, “onde tudo está sem calorias, sem gosto ou interesse, a essência das coisas não importa, só o que é quente e superficial.”

Tendo em vista este panorama, a falta de sentido será tratada aqui enquanto um sintoma contemporâneo, onde a relação entre desenvolvimento tecnológico capitalista contemporâneo e desenvolvimento humano estão longe de andar lado a lado, uma vez que o desenvolvimento tecnológico está a anos-luz em termos de desenvolvimento se comparado com o desenvolvimento humano.

Tal discrepância me chamou a atenção no sentido de entender qual a relação entre a sociedade hoje e suas implicações para com a falta de sentido enquanto uma patologia psicológica contemporânea. Para tal, fui buscar na filosofia existencial, bem como na psicologia advinda desta filosofia, algumas considerações para que pudesse realizar este trabalho.

A monografia será composta de três capítulos:

Primeiro Capítulo: Filosofia e Psicopatologia Existencial, este capítulo foi dividido em quatro subtemas: 1.1 – Um breve Histórico do Existencialismo e da filosofia existencial, 1.2 – A Psicoterapia Existencial, este capítulo tece algumas considerações do que vem a ser a psicoterapia existencial, bem como seus autores e temas mais abordados. 1.3 – As Bases da Psicoterapia Existencial – A Natureza Humana.

1.4 – A Existência Humana – Trata do conceito de existência em acordo com a filosofia e psicologia existencial. Segundo Capítulo: Faz algumas descrições do panorama contemporâneo e sobre a falta de sentido vital na existência do ser humano nos dias atuais, para isso serão trabalhados autores como Rollo May e Yalom.

Por último, vêm as considerações finais, onde vislumbra-se o trabalho do psicólogo que atua na contemporaneidade marcada por uma sociedade arbitrária, que exclui a importância das relações interpessoais, que coloca como insignificantes os desejos individuais, as experiências passadas e a falta de projeção futura.

Capítulo 01 – Filosofia e Psicopatologia Existencial

1.1 – Um breve Histórico do Existencialismo

O existencialismo é compreendido como doutrina filosófica sobre o homem (quem é o homem?), envolvendo a centralização na pessoa existente e enfatizando o ser humano em constante evolução. É um movimento filosófico que dá supremacia à existência e considera o homem como centro de valores. Vê o homem em contínuo crescimento, em estado constante de superação de si mesmo. Considera que a existência precede a essência e que o fundamento da existência é a liberdade de escolha.

Contrapondo-se a qualquer forma de determinismo, atribui ao homem total responsabilidade por sua existência: O homem é o criador de seu próprio destino.

As origens mais recentes do existencialismo estão identificadas com Soren Kierkegaard (1813-1855), que foi um filósofo dinamarquês que contestava o caráter determinista e intelectual de Hegel, afirmando o interesse pelo simples e pela vontade. Considerado o pai do existencialismo moderno, para ele a existência é o que determina o homem. Diante disto, grande ansiedade é gerada pela luta do ser vivo contra o não ser. Dá-se a crise da vida contra a morte.

Martin Heidegger (1976), filósofo alemão que se preocupou com a problemática existencial do ser humano, dizia que pelo fato de a vida ser limitada, ela é continuamente ameaçada. A existência humana está posta diante da morte a todo momento. O ser do homem é um ser para além de si, para fora de si. Assim, o homem tem uma maneira peculiar de existir: ele é, não sendo a si mesmo. Não reconhece Deus nem a salvação, sendo o seu fim o NADA.

Outro filósofo existencialista é Jean Paul Sartre, nascido em 1905, que sofreu muita influência de Heidegger. Para Sartre, a existência precede a essência do homem. Isto é, a criatura humana está presente ao mundo apenas biologicamente e que só depois, através de sua convivência neste mundo, é que adquire uma essência humana determinada. Sua filosofia é ateísta. Sendo o final do homem também o nada.

O existencialismo não é um sistema de terapia, mas um modo de compreender o ser humano, e serve de referência à terapia, que tem, pois, uma teoria embasadora, metodologia específica, no caso a fenomenologia.

O existencialismo é uma doutrina filosófica, a partir da qual a Psicologia existencial se constitui, considerando o homem lançado no mundo e entregue a si mesmo, onde o Ser constrói-se a cada ação. A existência se constitui em lançar, em arriscar e não há nenhuma garantia. Se não há garantia, se não se pode prever ou antecipar o futuro, parece impossível uma ação preventiva ou “receita de bolo” para o existir, de acordo com o pensamento existencialista.

Os principais temas existencialistas são angústia, solidão, crises existenciais, liberdade, morte, sentido, escolha, risco, compromisso, encontro, responsabilidade, autenticidade, diferenças individuais e projetos de vida. O homem é um ser consciente e, portanto, responsável por sua existência. Sendo assim, para ser humano, é necessário lidar com todas essas condições de ser um ser-no-mundo.

1.2 – A Psicoterapia Existencial

Dentro dessa abordagem filosófica, a Psicoterapia Existencial é a investigação do indivíduo na busca de lhe fazer sobressair ou revelar, livremente, o que nele há de individual, particular, único e concreto. É a busca de sua autoexpressão mais autêntica e do compromisso sincero com as próprias escolhas existenciais.

Segundo Rollo May (1954), em seu livro Existência, a Psicoterapia Existencial surgiu espontânea e simultaneamente, no início do século XX, em diversos países da Europa: Alemanha, França, Suíça e Holanda como tentativa de superar certa insatisfação com relação à Psicanálise, tanto com os seus resultados clínicos quanto com a sua formulação teórica e, também, para procurar preencher algumas lacunas sobre a compreensão humana deixadas por ela.

Entretanto, a Psicoterapia Existencial não deve ser considerada como uma das correntes derivadas da Psicanálise, tais como as de Adler, Jung e muitos outros, pois dela muito se difere, com relação ao método e à técnica.

Os primeiros psicoterapeutas existenciais foram Erwin Strauss e V. E. Von Gebsatell na Alemanha; Eugene Minkowsky na França; Ludwig Binswanger, A. Storch, Medard Boss, G. Bally, Roland Kuhn e outros na Suíça; e J. H. van den Berg, F. J. Buytendijk e outros na Holanda.

Na psicologia americana, foi Rollo May (1954) quem, em seu livro Existência, primeiro sistematizou as ideias dos fenomenólogos, tais como Binswanger, Medard Boss e outros, bem como explicitou a proposta da psicologia existencial como um enfoque capaz de lançar luz sobre uma maior compreensão da existência humana. A psicologia existencial constitui-se numa busca de refletir e propor soluções às questões da vida cotidiana. Neste aspecto, tem como intenção terapêutica não só a reflexão como também extrair daí uma práxis.

Existir é Ex-sistere, Ser-Para-Fora, emergir, revelar, sobressair. Psicoterapia Existencial é a investigação com o indivíduo na busca de lhe fazer sobressair ou revelar, livremente, o que nele há de individual, particular, único e concreto. É a busca de sua autoexpressão mais autêntica e do compromisso sincero com as próprias escolhas existenciais.

A metodologia primordial da Psicoterapia Existencial é fenomenológica, é compreender como o ser compreende sua própria existência. Não parte do pressuposto prévio de um preconceito, e sim da vivência da pessoa e da forma como ela a percebe. O psicoterapeuta busca, então, compreender a partir de uma volta às coisas mesmas; o ser humano a partir do ser-no-mundo. “Eu sou o sentido que dou para mim mesmo”, e é esse sentido que a análise existencial irá buscar.

Rollo May (1954) diz que a partir de uma atitude compreensiva o ser é capaz de perceber o seu estado no mundo e decidir por uma aceitação mais ampla de vida. O ser precisa de uma experiência que o leve a transcender e não de uma explicação.

Decidir experimentar a existência precede o conhecimento. É compreender que sua experiência diz respeito à sua existência como um todo. “A ampla aceitação é o objetivo de toda a terapêutica, para um sentido mais preciso; significa a relação de um indivíduo com seu mundo e com seu eu, a experiência da própria existência” (MAY, 1977, p.66).

O objetivo da psicoterapia existencial, portanto, é ampliar o campo perceptível, elevar a sensibilidade para as experiências em suas possibilidades e em sua totalidade. Através do conhecimento de seu “ser”, do modo como se coloca junto-com as pessoas e como experimenta as experiências que o cercam. Em outras palavras, o ser assume o seu estado de ser humano em processo, um ser-sendo.

Quando a pessoa se dá conta de como é seu modo-de-ser na psicoterapia, experiencia um estado de ser-para-a-morte, pois neste momento, no presente, tem em si uma possibilidade de transcender para uma visão mais ampla da vida: É sempre um vir-a-ser “A morte é o único aspecto da minha vida que não tem valor relativo e sim absoluto; meu reconhecimento consciente desta particularidade comunica a minha existência e o quanto há em minuto a minuto um caráter absoluto.” (MAY, 1977, p.72)

1.3 – As Bases da Psicoterapia Existencial – A Natureza Humana

Antes de entrarmos na questão de como o Ser se posiciona diante da sua existência, é necessário compreender como se funda a natureza humana. O que vem a ser a natureza humana? Para tal, usaremos algumas considerações sobre o assunto feitas por Jean Paul Sartre.

Sartre, citado por STEVENSON (1986), nega que haja uma natureza humana, pois segundo ele “A existência precede a essência”, rejeita qualquer noção de valores objetivos ou afirmações gerais verdadeiras sobre o homem. Esta negação de uma natureza humana parte do princípio de que o homem está condenado à liberdade; “não há limites para a nossa liberdade, exceto o de que não somos livres para deixarmos de sermos livres” (SARTRE, citado por STEVENSON 1986, p. 106).

Sartre, para chegar a esta conclusão, partiu do exame da noção de consciência, onde faz uma distinção radical da consciência (ser-em-si, ser-para-si). Ser-em-si são os objetos inanimados, ser-para-si é a intencionalidade da consciência. Segundo Sartre, a consciência é sempre relação a uma exterioridade.

Segundo ele, a consciência é consciência de um objeto, portanto a consciência é sempre consciência de algo, a partir dela mesma. Também pontua que “a consciência está também sempre consciente de si mesma, sendo necessário distinguir ela própria e seu objeto”. Sendo assim, os seres humanos podem conceber juízos (de valor, sobre as coisas, etc.), onde os juízos podem ser positivos ou negativos.

Tendo em vista estas considerações sobre o valor do juízo, a possibilidade de fazer juízos negativos leva Sartre a fazer uma ligação conceitual entre a consciência e a liberdade. “A capacidade de conceber a negativa constitui a liberdade de imaginar outras possibilidades, a liberdade de fazer uma suspensão de juízos.”

Todavia, a liberdade para Sartre é o mesmo que o poder de negar, ou que, ser consciente é ser livre. Sendo assim, a responsabilidade sobre a existência de cada indivíduo é dele próprio, pois se o indivíduo é ou está consciente, tem sua liberdade e, tendo sua liberdade, pode negar a realidade, negando a realidade, está possibilitando a si mesmo fazer novas escolhas e escolher é, antes de qualquer coisa, ser autêntico em vida.

1.4 – A Existência Humana

Na análise existencial, a existência é para nós um Vir-a-Ser, uma incerteza. A existência real do ser é atribuir o seu sentido, o seu significado, o seu propósito. O ser do homem deve ser um “Ser-Aí” e “Aí” é o mundo. O nosso Ser-no-Mundo-Com consiste em estar relacionado com alguma coisa, em fazer uso de algo, em renunciar algo, apreender, realizar, determinar e saber algo.

Segundo HEIDEGGER (1982), somos “lançados” no mundo, sem escolha pessoal, sem conhecimento prévio deste mundo que está aí diante de nós e estará aí depois de nós. Não sabemos a que fim fomos lançados na existência. Entretanto, é justamente esse desconhecimento que torna a condição “lançada” da existência humana mais enfática e palpável. A existência é uma questão de assumir ou não a própria vida.

O ser alienado não sente o peso da responsabilidade de suas escolhas. Esta forma de existência é o oposto de um Dasein (ser-ai) que tem domínio de si, e daí consiste a distinção entre condição autêntica e uma condição inautêntica do modo de vida humano, de existência do Ser.

Na existência inautêntica, Heidegger (1982) nos dirá que o ser encontra-se constantemente temeroso, preocupado com a opinião de outros homens, de estar dentro dos padrões materiais e psicológicos que lhes são impostos.

“Na condição necessária de inautenticidade, caímos de nós mesmos.” A fenomenologia do cotidiano que resulta dessa queda é de inércia frenética. Sentimo-nos “inquietos” e “desamparados”. “Esses são momentos decisivos em que a angústia coloca o Dasein face a face com a terrível liberdade de ser ou não ser, de permanecer na inautenticidade ou lutar pela autopossessão.” (Heidegger, citado por George Steiner; 1982, p. 82)

É importante salientar que essa queda que Heidegger nos apresenta tem um lado positivo.

A inautenticidade é necessária para que o Dasein tome consciência de sua perda do eu e, a partir daí, se esforce para retornar à sua autenticidade, abrindo o Dasein vazio para a vertigem, possibilitando-a ir além de si mesmo.

E o que move o ser a ter desejo e esperança de ter uma existência autêntica é o cuidado e a preocupação voltados para o futuro. O cuidado (afeto) subentende e requer “a possibilidade de ser”. Sendo este um estado primordial do Dasein adquirir autenticidade.

De acordo com May (1987), a obscuridade frente à nossa existência e às nossas tomadas de decisão é o aspecto mais penoso da ansiedade. Mas há um lado positivo: assim como a ansiedade destrói a consciência de nós mesmos, esta pode destruir a ansiedade. Isto é, quanto mais forte a consciência de nós mesmos, tanto melhor podemos lutar e vencer a ansiedade. “Quando muito intensa, a ansiedade é a ameaça mais penosa sentida pelo animal racional.” (MAY, 1987, p.34)

De acordo com RUDIO (2001), Ser, enquanto construção pessoal, é fruto da responsabilidade assumida em relação à própria existência, na busca de mantê-la e aperfeiçoá-la; é ter fidelidade para consigo mesmo, não querendo ser mais e nem menos que sua própria realidade, é buscar realizar-se dentro do possível, dentro das condições de seu existir no mundo.

Não-Ser é consequência da irresponsabilidade, de quem não assumiu sua vida como devia, é a negação de si, infidelidade para consigo mesmo e a frustração das próprias realizações pessoais. É a busca pelo Parecer-Ser e Parecer-Ter, é representar papéis na busca de estima, admiração, prestígio e poder, papéis estes que não têm nada a ver com o indivíduo em questão.

Capítulo 2 – Sociedade contemporânea: A Falta de Sentido Pós-Moderno

Hoje em dia, sem dúvida alguma, há milhões de homens que são tentados a perder a própria razão e esperança de viver por estarem privados das condições materiais mínimas de existência, pela fome, pela indigência imposta pelas condições injustas da vida social, pela falta de trabalho, de recursos indispensáveis da educação, da assistência médica e social.

Mas, diante deste quadro, infelizmente hoje tão frequente, tanto em nações pobres como ricas, não se poderá deixar de reconhecer que ainda mais gravemente pesa sobre a pessoa humana, necessitada não apenas dos bens materiais, o fato de não estar conseguindo encontrar, frequentemente, as razões e o significado da própria existência.

Neste linha de estudo, são bem conhecidos hoje os trabalhos do psicanalista de Viena, Victor Frankl e os de sua escola. Para estes, “o homem é fundamentalmente um ser em busca de um significado. Se existe alguma coisa que o possa preservar, mesmo nas mais extremas situações, é a consciência de que a vida tem um sentido, não obstante nem sempre imediato” [cf. Joseph B.Fabry.o.c. p. 35-54.].

O mundo atualmente está passando por muitas mudanças, mudanças que afetam tanto psicologicamente quanto fisicamente a vida destas vítimas que estão alienadas neste turbulento processo chamado de globalização. A civilização está sempre oferecendo produtos de última geração (gadgets) para justamente facilitar a qualidade de vida dos indivíduos. Para mais informações sobre a importância da interação entre família e escola, veja A Importância da Interação entre Família e Escola.

Quanto mais novo, mais moderno, melhores serão os recursos do novo, mais garantia, mais segurança, mais tranquilidade, mais tecnologia, mais inteligência e mais potencialidade. Porém, o novo, essa promessa de uma vida melhor, é o que mais rapidamente envelhece, por isso, os sujeitos estão sempre usando vestimentas de última moda, ou seja, qualquer objeto que, através de seu uso, é capaz de gerar laços sociais segundo o tipo de ideal de cada sexo. Percebe-se, portanto, a marca do ter, talvez quem sabe, para fazer frente ao não ser com o qual o ser humano se vê confrontado.

ROJAS (1996) afirma que o indivíduo pós-moderno busca o conforto durante todos os períodos de sua vida, já não esperando a última fase da vida para viver melhor, para desfrutar a comodidade, sem sufocos. Apesar desta busca incessante pela comodidade e conforto, encontramos uma sociedade ansiosa, em estado constante de alerta, sem ideais, descompromissada, mas com um desejo muito grande de experimentar sensações diversas e excitantes.

No pós-modernismo, segundo Lasch, citado por LIPOVETSKY (1983), a atenção da vivência está voltada apenas ao presente, desconsiderando-se o passado e o futuro. Percebe-se, aqui, a perda do sentido na continuidade histórica. As relações com as tradições são cortadas, desvalorizando o passado. O futuro é colocado entre parênteses devido à grande falta de confiança nos dirigentes políticos, além do temor de desastres ecológicos e nucleares, propiciando, assim, um clima de pessimismo e catástrofe iminente.

“Sociedade pós-moderna, maneira de dizer a inflexão histórica dos objetivos e modalidades da socialização, colocados hoje sob a égide de dispositivos abertos e plurais; maneira de dizer que o individualismo hedonista e personalizado se tornou legítimo e já não depara com oposição; maneira de dizer que a era da revolução, do escândalo, da esperança futurista, inseparável do modernismo, terminou. A sociedade pós-moderna é a sociedade em que reina a indiferença de massa, em que domina o sentimento de saciedade e de estagnação, em que a autonomia privada é óbvia, em que o novo é acolhido do mesmo modo que o antigo, em que a inovação se banalizou, em que o futuro deixou de ser assimilado a um progresso inelutável.” (LIPOVETSKY, 1983, p.10­1)

ROJAS (1996) afirma que estamos na era da indiferença e, nela, encontramos homens demasiado vulneráveis, cansados de viver. Não como consequência de esgotamento, pelo excesso de trabalho, mas por falta de uma projeção pessoal coerente e forte o suficiente para levar o indivíduo em direção ao seu futuro. Tudo que atrapalha é tirado do caminho, sem reflexão e sem crítica.

ROJAS (1996) nomeia este novo modelo de existência como uma “vida light”, “onde tudo está sem calorias, sem gosto ou interesse, a essência das coisas não importa, só o que é quente e superficial.”

A cultura contemporânea, segundo Hobbs, citado por YALOM (1983), produz uma neurose caracterizada não pela falta de conhecimento interno, mas por uma carência de propósito e de um significado para a vida. O indivíduo contemporâneo é levado a colocar a significação de sua vida nos objetos (Parecer-Ter).

Diante da perda do objeto no qual colocou o sentido de sua vida, o indivíduo passa a julgar-se incompetente, incapaz, exposto ao medo e à impotência – características observáveis nos traumas patológicos – podendo até entrar num processo depressivo.

A depressão, além de outras tantas doenças, pode ser utilizada pelo indivíduo como refúgio, numa tentativa de justificar o medo de enfrentar desafios e os riscos da vida. Muitas vezes, a angústia e a tristeza são nomeadas de “depressão”, sendo tratadas como doenças, dignas de serem curadas. Sentindo-se diferente dos outros, o doente geralmente é excluído e se exclui das possibilidades que os demais gozam. Como consequência, permanece isolado e ilusoriamente protegido.

ROMERO (1996) afirma que as vivências que mobilizam e caracterizam o mundo próprio de cada indivíduo estão formadas e organizadas pelas experiências de vida. Para ele, não podemos qualificar uma vivência como doentia, mas como sintomática. Estas vivências sintomáticas são caracterizadas por ele como uma incapacidade do indivíduo para organizar e integrar sua própria experiência e, de uma incapacidade para, numa reflexão crítica, possibilitar que suas necessidades, tendências e projetos individuais sejam atendidos, concomitantemente com as exigências e barreiras impostas pelo mundo externo. Estas vivências sintomáticas traduzem rupturas, conflitos e processos psíquicos mal elaborados, acarretando sofrimento ao indivíduo.

Segundo ROMERO (2001), todos os indivíduos possuem crenças, que são convicções pessoais, podendo estar ou não associadas e derivadas das representações coletivas, que operam como verdades subjetivas, sustentando e impulsionando o indivíduo em determinadas direções. Há crenças que enaltecem e glorificam a vida e outras que a envilecem.

FRANKL (1989) faz uma distinção entre o homo sapiens e o homo patiens.

Para ele, o homo sapiens é aquele inteligente, que move-se entre o sucesso, que é o extremo positivo, e o fracasso, que é o extremo negativo. Entende-se o sucesso e o fracasso em relação ao trabalho e ao prazer.

O homo patiens é aquele homem que sofre e que sabe como sofrer, que sabe como transformar seus sentimentos numa conquista humana. O homo patiens move-se entre a realização e o desespero, num eixo perpendicular ao do homo sapiens. A realização é a realização de si através de um sentido e o desespero é o desespero da falta aparente de sentido para a vida.

FRANKL (1989) afirma que, reconhecendo estas dimensões diferenciadas de sentidos dados à existência, pode-se compreender as diferenciações encontradas no mundo. Como exemplos, cita que algumas pessoas são levadas ao desespero, apesar de seu sucesso profissional, e, de outro lado, pessoas que, apesar do fracasso profissional, chegaram a um senso de realização e até de felicidade, porque descobriram um sentido para o próprio sofrimento.

Neste sentido, as realizações, experiências e atitudes mediante os sofrimentos são únicos e importantes no processo individual da autenticidade, diferente do que é colocado pela cultura contemporânea.

Conclusão: O papel do psicólogo frente à existência humana

A partir deste trabalho, percebe-se que o modelo da sociedade pós-moderna efetivamente contribui para que o ser se depare com a falta de sentido em sua vida.

A significação da vida colocada nos objetos, a desvalorização do passado e do futuro, buscando-se viver intensamente o presente, a privação da vivência da angústia, das perdas e do luto, fazem com que o indivíduo busque saídas irrefletidas e imediatas para exclusão de sentimentos que se apresentem como obstáculos na conquista da felicidade ideal.

Ao invés de conquistar esta felicidade, o indivíduo contemporâneo, que se identifica com o modelo da sociedade atual, de forma irrefletida, pode se deparar com um esvaziamento interior, com uma sensação de perda do sentido vital, quando valores e significados, tidos como absolutos, são perdidos ou relativizados.

Tendo em vista tais considerações sobre a vida contemporânea, cabe agora ressaltar um pouco do discurso do subjetivo, o qual é trabalhado pelo profissional que lida com a subjetividade humana, o psicólogo orientado pela psicologia existencial.

A Psicoterapia Existencial centra-se no encontro entre o psicólogo e o cliente, utilizando como método a fenomenologia, como o diálogo socrático. Busca na autoexpressão autêntica o compromisso do indivíduo consigo mesmo, o sentimento de responsabilidade pela própria existência e a liberdade para o indivíduo fazer as suas próprias escolhas, descobrindo quem ele de fato é e construindo quem ele quer ser.

Sendo assim, a atuação profissional do psicólogo que trabalha sobre o eixo existencial configura-se no encontro com o ser, no buscar junto ao ser, guiado por sua angústia, o seu ser mais próprio; resgatando junto ao ser, nas diversas situações e ocupações, o movimento existencial, o movimento do ser que se perde e se acha, que se confunde e se resgata.

“A angústia dentro dos valores existencialistas é produtiva, é o que nos faz produzir, buscar viver, um dos determinantes que nos traz presente a condição humana, e nos direciona à nossa categoria de seres livres e únicos.” (ANGERAMI, 1984, p.31)

O terapeuta ou profissional facilitador deve ser imerso em todo um clima emocional, pois só desse modo poderá fazer um prolongado exame de suas capacidades e possibilidades humanas.

ROMERO (2001) afirma que, na clínica, lidamos constantemente com a rede de crenças de nossos clientes e, que quando nos colocam uma determinada dificuldade que estão sofrendo, geralmente nos deparamos, na origem e desenvolvimento dessa problemática, com o binômio crença – descrença. Nos tempos atuais, é comum perceber que o indivíduo apresenta um sistema de crenças ingênuas, alienadas, negativas, ou que esteja sendo corroído por uma descrença generalizada.

Para YALOM (1983), a principal meta do terapeuta, com um cliente que apresenta uma carência de sentido vital, é fazer com que o cliente comprometa-se.

O desejo de comprometer-se com a vida, segundo YALOM (1983), está sempre inerente em todo ser humano e as atividades clínicas do terapeuta devem orientar-se em direção à eliminação dos obstáculos que poderiam obstruir o caminho do cliente. Não cabe, porém, ao terapeuta, criar para o cliente este compromisso, nem induzi-lo para que o busque.

O profissional vai agir como facilitador do resgate da liberdade numa existência que se perdeu (escravizou-se) nas contingências, sejam elas externas (condições sociais e situacionais) ou internas (uma grande dor, uma grande perda, um trauma), refletirá junto ao ser o seu próprio existir – seus pensamentos, sentimentos, sua atuação, a liberdade, suas possibilidades, o risco, a escolha, a autenticidade.

Por Charllyson Syrio Rego


Este texto foi publicado na categoria Saúde Mental e Psicológica.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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