O aparelho ideológico da família
No terceiro milênio, a humanidade experimenta os efeitos deletérios de um colapso ético-religioso que acometeu este século, só comparável ao das sociedades de Sodoma e Gomorra, das histórias do Gênesis Bíblico. O convite insidioso dos meios de comunicação de massa, a licenciosidade e a permissividade em nome da “liberdade de expressão” têm contribuído de modo inexorável para o estabelecimento do “caos social” no seio da família.
São evidentes as tentativas ousadas de desacreditar a família perante a opinião pública, insinuando outros tipos de relações alternativas em substituição àquelas que constituem os pilares da arquitetura familiar, quais sejam, a relação marital entre o homem e a mulher, a relação paternal e a relação filial, que lhe dão identidade própria como organização divinamente planejada para ser bem-sucedida.
A mídia, em particular, tem sido um veículo de disseminação voraz de mensagens contrárias à manutenção da instituição familiar. As telenovelas são o clássico exemplo disso, onde a exaltação à rebeldia aos princípios de moralidade universal é o tema predileto. O assédio sexual, a infidelidade conjugal, o desrespeito à hierarquia familiar, a opção pelo “terceiro sexo” e a promiscuidade sexual são algumas dessas mensagens, apresentadas de forma sutilmente dissimulada como “novos valores” a serem aceitos, sob o pretexto da “liberalidade consentida” numa sociedade livre e democrática. A “esterilidade” dos princípios e valores da família é, indubitavelmente, a sequela mais patológica da síndrome que está enfermando o tecido social.
Na sociedade moderna, o “culto à individualidade” tem reforçado o comportamento egoísta e autossuficiente do homem “cibernético”, que busca desenfreadamente satisfazer os seus desejos e instintos naturais, chegando a se tornar deliberadamente indiferente aos princípios básicos da sua racionalidade. Às vezes, faz-se crer como verdadeira a famigerada tese ateísta que proclama “o homem como um fim em si mesmo”. Na realidade, ao discutirmos as questões sociais de maior relevância nos dias atuais, somos unânimes em considerar a necessidade de combater de modo eficaz as chagas que vilipendiam a dignidade e os direitos humanos, como a miséria, a fome, a corrupção e a violência, só para citar algumas, sem nos darmos conta, muitas vezes, que estamos tratando tão somente dos efeitos dessa doença social e não da sua causa, como seria de esperar para quem deseja uma solução definitiva no tratamento.
O aparelho ideológico da família
A família é a primeira instituição com que uma pessoa entra em contato em sua vida, e ela a acompanha, de uma maneira ou outra, até sua morte, direta ou indiretamente.
A família é um aparelho ideológico que recebe grande influência do modo de produção em que está inserida. As relações básicas de uma sociedade irão influenciar, direta ou indiretamente, a estrutura familiar. Para uma análise mais profunda sobre as relações sociais, consulte Desenvolvimento sociocultural no turismo.
Há duas práticas educativas básicas: a condicionadora, que forma para a dominação; e a dialogal, que forma para a liberdade. Ao avaliarmos nossas famílias, percebemos que elas reproduzem relações de poder da sociedade em que vivem. Assim, na maioria das famílias, cabe ao marido e pai o máximo de autoridade. Da mulher, espera-se a submissão ao marido e, dentro de casa, ela exerce relativo poder sobre os filhos. Mesmo entre os filhos, se estabelece uma hierarquia de poder: o mais velho manda no mais novo, e o filho homem manda na filha mulher. São exemplos claros de relações de dominação que se estabelecem por dois critérios:
- Idade: onde quem é mais velho pode e sabe mais; no entanto, é inadequado dizer isso, pois todo saber é uma experiência e não há saber maior ou menor, melhor ou pior, há sim saberes diferentes. Os jovens, apesar de tudo, também têm saberes que têm fundamentos e lógica.
- Gênero: onde o homem manda mais que a mulher; no entanto, essa afirmação vem sendo deixada de lado, pois hoje em dia, os homens vêm compreendendo que a colaboração da mulher é de fundamental importância para a manutenção do bem-estar familiar e estes começam também a ajudar mais em casa, participar mais na vida dos filhos, seja nas reuniões do colégio, nos momentos de lazer, nas conversas… ainda que muitos ainda se preocupem mais com o trabalho e dinheiro do que com a família.
Todos temos, dentro de nós, relações de dominação. Por exemplo, qual o adulto que não pensa que sabe mais que o jovem? Qual o professor que não acha que sabe mais que o aluno? Qual o padre que não acha que sabe mais que o povo? Cientificamente, não se pode provar que o saber de um é maior do que o saber de outro. Somente uma pessoa que se vigia, momento a momento, que se pergunta pela razão e o sentido de todos os seus gestos e ações, pode desenvolver para si mesma e para as pessoas com as quais se relaciona, relações igualitárias, democráticas e dialogais.
É interessante também prestar atenção sobre a influência que o sistema global exerce sobre as próprias relações que levam duas pessoas a viverem juntas, inclusive na formação e vivência das famílias. A filosofia do sistema capitalista é a individualização das pessoas e das famílias. Através da competição, as qualidades individuais são privilegiadas e as relações associativas são colocadas em segundo plano.
O consumismo é um fator que luta contra a cidadania e sua própria construção e tem um grande poder de dominação sobre nós. Essa cultura consumista que vemos foi fabricada com o apoio irrestrito dos meios de comunicação, especialmente a TV e o rádio. Tal modelo de sociedade em que vivemos não visa a formação de cidadãos, mas de consumidores para o mercado. Os grandes valores da cidadania, como justiça, liberdade, igualdade e fraternidade, conquistados inicialmente na Revolução Francesa e construídos por meios de lutas sociais ao longo dos últimos dois séculos, sofreram profundo revés desde o último quarto do século XX e continuam em franco processo de destruição. O modelo de sociedade consumista atual valoriza as pessoas pelo que possuem e não pelo que elas são.
A família pode se tornar um agente transformador na medida em que se conseguir estabelecer e criar novas relações, igualitárias e dialogais, entre seus membros. A família é, na verdade, o momento essencial e primeiro na estruturação da personalidade das pessoas. A vivência familiar será, consequentemente, a base fundamental que possibilitará uma ruptura com as práticas normais do sistema, caso as pessoas da família tomem consciência dessas relações estruturais do sistema e decidam estabelecer a prática de novas relações.
A televisão é um meio de comunicação e entretenimento que apresenta vantagens e desvantagens. É a partir dela que a grande maioria dos cidadãos e cidadãs brasileiros passa a aceitar como bom, bonito e correto o que se passa diante de seus olhos na incrível telinha, principalmente nos canais abertos. As pessoas estão perdendo a capacidade de pensar criativamente e criticamente… É angustiante imaginar o que será das nossas gerações futuras que serão influenciadas em sua formação por tal realidade. Por isso, é urgente a necessidade de ensinar, sobretudo a criança e o adolescente a pensar. E esta é uma tarefa a ser feita em família. Precisa começar na cabeça do pai e da mãe, do avô e da avó, para ser passada aos filhos e netos em conversas informais e agradáveis.
Quem nunca ouviu aquele ditado “Filho de peixe… peixinho é”. Pais inseguros e medrosos levam seus filhos a serem inseguros e medrosos também. Superproteger um filho não é demonstração de amor; eles precisam aprender a viver, e não há aprendizado eficiente sem experiências, é errando que se aprende. Os filhos geralmente se espelham em seus pais, por isso é necessária a família aconselhar e dar o exemplo.
A família apresenta inúmeros outros problemas como a questão do divórcio, homossexualismo, liberalismo sexual (relações sexuais precoces, DSTs, gravidez indesejada, aborto, pornografia…), convivência com a mídia, drogas, violência familiar… Para contornar esses problemas, a família precisa valorizar cada vez mais o diálogo. Conversar sobre sexualidade com os filhos, desde a mais tenra idade, é um dos caminhos para uma educação sexual sadia. O adolescente precisa saber que toda ação tem suas consequências, sejam elas físicas, psicológicas, econômicas e espirituais. O segredo para se ter resultados satisfatórios nessa área, reafirmamos, é trabalhar de forma constante e sistemática a prevenção através de um programa de educação sexual. Só assim teremos menos casos de iniciação sexual precoce e gravidez indesejada entre adolescentes.
Com isso, estaremos oferecendo aos adolescentes e jovens oportunidades de aproveitar melhor a sexualidade e o dom da gestação de forma responsável. Em relação às drogas, podemos dizer que a melhor prevenção ainda é a família. As principais atitudes familiares que devem ser valorizadas para ajudarem os jovens a se prevenirem e se distanciarem das drogas são a convivência, diálogo, informação, afeto, participação, limites, autonomia, exemplo, valores, modelo e oração…
Famílias estáveis e saudáveis cultivam a apreciação mútua, têm a capacidade de identificar e resolver problemas de forma que todos saiam vitoriosos, a comunicação é valorizada e aberta, há um forte sentimento de compromisso entre seus membros, investem tempo e energia na manutenção de um relacionamento construtivo, compartilham a fé comum.
CONCLUSÃO
A família é o aparelho ideológico no qual os seus membros se espelham, desenvolvem seu próprio modo de ser, sua própria personalidade, a partir da relação com os outros membros da família. De alguma forma, todos os membros de uma família se desenvolvem e mudam seu modo de estar no mundo através das interações que acontecem na família. Todo membro de uma família é afetado pelos outros membros, não importa a distância ou o tempo de convivência. Nada acontece de forma isolada em uma família.
A família apresenta também inúmeros problemas, como a questão do divórcio, homossexualismo, liberalismo sexual, convivência com a mídia, drogas, violência familiar… que devem ser solucionados através do diálogo, compreensão, união e amor…
Mas em cada situação institucional, é necessário que se estabeleça a luta para a transformação das relações básicas do sistema e o surgimento de diferentes práticas de vida, democráticas e dialogais. O ideal seria que as instituições trabalhassem unidas, interligadas, numa colaboração mútua.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OIKOS. Família. Disponível em: <http://www.clickfamilia.org.br/familia/index.asp>
RIBEIRO, Elisabeth Noel; GORESTIN, Sergio Garbati. Família & Relacionamento.
Pr. Valdir. Sem fé é impossível agradar a Deus.
GUARESCHI, Pedrinho A. Sociologia crítica: alternativas de mudança. Porto Alegre: Mundo Jovem, 1995. 124 p.
Autor: Liana Pellicioli
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