Música: Ferramenta de Ensino para a Construção de Conhecimentos
INTRODUÇÃO
Na Grécia clássica, o ensino da música era obrigatório e há indícios de que já havia orquestras que se apresentavam para as famílias nobres.
Quando pesquisado, diversas definições para a palavra música são encontradas, porém, de modo geral, é considerada a ciência e também arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas. A arte se manifesta pela escolha dos arranjos e combinações. A música, para alguns estudiosos do assunto, é conceituada como “combinação harmoniosa e expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização, etc.”.
Gainza (1988, p.22) ressalta que “A música e o som, enquanto energia, estimulam o movimento interno e externo do homem, impulsionando-o à ação e promovendo nele uma multiplicidade de condutas de diferentes graus e qualidades.”
A música é composta basicamente por:
Som: Vibrações audíveis regulares de corpos elásticos que se repetem com a mesma velocidade, como as do pêndulo de um relógio. Sendo que as vibrações irregulares são denominadas ruídos.
Melodia: Sucessão rítmica e bem ordenada de sons.
Harmonia: Combinação simultânea e harmoniosa de sons.
Conforme Wilhems Apud Gainza (1988, p.36), cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico ao qual mobiliza com exclusividade ou mais intensamente. O ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade, e a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental do homem.
APRENDIZADO COM A MÚSICA:
A experiência com música antes do aprendizado é muito importante. No trabalho pedagógico, entende-se a música como um processo contínuo de construção que envolve perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. O uso da música torna o ensino mais leve e descontraído, criando um ambiente ideal para um bom aproveitamento no aprendizado. Nas obras de Paulo Freire, que é um nome de destaque na área da educação do Brasil, encontramos referências sobre o valor de um ambiente adequado para o ensino.
“Sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vive sisuda. A seriedade não precisa ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque é séria, se dedique ao ensino de forma não só competente, mas dedicada ao ensino e que seja uma escola geradora de alegria. O que há de sério, até de penoso, de trabalhoso, nos processos de ensinar e aprender, de conhecer, é não transformar este, “que fazer” em algo triste. Pelo contrário, a alegria de ensinar e aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes.
Precisamos é remover os obstáculos que dificultam que a alegria tome conta de nós e não aceitar que ensinar e aprender são práticas necessariamente enfadonhas e tristes. É por isso que eu falava de que o reparo das escolas, urgentemente feito, já será a forma de mudar um pouco a cara da escola do ponto de vista também de sua alma (FREIRE, P; 2000).
A escola que sempre foi o sonho de todos os educadores, incluindo o grande mestre Freire, não é a que ocorre hoje, principalmente pelo fato de que as instituições de ensino, muitas vezes, carregam consigo um sinônimo de repressão. Muitos jovens e adultos, quando são alunos, já possuem uma história de exclusão e chegam muitas vezes à escola com indisposição para uma participação positiva em aula, que os levaria a um melhor aproveitamento escolar. Se isso ocorre, e há formas comprovadas de reduzir a agressividade, porque não usá-las?
Assim, a responsabilidade de vencer a barreira social através do aprendizado da leitura e da escrita da língua materna, além de outros aspectos da cultura e do conhecimento produzido socialmente, torna-se muito maior para a escola e, principalmente, para os professores e professoras que terão a tarefa de ensinar e aprender em conjunto com seus alunos e alunas, jovens e adultos.
“Pitágoras, filósofo grego da antiguidade, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. As sensações de bem-estar com a aplicação da música já eram consideradas naquela época. Pitágoras demonstrou que a sequência correta de sons, se tocada musicalmente em um instrumento, pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura” (BRÉSCIA, 2003).
Diante de tantos benefícios que a música pode proporcionar no processo de aprendizagem, buscou-se, através deste trabalho, entre profissionais da área de educação, informações sobre o uso ou não desta ferramenta de ensino.
A música é primordial para o desenvolvimento e construção de conhecimento na fase infantil, para os adolescentes e na fase adulta, ou em qualquer outro momento da vida. Através dela, os seres humanos analisam seus conflitos de forma comparativa, apropriam-se do mundo em que vivem, desenvolvem a criatividade e socializam-se, melhorando sua sensibilidade auditiva. A música está presente em todos os ambientes.
Os sons são notas musicais que, muitas vezes, passam despercebidas por nós; sons podem vir do carro que passa, do apito da sirene, do vento que balança as folhas, do bebê que chora ou mesmo balbucia. Sons/músicas estão presentes em nossa vida. Somos afetados por eles sem pensar. Somos afetados por eles sem senti-los.
Vivemos numa época de crise, mas de ricas potencialidades, na medida em que a sobrevivência do próprio processo civilizatório depende da construção de uma sociedade educacional. Ou seja, nenhuma formação social sobreviverá se seus governos, suas instituições e suas classes sociais não entenderem que a única saída está na educação para toda a vida de todas as pessoas, pois a cidadania ativa não pode mais ser prerrogativa de uma minoria (ROMÃO, 2006).
A música altera nosso estado de espírito. O corpo reage às vibrações dos sons, e são despertadas emoções que interferem no funcionamento de nosso organismo. Existem teorias que comprovam as reações de células e órgãos através das emoções que são deflagradas. Pela música, o educando desenvolve suas capacidades psicomotoras, estimula a memória e ajuda a desenvolver a autoconfiança. A música ainda dá a ele a oportunidade de vivenciar um processo criativo por meio da arte musical.
É um veículo de comunicação com enorme abrangência e que fala diretamente da emoção das pessoas. Por ser um meio de comunicação tão direto, ela permite que as classes populares se expressem e lutem cantando por seus direitos. Verbalizar sonhos e certezas faz parte das necessidades do ser humano e isso pode significar encontrar algum prazer na necessidade. A música pode trazer o consolo espiritual que dá sentido à existência, que pode nos resgatar do “fundo do poço”, o mesmo poço citado em uma composição do grupo musical Legião Urbana, ao final da obra “Há Tempos”, e que também pode nos encher de alegria e bem-estar com a vida, podendo alterar e liberar partes reprimidas inscritas em nosso corpo.
Além de todo benefício que o uso da música traz, é um recurso de inclusão social. A música é importante pois pode ajudar a fortalecer a cultura nacional e democratizar o acesso à arte. A educação musical nas escolas é tida como um instrumento fundamental para garantir a preservação das raízes culturais em muitos países, e o exemplo precisa ser seguido por um país que almeja se igualar aos países desenvolvidos, ditos “de primeiro mundo”.
“A música tem forte potencial para transformar o comportamento do ser humano. A música exerce forte influência na produção dos neurotransmissores, induzindo o ser humano a reações orgânicas. Utilizadas adequadamente, estas reações podem ser positivas, surtindo bons resultados. Contudo, é necessário centrar a atenção para certos aspectos que devem ser considerados quanto ao seu uso, como faixa etária, sexo majoritário do grupo e o objetivo da atividade, entre outros” (PUCHTA, 1993).
A ferramenta de ensino música tem chamado a atenção de vários veículos publicitários e entre eles o jornal Folha de São Paulo.
Música é cada vez mais usada para alfabetizar, resgatar a cultura e ajudar na construção de conhecimento de crianças carentes. Projetos que envolvem a música na integração social se espalham por todo o país e são exemplos de sucessos (KRAKOVICS, 2000).
O uso da música pode ocorrer de forma tradicional, com um professor de música e um conhecimento mais específico sobre o assunto, mas pode também ser aplicado por outros professores de outras áreas de ensino, com o uso de equipamentos como rádios, aparelhos de som e letras com interpretação, ou ainda pode ser trabalhada com o uso de tecnologia digital. O uso de softwares para ensino de música já é uma realidade no mundo e pode ser aplicada na construção de conhecimento, aliando prazer à tecnologia.
“O principal objetivo do software educativo-musical é promover um ambiente educacional que seja um recurso facilitador para efetivar o processo de ensino e aprendizagem musical. No entanto, é importante que nas aulas de música haja espaço para que os alunos se movimentem entre materiais, tais como: instrumentos musicais e recursos audiovisuais, entre outros mais convencionais” (Christiane Denard, 2009).
Além da possibilidade do uso da música na forma mais simplificada, através de um simples aparelho reprodutor e o cd (mídia), acompanhado da letra e um comentário previamente elaborado, a música permite jogos ou brincadeiras que a utilizam como ponto de partida para outras atividades. Jogos com etapas marcadas pela música, ou então a utilização da música com letra modificada numa espécie de paródia, podem ser usados para auxiliar na fixação de conteúdo.
A pesquisa realizada com professores do ensino fundamental e médio mostrou que há grande interesse pelo uso da música, não só pelo fato de a música ser novidade para muitos professores iniciantes na carreira, tornando-se assim um recurso a mais na difícil tarefa de ensinar, mas também para aqueles que já utilizaram e que, por razões de perda do hábito, deixaram de fazer uso deste maravilhoso recurso. Embora a música aparentemente esteja na relação de assuntos tratados nas aulas da disciplina Artes, oferecidas no ensino fundamental I e II, ela é apenas apresentada na forma de uma espécie de arte, fazendo uso do estudo num sentido mais amplo e não como apoio na transmissão de conhecimento.
Se a música traz a todos tantos benefícios e se a música é um importante aliado no processo de formação de conhecimento, uma inevitável pergunta surge: se a educação no Brasil apresenta problemas graves tanto no sentido comportamental como também no sentido de aproveitamento e rendimento escolar, porque não fazer uso com maior frequência da música no processo contínuo de ensino?
Para responder a tal pergunta, elaboramos um questionário onde professores, de forma independente, responderam e avaliaram a utilização deste recurso em sala de aula. As perguntas procuraram identificar a frequência de uso, facilidade de obtenção de material para trabalho (letra, mídia e literatura correspondente) e participação e/ou aceitação por parte dos alunos.
Resultados da pesquisa:
- 76% dos entrevistados aprovam e já fizeram uso de música como recurso didático.
- 3% não aprovam e não gostam e não consideram o uso da música em preparação e apresentação de aulas.
- 21% não sabem, mas consideram a possibilidade de usar música como recurso didático, desde que houvesse maior facilidade de acesso a materiais.
Facilidade de obtenção de materiais:
- 63% consideram fácil a obtenção de material (letra e música), considerando a possibilidade de obtenção via internet.
- 28% consideram difícil a obtenção de material (letra e música) pela dificuldade em manuseio de equipamentos informatizados.
- 9% não souberam responder.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Podemos considerar que a grande maioria dos professores aprova o uso da música no processo contínuo de educação e que, com as facilidades tecnológicas, inclusive presentes na maioria das escolas públicas e particulares, o uso torna-se ainda mais conveniente, em função da facilidade de obtenção de material para este fim.
Os resultados finais da pesquisa e o que observamos na realidade escolar levam a acreditar que a falta de uso deste recurso é provocada pela falta de estímulo ou de iniciativa por parte da maioria dos professores. Cabendo, então, uma reflexão sobre o assunto e também maior apoio e incentivo por parte dos responsáveis de cada unidade escolar, para que este recurso facilitador possa novamente ser reutilizado com maior frequência, como já ocorreu em décadas passadas, quando a música representava parte integrante do sistema de ensino.
Verificamos que existem atualmente diversas publicações sobre o tema “Uso da música como ferramenta de ensino” e que todas mostram argumentos suficientes para que se faça o uso do recurso tema desta pesquisa. Há inclusive obras que apresentam sugestões de uso, sugestões de letras com devidos comentários a respeito, facilitando em muito a preparação de aulas com o uso de música, para aqueles que queiram buscar ou iniciar nesta metodologia de ensino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS
BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. Cortez Editora. São Paulo, 2000.
GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988.
KRAKOVICS, Fernanda. Música ajuda na alfabetização de crianças. Jornal Folha de S.Paulo, 2000.
ROMÃO, I. Revista Viver Mente e Cérebro. Coleção Memória da Pedagogia, 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
GREGORI, Maria Lúcia P. Música e Yoga transformando sua vida. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20a ed. São Paulo: Ática, 2000.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
CAMPBELL, Linda; et al. Ensino e Aprendizagem por meio das Inteligências Múltiplas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
CHIARELLI, Lígia K.M., BARRETO, Sidirley J., A importância da musicalização na educação infantil e no ensino fundamental. A música como meio de desenvolver a inteligência e a integração do ser. Blumenau – Instituto Catarinense de Pós-Graduação, 2005.
Carlos Humberto Biagolini – Perfil do Autor: Carlos Humberto Biagolini Professor de Ciências e Biologia, Formado em Pedagogia, Biologia e Adm. de Empresas [email protected]
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