Resumo
Este trabalho teve como objetivo analisar a língua nas suas modalidades oral e escrita nas séries iniciais do ensino fundamental. E, através dele, analisar o desenvolvimento das crianças e seu relacionamento com a linguagem escrita, através da suas características e modalidades, muito antes de seu ingresso na escola. Aprender a ler significa aprender a ler o mundo, dar significado / significado a ele. Diante deste contexto, o trabalho proposto, objetiva elencar as principais concepções que norteiam o processo de leitura e escrita.
Como marco teórico inspirou-se nos estudos de Vygotsky, Freire, Cagliari, Ferreiro, Sole, Castro, Barbosa, entre outros. Quanto aos suportes metodológicos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica interpretando-a como a busca de significação do conteúdo teórico exposto pelos pesquisadores da área e da descoberta dos contextos em que estas se fizeram.
A escolha desse recurso “reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 1994). Ao término deste trabalho é possível afirmar que a leitura está estritamente relacionada à escrita, mas sua aprendizagem esta tradicionalmente ligada aos atributos linguísticos, culturais, sociais.
Palavras-Chave: Desenvolvimento, aprendizagem, conhecimento prévio e nível conceitual.
Sumário
Introdução.
Capítulo I.
Retrospectiva Histórica da Prática de Leitura no Contexto Escolar: Nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental
Capítulo II
2.1. O Aprender a Ler e a Escrever
2.2. Os Níveis da Escrita: Um Caminho de (RE) Descoberta.
2.3. A leitura e a escrita.
2.4 A leitura e a escola
2.5 As portas da leitura
Capítulo III
O Fator Estimulante No Processo Do Desenvolvimento Da Leitura E Escrita
3.1 Concepções de Alfabetização
3.2.Como acontece a aprendizagem da escrita (hipóteses de escrita)
3.3 Como acontece a aprendizagem da leitura
Conclusão
Referências Bibliográficas
Introdução.
O presente estudo é uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, sendo caracterizado, segundo a natureza dos dados, como uma pesquisa bibliográfica.
Apresentação da distribuição e os objetivos dos capítulos; Dessa forma, o presente estudo foi estruturado em três capítulos, a saber:
O primeiro capítulo aponta, a retrospectiva histórica do desenvolvimento da leitura e da escrita no contexto escolar, nas séries iniciais do ensino fundamental.
O segundo capítulo esclarece, a metodologia utilizada, fazendo um relato da problemática de pesquisa, apresentando os principais questionamentos que a orientaram e descrevendo sucintamente, a forma como foi realizada a investigação e os participantes da pesquisa que foram entrevistados.
O terceiro capítulo trata da análise e discussão dos dados obtidos, discutido-os à luz da literatura e do referencial teórico utilizado.
Por fim, as considerações finais, retomam sinteticamente as principais idéias apresentadas ao longo do trabalho.
A escolha do tema da presente pesquisa ocorreu em função da crença de que a formação continuada clássica (cursos de reciclagem, palestras, treinamentos) não tem se adequado às reais necessidades dos professores. Sendo assim, a realização da formação na própria escola é um grande passo nesse sentido, não somente porque ela constitui um coletivo de formação, mas também porque a formação acontece no local de trabalho do professor, não estando separada das práticas pedagógicas de sala de aula.
Capitulo I.
Este capítulo nos remete aos dados históricos da leitura, conforme apanhado bibliográfico.
Retrospectiva Histórica da Prática de Leitura no Contexto Escolar: Nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
O surgimento dos livros didáticos nas séries iniciais nas escolas do Brasil, diz respeito à evolução dos livros no Brasil, como também o desenvolvimento com relação à leitura e os novos métodos aplicados para o avanço da aprendizagem nas escolas, possibilitando uma criança a ler. Neste capítulo encontramos considerações de FERREIRO, TEBEROSKY, FREIRE e de outros pesquisadores que estudaram o processo da leitura e escrita das crianças. Evidencia-se a função social da leitura, presente nos diversos usos da vida de cada individuo e sua grande influência no aprendizado do leitor e do escritor. Apresenta metodologias do ensino e incentiva a arte de alfabetizar com texto num processo ativo.
“Quando desejamos viajar para outro país precisamos de um passaporte, da mesma forma, o passaporte de leitor nos ajudará ir para outra terra, ou melhor, para muitas outras terras, essas terras pertencem a um mundo muito grande: o mundo dos leitores”.(CHICAGO, p.29)
Várias reformas aconteceram no ensino entre as décadas de 20 e 50, entre as quais, adotou-se o ensino multi seriado. Segundo GALVÃO (1999, p.9), os anos 50 e 70 foram marcados por multiplicidade de métodos alternativos de ensino centrado do aluno e não mais na ação do docente. A expansão da escola pública possibilitou o acesso à educação a uma grande maioria da população. Houve também um enorme avanço da produção de livros; em conseqüências, o público leitor cresceria e se diversificaria na década de 70. Cada livro passa a ter um tempo menor de utilização na escola, pois as mudanças constantes ocasionaram a necessidade de atualização contínua.
No decorrer dos anos, ampliaram-se às oportunidades de leituras Muitos recursos foram inventados para facilitar o ato de ler. Com a revolução tecnológica, estes recursos, entre os quais o lápis e o papel, que vieram modificando e revolucionando o ensino nas escolas primárias. Com os recursos disponíveis, surgem outras modificações; a forma pela qual a criança aprende a ler e a escrever.
Durante alguns anos, a leitura era utilizada apenas como suporte para as aulas de gramática e não era trabalhada no sentido de formar leitores intelectualmente autônomos, com liberdade de escolher livros para interpretar com clareza. Para isso, faz-se necessário que os alunos tenham, desde cedo, acesso a todo tipo de leitura, principalmente, de leituras infantis, que colaboram significativamente para a formação global do indivíduo. Nesse sentido, a leitura está intimamente relacionada com o sucesso da tecnologia em contexto específico para tais fins.
Nessa perspectiva, aprender a ler não tem um fim em si mesmo; não basta memorizar os símbolos da escrita e saber juntá-los, usando apenas a codificação e a decodificação. Entende-se que o conteúdo usado é também pré-texto para desenvolver funções cognitivas e operações mentais, tais como identificar, analisar, selecionar, organizar, comparar, diferenciar, representar mentalmente, levantar hipóteses, promover relações virtuais e outros que, se bem desenvolvidos, beneficiarão a criança em outras situações de raciocínio.
Para aprender a ler o não leitor deve se relacionar com os textos que leria se soubesse ler para viver o que vive. O ambiente deve comportar-se com o não leitor, com se ele já possuísse os saberes que deve adquirir”. (FOUCAMBET in: salto para o futuro. 1999 p.99).
O ato de ler deve-se iniciar nos primeiros anos e antes mesmo do ingresso da criança na escola. Pais que leram para seus filhos em voz alta, diferentes
textos com histórias infantis, textos literários, textos jornalísticos, receitas ou mesmo listas de compras ou outros, obtiveram em conseqüência crianças que fazem da atividade de leitura um prazer, apresentando maior êxito na escola, pois se desenvolvem com grande facilidade, já que tem uma maior familiaridade com os textos escritos. No entanto, observa-se que a maioria dos alunos, que chega a sala de aula são advindos de lares que não incentivam para o mundo da leitura.
Diante das evidências, há uma preocupação por parte dos educadores, principalmente, nas escolas do ensino fundamental, em incentivar a criança a ler. Devendo a sala de aula ser um berço de futuros escritores, artistas, se os educadores fizerem da literatura infantil e da leitura de outros textos um momento de lazer, onde o aluno sinta prazer em ler uma história, e não a veja como uma tarefa escolar a cumprir. Nas escolas, deve-se haver um cantinho especial para a leitura, e as crianças devem ter muitas oportunidades de folhear os livro, e lê-los individualmente e em grupos; as histórias lidas por alguns devem ser socializadas com os demais, e este é um trabalho que deve ser organizado pelo docente.”A leitura, como prática social, é sempre um meio, nunca um fim..”(PCN, Língua Portuguesa, v.2, p.57).
Para que a criança aprenda com os textos a gostar de ler, é preciso também que o educador goste de ler e transforme sua sala de aula em um ambiente alfabetizador. Trabalhando as diversidades de textos, como: rótulos, parlendas, músicas, receitas, jornais e outros, permitindo que a criança compreenda as diferenças de interpretação, do significado de cada escrito, que muda conforme o gênero textual.
O processo de leitura tem sido concebido por vários educadores, durante muitos anos, como algo adquirido pela memorização. Então se ensinou durante décadas a ler e escrever seguindo uma seqüência lógica de conteúdos. Primeiro aprendiam-se as letras do alfabeto, iniciando-se pelas vogais, encontros vocálicos; depois, consoantes, famílias silábicas, formação de palavras e, frases. E, finalmente, as crianças estariam prontas para iniciarem a escrita de textos, ou seja, copiarem textos prontos e sem sentido.
Era comum solicitar que os aprendizes da escrita copiassem textos do tipo: “Eva viu a uva”; este, como outros de mesmo gênero, não tem significados, não fazem a criança pensar, não desenvolvem a criatividade, apenas tem a função de fixar as sílabas estudadas, decorando-as pela repetição constante.
Para aprender a ler, não basta conhecer os sistema de escrita, mas conhecer as características da linguagem escrita, que mudam conforme o gênero do texto. Continuar alfabetizando pelo método sintético, que parte destas letras para as palavras, ensinando ao aluno como realizar os passos seguintes, insistindo nas orientações fonológicas aos alunos pré – silábicos que não possuem nenhum esquema, sequer, para soletrar palavras silábicas, não é o melhor caminho.
“Apesar de apresentadas com dois sub-blocos, é necessário que se compreenda que leitura e escrita são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo do letramento”. (PCN, Língua Portuguesa, v.2, p.52)
Manter este tipo de atividade é persistir no erro da escola tradicional, que considera o aluno uma tabula rasa e despeja sobre ele uma série de informações sem preocupar-se em como serão recebidas. Porém, esperar que as crianças atinjam operações mentais e avancem sozinhas é outro erro, pois o processo não é tão natural, os alunos precisam de informações do meio para que organizem suas hipóteses, desequilibrem-se e as reorganizem.
Ensinar a ler e a escrever continua sendo uma das tarefas mais especificamente escolares; muitas crianças fracassam já nos primeiros passos da alfabetização. Frente a essa problemática e em busca de caminhos que minimizassem, e, até mesmo, erradicassem este entrave do processo ensino-aprendizagem, através de pesquisas, ANA TEBEROSKY e EMÍLIA FERREIRO, desde 1974, travaram uma intensa pesquisa com o objetivo de mostrar que existe uma nova maneira de encarar esse problema, que atinge tanto o educando quanto o educador.
As dificuldades encontradas no processo de aquisição de leitura e de escrita são fatores que interferem na aprendizagem do aluno. As pesquisadoras ainda asseguram que a aprendizagem da leitura e da escrita, entendida como questionamento a respeito de sua natureza e de sua função se propõem a resolver problemas e tratam de solucioná-los, seguindo sua própria metodologia. Para isso deslocou-se a questão central da alfabetização do ensino para a aprendizagem. Partindo de como se deve ensinar e como, de fato, se aprende. (FERREIRO E. e TEBEROSKY, p. 72; 1985.)
As crianças aprendem a ler participando de atividades de uso da escrita junto com pessoas que dominam esse conhecimento. Aprendem a ler quando acham que podem fazer isso. É difícil uma criança aprender a ler quando se espera dela o fracasso. É difícil também a criança aprender a ler se ela não achar finalidade na leitura.
No entanto, os novos estudos a respeito da educação dizem que, quanto mais próximas às práticas pedagógicas estiverem das práticas sociais, mais as crianças verão sentido no que estudam, e escrevem, poderão estabelecer relações, desenvolverão sua imaginação e se tornarão produtoras culturais.
“O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões do mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienáveis de todos”.
Essa responsabilidade é tanto maior quanto menos for o grau de letramento das comunidades em que vivem os alunos. Considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio, cabe à escola promover a sua ampliação de forma que, progressivamente, durante os oito anos do ensino fundamental, cada aluno se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações”(PCN, Língua Portuguesa, v.2, p.23).
Partindo da teoria de FERREIRO (2000), a prática de cada professor (a) pode variar de acordo com a sua experiência e com os princípios que norteiam seu trabalho. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, cabe ao profissional dominar uma teoria e acreditar em sua capacidade de desenvolver um bom trabalho. Para isso, é necessário que conheça diferentes maneiras de se trabalhar de forma agradável com linguagem oral e escrita, favorecendo o avanço do aluno de um nível de aprendizagem a outro.
A linguagem oral está presente no cotidiano e nas várias práticas das crianças desde seu nascimento e lhes possibilita comunicar idéias, pensamentos e intenções de diversas naturezas. O aprendizado acontece na interação entre os seres, quando estes compreendem não só o que a escrita das palavras representam, mas também de que forma ela representa a linguagem. Sobre a linguagem e a escrita das palavras, encontra-se em (PCN, Língua Portuguesa; p. 35) que, “Entre palavras e combinações de palavras, as pessoas circulam, vivem, morrem e palavras são, finalmente, mas com que significado que não sabem ao certo”.
A partir das novas concepções construídas por meio de leituras práticas de sala de aula, baseando-se em seus próprios conhecimentos ou esquemas cognitivos, isto é, capacidade de formular, confirmar ou rejeitar hipóteses referentes às leituras, há várias maneiras de cativar o estudante, apresentar livros de várias qualidades, ou seja, livros que abordem temas que desperte o interesse dos mesmos, que façam sentido para ele; levar o aluno à biblioteca, solicitar que tragam livros de suas casas ou emprestados de amigos. Escolher os mais interessantes para ler, realizar um dia por semana ou momentos de leitura quando todos poderão escolher um livro para ler inclusive o professor, sem que essa atividade seja acompanhada de alguma cobrança.
Segundo FERREIRO (2002, p.10), a escrita pode ser concebida como um sistema de código e de representação. Como código, os elementos já vêm prontos e como representação, a aprendizagem se constitui em uma construção pela criança. Ao trabalhar a escrita como código, o ensino privilegia os aspectos preceptivos e motor, relação grafia e som e o significado é desconsiderado.
LURIA (2003, p.65), afirma que a criança precisa entender que a escrita, é um sistema simbólico, de representação da realidade, que não tem significado em si, mas representa um outro contexto. De acordo com BARBOSA (1990, p.30), de modo geral, os métodos tradicionais de alfabetização são caracterizados por um sistema fechado e o processo de aquisição da linguagem escrita é visto como algo exterior ao indivíduo. A partir de então, esses métodos fazem uma análise racional dos seus elementos, partindo de aspectos simples para os complexos, ou seja, primeiro aprendem-se as letras e depois as sílabas, palavras e frases.
Nessa perspectiva, a aprendizagem é percebida como o somatório desses elementos mínimos. A criança aprende através da repetição seguindo um modelo pré-estabelecido. A aprendizagem torna-se, portanto, um processo mecânico e repetitivo, não levando em conta, o contexto sócio-histórico, nem o desenvolvimento psicológico da criança. Exige-se dela adaptação ao método e não o método a ela. Assim, não leva à criança a compreensão do texto uma vez que é cobrada uma leitura mecânica cuja compreensão é negada, a partir dos exercícios de interpretação de textos, que não permitem que a criança seja sujeito de sua leitura.
Conforme BARBOSA (1990, p.7) é um equívoco ensinar a língua escrita a partir de partes menores, letras, sílabas, palavras de forma separadas, pois na vida a criança fala e interpreta, aprende a ler, ver as coisas no seu sentido completo e por inteiro e não parte, por parte. Segundo este autor (p.40), as pesquisas demonstram que perceber as coisas por inteiro é mais significativo e relevante para as crianças. Elas entendem com mais facilidade quando têm a visão do todo. Nesse sentido, o texto é mais fácil de compreensão do que letras, sílabas e palavras. Deve-se, portanto, ensinar a partir de textos variados e significativos para as crianças.
As pesquisas na área da leitura comprovam que num lançar de olhos a criança percebe o todo da palavra. FERREIRO (2001, p.12) discordando dos métodos tradicionais, também afirma que as dificuldades das crianças na aquisição da língua escrita são de ordem conceitual e não questão de fácil e de difícil, simples e complexo ou problema perceptivo, como pensam as teorias dos métodos.
“O leitor usa várias estratégias, faz seleção: leitor se atém apenas aos índices úteis, desprezando os irrelevantes; antecipação: prevê o que ainda estar por vir, com base em informação explicita e em suposições, antecipando o significado; inferência: capta o que não está dito no texto de forma explicita, lê o que não está escrito; verificação: controla a eficácia ou não das demais estratégias, confirma ou não as especulações realizadas”.(SOLIGO, 2000, p.21).
Atualmente, quando uma criança passa a freqüentar uma escola, já tem certa familiaridade com o lápis e o papel, muitas vezes até anseia por aprender a ler e a escrever, mas certamente, sequer pode imaginar o processo evolutivo da escrita no mundo acadêmico.
Percebe-se que o desenvolvimento da língua tanto na modalidade oral como na escrita, dá-se num processo discursivo, dialógico numa relação da criança com o objeto de estudo e o outro, corroborando a fala de SOUZA (2003, p. 30) que ressalta que “(…) o sujeito não interage nem se comunica com o outro por meio de letras ou de sílabas, mas de enunciados com unidade de sentido”.
Capitulo II.
Este capítulo tem por objetivo ressaltar a aprendizagem da leitura e escrita e suas implicações nas didáticas.
2.1. Aprendendo a Ler e a Escrever
O aprendizado da leitura e da escrita, durante muito tempo foi tido como,
Processo que somente ocorria na escola. É sabido, que isto não é necessariamente uma verdade, este princípio de que a leitura e escrita,
Somente eram apresentadas à criança que tivesse acesso as escolas, deixou de ser parte de uma consciência coletiva, pois, constatou-se que este processo de aprendizado transcende espaços escolares.
Prática usual durante longa data, a questão de considerar este aprendizado totalmente ligado à escola, fez com que, por exemplo, fossem criados meios didáticos, tais como a cartilha, destinados ao período de alfabetização. Sabe-se que dentro desta concepção tradicional de alfabetização, a criança necessita dominar o mecanismo considerado de base na aprendizagem da leitura e da escrita, ou seja, a cartilha. (CAPOVILLA, Alessandra G.S. e CAPOVILLA, Fernando Alfabetização: Método fônico São Paulo: Memnon, 2002).
Há muitas diferenças e divergências entre os autores das cartilhas, mas em todas elas, o princípio é a dependência do sistema de escrita em relação ao sistema oral, transformando o signo em signo oral num primeiro momento, para depois chegar à compreensão. O oral, aqui, é o medidor da compreensão (CAPOVILLA, Alessandra G.S. e CAPOVILLA).
Frank Smith (1999), em seu prefacio do Understanding Reading diz que:
“As crianças aprendem a ler não por causa dos programas prontos de ensino, mas porque os professores conseguem fazer com que elas encontrem um sentido para o ensino que recebem. É na sabedoria e na intuição do professor que devemos confiar, desde que estes disponham das bases necessárias para tornar, em sua classe, decisões que só cabem e eles tomar”. (pág. 56).
Mas a escrita ultrapassa sua estruturação e a relação entre o que se escreve e, como se escreve demonstra a perspectiva de onde se enuncia e a intencionalidade das formas escolhidas.(Guimarães, 1995,08) A leitura ultrapassa a mera decodificação porque é um processo de (re) atribuição de sentidos.
2.2. Os Níveis da Escrita: Um caminho de (RE) Descoberta
Compreender é conhecer o processo da construção e reconstrução do pensamento diante da própria experiência, sendo, portanto, importante à interação desta para o redescobrimento de uma ação. Para melhor compreender o processo de construção da escrita, se faz necessário fazer uma abordagem sobre os níveis de construção da escrita que, de acordo com as pesquisadoras e Emília Ferreiro e Ana Teberosk são: pré-silábico, silábico, silábico alfabético e alfabético.
Inserir a criança no mundo letrado é permitir que ela seja a construtora de seu próprio conhecimento, tendo em vista sua forma de conhecer e compreender o mundo que a cerca. Nesse sentido, a escrita é uma linguagem representada, onde as palavras sobrevivem a todo tempo guardadas pela memória da humanidade e transmite, por meios de ensinamentos valiosos, todo o seu potencial através do processo ensino aprendizagem.
O processo de desenvolvimento da escrita da criança não resulta de uma simples cópia realizada de forma mecânica e tradicional, mas é um processo de construção pessoal. Portanto, entende-se que a evolução da escrita alfabética dar-se-á de forma processual, onde a criança passará por diferentes etapas até chegar ao domínio satisfatório da própria língua. Durante o desenvolvimento construtivo da leitura e escrita, a criança passa por fases de grande significação no seu processo de desenvolvimento cognitivo. O nível pré-silábico: caracteriza-se por uma busca de diferenciação entre as escritas produzidas sem uma preocupação com as propriedades sonoras da escrita. Nesse nível, a criança explora tanto critérios quantitativos (varia a quantidade de letras de uma escrita para outra, para obter escritas diferentes) ou critérios qualitativos (varia o repertório das letras ou a posição das mesmas sem alterar a quantidade). Exemplo: cavalo pode ser escrito ALTOZNXEO e tomate pode ser LOZTNXADA (outras letras). Não existe uma relação entre fonema / grafismo.
Já o nível silábico: vem se caracterizar pela correspondência entre a representação escrita das palavras e suas propriedades sonoras. É a descoberta de que a quantidade de letras com que se vai escrever uma palavra pode ter correspondência com a quantidade de partes que se reconhece na emissão oral. Essas partes são as sílabas e em geral, a criança faz corresponder uma grafia a cada sílaba. Podem servir qualquer letra ou existir um a associação do som com a letra convencional. Exemplo: TO MA TE que pode ser escrita como OAE ou LXO O A E.
Esse nível representa um salto qualitativo da criança que supera a etapa da correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída. A hipótese silábica é uma construção da criança, que não é transmitida pelos adultos e pode coexistir com formas estáveis, isto é, palavras que a criança aprendeu a escrever globalmente. Exemplo:
A U LAP
PA TO PAPAI.
No nível silábico-alfabético, a evolução do nível silábico leva a criança a estabelecer que as partes sonoras semelhantes entre as palavras se exprimem por letras semelhantes.
Nesse nível, existem duas formas de correspondência entre sons e grafias: silábica (sílaba é o som produzido por uma só emissão de voz) e alfabética (análise fonética e / ou análise dos fonemas, que são os elementos sonoros da linguagem e tem nas letras o seu correspondente).
(O conjunto de letras, é o alfabeto), ou seja, a criança escreve parte da palavra aplicando a hipótese silábica de que para se escrever uma sílaba é necessário apenas uma letra, e parte da palavra analisando todos os fonemas da sílaba. Exemplo: Para cavalo podem aparecer: Alfabética silábica ou alfabética silábica alfabética.
CA VO CA U LO Ou ainda: CAIAL OMAAE.
Nesse processo, o nível alfabético caracteriza-se pela correspondência entre fonemas e grafias. Existe a compreensão da escrita alfabética, onde todos os fonemas devem estar representados. A análise se aprimora e é possível a compreensão de que uma sílaba pode ter uma, duas ou três letras. Portanto, é importante que o professor analise as representações sobre a escrita que a criança realiza, tendo em vista organizar atividades que favoreçam as crianças a refletirem sobre a escrita durante o processo de alfabetização.
É nessa perspectiva que Ferreiro (1991, p. 41) afirma: É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso re-introduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.
O professor precisa valorizar o que a criança já sabe desde os primeiros momentos de vida escolar. É preciso conscientizar o professor de que as crianças quando chegam à escola, já sabem de várias coisas sobre a língua materna. O conhecimento passa a ser construído através da interação do sujeito com o objeto, cabendo ao professor criar oportunidades que venham a favorecer o desenvolvimento da escrita através das próprias experiências que o aluno traz do meio onde vive ocasionando assim uma situação de ensino aprendizagem.
Segundo Ferreiro (apud Teberosk, 1981, p. 12): “A escrita não é um produto escolar, mas sim, um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade (…)”. De acordo com a autora, a escrita é fruto das atividades existentes entre as pessoas e do contexto social a qual se está inserido, sendo, portanto, uma atividade mental adquirida de acordo com o interesse pessoal, grupal e social.
Para que o aluno não encontre dificuldades no desenvolvimento do processo que a conduz à sua verdadeira função no mundo da leitura e escrita, é necessário que o professor do Ensino Fundamental considere os conhecimentos prévios do aluno durante a sua alfabetização.
Antes de ensinar a escrever, é preciso saber o que os alunos sabem sobre a escrita, qual a sua utilidade e com base nesse diagnóstico, o professor programará atividades que sejam adequadas a cada nível das turmas existentes na escola.
Na visão de Ferreiro e Palácio (1987 p. 102): “Antes que a escrita apareça como uma tarefa escolar iniludível, antes que a criança seja iniciada nos rituais da alfabetização, a escrita existe”. A escrita existe muito antes de a criança chegar à escola, pois desde muito cedo ela interage com uma diversidade de textos independentes da escola, e que fazem parte do seu convívio social, procurando apenas serem instigados e inseridos na vivência escolar.
A escrita, no seu sentido real, faz parte do cotidiano das crianças, e que precisa ser dimensionada às novas formas de entender o mundo que, de maneira geral, precisa ser interpretado de forma letrada e contextualizada aos novos paradigmas da sociedade do conhecimento.
Para Vygotsky (apud Fontana 1997, p. 180): “A escrita é maior do que um sistema de formas lingüísticas com o qual o sujeito se confronta, esforçando-se por compreendê-lo. Ela é uma forma de linguagem, uma prática social de uma sociedade letrada”. A escrita é vista como funcionamento social pelo qual o homem convive espontaneamente, sendo, portanto, um ato cultural e parte integrante da humanidade, pois faz parte não só do cotidiano escolar, mas que está relacionada ao social da criança e é, por isso mesmo, uma forma de construção da linguagem centrada num processo cultural pertinente à vida do ser humano.
2.3. A Leitura e a Escrita.
A escrita surgiu na vida do homem a partir da necessidade social de se comunicar em um sistema pictográfico e inicialmente não apresentava uma relação com a fala. Ela tem origem no momento em que o homem aprendeu a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos. Pode-se dizer que a pintura foi um antecedente da escrita. Esse sistema de comunicação expressava apenas as idéias visuais.
Segundo Gelb, (apud Macedo, 1995, p. 194) “a escrita existe somente em uma civilização e uma civilização não pode existir sem a escrita”. Na verdade, é uma substância da humanidade, esta por sua vez, consiste na organização da cultura de um povo, e contribui para aperfeiçoar os códigos escritos, sendo necessário que cada indivíduo estabeleça uma relação entre a escrita e a cultura a qual está inserida.
Esse sistema de comunicação expressava apenas as idéias visuais, inicialmente não apresentava uma relação com a fala. Esta surgiu acompanhada de um notável desenvolvimento das artes e Na visão de Cócco e Hailler (1995 p. 45):
O homem pré-histórico já lia os sinais da natureza e os interpretava, assim como tentava reproduzir mensagens nas pedras e rochas. Isso deu origem aos primeiros pictogramas com intenção expressa de comunicar, embora esses desenhos primitivos não assegurassem uma mensagem precisa para seus semelhantes.
Na pré-história houve, então, a representação das palavras por meio de desenhos, numa determinada ordem, isto é, havia um significado para cada desenho. Essa tentativa de representar o mundo foi utilizada por diferentes povos, em diferentes épocas. Ocorreu com os sumérios, com os chineses e com os egípcios, que chegaram a construir uma escrita com seiscentos pictogramas. Segundo Cagliari (1993, p. 106), “A história da escrita vista no seu conjunto, pode ser caracterizada em três fases distintas: a pictórica, a ideográfica e a alfabética”.
A história da escrita pode ser descrita da seguinte forma: a fase pictórica se distingue pela escrita através de desenhos ou pictogramas, os quais aparecem em inscrições antigas, mas que podem ser vista de maneira mais elaborada nos contos Ojibwa da América do Norte, na escrita asteca, nas histórias em quadrinho, entre outros. Os pictogramas não estão associados a um som, mas à imagem do que se quer representar. Consistem em representações bem simplificadas dos objetos da realidade e um exemplo mais recente dessa fase são as historinhas em quadrinhos.
Os pictogramas não são associados a um som, mas à imagem do que se quer representar. Consistem em representações dos objetos da realidade. Segundo Kato (1995 p. 13): “Além do sistema pictográfico, outro precursor da escrita são os recursos de identificação mnemônicos, como os símbolos usados por indígenas para registrar o tempo”.
A etapa lexical-silábica inicia-se por volta de 3.100 a.C. com os sistemas pictográficos, cujas formas sofrem um processo de estilização para facilitar o traçado e cujo uso é gradativamente convencionalizado. Kato (1995, p. 15), também ressalta que: “Foram os fenícios, com seu espírito prático de comerciantes, que se apossaram da complicada escrita lexical-silábica dos egípcios, derivada dos hieróglifos, e dela extraíram 24 símbolos, os mais simples, para formar o silabário”. Este silabário era constituído apenas de consoantes, sendo que, esporadicamente, as semiconsoantes (w e y) serviam para representar as vogais (u, e, i).
A fase ideográfica caracteriza-se pela escrita, através de desenhos especiais chamados ideogramas. Esses desenhos foram, ao longo do tempo, perdendo alguns traços mais representativos das figuras retratadas e tornaram-se umas simples convenções da escrita. As letras do nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução, sendo que as escritas ideográficas mais importantes são a egípcia, a mesopotâmia, os escritos da região do mar Egeu e a chinesa.
A fase alfabética caracteriza-se pelo uso de letras, que tiveram origem nos ideogramas, mas que perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função da escrita: a representação puramente fonográfica. O ideograma perdeu seu valor pictórico e passou a ser simplesmente uma representação fonética. As idéias são representadas graficamente por sinais convencionais (letras) que reproduzem os sons dos vocábulos correspondentes na língua falada.
Foi o silabário fenício que os gregos tomaram emprestado para a base de sua escrita. A partir daí, a colocação da vogal depois da consoante se firmou entre os gregos como norma. Dessa forma, passou-se da escrita silábica para a escrita alfabética. A descoberta do alfabeto ocorreu no século X a. C, e Kato (1995) apoiando-se em Gelb cita que: “Embora os sistemas orientais da escrita tivessem tido o mesmo tipo de desenvolvimento do sistema que evoluiu para o alfabeto grego, apenas esse segundo sistema chegou ao alfabeto”.
A escrita que se fala deriva do ramo da escrita grega e, embora a escrita alfabética tenha sido concebida para representar a fala, ela não chega a ser fonética. Cagliari (1993 p. 109) afirma que: “Os sistemas mais importantes são o semítico, o indiano e o greco-latino. Desse último provém o nosso alfabeto (latino) e o cirílico (grego), que originou o atual alfabeto russo”.
Barbosa (1997 p. 37) assinala três grandes avanços na construção histórica da escrita: “O princípio Sumério da fonetização; a escrita silábica semítica ocidental; o alfabeto grego”. E ainda afirma que:
Durante os últimos 2.55 anos, o alfabeto conquistou a civilização, espalhou-se pelo planeta. Mas durante esse largo período, os princípios da escrita não sofreram qualquer modificação. As centenas de alfabetos existentes no mundo, por mais diferentes que sejam no seu sistema exterior, foram estabelecidos e permanecem segundo os princípios da escrita grega.
Cagliari (1993, p. 103) também comenta que:A escrita seja qual for, tem como objetivo primeiro permitir a leitura. A leitura é uma interpretação da escrita, que consiste em traduzir os símbolos escritos em fala. Alguns tipos de escrita se preocupam com a expressão oral e outros apenas com a transmissão de significados específicos, que devem ser decifrados por quem é habilitado.
Observa-se na fala do autor, que a escrita é uma ferramenta provida da leitura, já que esta é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo através do significado do texto. O ensino da Língua Portuguesa, por sua vez, tem se preocupado somente com a escrita, chegando mesmo a se preocupar mais com a aparência da escrita do que com o que ela realmente faz e representa, tornando-se, portanto, indesejada por quem não a domina.
Com relação à história da escrita.
Mool (1996, p. 63) expressa que: A escrita origina-se quando o homem, pelas necessidades sócio-econômicas do contexto, aprende a comunicar seus pensamentos, atos e sentimentos, por meio de signos que, superando o caráter arbitrário inicial vão se tornando inteligíveis para outros homens, que compreendem seus significados.
A necessidade de sobrevivência do indivíduo foi responsável pelas primeiras formas de comunicação escrita. Esta, por sua vez, não surgiu de repente, sua construção aconteceu pouco a pouco de acordo com os interesses do homem e das condições existentes no meio, pois desde os tempos pré-históricos, já se usava a escrita em forma de desenho para contar fatos e acontecimentos. E, de acordo com a necessidade humana, o homem foi aperfeiçoando a escrita como meio para a sua própria sobrevivência. Portanto, a escrita é uma ferramenta necessária e imprescindível para a evolução de conhecimento e comunicação com o mundo.
A escrita é um código e representa o que se pensa ou se fala. Ela foi evoluindo paulatinamente através da necessidade de cada povo em querer desvendar e interpretar sua forma de comunicação, sendo esta necessária para o conhecimento humano, passando a ser um marco histórico da passagem entre a Pré-História e a História.
2.4. A Leitura e a Escola.
Questões inerentes à leitura e ao próprio ato de ler vêem sendo muito discutidas, principalmente, no decorrer das ultimas duas décadas.
No contexto de atuação da equipe escolar das questões relativas à leitura e,aos gestos de ler vêm sendo discutido, já a mais de duas décadas. O ato de ler, antes restrito a ambientes fechados, hoje, acontece em todos os lugares. Lê-se na escola, em casa, mas o grande progresso, está no ato de ler que se propaga nas placas, nos letreiros, nas ruas e ônibus. Nossa época é propagadora de inúmeras mensagens escritas, que não se difundem apenas através dos textos contidos nos livros, mas através de panfletos, placas, avisos luminosos, outdoors, enfim, meios de comunicação via escrita no alcance de todos.(CEM Darcy Marinho – Tocantins 31-Maio-2007.)
Pode-se dizer que nos últimos séculos, a leitura passou a estar,Indissociavelmente ligada à escrita. E a história de vida do homem, na era moderna e contemporânea, é pontuada por documentos escritos, dos quais o próprio homem não pode dissociar-se.
Muitas e diferentes são as circunstâncias da vida e, por isso as pessoas produzem, suas leituras de modo diversificado. Todas as formas de ler são relevantes, devendo, pois ser contempladas.
Como estender a todos os indivíduos de uma comunidade letrada, a possibilidade de desenvolver de forma satisfatória um domínio de leitura?
Com poucas discordâncias, desde as reflexões de Durkheim (1947) até hoje,(Nóvoa, 1991), a escola sempre foi vista como responsável pela transmissão de um saber consagrado como útil para a manutenção de uma ordem baseada na divisão do trabalho social. No passado, e de certa forma ainda hoje, a escola sempre apresentou a tendência de introduzir barreiras entre seus níveis e respectivos públicos.
Ambígua por natureza, a escola é responsável também pela expansão do acesso ao conhecimento ao mesmo tempo em que pode contribuir para o fortalecimento de saber restrito para poucos (Bourdieu, 1998).
Atualmente, considerando uma realidade mais contemporânea, é possível identificar, uma complexidade maior no interior do sistema escolar A escola para as massas não mais propaga uma coerência em seus projetos educativos. Se anteriormente a escola era regulada de maneira muito firme, com públicos e projetos educativos. (Dubet, 1996).
No processo de aprendizagem, o professor funciona como um mediador facilitando, o desenvolvimento, desde cedo, dos gestos de leitura e escrita da criança, que principalmente nas séries iniciais, apresentam-se de forma bastante informal e criativa, mas que, no entanto necessitam de intervenções, para que atinja graus cada vez mais elevados e, aproximados da aquisição da linguagem formal.
Enquanto mediador neste processo de aprendizagem da leitura e da escrita, o professor tem o dever de atuar, antes de tudo, como um leitor. Aquele que dará sugestões e trará artigos curiosos, deverá ser um grande pesquisador, pois este será o caminho para que se possam incentivar seus alunos a ler, ouvir o que se lê, enfim, criar um hábito sadio e enriquecedor. .(Jaqueline Maria Della Torre Martins, 10 de junho de 2009).
Alves (1993, p. 66) comenta que: Quando o aluno erra, o professor dá a resposta tida como certa, faz com que ele reproduza. O erro não é entendido como um momento do processo de aprendizagem, como uma hipótese que o aluno lança mão rumo à resolução do problema, que lhe, foi colocado. Ao contrário ele é sempre afastado, estigmatizado como algo ruim, em contraposição ao bom, ao correto que seria esperado.
O professor bem formado compreende que o erro quando discutido deve ter como propósito responder às necessidades imediatas das crianças ajudá-las, a ampliar seus conhecimentos sobre o sistema convencional da escrita. Sendo que no processo inicial da aprendizagem da leitura e da escrita, os erros não devem ser avaliados em termos de certo ou errado, pois as crianças estão em processo de construção. Essas novas teorias devem fazer parte da vida do professor, porém existem dificuldades em entendê-las, provocando uma série de problemas na vida da criança e ao professor.
O fato é que essas teorias são colocadas para o professor de cima para baixo e posta sem discussão, como solução para os problemas do processo ensino e aprendizagem. Essa postura faz com o educador, aquilo que o ensino tradicional faz com as crianças: desconsidera o seu saber e experiência anteriores.
Concordo com Aquino (1998, p.47-49), quando diz que o professor tem muito conhecimento e idéias baseadas na sua experiência de vida como profissional e como aluno, e que quando revelado, pode contribuir de forma significativa para o sistema educacional. Portanto, é necessário ouvi-lo. É preciso recuperar esse conhecimento que o professor acumulou ao longo de sua prática, coisa que nenhuma teoria faz.
2.5. As Portas da Leitura.
Não é exagero dizer que o ato de ler tem muitas faces. Lê-se para ampliar os limites do próprio conhecimento, para obter informações simples e complexas; lê-se para saber mais sobre o universo factual; lê-se em busca de diversão e de descontração e, por meio da literatura de ficção da poesia, lê-se para chegar ao “prazer do texto”. Prazer que resulta de um trabalho intelectual intenso, de um corpo-a-corpo, em diferentes níveis, que se instaura entre o leitor e sua experiência prévia do mundo e o autor e seu texto de arte.
“São muitos os gestos de leitura e diferentes os textos que circulam nas instituições e grupos sociais. Obras teóricas, menos e mais complexas, juntam-se, em estantes de residências até em bibliotecas escolares, a manuais didáticos. Textos literários refinados convivem com escritas voltadas ao puro entretenimento, versões simplificadas de obras clássicas, dividem espaço com os originais que lhe deram vida. Além de revistas, quadrinhos e jornais, os textos que aparecem na mídia eletrônica estreitam mais e mais seus laços com produtos tradicionais. Diante de tal visão caleidoscópio, é preciso administrar diferenças e proceder a escolhas cuidadosas para orientar as múltiplas leituras possíveis”.(ROCCO, M. T. F. – Literatura / Ensino: Uma Problemática, 2ª. ed., São Paulo, Ática, 1993).
O ato de ler oferece a possibilidade de uma livre participação social do homem na sociedade, transcendendo de forma reflexiva, crescendo progressivamente e ampliando o seu entendimento das coisas que o cercam. Nesse aspecto, a leitura representa um instrumento de grande poder nas mãos daqueles que a detêm. Numa sociedade letrada, cabe à escola o papel de ensinar a criança a ler e escrever com competência, formando cidadãos conscientes e críticos. Deve-se tornar tão somente um pólo cultural na qual o conhecimento sistematizado possa ser adquirido pela sociedade e deve estar vinculado à realidade, proporcionando ao individuo um leque de possibilidades de atuação no mundo em que vive.
“Ler, portanto, significa colher conhecimentos e o conhecimento é sempre um ato criador, pois me obriga a redimensionar o que já está estabelecido, introduzindo meu mundo em novas series de relações e em um novo modo de perceber a quem me cerca. Quando leio sou, pois, criadora, uma transformadora de ordem, Sempre. E não existe revolução maior de que se opera em todo ato de fala ou de leitura”.
Com a leitura, o homem adquire conhecimentos e obtém vantagens pessoais. Ela e o veiculo de estudo e do saber, a verdadeira chave do êxito. Através da leitura, aprendemos a inculcar valores e incutir o bom gosto; aprende-se também a viver e a triunfar na luta pela sobrevivência.
Capítulo III
Este capítulo tem o objetivo de esclarecer pontos importantes e relevantes, mediante o processo do desenvolvimento da leitura e da escrita, diante de contexto atual, bem como: as concepções de alfabetização, como acontece a aprendizagem da escrita (hipóteses de escrita), e o modo como acontece a aprendizagem da leitura.
O Fator Estimulante no Processo do Desenvolvimento da Leitura E Escrita.
Os PCN (BRASIL, 1998, p. 149) confirmam que: o envolvimento do aluno no processo de aprendizagem deve propiciar ao aluno encontrar sentido e funcionalidade naquilo que constitui o foco dos estudos em cada situação de sala de aula. De igual maneira, propiciar a observação e a interpretação dos aspectos da natureza, sociais e humanas, instigando a curiosidade para compreender as relações entre os fatores que podem intervir nos fenômenos e no desenvolvimento humano.
As formas de ensinar e aprender são contextualizados e dessa forma permite ao aluno se relacionar com os aspectos presentes da vida pessoal, social e cultural, mobilizando as competências cognitivas e emocionais já adquiridas para novas possibilidades de reconstrução do conhecimento.
Isso evidencia a necessidade de trabalhar com o desenvolvimento de competências e habilidades, às quais se desenvolvem por meio de ações e de vários níveis de reflexão que congregam conceitos e estratégias, incluindo dinâmicas de trabalho que privilegiam a resolução de problemas emergentes no contexto ou no desenvolvimento de projetos.
Mas diante de todas as alternativas que se procuram para melhorar ainda mais a questão da leitura, em alguns momentos se faz necessário o uso de meios que oportunizem possíveis reflexões sobre o trabalho realizado na comunicação oral e escrito das diversas áreas do conhecimento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 36) registram que: Não se formam bons leitores oferecendo materiais empobrecidos, justamente no momento em que as crianças são iniciadas no mundo da escrita. As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma a qualidade de suas vidas melhora com a leitura.
No âmbito desta abordagem, fica evidente que os recursos didáticos e procedimentos devem viabilizar e enriquecer a forma como se procede a uma atividade, seja ela individual ou coletiva, com intuito de facilitar à criança desenvolver seus próprios esquemas mentais na organização do processo de aprendizagem.
Sabe-se que os procedimentos estão relacionados ao domínio do uso de instrumentos de trabalho, que possibilitem a construção de conhecimento e o desenvolvimento de habilidades. Favorecem, portanto, a construção, por parte dos alunos, de instrumentos que os ajudarão a analisar os resultados de sua aprendizagem e os caminhos percorridos para efetivá-la. Como exemplo, tem-se a realização de pesquisas, produções textuais, resolução de problemas, elaboração de sínteses e outros.
Meirelles (2000, p. 22-23) afirma: “Toda teoria pedagógica será estéril se não for viabilizada na prática, e os recursos e procedimentos poderão ser o grande veículo norteador da estruturação de uma atividade desenvolvida na sala de aula”.
Com isso, pressupões-se que teorias são propósitos aliados a pratica e essa prática deverá atuar acertadamente na básica tarefa de unir professor-aluno e metodologia, considerando-se, pois, uma inter-relação de organizações de ensino e de controle da avaliação da aprendizagem. Os meios didáticos desenvolvem-se em sintonia à ação mútua dos componentes fundamentais do ensino que envolve objetivos, conteúdos, ensino, aprendizagem, formas, meios e métodos de organização no papel da docência.
Atualmente, o professor necessita estar preparado para atuar em sala de aula, buscar formação continuada, procurar novos conhecimentos, ser um eterno pesquisador e adquirir suporte para facilitar sua transmissão para os discentes. A prática pedagógica deve sempre objetivar a formação integral do aluno, buscando proporcionar a construção dos conceitos e situações para os casos apresentados por meio de pesquisas, experimentações e discussões, contribuindo assim, para os desenvolvimentos cognitivo, afetivo e social dos educandos.
De acordo com os PCN (BRASIL, 1998, p. 56): Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir com a diversidade de textos, testemunhar a utilização que os leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato; é preciso negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes.
Diante disso, é necessário que o aluno tenha conhecimento da importância daquilo que vai aprender, tornar-se consciente e motivado para a aprendizagem da leitura, levando-a para uma prática inserida no seu cotidiano com diferentes modalidades no ensino da leitura.
Nos PCN (BRASIL, 1998, p. 58) estão expressos que: para tornar os alunos bons leitores – para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e compromisso com a leitura – a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço. Precisa fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência.
É fundamental entender que para formar leitores, se faz necessário à escola criar ambiente estimulador, com condições favoráveis para que se desenvolva a prática da leitura, onde o aluno se sensibilize pela necessidade de ler, criando um espaço agradável no qual o leitor queira permanecer nele e poder desfrutar o que há de melhor, tornando assim um veículo facilitador da aprendizagem no qual lhe dará autonomia diante do seu conhecimento.
Segundo os PCN (BRASIL, 1998, p. 48), para que as dificuldades da leitura sejam superadas, a escola deve:
Dispor de uma boa biblioteca, de um acervo de classe com livros e outros materiais de leitura; organizar momentos de leitura livre em que o professor também leia. Para os alunos não acostumados com a participação em atos de leitura (…) participem e conheçam o valor que a possuem, despertando o desejo de ler.
É preciso que a escola ofereça condições para que os alunos construam aprendizagens na leitura, além de conquistar o educando de forma prazerosa, para que ele desenvolva o hábito de ler utilizando seus recursos e baseando-se num planejamento que atenda não só os alunos bem sucedidos, mas que dê maior ênfase aos que apresentam dificuldades como leitores, possibilitando um despertar para que as dificuldades transformem-se em facilidade, sensibilizando-os e assegurando-os na apropriação de textos orais e escritos.
Atualmente, a formação dos professores ganhou um novo perfil. O professor-informador e aluno-ouvinte foram substituídos pelo professor-animador e aluno-pesquisador e esta mudança exige do professor um novo posicionamento frente ao exercício de sua profissão, com uso de novos instrumentos sem, no entanto esquecer-se de que:
“A principal ferramenta de trabalho do professor é a sua pessoa, sua cultura, a relação que instaura com os alunos, individual ou coletivamente. Mesmo que a formação esteja centrada nos saberes, na didática, na gestão de classe e nas tecnologias; não Se deve esquecer da pessoa do professor”.(PERRENOUD, 2002, p.49).
“As análises feitas sobre os comportamentos envolvidos nos processos de leitura, permitiram, a classificação das várias habilidades básicas ou conhecimentos prévios necessários à alfabetização. Estes conhecimentos prévios podem ser definidos como determinados “conceitos” que a criança deve adquirir durante o período de educação infantil (refiro-me a todo o período anterior à fase do ensino fundamental) que facilitam e permitam a aprendizagem da leitura e da escrita. A aquisição destas habilidades não se dá de forma espontânea com o decorrer do tempo. É necessário que a criança seja submetida a um treinamento programado e especifico, de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra”.(MORAIS Antonio Manuel Pamplona. DISTURBIOS DA APRENDIZAGEM, São Paulo:ed.Edicon,2002).
3.1 As Concepções de Alfabetização.
Emilia Ferreiro, em sua obra “Reflexões sobre a alfabetização”, faz uma análise sobre a alfabetização, fazendo-nos repensar a nossa prática escolar, na qual se baseia em experiências vivenciada por ela e por outros colaboradores.
Em um primeiro momento a autora aborda, a representação da Linguagem e o processo de alfabetização, enfatizando a importância dos dois pólos do processo de ensino-aprendizagem (quem ensina e quem aprende) e alerta para um terceiro item que deve ser levado em conta: a natureza do objeto de conhecimento envolvendo essa aprendizagem.
Seguindo sua análise, a autora fala que a escrita pode ser considerada como sistema de representação da linguagem ou como código de transcrição gráfica das unidades sonoras, onde faz algumas considerações em que consiste essa diferença, na qual diz que na codificação tanto os elementos como as relações já estão predeterminadas, e no caso da criação de uma representação nem os elementos e nem as relações estão predeterminadas. A autora diz ainda que se a escrita e concebida como sistema de representação, sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceitual, mas se a escrita e concebida como código de transcrição, sua aprendizagem, é concreta, como a aquisição de uma técnica.
Em um segundo momento a autora aborda as concepções das crianças a respeito do sistema de escrita, onde deixa clara a importância das produções espontâneas, nas quais podem ser chamadas de garatujas. Segundo a autora a criança não aprende submetida a um ensino sistemático, mas sim a toda produção desenvolvida por ela , que pode representar um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder ser avaliado, dando ênfase não só nos aspectos gráficos mas sim nos aspectos construtivos.Ela ressalta ainda que a distinção entre desenhar e escrever e de fundamental importância, pois ao desenhar se está no domínio de icônico; sendo importante por reproduzirem a forma do objeto.Ao escrever se está fora do icônico, sendo assim as formas dos grafismos não reproduzem as formas dos objetos.Segundo ela as crianças de um certo momento dedicam um grande esforço intelectual na construção de formas diferenciadas entre as escritas, essas diferenças são inicialmente interfigurais e consiste em atribuir uma significação a um texto escrito. Tais critérios se expressão pelo eixo quantitativo onde se atribui o mínimo de três letras para que a escrita diga algo.E sobre o eixo qualitativo, como a variação interna possa ser interpretada, ou seja, se o escrito tem o tempo todo à escrita não pode ser interpretado.O passo seguinte se caracteriza pela busca de diferenciações entre escritas para dizer “coisas diferentes”, começa assim a busca difícil e muito elaborada de modo de diferenciação, que resultam ser interfigurais.
Neste sentido as crianças exploram critérios que lhes permitem, às vezes, variações sobre o eixo quantitativo, variando a quantidade de letras de uma escrita para outra, e às vezes o eixo qualitativo, variando o repertório de letras e até mesmo o posicionamento destas sem modificar a quantidade.
Ao passar por todo esse processo a criança começa por descobrir que as partes da escrita (suas letra) podem corresponder a outras tantas partes da palavra escrita (sílabas). Inicia-se então o período silábico, onde permite obter um critério geral para regular as variações na quantidade de letras que devem ser escritas, chegando até ao período silábico-alfabético, que marca a transcrição entre os esquemas futuros em via der serem construídos.Neste período a criança descobre que uma letra não basta para representar uma sílaba e que a identidade do som não garante a identidade de letras e nem a identidade de letras à dos sons.
Dando seqüência, Emilia Ferreiro fala sobre a polêmica em relação aos métodos utilizados no processo de alfabetização: analítico, sintético, fônico versus global, deixando claro que nenhuma dessas descorçoes levou em conta as concepções das crianças sobre o sistema de escrita. Deste modo, para ela os métodos não oferecem nada mais do que sugestões, incitações.Afirma ainda que o método não pode criar conhecimento, e que nenhuma prática pedagógica e neutra, todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem. A autora cita três dificuldades principais que precisam ser colocadas: a visão que um adulto já alfabetizado tem do sistema da escrita, a confusão entre desenhar e escrever letras e a redução do conhecimento do leitor ao conhecimento das letras e seu valor convencional.Pois, segundo ela, uma vez estabelecidas estas dificuldades conceituais iniciais, é possível analisar a prática docente em termos diferentes metodológicos. Conclui após dar ênfase em cada a ssunto acima citado, que um novo método não resolve os problemas, mas sim que é preciso re-analisar as práticas de introdução da língua escrita, tratando de ver os pressupostos subjacentes a ela.
Em seguida a autora fala sobre a compreensão do sistema de escrita onde afirma que a leitura e a escrita têm sido tradicionalmente consideradas como objeto de uma instrução sistemática, todavia através de pesquisas a autora possui uma outra visão. Para ela as atividades de interpretação e de produção da escrita começam antes da escolarização, a aprendizagem se insere em um sistema de concepções previamente elaboradas, e não pode ser reduzida a um conjunto de técnicas perceptivas – motoras.Diz ainda que a escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade e que existe um processo de aquisição da linguagem escrita que precede e excede os limites escolares.Através de dados colhidos em pesquisas a autora menciona alguns dados que determina aspectos de toda esta evolução como a construção original da criança e onde estas elaboram idéias próprias a respeito dos sinais de escrita, idéias estas que não podem ser atribuídas a influencia do meio ambiente. Volta a falar que em um primeiro momento a criança passa pelo conflito que a distinção em o que é uma figura e o que não é uma figura.Após esta fase começa um trabalho cognitivo em relação a um segundo conjunto, que é a quantidade mínima de caracteres, critério este que tem uma influencia decisiva em toda evolução.O critério seguinte se refere à variedade interna de caracteres, não basta um certo número de grafias convencionais para que se possa ler, e necessário que estes grafemos variem.
Dando seqüência fala das informações específicas do adulto, onde esclarece que existe uma série de concepções que não podem ser atribuídas a uma influência direta do meio, ao contrário existem conhecimentos específicos sobre a linguagem que só podem ser adquiridas através de outros informantes (leitores adultos ou crianças maiores), como, por exemplo, que é convencional escrevermos de cima para baixo, que utilizamos as maiúsculas para nomes próprios e depois de ponto.Afirma ainda que no caso dessa aprendizagem que, conforme a procedência social das crianças há maior variabilidade individual e maiores diferenças.
A autora enfoca que a escola pode cumprir um papel importante no que se refere à aprendizagem, no entanto, este papel não deveria ser de dar inicialmente todas as chaves do sistema alfabético, mas sim criar condições para que a criança as descubra por si mesma.Sendo assim o professor deverá adaptar seu ponto de vista ao da criança, estando sempre alerta sobre o que deve ser levado em conta, como, por exemplo, menosprezar os conhecimentos das crianças ao trabalhar somente com base na escrita, cópia e sonorização dos grafemos que considerar uma produção da escrita.
Emília Ferreiro diz ainda que, apesar da escola ser uma instituição social para controlar o processo de aprendizagem e, sendo assim, a aprendizagem deve realizar-se na escola, a criança desde que nasce e construtora de conhecimento.No entanto para ela deve-se abandonar a idéia de que nosso modo de pensar é o único, fazendo-nos adotar o ponto de vista do sujeito em desenvolvimento.No caso da leitura e escrita a dificuldade de adotar o ponto de vista da criança foi tão grande a ponto de ignorar as suas produções escritas, que há pouco tempo eram consideradas meras garatujas.Todavia existe uma série de passos ordenados antes que a criança compreenda a natureza do sistema alfabético de escrita e que cada passo caracteriza-se por esquemas conceituais específicos, cujo desenvolvimento e transformação consistem em um principal objetivo de estudo.
Emilia Ferreiro deixa clara a sua preocupação com o desenvolvimento da leitura-escrita tanto pelo lado teórico quanto pelo lado prático.Segundo ela o analfabetismo ainda hoje é um grave problema e cabe o sistema ser mais sensível aos problemas das crianças e mais eficientes para resolvê-los, se quisermos reverter esse quadro.Demonstra ainda sua atenção às crianças que tiveram possibilidades limitadas de estarem rodeadas por materiais escritos e de serem seus usuários.Em seguida a autora dá exemplos, de crianças que foram submetidas ao processo de ensino aprendizagem (escrita), mostrando os avanços ocorridos gradativamente durante todo processo. Em um primeiro momento a criança escreve tudo com o mesmo grafismo repetindo-o várias vezes.Dois meses após já se puderam notar progressões, ela aprendeu a desenhar algumas letras, alterando caracteres em uma palavra escrevendo de modo mais convencional, apesar de não haver correspondência entre grafemos particulares e pauta sonora.Após mais dois meses a progressão foi ainda maior, pois ela havia ampliado seu repertório de letras, aprendeu que para palavras diferentes devem-se usar letras diferentes. Quase ao final do ano já era capaz de escrever seu nome pronunciando silabicamente para si mesma. Concluiu-se então que esta criança estava construindo um sistema silábico de escrita, tendo assim condições de relacionar a pauta sonora da palavra: uma letra para cada sílaba.
A segunda criança já começava a escola de 1º grau sabendo desenhar seis letras diferentes, onde usava este repertório para diferenciar palavras. Após dois meses já apresentava a escrita silábica. Com mais dois meses essa criança já se encontrava no período de transcrição que se denomina silábico – alfabético.
A autora esclarece que esta escrita e considerada tradicionalmente como omissão de letras, olhando pelo ponto de vista da escrita adulta, mas vista do sujeito em desenvolvimento, esse tipo de escrita, é considerado “acréscimo de letras”. No entanto ao final do ano a criança já escrevia alfabeticamente.
Dando seqüência, Emília Ferreiro relata uma pesquisa realizada por ela, com propósito de descrever o processo de aprendizagem que ocorre nas crianças fracassadas. Onde enfatizam a evolução das produções escritas feitas por elas. A pesquisa começou com 959 crianças e foi finalizada com 886 dessas mesmas crianças que foram submetidas a entrevistas individuais. Em cada entrevista foi proposta a criança quatro palavras dentro de um dado campo semântico com uma variação sistemática no número de sílabas.Pôde-se notar que 80% dessas crianças, no início do ano escolar, escreviam sem estabelecer qualquer correspondência entre pauta sonora da palavra e a representação escrita, nem correspondência qualitativa/ quantitativa. Assim a autora segue sua análise sobre a pesquisa realizada utilizando uma tabela que da ênfase aos padrões evolutivos que a criança percorre onde faz observações sobre os diferentes níveis de escrita, demonstrando quanto por cento das crianças entrevistadas se encaixam em cada nível.
Finalizando sua análise, Emília Ferreiro fala sobre o polêmico tema “deve-se ou não ensinar a ler e escrever na pré-escola?”, afirmando que esse é um problema mal colocado, por ser falso o pressuposto no qual se baseiam ambas posições antagônicas.
A autora assegura que o problema foi colocado tendo por pressupostos serem os adultos que decidem quando essa aprendizagem deverá ser iniciada e quando decidido que esse processo de aprendizagem não iniciará antes do primeiro grau, as salas sofrem um processo de limpeza até que desapareça todo sistema de escrita.Sendo assim a escrita que está presente em meio social desaparece da sala de aula.Por outro lado quando se decide iniciar esta aprendizagem antes do primeiro grau, as salas de pré-escola assemelhar-se a do 1º ano, sendo pressuposto o mesmo em ambos.
A autora volta a falar, que a criança inicia sua aprendizagem de matemática, por exemplo, antes mesmo do contato escolar, quando decidem a ordenar vários objetos através de diversas participações ao meio social. No entanto não poderia ser diferente com o sistema de escrita, uma vez que este faz parte da realidade urbana, mantendo contato desde cedo informações das mais variadas procedências como: cartazes de rua, embalagens, livros, revistas, etc. Sendo assim a criança não entra na escola sem nenhum conhecimento sobre o sistema de leitura e escrita. Diz ainda que é necessária uma imaginação pedagógica para dar as crianças oportunidades ricas e variadas de interagir com a linguagem escrita.Finaliza dizendo que é necessário entender que a aprendizagem da linguagem escrita é muito mais que a aprendizagem de um código de transcrição: é a construção de um sistema de representação.
3.2 Como acontece a Aprendizagem da Leitura – (Hipóteses de Escrita)
A leitura é a realização do objetivo da escrita. Quem escreve, escreve para ser lido. Às vezes, ler é um processo de descoberta, como a busca do saber científico. Outras vezes requer, um trabalho paciente, perseverante, desafiador, semelhante à pesquisa laboratorial. A leitura pode também ser superficial, sem grandes pretensões, uma atividade lúdica. É uma atividade profundamente individual.
Ao contrário da escrita, que é uma atividade de exteriorizar o pensamento, a leitura é uma atividade de assimilação de conhecimento, de interiorização, de reflexão. Por isso, a escola que não lê muito para os seus alunos e não lhes dá a oportunidade de ler muito está fadada ao insucesso e não sabe aproveitar o melhor que tem para oferecer aos seus alunos.
Vista como um instrumento de poder, a leitura vem através dos tempos assumindo seu papel na sociedade, que é o de contribuir como decodificadora de signos, embora vá além deste nível. FREIRE (1984) comenta que “os signos são os próprios fatos, acontecimentos, situações reais ou imaginárias em que os sons, paisagens, imagens tendem a melhorar a relação homem – meio – mundo”.
A importância de trabalhar nesta investigação é por crer que o hábito de ler exerce uma grande força no contexto social, político, econômico e cultural, uma nova perspectiva de vida e visão de mundo. Colaborando com esse entendimento, KLEIMAN (1989):
Aborda a leitura de mundo através da atuação do conhecimento prévio, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto, mundo, que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar partes de um texto num todo coerente.
A realidade está aí para mostrar a problemática existente na sociedade quando PINHEIRO (1988, p.25) afirma que “o desinteresse pela leitura é um grave problema, pois a falta de informação leva à preguiça mental e conduz a humanidade ao caos social e cultural; infelizmente, nos meios acadêmicos também”. Ora, se o contingente universitário apresenta sérios problemas no que diz respeito à leitura, linguagem, etc., sendo ele considerado parte da elite pensante do país, isso nada mais é do que o reflexo de uma organização desestruturada em termos de formação de futuros leitores e incentivadores da leitura.
A leitura, tomada como problema social se relacionada com “maus” leitores, raramente é vista como leitura de prazer. Evidentemente, algumas perguntas surgem: é preciso ler? Por quê? Para quê? Muitas respostas existem, como por exemplo: – para estudar; – para instruir – se; para ser alguém na vida, enfim, uma série de respostas que têm como conseqüência à ação. Ação esta que proporcione vantagens, não uma ação que resulte em prazer; uma leitura comparada à alimentação que nós saboreamos conforme nossa fome e nossa disposição momentânea, em que nós engolimos, devoramos, mastigamos; “ler é pastar”, conforme BARTHES (1974 p.119).
Não podemos ser omissos, quanto à afirmação de que as diferenças de nível econômico acarretam, geralmente, diferenças de possibilidades educativas. Nesse sentido, a ação da leitura de prazer também é afetada por essa diferença, pois o acesso a instrumentos culturais e o tempo de lazer não são estimulados nem entendidos como lazer, hobby, etc., ou simplesmente ignorados como direito ou como necessidade.
A leitura amplia os conhecimentos do ser humano. É através dela ou mesmo pelo hábito de ler que o indivíduo habilita-se a exercer os conhecimentos culturalmente construídos e dessa forma escala com maior facilidade os novos degraus do ensino, e em conseqüência atinge também sua realização profissional.
O ato de ler é função primordial da escola, e é esta que possibilita o educando a ler o mundo e a construir a sua própria história.
Se observarmos a realidade que nos cerca, não existe outro caminho senão investir na educação para todos sem discriminação, há necessidade de que se ultrapasse a estrutura educacional atual.
Para ZILBERMAN (1982): Escola, na medida mesma em que trabalha com indivíduos diferentes, com valores, crenças, hábitos lingüísticos e comportamentais diferentes, é também um campo de batalha – luta de idéias e de linguagens, como expressão da luta de classes.
Colocada como base da educação, a leitura assume seu papel político democrático ou não, dependendo do grupo social a que está submetida. Portanto se a escola pretende participar no processo democrático do país deve estimular a leitura nas séries iniciais, partindo em primeiro lugar de uma metodologia de ensino da leitura que fomente no educando o prazer de ler, desenvolvendo o senso crítico diante do que foi lido, relacionando com a realidade.
FREIRE (1980) enfatiza: A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele… de alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.
A leitura constitui-se num instrumento de produção e reprodução. É esta um bem cultural onde o ser humano se constrói como sujeito de sua própria história, interagindo no seu mundo ou na sociedade em que vive; Assim a leitura propiciará a mudança almejada pela sociedade.
Partindo desse pressuposto poderemos assegurar que o nosso aluno sentirá interesse e ficará motivado à leitura.
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua. Não se trata simplesmente de extrair informação da escrita, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica, compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. É muito mais importante saber ler do que saber escrever. O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a leitura.
Conforme CAGLIARI (1996 p.39):
Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa. Se, porém, outro aluno tiver notas excelentes em tudo, mas não se torna um bom leitor, sua formação será profundamente defeituosa e ele terá menos chances no futuro do que aquele que, apesar das reprovações, se tornou um bom leitor.
Nesse artigo, os PCN’s(1997,p.53) enumeram uma série de condições essenciais para desenvolver uma prática de leitura eficiente: dispor de uma boa biblioteca na escola; dispor de um acervo de classe com livros e outros materiais de leitura; organizar momentos de leitura livre em que o professor também leia; planejar as atividades diárias garantindo que as leituras tenham a mesma importância que as demais; possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras; garantir que os alunos não sejam importunados durante os momentos de leitura com perguntas sobre o que estão achando; possibilitar aos alunos o empréstimo de livros na escola; Incentivar a leitura diária; usar textos diversificados.
ALAYDE, LENY (1976), além das condições descritas, são necessárias algumas sugestões para o trabalho com os alunos que podem servir de referência de uma leitura como dever diário, para uso a leitura pode ser realizada: de forma silenciosa, individualmente; em voz alta (individual ou em grupo); pela escuta de alguém que lê.
Para um melhor desempenho na leitura, precisaria de leitores competentes com capacidade de raciocínio acerca dos textos lidos. E o que seria para nós um leitor competente?
Alguém que, por iniciativa própria, seja capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade.
Um leitor competente só pode constituir-se mediante uma prática constante de leituras de textos, a partir de um trabalho que deve se organizar em torno da diversidade de textos.
O cidadão transformado em leitor e usuário da escrita constrói o conhecimento com uma visão crítica da realidade, sempre descobrindo o saber para a construção de um novo mundo através da leitura.
A aprendizagem da leitura constitui uma relação simbólica entre o que se deve dizer e diz, com o que se vê e lê. A leitura deve ser vista, igualmente, como um fenômeno duplo que envolve o compreender e a compreensão. É necessário fazer uma distinção entre ler e aprender a ler. Ler é estabelecer uma comunicação com textos, por meio da busca da compreensão.
A aprendizagem da leitura constitui uma tarefa permanente que se enriquece com novas habilidades na medida em que se manejam adequadamente estes textos cada vez mais complexos. Por isso, a aprendizagem da leitura não se restringe ao primeiro ano de vida escolar. Atualmente, sabe-se que aprender a ler é um processo que se desenvolve ao longo de toda a escolaridade e de toda a vida. (Zilberman, 1988, p.13).
Segundo Ferreiro e Teberosk (1991, p.26) as crianças antes da sua entrada para a escola, já tem construções mentais sobre a leitura e a escrita e não se limitam a receber passivamente os conhecimentos.
De acordo com as autoras, a criança que chega à escola já é um “bom” leitor do mundo. Desde muito nova começa a observar, a antecipar, a interpretar e a interagir, dando significado aos seres, objetos e situações que a rodeiam. Ela utiliza estas mesmas estratégias de busca de sentido para compreender o mundo letrado.
Ainda para as autoras, essa aprendizagem natural da leitura deve ser considerada pelo professor e incorporada as suas estratégias de ensino, com o fim de melhorar a qualidade desse processo contínuo iniciado no momento em que a criança é capaz de captar e atribuir significado as coisas do mundo. Assim, é a ação de ler o mundo em que a criança enfrenta progressivamente numerosos e variados textos.
O trabalho de leitura, na escola, tem por objetivo levar o aluno à análise e à compreensão das idéias dos autores e buscar no texto os elementos básicos e os efeitos de sentido. É importante que o leitor se envolva, se emocione e adquira uma visão dos vários materiais portadores de mensagem presentes na comunidade em que se vive. (Zilberman, 1988, p.18).
A leitura acontece quando se produz o sentido e quanto mais informação, experiências de leituras anteriores, mais consciência na formação de sentido terá o leitor, pois além de que se encontram nas linhas é preciso entender também as entrelinhas. Só quem lê interpreta, questiona, estabelece julgamentos do que pode e deve fazer, exercendo plenamente a sua cidadania. Só quem lê pode mudar a realidade para melhor. A leitura está basicamente relacionada ao fato de possibilitar ao ser humano o seu sucesso, e a tomada de consciência da sua importância torna-se aí essencial para que se valorize muito a leitura sendo que esta não poderá ser uma ação mecânica, pelo contrário, deverá ser cobrada, exigindo do aluno tudo que foi lido, incentivando-o sempre para que tome gosto pela mesma.
E para compreendê-la no todo, há necessidade que se aprenda a ler e se leia muito. Agindo assim o aluno não encontrará dificuldades em outras matérias, pois todas dependem da leitura. O ato de ler deve acompanhar o ser humano a vida toda. Isso é muito importante.
No entanto, a leitura escolar é uma das formas de se fazer leitura, pois dentre os alunos que não gostam de ler na sala de aula, estão aqueles que usam a leitura na vida diária, como vendedor ou lendo jornais, revistas, listas de preços, etc.
A escola deve oferecer condições para que as interações aconteçam. Assim, o aluno avança na construção do conhecimento significativo através da contextualização e da interdisciplinaridade.
3.3 Como Acontece a Aprendizagem da Leitura
Segundo alguns autores como FERREIRO (1998), alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da escrita e, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita.
Para FREIRE (1976), aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade (p.21).
Parece-me serem os adultos aqueles que tem uma maior dificuldade na compreensão de como ocorre o processo da alfabetização, imaginando-o como seqüências idealizadas de progressão cumulativas, estimulando modos idealizados de fala que estariam ligados à escrita e construindo definições do “fácil” e do “difícil”, definições estas que nunca levaram em conta de que maneira se define o fácil e o difícil para o ator principal da aprendizagem, a criança.
De acordo com FERREIRO (2000):[…] a aprendizagem da leitura e da escrita não se dá espontaneamente; ao contrário, exige uma ação deliberada do professor e, portanto, uma qualificação de quem ensina. Exige planejamento e decisões a respeito do tipo, freqüência, diversidade, seqüência das atividades de aprendizagem. Mas essas decisões são tomadas em função do que se considera como papel do aluno e do professor nesse processo; por exemplo, as experiências que a criança teve ou não em relação à leitura e à escrita. Incluem, também, os critérios que definem o estar alfabetizado no contexto de uma cultura (p. 32).
Esta mesma autora oferece-nos um instrumental de possibilidades de ver a criança no seu processo de aquisição da escrita, de verificar o que ela sabe e o que ela não sabe porque, é no que ela ainda não sabe, no que ela pode e tem condições de fazer com ajuda, com interferência do adulto, que o professor vai atuar. Segundo WELLS (s/d), estar plenamente alfabetizado é ser capaz de compreender diferentes tipos de textos, possuir um repertório de procedimentos e habilidades para relacioná-los em um campo social determinado.
Sobre isso, FERREIRO (2000) esclarece que: […] as crianças são facilmente alfabetizáveis desde que descubram, através de contextos sociais funcionais, que a escrita é um objeto interessante que merece ser conhecido (como tantos outros objetos da realidade aos quais dedicam seus melhores esforços intelectuais) (p.25).
Para que melhor se possa entender a situação que a criança se apresenta hoje em relação à leitura e a escrita, se faz necessário fazer uma breve retrospectiva histórica.
Vivemos inseridos num mundo diferente daquele de vinte, trinta anos atrás. Nossa sociedade está cada vez mais globalizada, mais complexa, exigindo, um aprimoramento constante, criando novas necessidades. Há alguns anos, as pessoas eram classificadas em alfabetizadas ou analfabetas pela condição de saber ou não, escrever o próprio nome – condição para que se pudesse votar e escolher os governantes.
Na década de oitenta, surgiu o termo “analfabetismo funcional” para designar as pessoas que, sabendo escrever o próprio nome e identificar letras, não sabiam fazer uso da leitura e da escrita no seu cotidiano.
À medida que utilizavam para saber se o sujeito era alfabetizado, era o tempo de permanência nas escolas. Com menos de quatro anos considerava-se que o indivíduo não tinha se apoderado da leitura e da escrita, sendo, portanto, analfabeto funcional. Mas observou-se que, mesmo dentre os que permaneciam por mais tempo nas escolas, alguns não eram capazes de interagir e se apropriar da leitura e escrita. Criou-se então, o termo letramento, para designar esta nova condição.
De acordo com BRASIL (1998): Alfabetizado, é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita (p.38).
Surge então, a necessidade de as escolas repensarem o seu papel social. Não apenas alfabetizar. Não apenas fazer com que o indivíduo permaneça na escola por mais tempo. Mas dar qualidade a esse tempo de permanência nas escolas. Ou seja, letrar os seus alunos, pois o letramento possibilita que o indivíduo modifique as suas condições iniciais sob os aspectos: social, cultural, cognitivo e até mesmo o econômico.
Quando observamos o índice de analfabetismo no país publicado pelo Jornal Folha de São Paulo (27/03/2001), 15 milhões de brasileiros cerca de 13,3 % da população nos assustamos. O número de analfabetos funcionais eleva o índice para 29,4 % da população brasileira. Imaginemos então, qual seria o índice se fosse considerado um grau mínimo de letramento. Com certeza chegaria a 50 % ou mais.
De acordo com FERREIRO (1998): […] é preciso dar à criança o tempo de processar, de ler tanto o traço visível, quanto o invisível de uma obra, de um gesto ou texto, de uma pintura, de um desenho, de uma adivinha…Mas tudo o que é “lido” pela criança é chamado de texto. Seja objeto, imagem, situação ou palavra, os textos são simultaneamente subjetivos e sociais. As brincadeiras e jogos, os livros e histórias, os desenhos, as pinturas, as fotografias, as obras de arte, as falas, os filmes, estão permeados pelo social. Pois as crianças vão construindo seus signos a partir de sua experiência com o mundo objetivo e do contato com as formas culturalmente determinadas de organização do real fornecidas pela cultura (p.45).
E, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998 o ponto de partida neste processo é utilizar a vivência que ela já traz quando chega à escola, ou seja, compreendemos que ao ingressar na escola para ser alfabetizada, a criança está ascendendo ao primeiro degrau de uma atividade escolar necessária e universal e que a incapacidade da escola em conduzir a criança a um domínio instrumental básico para seu desenvolvimento intelectual representa uma interdição à sua possibilidade de ascender à participação na sociedade como uma cidadã ciente de seus direitos e deveres.
Percebe-se que, quando a criança chega à escola, o professor precisa estar atento às formas com as quais ela organiza o real, os textos que constrói e que consegue ler e aquilo que “revela da sua essência mais íntima”. Isto implica deixá-la se manifestar pelas diferentes linguagens (corporal, gráfica / plástica, oral) para poder ouvir a sua voz, ouvindo também o que a está constituindo. É preciso também proporcionar momentos em que ela possa apreciar, observar, ouvir e também produzir, se expressando através de diferentes linguagens.
Conclusão.
A Proposta Pedagógica Encerrada Neste Trabalho Propõe Uma Ação Integradora Do Aluno Com A Sociedade Através Do Desenvolvimento Da Escrita E Leitura, De Forma Que Estes Não Vejam As Mesmas Apenas Como Códigos Decodificados, E Assim, Buscar Alternativas Para Trabalhar Com Os Mesmos, De Forma Que Estes Sejam Reconhecidos Como Sendo Capazes De Aprender, E Que Essa Aprendizagem Os Levarão A Um Desenvolvimento Pessoal E A Uma Formação De Uma Imagem Positiva De Si Mesmos, E Assim Sendo Capazes De Orientarem-Se A Partir Desse Pressuposto.
Vivemos em uma sociedade em que a leitura e a escrita estão por toda à parte.
Independentemente de saberem ler e escrever, as crianças convivem com isso em seu dia-a-dia ela, muitas vezes toma o adulto como seu modelo referencial, que interage diretamente sobre elas.
Foi possível analisar que todo o processo de aprendizagem está articulado com a história de cada indivíduo, e o ser humano aprende mais facilmente quando o novo pode ser relacionado com algum aspecto de sua experiência prévia, com o conhecimento anterior, com imagens, palavras e fatos que estão em sua memória, com vivências culturais.A aprendizagem não se dá no vazio.
É uma realização individual, por meio de uma construção que é histórica e social e que supõe, portanto, essa interação com o outro e com a produção simbólica da humanidade.
Pudemos constatar, no entanto, que este trabalho abordou de forma extrínseca as bibliografias de autores que estudaram e nos privilegiaram com assuntos riquíssimos que nos remete a este processo complexo, que necessita do aprimoramento também dos professores, da escola e de seus familiares.
E, por fim vimos que as crianças chegam à escola com experiências e significados diversos em relação às atividades de ler e escrever, e para o alfabetizador, é importante saber como a criança se posiciona em relação à palavra escrita, qual o significado dado a ela em sua família e comunidade.
Referências Bibliográficas
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FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita.Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
ANA TEBROSKY e Emília. Cultura escrita e educação, SP: Ed. Artmed, 1998.
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FOLHA DE SÃO PAULO, 27/03/2001(caderno especial sobre Analfabetismo no Brasil).
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Artmed, Belo Horizonte: Vozes, 1976.
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WELLS. In: Revista educação. Fev. 2002. São Paulo.
Autor: Lúcia Beatriz de Sousa
gostaria de saber mais sobre o assunto e tambem saber quais os autores e livros que encontro
Colega, na segunda feira te envio mais detalhes.