O presente trabalho tem o objetivo de dissertar sobre o processo de avaliação na contemporaneidade, destacando suas características históricas e comprovando que o processo avaliatório nas escolas pode ser inovador, valorizando as aquisições e experiências dos alunos. A avaliação possui um histórico extremamente tradicional, inclusive no século XX, em que o aluno era punido por não adquirir os conhecimentos determinados pelo programa de ensino. A concepção de avaliação, no entanto, vem sofrendo profundas modificações nos últimos anos. A avaliação articulada a uma proposta pedagógica que visa o desenvolvimento pleno da pessoa e preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, buscando diagnosticar para planejar ações e procedimentos visando a transformação, a consciência e o esforço da coletividade escolar. O erro hoje apresenta uma nova concepção, configurando-se como um item positivo dentro do processo de avaliação contemporânea.
Torna-se possível a prática da avaliação inovadora, que deve ser concebida como mais uma ferramenta de apoio e acompanhamento da aprendizagem escolar, direcionando a prática pedagógica e beneficiando a característica peculiar de aprendizagem de cada um dos envolvidos no processo de ensino. Na educação, é importante a adoção de um processo que respeite o ritmo de desenvolvimento e aquisição de conhecimento dos educandos e que privilegie as habilidades específicas de cada indivíduo. Avaliar é julgar o grau de aceitabilidade do que foi descrito no ambiente escolar, ou seja, é promover um referencial capaz de nortear as mudanças que necessitam ser realizadas nesse contexto. Assim, sugerimos uma abordagem reflexiva sobre o processo de avaliação da aprendizagem na contemporaneidade, para repensarmos numa escola melhor, mais justa e humana.
Introdução
Esta monografia tem por objetivo analisar as mudanças ocorridas na área educacional, priorizando a avaliação na contemporaneidade.
Segundo Rabelo em seu livro “Avaliação: novos tempos, novas práticas” (1998), podemos observar que no atual contexto de profundas transformações no sistema educacional, a escola precisa repensar sua prática, sua existência numa sociedade pós-moderna que busca construir em sistemas abertos, dinâmicos, que se transformam no jogo de suas trocas. É preciso entender que avaliar é muito mais do que aplicar um teste, uma prova, fazer uma observação, visto que avaliação está presente em todos os aspectos educacionais, envolvendo todos os responsáveis na construção do conhecimento. Professores e alunos decidem, discutem, criam e recriam, coletivamente, as práticas pedagógicas da sala de aula, o currículo e o projeto pedagógico da escola.
A avaliação subsidia o professor com elementos para uma reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e a retomada de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para o processo de aprendizagem individual ou de todo o grupo. Para o aluno, é o instrumento de tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização de seu investimento na tarefa de aprender. Para a escola, possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das ações educacionais demandam maior apoio.
Portanto, ao pesquisar, procurei demonstrar que a avaliação parte da compreensão de que o homem está em constante movimento de pensamento e, por isso mesmo, sua participação é necessária durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não somente após o fechamento de etapas do trabalho, como é habitual. Isso possibilita ajustes constantes num mecanismo de regulação do processo de ensino e aprendizagem, que contribui efetivamente para que a tarefa educativa tenha sucesso.
Para demonstrar melhor esse tema, apresentarei meu trabalho monográfico em quatro capítulos divididos na seguinte temática:
No Capítulo I abordarei uma breve perspectiva histórica da avaliação, definindo o conceito de avaliação na contemporaneidade e sua fundamental importância no processo educacional. No Capítulo II dissertarei sobre a avaliação construtivista, com análise na avaliação tradicional; a avaliação mediadora e avaliação dialógica subsidiadas pela função diagnóstica. No Capítulo III abordarei a proposta pedagógica e a avaliação, dando ênfase na proposta de trabalho e as perspectivas de ação e reflexão, finalizando como Capítulo IV no qual estarei analisando o papel do professor avaliador como uma prática em transformação.
Acredito que este trabalho virá ao encontro de minhas expectativas, enriquecendo a minha prática escolar e me servindo como base, início de uma nova etapa de minha vida profissional.
Avaliação: Uma Breve Perspectiva Histórica
A avaliação ao longo da história sempre foi uma atividade de controle que visava selecionar e, portanto, incluir alguns e excluir outros.
De acordo com Garcia, a avaliação é uma denominação que anteriormente era uma prática chamada exame. Muitos foram os críticos do exame, dentre eles, Marx, que afirmava que o exame não é outra coisa senão “o batismo burocrático do conhecimento, o reconhecimento oficial da transubstanciação do conhecimento profano em conhecimento sagrado”. (GARCIA, 1996, p. 29)
A primeira notícia que temos de exames nos é trazida por Weber quando refere ao uso pela burocracia chinesa, em 1200 a.C., para selecionar entre os sujeitos do sexo masculino, aqueles que seriam admitidos no serviço público; apresentando como instrumento de controle social.
No século XVII surgem duas formas de institucionalizar o exame: uma vem de Comenius que em 1657 o toma como um problema metodológico em sua Didática Magna, convidando a repensar a prática pedagógica, ensinar para que todos possam aprender e outra, com La Salle em 1720 em Guia das escolas Cristãs, que propõe o exame como supervisão permanente de controle.
A história da educação brasileira desde os Jesuítas apresenta-nos uma atenção especial aos exames propostos por La Salle, onde o sistema de avaliação centrado nos aspectos da supervisão e controle do conhecimento na medida em que define o que deve saber o estudante e avalia se ele sabe tudo o que deve saber e apenas o que deve saber e ainda se sabe tal como deve saber. Dessa maneira, a avaliação é uma forma de dominação tal como afirma Bourdieu Passeron:
O exame não é somente a expressão mais legível dos valores escolares e das escolhas implícitas do sistema de ensino: na medida em que ele impõe como digna da sanção universitária uma definição social do conhecimento e da maneira de manifestá-lo, oferece um de seus instrumentos mais eficazes ao empreendimento de inculcação da cultura dominante e do valor dessa cultura. (BOURDIEU PASSERON, 1975, p.138)
Pode-se, pois, dizer que a avaliação, na verdade, limita as oportunidades educacionais e sociais na medida em que legitima determinada cultura em detrimento de outras e legitima determinada forma de relação com a cultura, em detrimento de outras formas.
Segundo Soares, o controle, pela avaliação, das hierarquias sociais é, de certa forma, o controle que faz do conhecimento. A “determinada cultura” que a avaliação legitima e a “determinada forma de relação com a cultura” que também legitima são a cultura da classe dominante e a forma de relação que com essa cultura mantém a classe dominante. Dessa forma, para os estudantes que pertencem à classe dominante, os resultados na avaliação dependem não mais que de sua performance escolar; para os estudantes das classes desfavorecidas, os resultados na avaliação estão condicionados apenas secundariamente à sua performance escolar; primordialmente, são determinados pelas condições de vida – econômicas, sociais e culturais – dadas ao indivíduo em decorrência de sua posição na hierarquia social e pela distância que separa essas condições das exigências e expectativas da escola.
Em outras palavras, inspirando-se na cultura da classe dominante e solicitando comportamentos que expressam a relação que com essa cultura mantém a classe dominante, a avaliação pede muito mais que aquilo que abertamente pede, pois pressupõe aprendizagens que se desenvolvem fora da escola, longe da escola, antes da escola; em decorrência, desigualdades sociais mascaram-se em desigualdades escolares e a seleção social dissimula-se sob a ilusão da seleção educacional.
Dessa maneira, podemos observar que a avaliação, desde os primórdios da sua existência na história dos povos, vem atender a uma sociedade dominante de acordo com as suas necessidades e anseios, tornando-se imutável e enraizada ao controle das oportunidades educacionais e para dissimulação das desigualdades sociais.
Conceito de avaliação na contemporaneidade
A preocupação com a avaliação não é de hoje, os educadores através dos tempos se esforçam em definir os problemas, constantemente buscando soluções que favoreçam mudanças em todo o sistema avaliativo. Qualquer mudança exige trabalho, convicção, suporte econômico e tempo. É por isso que os avanços de ideias conseguem fazê-las germinar nas gerações futuras. Os contemporâneos resistem em trincheiras, por vezes, invulneráveis. Dentro da escola há uma corrente muito forte e conservadora impedindo que ocorram mudanças, avaliando através de métodos tradicionais, centrados na transmissão dos conteúdos e no professor detentor de todo poder e sabedoria.
Segundo Luckesi, podemos analisar que no Brasil hoje a avaliação escolar está a serviço da pedagogia de um modelo social liberal conservador que produziu três pedagogias: a tradicional, a renovada e a tecnicista. Resumindo, há um grupo de pedagogias (liberais) que têm por objetivo a domesticação dos educandos e outro que pretende a humanização. Isso significa, de um lado, as pedagogias que pretendem a conservação da sociedade e, de outro, as pedagogias que buscam oferecer meios para a transformação social.
De acordo com Hoffmann, hoje o fenômeno avaliação é um fenômeno indefinido, usando termos com diferentes significados relacionados à prática avaliativa tradicional, onde o ato de atribuir nota é avaliar e o registro das notas denomina-se avaliação. Assim, partindo desse contexto, educadores percebem a ação de educar e a ação de avaliar como dois momentos distintos no processo educativo. É, portanto, necessária a tomada de consciência e a reflexão a respeito dessa compreensão equivocada de avaliação como julgamento de resultados. Avaliação é essencial à educação e indissociável enquanto concebida como problematização. Educar é fazer ato do sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar contradições.
O que tem ocasionado a maioria das discussões em torno da avaliação é a tentativa de definir o significado primordial de sua prática na ação educativa.
Portanto, avaliar consiste em fazer um julgamento sobre resultados, comparando o que pretendia alcançar. Cada definição de avaliação é reflexo de uma postura filosófica adotada.
Para Scriven, a avaliação é concebida como:
Uma atividade metodológica que consiste na coleta e na combinação de dados relativos ao desempenho, usando um conjunto ponderado de escalas de critérios que leva a classificações comparativas ou numéricas e na justificação. (SCRIVEN, 1978, p. 32)
De acordo com Scriven, é preciso avaliar não apenas o grau de consecução dos objetivos estabelecidos, mas também os próprios objetivos.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais:
A avaliação é compreendida como: elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma; conjunto de ações que busca obter informação sobre o que for aprendido e como; elemento de reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa; instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades; ação que ocorre durante todo o processo, ensino e aprendizagem e não apenas em momentos específicos caracterizados como fechamento de grandes etapas de trabalho. (PCN, 1997, Introdução, p. 81)
Luckesi faz uma distinção entre julgamento e avaliação, diz que o julgamento define uma situação, do ponto de vista do sim e do não, do certo e do errado; a avaliação acolhe alguma coisa, ato, pessoa ou situação, reconhece-a como é (diagnóstico) para agir; não há uma separação entre o certo e o errado; há o que existe e esta situação que existe é acolhida para ser modificada. Na avaliação não há seleção e exclusão. Ele define a avaliação da aprendizagem como um “ato amoroso, no sentido de que a avaliação por si é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo.” Tem, portanto, objetivo de diagnosticar, acolher e reincluir o educando, pelos mais variados meios, no processo de aprendizagem, de tal forma que integre todas as suas experiências de vida. O ato educativo exige permanentemente reflexões e mudanças com o intuito de fazer o aluno avançar sempre mais. (LUCKESI, 1996)
Analisando a questão da avaliação, verifica-se que: a avaliação jamais deveria ter o caráter punitivo mensurador de informações, classificatório, pois só reforça o fracasso, a incapacidade, a incompetência, criando no aluno, desde cedo, a impressão de ser inferior e submisso. A avaliação deve refletir a permanência do aluno na escola e seu crescimento; a avaliação deve se colocar no sentido de reflexão, construção do processo, tendo em vista o ponto de chegada. A avaliação possibilita identificar as dificuldades, suas causas e o estabelecimento de estratégias de superação; a avaliação permite que a escola reflita sobre sua ação e encontre soluções para o aluno continuar avançando. Muitas vezes a própria escola mascara a existência de diferentes classes sociais com os discursos de igualdade, a prática da homogeneização, esquecendo que as experiências vividas pelos alunos provocam o desenvolvimento de habilidades e a produção de conhecimentos diferentes e que, por isso, requerem também condições diferentes de avaliação.
Tipos de Avaliação
A avaliação consiste em verificar continuamente o desempenho através de posições previamente organizadas.
Os educadores devem ter limites para utilizar a avaliação como um verdadeiro e poderoso instrumento do respeito mútuo, de igualdade de intelecto, independente de classe social, de cor, raça ou religião.
A escola, como uma instituição pertencente ao sistema educacional, reflete em sua estrutura administrativa e pedagógica, as orientações legais vigentes.
A legislação apresenta no seu texto explanações quanto aos seus fundamentos que embasam a determinação do conjunto de normas existentes no espírito da lei, sendo possível pela análise dos seus vários artigos, explicitar a teoria que inspirou e orientou a sua elaboração.
Retomando a legislação, entendeu-se que no decorrer da história tendências existentes em cada época, podem ter reflexos na proposta atual.
Ao longo do tempo houve mudanças quanto à concepção de avaliação subjacente à legislação: quando vemos que sempre se usaram provas, testes e questionários para avaliar e hoje a avaliação é um instrumento usado para julgar o desempenho do aluno, de forma ampla e contínua, visando uma aprendizagem efetiva e significativa.
Neste capítulo estaremos abordando os vários tipos de avaliação que ocorrem na educação: a tradicional, a construtivista numa visão contemporânea subsidiada pela avaliação mediadora e dialógica, ambas entrelaçadas com a função diagnóstica.
Avaliação tradicional
A avaliação tradicional é usada em caráter controlador e punitivo, onde todo o poder e sabedoria estão centrados no professor, centro de todo processo nessa perspectiva.
Essa avaliação ocorre no momento em que o aluno é passivo, só recebendo saberes pré-elaborados, normalmente após certo período, ou seja, bimestres onde os professores aplicam testes ou provas, tendo o aluno já decorado o conteúdo programado, atingindo assim o objetivo do professor.
O trabalho do professor consiste na elaboração de provas, questionários ou testes objetivos para estar avaliando seus alunos e raramente utiliza ações alternativas.
Essas provas, questionários e testes são elaboradas e baseadas em algumas variáveis: conteúdos ministrados, conteúdos não ensinados, o humor do professor de acordo com a turma ou aluno. Após ser elaborada, a prova ainda recebe um último toque, quando o professor cria algumas dificuldades a mais, chamadas pegadinhas.
De acordo com Luckesi, a avaliação tradicional é muito usada na escola tecnicista, onde o aluno é o agente receptor dos meios de transmissão. O ato de avaliar tradicionalmente não se limita à aplicação das provas, questionários e testes, mas também valoriza a correção que classifica e discrimina os alunos ajudando a consubstanciar a reprodução de desigualdades sociais.
Segundo Esteban, pode-se dizer que a avaliação tradicional é a que apresenta maior índice de evasão e retenção, pois requer dos alunos manifestações de comportamentos esperados no qual serão classificados, fundamentalmente como: bons, médios, fracos e assim por diante.
Luckesi afirmou que a avaliação onde se utiliza a classificação é antidemocrática, pois deixa o aluno muito mais tempo na escola criando muitos traumas no mesmo, e fazendo com que omitam a construção e organização do seu próprio conhecimento na sua totalidade.
A avaliação tradicional e classificatória está presente de forma marcante em nossa sociedade, um dos motivos que justifica a inovação quanto às práticas avaliativas e a escola defende sua estagnação apontando a resistência das famílias dos alunos em relação às práticas inovadoras. A crença popular, conforme aponta Hoffmann (1993), é que os educadores se tornam menos exigentes ao adotarem uma determinada prática de avaliação e as escolas deixam de oferecer um ensino competente ao desligar-se dos modelos tradicionais. Assim, a avaliação tradicional é tida como pressuposto de uma escola competente, exigente, rígida e detentora do saber, que, no entanto, “não encontra respaldo na realidade com a qual nos deparamos neste momento”.(HOFFMANN, 1994, p.13).
Quase sempre, em nosso contexto educacional, a avaliação (…) centraliza-se na coleta de dados sobre o desempenho dos estudantes nos vários programas curriculares com a omissão, às vezes quase total, de elementos fundamentais ligados ao contexto em que o processo educacional ocorre, a fatores que não estão diretamente ligados à escola, mas que são sobremodo significativos no desenvolvimento do êxito escolar, e finalmente, à escola, em que aspectos insumos, processos e produtos precisam ser considerados juntamente com os outros elementos, pois é da interação dessas variáveis que resulta o quadro final da avaliação, com diferentes elementos alternativos para a tomada de decisão e o estabelecimento de ações.(VIANNA, 1998, p. 148).
Luckesi (2000) aponta que a avaliação classificatória funciona como um instrumento que inibe o processo de crescimento e avanço e que somente com uma função diagnóstica, ela pode servir para avançar na aprendizagem, desenvolvendo inclusive a autonomia do educando.
A avaliação tradicional é uma prática pedagógica ultrapassada, sua função é servir à não transformação social, mantendo as coisas como estão, inalteráveis, seres não críticos totalmente movidos de ação mecânica.
Avaliação construtivista
A avaliação como instrumento educacional sofreu grandes mudanças no decorrer do tempo, pois esta deve estar sempre ligada ao desempenho do aluno no seu dia a dia, num processo contínuo que subsidia a tomada de decisões em relação à continuidade do trabalho pedagógico, não para decidir quem será excluído.
A avaliação construtivista no processo de construção do conhecimento vem promover a democratização do ensino, e basicamente o processo de valorização do indivíduo.
Segundo Hoffmann:
Numa perspectiva construtivista de avaliação, a questão da qualidade do ensino deve ser analisada em termos dos objetivos efetivamente perseguidos no sentido do desenvolvimento máximo possível dos alunos, à aprendizagem, no seu sentido amplo, alcançada pela criança a partir de oportunidades que o meio lhe oferece. A escola, portanto, nessa concepção, torna-se extremamente responsável pelo possível, à medida que oferece oportunidades amplas e desafiadoras de construir conhecimento.(HOFFMANN, 1994, p.32).
Na avaliação construtivista, o avaliar consiste em definir dados sobre o aspecto de obter evidências sobre as mudanças do comportamento ocorridas no aluno, em decorrência da aprendizagem.
Hoffmann diz que “a avaliação construtivista parte de duas premissas básicas: -confiança na possibilidade de construir suas próprias verdades e; -valorização de suas manifestações e interesses”.
A avaliação construtivista caracteriza-se por um momento de reflexão crítica e tomada de decisões, buscando conhecer, diagnosticar a verdade, o avanço, através do confronto entre os objetivos a serem alcançados, sobre os quais o professor mediador deve ter muita clareza e, da trajetória já percorrida pelo aluno. Tudo isso intermediado pelo fator tempo presente na escola.
A avaliação construtivista, em si, visa à construção do pensamento, do conhecimento, da autonomia, da liberdade e da criatividade, proporcionando oportunidade ao aluno de refletir sobre o conhecimento adquirido e reorganizá-lo de forma mais ampla buscando o desenvolvimento de suas potencialidades.
Portanto, a avaliação construtivista em uma perspectiva transformadora busca uma escola democrática, que favoreça não só o acesso das camadas populares, mas, acima de tudo, a sua permanência no sistema de ensino. Articulando a avaliação a um projeto educacional para formação do aluno como cidadão crítico, participativo e autônomo, cuja apropriação significativa e efetiva do conhecimento constitui o objetivo do processo ensino-aprendizagem, reconhecendo o aluno e o professor como sujeitos socioculturais dotados de identidade própria, com gênero, raça, classe social, visões do mundo e padrões culturais a serem levados em consideração em práticas docentes e avaliativas.
Função diagnóstica
Com todas as mudanças ocorridas na educação, a vida mudou, temos novas concepções do mundo. As visões autoritárias e tradicionais transferiram lugar às visões modernas e democráticas. A avaliação assume um papel importante com a evolução, quanto à democratização do ensino.
Luckesi diz: “A avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade tendo em vista uma tomada de decisão”.(LUCKESI, 1998, p.33).
Trata-se da Teoria Construtivista onde a avaliação deverá estar correspondendo aos anseios da humanidade visando suas práticas sociais, dando-lhes espaço para trilhar novos caminhos, almejando a construção do saber e o desenvolvimento de habilidades e competências.
Avaliar é emitir juízo de valor. O professor estará sempre emitindo juízo e qualidade sobre o aluno e seu trabalho.
O trabalho pedagógico do professor pode ser subsidiado pelo valioso instrumento que é a avaliação diagnóstica, quando falamos da aproximação que o educador deverá ter em relação às experiências, habilidades e saberes já construídos pelos próprios alunos, ou seja, compreender o estágio de aprendizagem que encontra o aluno, para tomar decisões no sentido do seu crescimento, visando a autonomia e o desenvolvimento das suas habilidades e competências.
A função diagnóstica deve ser utilizada como uma ação comprometida com a concepção pedagógica constante, servindo como instrumento auxiliar da aprendizagem e não um instrumento de aprovação e reprovação dos alunos.
Segundo Luckesi:
A avaliação da aprendizagem é um ato amoroso no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir a avaliação do julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo e o errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para então, ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança. A avaliação, como ato diagnóstico, tem por objetivo a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção. O diagnóstico tem por objetivo aquilatar coisas, atos, situações, pessoas, tendo em vista tomar decisões no sentido de criar condições para a obtenção de uma maior satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo.(LUCKESI, 2000, p. 173)
De acordo com Luckesi, o ato de avaliar implica dois pressupostos básicos: diagnosticar e decidir. O segundo ato depende do primeiro. Diagnosticar é constatar e qualificar o objeto da avaliação e nos dá certeza de que o objeto é como é. Não há como avaliar sem constatar. A partir da constatação, vem o diagnóstico, que é qualificar positiva ou negativamente de acordo com os objetivos propostos.
No diagnóstico deve-se considerar os dados relevantes, os instrumentos e a utilização destes instrumentos. Os dados relevantes são os dados essenciais àquilo que se pretende avaliar, caracterizando especificamente o objeto avaliado e devem estar presentes no planejamento de ensino. Os instrumentos devem ser adequados para que não distorçam a realidade sob pena de gerar injustiça. Por último, coletados os dados essenciais através dos instrumentos adequados, deve-se utilizá-los em prol do educando, comparando o estado de aprendizagem retratado conforme estabelecido no planejamento de ensino. O planejamento de ensino intermedia a teoria e a prática, sustentando a avaliação escolar. Realizados todos os passos, tem-se o diagnóstico, e a partir daí toma-se decisões, pois a avaliação não pode encerrar-se com a qualificação do estado em que se encontra o educando, mas deve completar com a possibilidade de apresentar soluções, sempre em busca do melhor e mais satisfatório do que se tem.
Se determinado conhecimento ou determinada habilidade tem caráter essencial na aprendizagem do aluno, ele deverá adquiri-lo, se houve defasagem no aprendizado não há porque mantê-lo nesta situação e sim trabalhar usando a avaliação como instrumento de diagnóstico, tendo em vista a definição de encaminhamentos adequados para superar a defasagem.
A função diagnóstica subsidia em uma aprendizagem efetiva e significativa, buscando a formação do sujeito crítico de forma democrática sem submissão, mas com liberdade, sem medo mas com espontaneidade. Não há chegada definitiva, mas sim uma travessia permanente em busca do melhor.
Avaliação Mediadora
A avaliação mediadora torna-se um ato amoroso, acolhedor, integrativo e inclusivo. Através da mediação podemos observar as características essenciais do processo construtivista.
Na prática construtivista:
Numa concepção mediadora de avaliação, a subjetividade inerente à elaboração e correção de tarefas avaliativas não é um problema, mas um elemento a se trabalhar positivamente. Porque, sem tornar a tarefa como um momento terminal e, sim, como um elo de uma grande corrente, tanto os erros dos alunos como as dúvidas dos professores em interpretá-los retornarão à aula para serem discutidos por todos, elementos importantes e positivos na continuidade das ações desenvolvidas, de outras tarefas propostas. Nesse sentido, o momento da correção passa a existir como um momento de reflexão sobre as hipóteses que vierem sendo construídas pelo aluno e não para considerá-las como definitivamente certas ou erradas.(HOFFMANN, 1994, p.65).
Mediação é o elo entre o aluno e o objeto de conhecimento. A prática de proporcionar aos alunos oportunidades para manifestar seu modo de aprender, sua capacidade de raciocinar, de poetizar, de criar histórias através da escrita espontânea, seu modo de entender e de viver, é fundamental, criando neste aluno a liberdade de expressão, a autoconfiança, a segurança, a colaboração, a criatividade, o crescimento no processo de aprendizagem. Existindo assim, a troca dialógica, o questionamento do educador para compreender o processo de cognição, trilhando novos caminhos, visando o elo entre o aluno e o professor através de uma prática que desafia constantemente a ação e reflexão e a busca de novas questões num ambiente democrático.
Segundo Hoffmann:
A avaliação mediadora é aquela que leva o professor a analisar teoricamente as várias manifestações dos alunos em situação de aprendizagem (verbais, escritas ou outras produções), para acompanhar as hipóteses que vêm formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas do conhecimento de forma a exercer a ação educativa que lhes favoreça a descoberta das melhores soluções ou confirmações de hipóteses preliminarmente formuladas. Esse acompanhamento visa acesso gradativo do aluno a um saber competente na escola e, portanto, a outras séries e graus do ensino. (HOFFMANN, 1994, p. 112)
A avaliação mediadora é: dinamização das oportunidades de ação-reflexão entre os sujeitos do processo educativo; prática que desafia o aluno para novas hipóteses; busca de compreensão do processo de cognição – pensar como o aluno pensa e entender porque ele pensa dessa forma.
Avaliação Dialógica
Segundo Romão, podemos observar que o diálogo é essencial na vida humana, tornando assim inerente à prática construtivista através da interação que o sujeito faz com o mundo. O conhecimento só se dá na troca de informações, a qual é feita fundamentalmente pelo diálogo.
O diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como a fazem e refazem… através do diálogo, refletimos juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos seguir, atuar criticamente para transformar a realidade.(FREIRE, 1996, p. 82).
A avaliação dialógica permite que ocorra na prática dos educadores a formação do pensamento e do conhecimento através dos questionamentos que buscam identificar e interpretar problemas, consequentemente mediando os alunos na busca de soluções concretas.
Na construção do conhecimento, muito se fala na compreensão do processo de aprendizagem que o aluno está percorrendo em um dado curso, no qual o desempenho do professor e outros recursos devem ser modificados para favorecer essa construção.
A avaliação dialógica não ocorre somente na sala de aula; é um coletivo trabalhando em prol de várias propostas que venham de encontro com as necessidades da clientela. O diálogo ajuda as descobertas de dificuldades, formulando assim a flexibilidade nos conteúdos que visam constantemente os objetivos a serem atingidos.
Luckesi define a avaliação como um instrumento tão importante que em momento algum podemos usá-la de forma contrária a de construir e o diálogo é essencial para ampliarmos a construção do conhecimento.
Romão enfatiza a urgência de uma reflexão sistemática sobre os processos avaliativos ainda utilizados nos dias de hoje, sendo que esse processo reflexivo de mudança não deve ser praticado por apenas uma minoria, mas por todos os envolvidos no contexto escolar, visando desse modo o alcance de um ensino de qualidade e não uma mera soma de quantidades que se resumem a notas, aprovações ou reprovações. Deve-se buscar coletivamente o equilíbrio entre quantidade e qualidade.
O ato de reflexão e ação é constante neste processo, o interrogatório do professor leva o aluno a refletir e agir concomitantemente e, com certeza, construindo seu próprio conhecimento alicerçado através da linguagem e manifestando possibilidades de transformação da realidade socialmente construída.
Proposta Pedagógica e Avaliação
A avaliação adquire sentido quando articulada junto com uma proposta pedagógica, tornando-se um curso de ação, construindo um resultado previamente definido. A proposta pedagógica define quais as decisões devem ser tomadas na aprendizagem dos educandos e também quais desenvolvimentos a serem trabalhados na sala de aula.
Segundo Esteban, construir uma avaliação capaz de dialogar com a complexidade do real, com a multiplicidade de conhecimentos, com as particularidades dos sujeitos, com a dinâmica individual e coletiva, com a diversidade de lógicas, dentro de um processo costurado pelos múltiplos papéis, valores e vozes sociais, perpassado pelo confronto de interesses individuais e coletivos não é tarefa simples.
A proposta pedagógica é o documento que define as intenções da escola num todo, em realizar um trabalho de qualidade. O plano da escola diz respeito à execução dessas intenções. Esses devem resultar de um desejo coletivo, ou seja, obra de todos os que militam nessa escola, mormente, os educadores. É algo que se vai construindo aos poucos. Para a consecução desse desejo coletivo, será necessário que a comunidade docente assuma o seu papel interagindo para alcançar as metas que se estabeleceram. Abandonar as perseguições das metas estabelecidas pelo coletivo, ao meio do caminho, é o primeiro passo para o malogro da proposta que refletirá no aluno e no seu sucesso.
É na proposta pedagógica que os educadores devem pautar os seus procedimentos quanto à avaliação, utilizando-se de técnicas e métodos que valorizem o diálogo e o debate junto com os alunos, oportunizando um espaço para reflexão sobre o processo avaliativo.
Vianna (1998) aponta ainda que um projeto de avaliação que objetiva o impacto da educação e suas possíveis repercussões na sociedade, deve destacar até que ponto a escola contribui para o desenvolvimento individual do aluno e sua autonomia como cidadão ou até onde reforça os traços do conservadorismo da mesma, repassando saberes obsoletos e valores duvidosos para o desenvolvimento de individualidades.
Segundo Vianna:
A avaliação de um processo educacional precisa identificar se a escola pensa em termos de requisitos para o preparo profissional associado à formação crítico-humanista, ou seja, se as práticas educacionais são capazes de gerar uma consciência crítica, aberta à problemática social, e de definir o posicionamento e ações ante os grandes problemas de um mundo globalizado pelo processo tecnológico e pelas imposições de novas relações econômicas. A avaliação educacional não deve ter um caráter exclusivamente pedagógico. Apesar da importância desse aspecto, parece-nos fundamental a sua natureza social, com a identificação de interações de variáveis relacionadas ao mundo maior da própria sociedade.(VIANNA, 1998, p.149)
A credibilidade e aceitação de uma avaliação estão associadas à credibilidade do avaliador, que deve possuir competência técnica e experiência suficientes para empreender a coordenação de uma equipe de avaliação. Problemas inevitavelmente surgem quando a avaliação passa a ser um modismo, na vã esperança que a mesma possa resolver todos os problemas educacionais, quando a sua real finalidade é identificá-los para que possam ser dimensionados, analisados e solucionados. A seleção de informações não relevantes, assim como a deficiência na interpretação dos dados são fatores que podem comprometer a qualidade de uma avaliação e o seu êxito.
Toda equipe escolar deve acreditar que a avaliação, entendida como processo de reflexão sobre a realidade para o seu aperfeiçoamento, é importante para a melhoria da qualidade educacional, além de considerar o processo coletivo e o diálogo permanente da autoavaliação.
No ato de construção e reflexão da proposta pedagógica a equipe escolar precisa ter disposição e coragem para interrogar lucidamente sua competência e eficácia. É importante que a escola tenha clareza dos critérios de eficácia, que sairão dos referenciais para o processo de avaliação. Os envolvidos no processo devem participar da elaboração de critérios. O gestor deve negociar a avaliação com a coletividade, pois assim ela irá além do diagnóstico e buscará a mudança, uma vez que torna-se necessário favorecer uma cultura de avaliação na escola e as formas relativas a problemas que sejam colocados sem ferir ou dramatizar, mas sim, buscando soluções.
Nessas ações, é possível perceber uma preocupação verdadeira quanto às formas de se tratar a avaliação, o que torna necessária a retomada de determinados aspectos como respeito, a valorização, a liberdade de expressar-se e a tolerância, fatores que percorrem o processo ensino-aprendizagem na contemporaneidade.
Para Luckesi:
A avaliação atravessa o ato de planejar e de executar, por isso contribui em todo o percurso de uma ação planificada. A avaliação se faz presente não só na identificação da perspectiva e na execução do projeto, tendo em vista a sua construção. Ou seja, a avaliação como crítica de percurso, é uma ferramenta necessária ao ser humano no processo de construção dos resultados que planificou (…). A avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de seu modo de agir, e por isso, é necessário que seja usada da melhor maneira possível. (LUCKESI, 2000, p.118
119)
A avaliação para Hoffmann (1994) deve estar articulada a uma proposta pedagógica que atenda sem distinção todas as crianças, compreendendo-as e auxiliando-as a se tornarem cidadãos realmente participativos da sociedade, “uma escola que perceba a educação como direito da criança e um compromisso da escola em torná-la consciente desse direito e capaz de reivindicar uma escola de qualidade.” (HOFFMANN, 1993, p.16)
Os professores, mediante ao novo processo de avaliação, deverão superar a posição individualista e construir coletivamente novas formas de trabalho docente, saindo da classificação para a avaliação formativa, capaz de levantar informações qualitativas sobre o processo de aprendizagem do aluno.
A escola pode desenvolver várias medidas, como valer-se de diferentes formas de registro e acompanhamento da aprendizagem do aluno, organizar e usar tarefas suplementares adequadas para possibilitar várias formas de trabalho escolar, desenvolver o trabalho pedagógico e sala de aula através da combinação de atividades comuns e diversificadas, criar ou reformular os serviços de apoio aos alunos com dificuldades específicas de desenvolvimento de aprendizagem e dotar a escola de condições necessárias para recuperação paralela.
Sendo assim, Hoffmann (1994) destaca que, nos registros de avaliação deve-se dar importância se o aluno aprendeu ou não, porque não aprendeu e quais caminhos devem ser traçados para que o aluno aprenda.
A proposta pedagógica, coletivamente construída por cada escola, deverá elaborar seu regimento, que deverá definir as formas de avanço dos alunos na organização escolar e todos os procedimentos e classificação e reclassificação dos mesmos, para que possam produzir efeitos legais. O regimento escolar deve dispor sobre avaliação, promoção, evasão, progressão continuada e/ou parcial, reprovação, classificação, reclassificação ou outras formas de avanço do aluno na organização escolar. Tudo deve estar bem planejado e discutido com toda a comunidade escolar e pais.
Todos os procedimentos escolares devem ser planejados com a força e participação direta de toda a equipe. Cada proposta deve ser uma solução, sem perder de vista que o acesso ao conhecimento é um benefício social e que crianças e jovens têm direito e é a razão de ser da própria escola diante do mundo contemporâneo.
Perspectivas de ação e reflexão
Falar em mudança é falar em caminho e falar em caminho é falar de um norte, ou seja, de um planejamento. Planejar a avaliação pode significar, entre outros, o apontamento de um novo método, com uma dialética mais eficaz do que temos concebido até aqui.
No método dialético o educador tem a oportunidade de analisar sua práxis pedagógica, refletindo suas ações. Entendemos que a prática pela prática não nos leva muito longe, já que não nos permite captar a essência do real; por outro lado, a teoria desvinculada da prática é estéril, é mera retórica. O desafio que se apresenta diz respeito à construção de uma teoria que auxilie a transformação da prática, nos levando à reflexão de três dimensões básicas: análise da realidade, projeção de finalidades e formas de mediação.
Em suma, é essencial que nos perguntemos: onde estamos, para onde queremos ir e o que fazer para chegar lá?
Para que os caminhos propostos e as respostas às perguntas feitas possam representar de fato, uma intenção de mudança, é preciso provocar uma análise da realidade do ensino, resgatando a evolução histórica e os resultados que a avaliação tem projetado socialmente em seus diferentes momentos.
Procedendo desse modo, talvez consigamos identificar o núcleo dos inúmeros problemas da avaliação dentro do cotidiano escolar.
Apesar de ser um processo permeado de subjetividade, normas, condutas e códigos criados pelo homem, a avaliação necessita ser planejada, para não repetirmos os mesmos enganos que sempre ocorrem.
Segundo Luckesi:
A atividade de planejar, como um modo de dimensionar política, científica e tecnicamente a atividade escolar, deve ser resultado da contribuição de todos aqueles que compõem o corpo profissional da escola. É preciso que todos decidam, conjuntamente, o que fazer e como fazer. Na medida em que é o conjunto de profissionais da escola que constitui o seu corpo de trabalho, o planejamento das atividades também deve ser um ato seu; portanto coletivo. (LUCKESI, 1990, p. 56)
É de suma importância a necessidade de planejamento do processo de avaliação para que o mesmo não seja reduzido à observação e ao registro de resultados alcançados pelos alunos. Planejar, entre outros, é construir um caminho a seguir, mais que isso é oportunizar o diálogo entre os professores através de uma postura flexível, atentando para as diferenças individuais e necessidades de cada membro que compõe o cenário escolar: professores e alunos.
Para o professor conseguir colocar em prática toda a perspectiva de ação é necessário uma finalidade comum, ou seja, dar sentido à escola, dar sentido e significado ao conhecimento. Este sentido seria a articulação da compreensão do mundo em que vivemos; seria usufruir ao máximo do que está ao nosso lado, transformar através da construção um mundo melhor, justo e solidário na sala de aula, valorizar seu trabalho como professor e valorizar ao máximo possível o trabalho do aluno.
Segundo Hoffmann:
é preciso ultrapassar a sistemática tradicional de se buscar os absolutamente certos e errados em relação às respostas do aluno e atribuir significado ao que se observa em sua tarefa, valorizando suas ideias, dando importância às suas dificuldades (…). O respeito e a valorização de cada tarefa favorece a expressão por ele de crenças verdadeiramente espontâneas. (HOFFMANN, 1993, p. 84)
O aluno é sujeito da avaliação e não objeto, mesmo porque ele é dotado de consciência e reflexão. As mudanças só ocorrem quando a ênfase do processo de avaliação for maior no desenrolar das atividades do que nos resultados. Deve-se levar em conta a organização interna da escola, os objetivos e fundamentos pedagógicos e o contato com o mundo externo.
Sendo assim, Hoffmann (1993) defende que é necessário construir uma prática que respeite a possibilidade e o tempo do educando em relação ao aprendizado, o que não é uma questão simples uma vez que os professores consideram que os alunos não aprendem pois faltam muito às aulas, não realizam as tarefas propostas, são agitados e desatentos. Existe uma outra situação mais complexa, em que o aluno frequenta às aulas, realiza todas as atividades, não apresenta problemas emocionais e, no entanto, não aprende. A culpa, neste caso, é remetida ao aluno ou ao professor. Quando são considerados “carentes”, muitas vezes o aluno é tido como propenso ao fracasso escolar.
Diante de todas as situações que envolvem o cotidiano escolar, a avaliação deve dinamizar as perspectivas de ação e reflexão em todos os momentos do ato educativo, num todo coletivo e articulado visando subsídios e metodologias que procedam as linhas de ação, de atuação e de relação professor e aluno. O objetivo é conduzir o aluno a observar, criticar, pesquisar, concluir, conceituar e refletir, formando um conjunto de estímulos da ação.
Professor Avaliador: Uma Prática em Transformação
As relações entre os participantes do processo ensino-aprendizagem, as formas de comunicação, aspectos afetivos e emocionais, todas as manifestações são componentes do trabalho educacional, devendo ser levados em conta na organização do trabalho docente. A interação professor-aluno é fundamental, uma vez que nela se dá a busca dos objetivos da educação.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), é fundamental que exista uma relação de confiança e respeito mútuo entre professor e aluno, de maneira que a situação escolar possa dar conta de todas as questões de ordem afetiva. Mas isso não fica garantido apenas e exclusivamente pelas ações do professor, embora sejam fundamentais dada a autoridade que ele representa, mas também deve ser conseguido nas relações entre os alunos. O trabalho educacional inclui as intervenções para que os alunos aprendam a respeitar diferenças, a estabelecer vínculos de confiança uma prática cooperativa e solidária.
É tempo de redefinir o papel do educador como o mediador que dinamiza as trocas de ações entre o educando e o objeto do conhecimento com vistas à apropriação do saber pelo sujeito e do mediador entre a criança e o seu grupo de iguais, viabilizando as trocas necessárias ao exercício das cooperações que sustentam o desenvolvimento das personalidades autônomas no domínio cognitivo-moral, social e afetivo. (Rangel, apud HOFFMANN, 1993, p. 74)
Na perspectiva de Hoffmann (2000) e de Romão (1999) a análise do conceito de avaliação deveria estar direcionada para o processo educativo merecendo uma reflexão constante sobre a sua concepção. A avaliação deve contemplar a mediação entre o educar e o ensinar.
Para Hoffmann (2000) deve existir uma tomada de consciência sobre a contradição existente entre a ação de educar e a concepção de avaliação como resultado e julgamento. Um professor deve constantemente avaliar a ação educativa no sentido indagativo e investigativo, sem verdades absolutas, pré-moldadas e terminais.
A mudança deste processo de avaliação começa com uma interação entre o educador, o educando e o estabelecimento de ensino, buscando na avaliação de si mesmo a realidade escolar, contribuindo assim para a construção do conhecimento. Seguindo este pensamento, a avaliação deixa de ser um momento terminal do processo educativo para se transformar na busca incessante da compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento. A ação avaliativa abrange justamente a compreensão do processo de conhecimento.
Concordamos que o processo de avaliação é complexo, pois o sistema de conhecimento não tem começo nem fim. Conforme já mencionamos, é necessário uma mudança formal no critério de avaliação. Para tanto, devemos refletir sobre a transmissão do conhecimento e sua mediação.
Os professores entendem que, na prática, avaliar é dar notas, fazer provas, registrar valores, conceitos, etc. Assim, utilizam dados comprováveis na medida em que é mais fácil atribuir aos alunos as médias pelos resultados obtidos em exames. As notas/conceitos dos educandos decorrem do termo “medida” em que os professores mensuram extensão, volume e outros atributos dos objetos e fenômenos, como ressalta Hoffmann (2000).
(…) conceber e nomear o ‘fazer testes’, o ‘dar notas’, por avaliação é uma atitude simplista e ingênua! Significa reduzir o processo avaliativo, de acompanhamento e ação com base na reflexão, a parcos instrumentos auxiliares desse processo, como se nomeássemos por bisturi um procedimento cirúrgico. (HOFFMANN, 2000, p. 53)
É necessário que ocorra uma conscientização de todos os segmentos educacionais, onde a avaliação deve ser repensada para que a qualidade do ensino não fique comprometida. O educador deve ter o cuidado de analisar as influências, as histórias da vida do aluno e a sua própria para que não haja, mesmo inconscientemente, a presença do autoritarismo e da arbitrariedade que a perspectiva construtivista de avaliação combate.
Segundo Hoffmann (2000), avaliar nesse novo paradigma é dinamizar oportunidades de ação-reflexão, num acompanhamento permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de aprendizagem, reflexões acerca do mundo, formando seres críticos, libertários e participativos na construção de verdades formuladas e reformuladas.
Diante do exposto, lançamos o seguinte questionamento: afinal, como o professor contemporâneo deve avaliar?
O estudo até aqui realizado nos faz refletir que avaliação não pode ser um processo isolado, ou formulado como química ou receita a ser seguida.
O professor avaliador como uma prática em transformação na educação contemporânea significa desenvolver uma nova postura avaliativa onde requer desconstruir e reconstruir a concepção e a prática da avaliação, rompendo com a cultura da seleção, com as injustiças na concretização do trabalho pedagógico dando um novo dinamismo à avaliação (Janssen 2002).
Sendo assim, a avaliação num sentido amplo deve ser compreendida como julgamento de valor, de qualidade e, sobretudo, de como tomar uma decisão sobre os caminhos que devemos tomar, ou retomar para dar continuidade ao processo de aprendizagem. A avaliação deverá, em sua essência, possuir um caráter dinâmico, inclusivo, dialético, visando o crescimento e o avanço do educando. Compreender o significado da avaliação é o primeiro passo para aplicá-la de maneira coerente e justa, sendo articulada a um processo pedagógico que contemple a formação humana, onde vislumbre o desenvolvimento de valores e concepções (solidariedade, cidadania, ética).
Enfatizamos que o objetivo da avaliação da aprendizagem não deve restringir-se somente ao âmbito escolar. Sua função também deverá atender a uma necessidade social, ou seja, a responsabilidade que a escola tem de educar as novas gerações para que utilizem os conhecimentos adquiridos no seu cotidiano.
Embora haja muitos questionamentos quanto à prática avaliativa e pedagógica dos docentes, podemos perceber um espaço voltado à reflexão dessas práticas, fator fundamental para o crescimento e aprimoramento profissional daqueles que respeitam as ações de ensinar e avaliar na contemporaneidade.
É preciso entender, segundo Freire (1998), que a escola atual exige novas ideias e métodos para poder cumprir com fidelidade sua missão e práticas do passado já não respondem às necessidades de hoje. Os novos desafios exigem novas respostas e não apenas esforços redobrados para fazer as mesmas coisas.
A avaliação continuará existindo, ou resistindo durante muito tempo ainda. O que é preciso entender é que, num mundo de permanentes mudanças, a escola não pode ser uma ilha de estabilidade. Cabe ao professor e à escola, a difícil missão da autocrítica e de um reposicionamento para a sua transformação, mediante a sua ação educativa e avaliativa. De tal sorte que possa, por um lado, responder aos anseios da nova sociedade do conhecimento e, por outro, assegurar a sua participação nos processos de integração social, diante do mundo globalizado.
Considerações Finais
Durante o desenrolar da pesquisa, foi possível constatar que é de extrema importância que o professor analise a sua ação de planejar e os subsídios que nortearam seu trabalho, interiorizando como o aluno processa o conhecimento e que sua proposta de trabalho e metodologia é a que vai garantir que seu aluno faça também parte do processo de ensino e aprendizagem.
Estamos vivendo numa época em que a globalização exige cada vez mais uma postura interdisciplinar por parte do educador e, junto a nova postura, a adoção de ideias que conjuguem simultaneamente diferentes leituras de mundo e formas de avaliação mais justas e igualitárias que almejem o desenvolvimento das competências e habilidades tão necessárias no mundo contemporâneo.
Muitas mudanças já ocorreram nesse sentido e a escola não tem se furtado à discussão e reflexão sobre o tema, mas as mudanças só ocorrerão de fato, quando houver a opção pelo “humano”, pelo acreditar em “gente que gosta de gente” e quando for possível trabalharmos numa nova dinâmica de escola: a escola com olhar humanístico, voltado para as ações compartilhadas no coletivo e no social.
A avaliação na contemporaneidade deve contemplar a busca de ações e reflexões de processos avaliativos mais justos e também na busca de uma escola inovadora, dinâmica, inclusiva, formativa, de conhecimentos e saberes, social e respeitosa, capaz de desenvolver parâmetros éticos e de solidariedade.
Ao longo da pesquisa pude perceber que o ato de avaliar para a construção do conhecimento num mundo em constantes mudanças vai além de medir, dialogar e diagnosticar, o problema inclui também o ato amoroso no processo ensino e aprendizagem.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Secretaria de educação fundamental. Introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997, p.81-91.
D’ANTOLA, A.R.M. A Observação na avaliação escolar: um estudo experimental. São Paulo: Loyola, 1976.
ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 2a ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro, ed.Paz e Terra, 1998.
GARCIA, Regina Leite. A avaliação e suas implicações no fracasso/sucesso. In: ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 2a ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000, p. 29-49.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 4a ed. Porto Alegre, 1994.
__________ . Avaliação: mito & desafio. Uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Educação e realidade; revistas e livros, 1994.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar: Além do autoritarismo. In: Educando, AMAE, 1998.
__________ . Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1996.
__________ . Prática docente e avaliação. Rio de Janeiro: ABT, 1990.
RABELO, Edmar Henrique. Avaliação: novos tempos, novas práticas. Petrópolis: Vozes, 1998.
RAYDT, Regina Célia Cazaux. Avaliação do processo ensino e aprendizagem. São Paulo, 1995.
ROMÃO, José Eustáquio. Avaliação dialógica – desafio e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999.
SCRIVEN, Michael; STUFFLEBEAM, Daniel. Avaliação educacional II: perspectivas, procedimentos e alternativas. Petrópolis: Vozes, 1978.
SOARES, Magda Becker. Avaliação educacional e clientela escolar. In: Introdução à psicologia escolar. 2a ed. São Paulo: 1991, p. 47-53.
VIANNA, H.M. Medidas da qualidade em educação – Apresentação de um modelo. In: Estudos em avaliação educacional. nº 2, jul/dez.1998.
Autor: Eliezer de Jesus Vieira
Para saber mais sobre a importância da avaliação na educação, acesse Estrutura e Apresentação de Monografias, Dissertações e Teses.
Se você está em busca de ferramentas que possam auxiliar na sua prática pedagógica, considere explorar opções de materiais didáticos que podem enriquecer suas aulas.
Para uma visão mais ampla sobre o papel da avaliação, confira também TCC: TDAH – O conhecimento dos professores a respeito do assunto.
Por fim, para entender melhor as práticas pedagógicas contemporâneas, não deixe de visitar Monografia: Alfabetização na Escola Pública.
Escreva um comentário