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Desenvolvimento da criança através da literatura infantil

Enriquecendo a mente dos pequenos, a literatura infantil estimula o desenvolvimento de habilidades importantes para a vida. Nossas obras são selecionadas para o amadurecimento intelectual das crianças. Descubra como.

Desenvolvimento da criança através da literatura infantil

Literatura infantil, desenvolvendo a criança para a vida

INTRODUÇÃO

Geralmente, nos deparamos com os caminhos da leitura motivados por situações de necessidade, prazer, obrigação, divertimento ou somente para passar o tempo. Nesta expectativa, podemos garantir que a leitura é essencial para a construção da personalidade e para o desenvolvimento intelectual, ético e estético da criança como ser humano. Se considerarmos que a escola tem como um de seus papéis fundamentais a formação da personalidade da criança, a literatura é de extrema importância para auxiliar nessa construção, pois nela a criança ocupa o espaço privilegiado de acesso à leitura. É imprescindível que ela crie possibilidades para o desenvolvimento do gosto pela literatura por intermédio de livros significativos.

É através da literatura que a criança desperta uma nova relação com diferentes sentimentos e visões de mundo, adequando assim, condições para o desenvolvimento intelectual e a formação de princípios individuais para medir e codificar os próprios sentimentos e ações. Dialogando sobre esse assunto, Bettelheim (1980) afirma que a criança desenvolve por meio da literatura o potencial crítico e reflexivo. Afirma que a partir do contato com um texto literário de qualidade, a criança é capaz de refletir, indagar, questionar, escutar outras opiniões, articular e reformular seu pensamento.

Pode-se observar que muitos alunos modificam o seu jeito de pensar e agir ao ter contato com a literatura, passando a adquirir mais confiança à medida que se sentem capazes de criar e dominar sua emoção e sua imaginação. Para a criança, a literatura é tudo na sua vida, pois é através dela que demonstra a sua realidade em forma de fantasia, através dos desenhos, das brincadeiras, das histórias, das músicas.

É pertinente que o professor introduza na sua prática pedagógica a literatura infantil e que a mesma disponha de informação que venha a contribuir para o desenvolvimento da criança, estimulando o aluno a buscar diferentes caminhos para as resoluções de problemas. Para o procedimento metodológico desse trabalho, intencionei a pesquisa autobiográfica para analisar e refletir sobre a minha prática enquanto professora de educação infantil. Em relação a essa modalidade de pesquisa, Bogdan e Biklen afirmam que:

As histórias de vida são, frequentemente, uma tentativa para reconstituir a carreira dos indivíduos, enfatizando o papel das organizações, acontecimentos marcantes e outras pessoas com influências significativas comprovadas na moldagem das definições de si próprios e das suas perspectivas sobre a vida. (1994, p. 93)

Nessa mesma perspectiva de pensamento, conforme argumenta Dominicé:

O saber da formação provém da própria reflexão daqueles que se formam. […] a análise dos processos de formação, entendidos numa perspectiva de aprendizagem e mudança, não se pode fazer sem uma referência explícita ao modo como um adulto viveu as situações concretas do seu percurso educativo. (1995, p. 24)

Por esse motivo, através dessas meditações, constato o quanto é importante ter consciência da própria prática pedagógica na sala de aula. Portanto, toda reflexão aqui apresentada só terá muito a acrescentar para a minha formação enquanto pedagoga, levando-me a entender, na prática, tudo aquilo que aprendi ao longo da minha formação acadêmica na Faculdade Social e na atuação na sala de aula como professora da Educação Infantil.

  1. A LITERATURA INFANTIL: ASPECTOS HISTÓRICOS

A palavra literatura tem como significado básico a “arte de escrever” e a sua origem vem do latim, porém a palavra literatura infantil surgiu no continente europeu em meados do século XVIII, com Charles Perrault. Segundo Marisa Lajolo e Regina Zilberman:

As primeiras obras publicadas visando o público infantil aparecem no mercado livreiro na primeira metade do século XVIII, antes disto apenas durante o classicismo francês, no século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser englobadas como literatura também apropriada à infância. (1999, p. 15-16)

Charles Perrault não foi apenas responsável pelas primeiras obras literárias infantis, mas também pelos contos de fadas que encantaram crianças e adultos daquela época. Os seus livros eram uns dos mais preferidos da literatura francesa e que sofreram menos crítica dos estudiosos em obra literária. O seu primeiro livro, publicado em 11 de janeiro de 1897, quase aos setenta anos, ficou conhecido como Contos da Mamãe Gansa, tendo três histórias narrativas com os temas: O Pequeno Polegar, As Fadas e O Mestre Gato, que é também conhecido como O Gato de Botas. Seus livros romperam os limites literários da época e alcançaram públicos de todas as idades e lugares, surgindo assim um novo gênero da literatura, “a literatura infantil”.

Os contos de Perrault sempre traziam consigo um cunho moral e foi a partir disso que os contos de fadas ficaram conhecidos pelas crianças. Perrault se tornou também grande divulgador das histórias tradicionais folclóricas européias daquela época.

Esse escritor relatou a cultura do seu povo através dos contos de fadas e, ao mesmo tempo, proporcionou uma reflexão popular na época em que as crianças eram vistas como um pseudo-adulto em potencial, apresentando então um novo olhar. A partir deste ponto, a criança começa a ser mais valorizada e protegida pela sociedade. É nesse contexto que surge a escola para preservar e fazer a mediação entre a criança e o mundo.

Pode-se concluir então que Perrault foi o primeiro compilador de contos maravilhosos, apesar de não ter experiência em viver com os problemas do seu povo, apresentou uma nova literatura voltada para o imaginário infantil, através da qual ofereceu ao mundo elementos populares que proporcionaram um enriquecimento cultural das tradições, gerando então uma ambientação propícia para a ligação do mundo infantil ao seu imaginário.

No século XIX, surgem na Europa, Luís Jacob e Guilherme Carlos Grimm, mais conhecidos como Irmãos Grimm. Influenciados pelo Romantismo, suas obras tiveram como base as histórias orais populares folclóricas, científicas e camponesas. Através da conversação e convivência com pessoas simples e humildes, buscaram descrever a realidade histórica germânica, aprenderam seus costumes e suas linguagens, e procuraram transmitir de forma singela e fiel toda a sua tradição popular, sem modificar, aperfeiçoar ou deturpar-lhe a simplicidade.

Através desse material, colhido diretamente do povo, os irmãos Grimm escreviam seus contos de fadas, que os tornaram conhecidos por todo o mundo. Foi a partir desses contos que se demarcou o verdadeiro estudo do folclore na Europa.

Já a influência de Hans Christian Andersen foi que ele escreveu diversos tipos de literatura, dedicando-se a obras literárias voltadas para crianças e jovens adolescentes. Os seus contos encantavam a todos e percorrem todo o mundo, desde o século XIX até os tempos atuais.

Andersen, quando criança, adormecia embalado pelas velhas lendas do Norte, narradas pelo seu pai. Muitas vezes, ele visitava os abrigos dos pobres para escutar dos velhinhos e suas extraordinárias histórias, tudo isso proporcionou um enriquecimento em sua alma de sonhos, fantasia, criatividade e imaginação, apesar de seu pai ter sido sapateiro e de família humilde, porém já mostrava a vocação para a literatura.

A primeira obra de Andersen foi Histórias Maravilhosas, e a primeira composição poética foi O menino moribundo. Esse conto abriu as portas da imaginação e criatividade para todas as crianças. Muitas de suas histórias expõem a sua própria infância, retratando as alegrias e tristezas de sua vida de menino até adulto.

Mais uma vez se pode analisar que os contos literários de Andersen relatam a sua vida e de outras pessoas no seu contexto real. Sua literatura é dotada de realismo, pois ele mostra perfeitamente os obstáculos que a vida lhe impõe.

Quanto mais antiga a literatura, mais próxima da criança está através de sua fantasia e de seu imaginário, é neste momento que a criança confunde a fantasia com a realidade. A literatura clássica oferece um campo maravilhoso para adaptações e simplicidade na vida da criança, por esse motivo a criança se encanta mais com os contos clássicos.

Porém, o professor tem que saber trabalhar com os contos, tradicionais e também com os atuais, pois, desta forma, a imaginação, que é uma característica essencial no desenvolvimento cognitivo da criança para sua formação humana, será bem desenvolvida, proporcionando uma capacidade intelectual para resolver melhor seus problemas futuros.

A PRESENÇA DE MONTEIRO LOBATO

A literatura infantil chegou ao Brasil nos fins do século passado quando a preocupação educacional se tornou uma realidade. A escola passou a exercer um papel de extrema importância na transformação da sociedade rural e urbana. É nesse contexto que os livros infantis e escolares se entrelaçam no viés educacional. De acordo com Vera Aguiar:

A grande virada ocorreu com a publicação, em 1921, de A menina do narizinho arrebitado, por Monteiro Lobato, o qual revela a preocupação em escrever histórias para a criança numa linguagem compreensível e atraente para ela, objetivo plenamente alcançado pelo autor, cuja obra é um dos pontos mais altos da literatura infantil brasileira. Usando uma linguagem criativa, Lobato rompeu a dependência com o padrão culto: introduziu a oralidade tanto na fala das personagens como no discurso do narrador. (2001, p.25)

Monteiro Lobato trouxe com seus personagens uma nova visão para a história literária, ainda inexistente. Houve nele uma preocupação direcionada realmente à educação e à cultura das crianças. Só nos fins do século XIX que o ensino e aprendizagem assumem um rumo mais prático, com nomes de grandes reformadores importantes na pedagogia moderna no Brasil para a educação infantil como: Rui Barbosa, Guilhermina Loureira, Teodoro Morais, Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Esses e outros escritores foram pessoas que contribuíram para a expansão da literatura infantil no Brasil.

Ligia Cademartori (2010) afirma que a literatura infantil brasileira viveu por muito tempo à sombra de Lobato. Com a chegada do movimento modernista brasileiro, Monteiro Lobato foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX, quebrando padrões europeus literários, pois os seus livros esboçavam as questões sociais, trazendo um novo olhar crítico para a literatura infantil. Desta maneira, seus livros trazem um olhar nacionalista dos problemas da sociedade brasileira com denúncias literárias que escandalizaram o Brasil naquela época.

A literatura, para Lobato, tem uma finalidade social, pois sendo a linguagem um instrumento mais poderoso e expressivo na vida da criança como um meio de comunicação e, consequentemente, um meio de socialização, é evidente e óbvio o valor da literatura com finalidade social. Para Ligia Cademartori:

Monteiro Lobato […] estimula o leitor a ver a realidade através de conceitos próprios. Apresenta uma interpretação da realidade nacional nos seus aspectos social, político, econômico, cultural, mas deixa, sempre, espaço para a interlocução com o destinatário. A discordância é prevista. (2010, p.54)

O seu primeiro livro para o público infantil foi Narizinho arrebitado, que traz uma personagem que se impõe no seu contexto. As suas personagens mostram uma moral na qual a liberdade é de grande valor, e no momento em que a criança passa a ler o livro, deixa uma reflexão embutida sobre o regime daquela época. Lobato era um militante convicto que queria modificar o mundo, porém, já estava ficando cansado e “velho” desta luta. Foi quando pensou em escrever para a criança, pois só elas poderiam mudar este mundo que tanto precisava de transformações, principalmente no Regime.

Lobato foi um verdadeiro educador intuitivo, fazendo com que as pessoas entendessem as coisas através do riso. Nos seus livros, traz as questões morais, pois a literatura desperta os bons sentimentos e logo é aperfeiçoada com o tempo, conduzindo a criança a fazer boas ações, despertando nela o amor pela justiça, estimulando o valor da verdade. Monteiro Lobato é considerado como o primeiro escritor brasileiro a se preocupar com a literatura infantil, dando um real valor às crianças.

Os seus livros tinham muitas características, uma delas era a maneira de misturar o fantástico com o real, mostrando como a criança faz na sua vida. A esse respeito, pela convivência possível entre os dois lados, o que é muito saudável, é quase uma consciência de poder da criança com sua auto-suficiência natural.

Escrever para a criança é tornar-se uma criança e conhecer seus reais problemas infantis, pois elas sempre esperam que os livros infantis tenham um início, meio e fim, que mexam com a sua imaginação, e resolvam seus problemas e, sobretudo, tenham uma dramatização do bem com o mal e que o bem sempre vença no final.

A arte de escrever livros literários é uma tarefa delicada e quando é destinada para criança se torna mais complexa, pois a criança é exigente e seletiva, assim, tem que se criar toda uma atmosfera especial para proporcionar à criança um atrativo à leitura.

  1. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

As crianças que desde cedo têm contato mais próximo com a literatura infantil apresentarão melhor compreensão do mundo e de si mesmas. É através da literatura que a criança terá o privilégio de desenvolver seu potencial intelectual e cognitivo, ampliando, ao mesmo tempo, a sua visão das regras e a cultura que a sociedade lhe impõe. Bruno Bettelheim dirá que:

Enquanto diverte a criança, o conto de fadas esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança. (1980, p.20)

Conforme se pode perceber nas citações anteriores, a literatura infantil traz uma lição de vida de forma imaginária, contribuindo para a formação da criança no processo de construção da sua personalidade. A literatura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático no trabalho da linguagem e na formação da criança, pois utilizar a literatura é trabalhar com o homem e sua personalidade.

A imensa capacidade de percepção da criança, através dos contos infantis, proporciona a ela criar, imaginar e também reproduzir com muita facilidade através das diversas combinações, em detrimento, ela criará um submundo que terá realidade e fantasia sempre unida no contexto infantil. A imaginação da criança conduz à capacidade de criação do animismo para atingir a combinação de imagens e movimentos. No animismo, a criança se projeta momentaneamente nos personagens e, adentrando no mundo da fantasia, vivencia um contato mais estreito com seus sentimentos, organizando seus conflitos e emoções. Desta maneira, ela cresce e se desenvolve. Para confirmar esta assertiva, Vera Aguiar diz que:

A magia e o encanto que os contos de fadas transmitem até hoje estão no fato de que eles não falam a vida real, mas à vida como ela ainda pode ser vivida, apresentando situações humanas possíveis ou imagináveis […] os contos não se prendem à contingência do real e veiculam mais de uma significação. Assim, a criança encontra na literatura respostas às questões vividas e as dúvidas típicas de sua faixa etária (De onde vem? Quem imitar? É filho legítimo ou não?…) (2001, p. 80-81)

Evidencia-se que os contos infantis funcionam como uma ligação entre o real e o imaginário da criança. Por meio dos contos, a criança analisa os diferentes pontos de vista, os vários tipos de discursos, forma lingüística; expande sua percepção de tempo e espaço e o seu vocabulário, desenvolvendo a reflexão e o espírito crítico, pois é a partir da leitura que ela pode pensar, duvidar, se perguntar e ao mesmo tempo se questionar. A literatura infantil enriquece a imaginação da criança e oferece condições de mostrar a saída do espírito do comodismo para o uso do raciocínio crítico do imaginário. Essas características são de extrema importância para a formação da personalidade da criança que irá refletir no seu futuro.

Pode-se concluir que para a produção de uma literatura infantil deve-se buscar agradar as crianças, sendo necessário o condimento da alegria, da mobilidade, da surpresa, do interesse, em face das situações ou desfechos imprevisíveis em que traga no seu conto um início, meio e fim.

A literatura é um instrumento que permite ao professor ensinar ao aluno a ler corretamente, como também permite que conduza uma interação social com a criança, favorecendo na formação de um leitor crítico. Neste sentido, quanto mais cedo tiver contato com os livros, a criança perceberá o prazer que a leitura produz e maior será a probabilidade de tornar-se um adulto leitor. Assim, é através da leitura que a criança adquire um caráter crítico-reflexivo, extremamente relevante à sua formação cognitiva.

Quando a criança ouve ou lê uma história e tendo ela a capacidade de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza-se então uma interação verbal, que neste caso, vem ao encontro às noções de linguagem, de confrontamento nas ideias e de pensamentos críticos em relação aos textos. É muito importante que a literatura infantil esteja inserida no contexto de ensino e aprendizagem, para que seja despertado na criança tanto o mundo mágico da criatividade como um importante hábito de leitura. Além do ensino didático e valores morais, a literatura infantil desperta prazer, emoção e pensamento crítico. O convívio com o texto literário no processo de formação possibilita ao aluno o conhecimento de si mesmo, do espaço que o circunda e da vida social.

A literatura infantil exerce um importante papel na aprendizagem, pois revela ao leitor infantil a realidade, permitindo-lhe decodificar o mundo através de suas emoções e sentimentos. A criança desenvolve o senso crítico quando, a partir de uma leitura, dialoga, questiona e concorda ou não com a visão do autor. Ela também desenvolve a arte através da fantasia, que alcança espaço ilimitado no seu imaginário, resultando em novos textos, pinturas, desenhos, colagens etc. A arte literária é importante por revelar uma visão de mundo e permitir criar nosso próprio mundo e interagir com ambos. Zilberman conclui que:

É essa possibilidade de superação de um estreitamento de origem o que a literatura infantil oferta à educação. Aproveitada na sala de aula em sua natureza ficcional, que aponta a um conhecimento de mundo, e não como súdita do ensino bem comportado, ela se apresenta como o elemento propulsor que levará a escola à ruptura com a educação contraditória e tradicional. (2003, p. 30)

É importante que o professor utilize em sua prática diária o hábito da leitura, demonstrando naturalidade, principalmente o “encontro” com a literatura, de tal maneira que acostume seus alunos a se aproximar do material escrito e trabalhar com livros. A necessidade de ajuda dos pais também se faz indispensável, principalmente quando a criança percebe o interesse deles pelo que está lendo.

A prática regular da leitura associada à literatura infantil deve promover bons resultados quanto aos objetivos pedagógicos, e principalmente os cognitivos, pois no processo de aprendizagem a função educacional do texto literário deve ser explorada, contudo, tendo em consideração o interesse do leitor e a importância da leitura como desencadeadora de uma postura reflexiva perante a realidade.

A literatura é parte integrante do desenvolvimento da criança e o primeiro passo é incentivá-la através da leitura dos livros literários, os quais criarão estímulos para a formação de leitores. A literatura favorece a retirada das barreiras educacionais e pessoais de que tanto se fala, dando oportunidade mais justa de educação, principalmente, no desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual e emocional da criança; ao mesmo tempo, aumenta a possibilidade de normalização da situação pessoal de cada criança que vem “ver” e escutar a literatura diariamente.

A LITERATURA E A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA

A ESCOLA – CAMPO

A escola “CEAA” está situada na cidade de Salvador- Bahia. Foi fundada em 2006 com o objetivo de atender as crianças da comunidade de baixa renda dos arredores do bairro e proporcionar um ensino de qualidade.

A escola “Centro Educacional Arte de Aprender” possui 05 salas de aula, uma cozinha, uma sala de leitura, uma biblioteca, um depósito para guardar materiais, uma secretaria, uma área externa para atividades e recreação, e dois banheiros. Possui rede de esgoto; não é percebida nenhuma irregularidade quanto às condições higiênicas da escola.

A escola é composta por 120 alunos. Sendo que, no turno matutino contam 43 alunos frequentando e no vespertino, 77.

O quadro de funcionários é composto por 5 professoras, sendo que só duas destas têm o nível superior, e 4 funcionárias de apoio.

A SALA DE AULA: UMA REFLEXÃO SOBRE PRÁTICAS VIVENCIADAS EM UMA ESCOLA PARTICULAR

A sala de aula, objeto de pesquisa, é composta por 18 alunos, sendo que com um desses alunos tive um olhar especial, porque ele mudou a sua maneira de vida após ter o contato com a literatura infantil. O mesmo nunca teve acesso à escola. Quando se matriculou, já estava no segundo semestre das aulas, e os colegas rejeitaram bastante a sua presença. A princípio não sabia como fazer para que os alunos acolhessem o novo colega. Então, comecei a ler livros de literatura, relatando o trabalho da união, a importância do amigo e a indiferença. Neste contexto, percebi que Paulo gostava de ler e ouvir as histórias. Assim, uma vez na semana, solicitava que ele lesse a história na rodinha de alunos, buscando que os colegas prestassem mais atenção nele, e dessa forma, o aluno conseguiu interagir com o grupo e este com ele.

O tempo utilizado para fazer a observação foi de aproximadamente três meses do ano de 2010, porém, como já tinha bastante contato com essa turma, por ser a professora regente deles, já sabia como trabalhar o meu projeto. No primeiro mês, utilizei três livros: Dez Porquinhos. Dez? de Leo Timmer, O Menino Marrom, de Ziraldo Alves Pinto, e A Flor do Lado de Lá, de Roger Mello, pois os mesmos traziam uma literatura dinâmica, proporcionando às crianças uma fácil interpretação, e identificando o tema com os alunos em sala de aula. A leitura dos livros infantis desenvolveu na criança um despertar de interesse e a atenção, criando nelas fatores como: criatividade, a percepção de diferentes resoluções de problemas e autonomia, que são fatores de grande importância para a formação de personalidade da criança.

Para realizar a minha pesquisa, no segundo mês percebi quais dos livros que mais agradavam as crianças devido ao entusiasmo em sala de aula quando relatava com antecedência, criando uma expectativa de leitura para os alunos, desta maneira todas as vezes que iniciava a rodinha de leitura, os alunos solicitavam os mesmos livros, pois cada vez que lhes contava as histórias, as crianças modificavam sua maneira de pensar.

No terceiro mês, observei que a literatura “mexia” com o desenvolvimento e o pensamento cognitivo das crianças. Piaget, Vygotsky e Wallon tentaram mostrar que a capacidade de conhecer e aprender se constrói a partir das trocas estabelecidas entre os sujeitos e o meio que convivem. A partir da literatura trabalhada em sala de aula houve uma troca de informação, em que as crianças faziam associação dos contos de fadas com sua realidade, fazendo questionamentos sobre os textos e as suas personagens para com a realidade vivida de cada um ali presente. Segundo o RCNEI:

A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. (1998, p.147)

Durante o desenvolvimento da leitura em sala de aula, houve uma contribuição para melhora das atividades secundárias, em que eram mais dispersos, criando aos alunos um convívio com maior grau de afetividade uns com os outros, desenvolvendo uma melhora significativa na sua convivência em grupo. Os alunos apresentaram menos hostilidade para os colegas e com a professora, onde os alunos desenvolviam brincadeiras com bastante violência, causando lesões corporais e psicológicas aos seus colegas. Através do trabalho literário realizado no decorrer do período letivo, as crianças foram ficando mais atenciosas e menos agitadas. De acordo com Carmem Craidy e Gládis E. Kaercher:

[…] através da interação com outras crianças e adultos, as crianças vão desenvolvendo a capacidade afetiva, a sensibilidade e a auto-estima, o raciocínio, o pensamento e a linguagem. A articulação entre os diferentes níveis de desenvolvimento (motor, afetivo e cognitivo) não se dá de forma isolada, mas sim de forma simultânea e integrada. (2001, p.27)

Uns dos livros que mais trabalhei, quase que diariamente na sala de aula foi Dez Porquinhos. Dez? Relata a história de dez porquinhos que estão sendo levados para o matadouro. Eles são empurrados para dentro de um caminhão, todos os dez. A caminho de seu destino final, os dez porquinhos descobrem que a porta do caminhão não está trancada. Então, um por um, todos eles conseguem subir no teto do caminhão. Exceto um dos porquinhos, que caiu no sono. Essa história aborda um pouco sobre a união entre as pessoas. A criança dessa faixa etária está na formação de sua personalidade, neste momento é muito bom trabalhar a união em equipe, quando um ajuda os outros, e mesmo quando um não pode ajudar; não se deve ser egoísta.

O outro conto trabalhado foi uma fábula que ocorre em uma floresta, no seu livro Floresta Fantasia, que traz a história de três amigos que sempre foram unidos e de repente, com a chegada de um estranho, essa união se transforma, existindo entre eles brigas, intrigas, invejas, ciúmes, raivas e outros sentimentos que para crianças esses sentimentos são difíceis de serem lidado, por isso, a importância de trabalhar com literaturas que tragam um significado na vida das crianças, pois as mesmas sabem que no final esses problemas são resolvidos, iguais às histórias infantis.

E por último, o livro que mais chamava atenção das crianças foi A Flor do Lado de Lá, que traz a história de uma anta que se encanta com uma flor que se encontra do outro lado do rio, sendo este um obstáculo para ela alcançar seu objetivo. O que a anta não vê, é que atrás dela, existem outras tantas flores.

Ao contar essa história, pude observar que os pequeninos se encantavam com ela, e que lhes agradava muito, pelo motivo de ser uma história que relata a vida de um animal tão simpático e que deseja uma flor. Todas as vezes que perguntava a eles sobre qual história gostariam de ouvir, respondiam A Flor do Lado de Lá. Ficava sempre questionando, porque eles gostam tanto desta história. Para Bruno Bettelheim:

Os contos de fadas […] orientam a criança no sentido de descobrir a sua identidade e vocação e sugerem também quais as experiências necessárias para melhor desenvolver o seu caráter. (1980, p. 34). Uma experiência fundamental nesta obra é a valorização das pessoas e das coisas que estão mais próximas de nós. E assim, buscava levar as crianças a esta reflexão: a família, os amigos, as coisas.

A literatura é uma linguagem oral que está presente no cotidiano e na prática das instituições escolares de educação infantil e, à medida que todos compartilham dela, crianças e adultos comunicam entre si, expressando emoções e ideias. E o RCNEI – Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – aborda que as diversas instituições concebem a linguagem e a maneira como as crianças aprendem de modos bastante diferentes. É muito importante que a escola trabalhe com a literatura, pois segundo esse documento:

Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida. (1998, p.143)

O professor, ao ler uma história e pedir que o aluno reconte, contribui para o desenvolvimento da habilidade de compreensão, interpretação, decodificação e retenção do texto abordado. Elas podem contar histórias conhecidas com o auxílio do professor, dando um novo olhar ao texto original, criando a sua maneira uma interpretação da história. Para isso, podem apoiar-se nas ilustrações e na versão lida. Nessas condições, pertence ao professor promover situações para que as crianças entendam as relações entre o que se fala, o texto escrito e a imagem, e ao mesmo tempo da leitura as crianças escutem, observem as gravuras e, frequentemente, depois de algumas leituras, já conseguem recontar a história, utilizando algumas expressões e versos ditos na voz do professor.

Quem convive com crianças sabe o quanto elas gostam de ouvir a mesma história diariamente, pelo simples encanto de reconhecer as personagens, de saber os detalhes, de cobrar a mesma sequência e de antecipar as emoções que teve da primeira vez. Isso evidencia que as crianças que têm bastante contato com as histórias podem construir um saber sobre a linguagem escrita.

Assim, a criança desenvolve lentamente a consciência de si e do seu papel na sociedade. Nesse sentido, a literatura infantil oferece a possibilidade das crianças agirem e descobrirem novos elementos do seu ambiente. Os professores devem proporcionar o desenvolvimento cognitivo das crianças, respeitando a limitação correspondente a cada faixa etária.

O RCNEI apresenta a literatura como uma das atividades fundamentais no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. O mesmo relata que:

A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências lingüísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. (1998, p.117)

Portanto, pode-se observar que a literatura é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia da criança. O fato é que se desde cedo a criança estiver em contato com a literatura, a mesma poderá se comunicar por meios de gestos, sons, faz de contas que mais tarde essas brincadeiras desenvolverão sua imaginação. Através da literatura, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação e outras. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.

Ler e contar histórias devem ser atividades obrigatórias na rotina diária da escola. De acordo com os PCN “toda educação comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência discursiva” (p.25). Assim sendo, é na percepção das situações discursivas que o aluno poderá se constituir como cidadão e exercer seus direitos como usuário da língua.

A ANÁLISE

Os pequeninos devem ser inseridos na literatura infantil mesmo antes de aprender a ler, mas para isso educadores devem incentivar a literatura. O professor deve colocar a criança em contato com a literatura desde cedo. A criança, ao ver um adulto lendo e ouvindo essa história contada por ele, observando às rimas, o som, a musicalidade e o ritmo, nesse momento os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras e a sua imaginação é despertada. O primeiro passo para a criança criar o gosto pela literatura é ter uma rotina diária da leitura.

No RCNEI, a rotina é considerada um instrumento de dinamização da aprendizagem, facilitador das percepções infantis sobre o tempo e o espaço. Uma rotina compreensível e claramente definida é também fator de segurança, serve para orientar as ações das crianças e do professor e favorecer a previsão de situações que possam vir a acontecer.

A literatura deve ser uma atividade realizada no cotidiano do aluno. Mas nunca é demais lembrar que a criança desta faixa etária não tem concentração para ficar muito tempo fazendo a mesma coisa. Todas as vezes, ao ler uma história, é necessário a preocupação com o tempo, pois a criança é muito agitada e sua concentração varia entre dez ou quinze minutos por atividade, aos poucos, o professor poderá aumentar o tempo da história, fazendo com que a criança se interesse pelos livros mais longos. À medida que a criança cria o hábito da leitura, os pequenos começam a prestar atenção em histórias mais longas.

Nas rodinhas realizadas nas partes externas da escola, sempre foi desenvolvido um momento exclusivo para a literatura, onde era feita a leitura para toda a turma. Esse momento as crianças amam ouvir as histórias, pois as mesmas podem descobrir o enorme prazer de contá-las. E no final, distribuía vários livros de histórias na roda de leitura e pedia que as crianças escolhessem uma para contar.

Ao contar a história, as crianças ficaram muito entusiasmadas e começaram a dramatizar a mesma, à medida que contava e elas próprias determinavam a distribuição dos personagens entre elas. Logo depois da narração, sempre organizava uma “ciranda do livro”, numa pequena biblioteca na sala de aula, fazendo empréstimos de livros para as crianças levarem para casa, tendo a data de devolução sem nenhum defeito. Nesse caso, é necessário sempre planejar as atividades e a escolha do conto, para buscar naquela criança um meio de interagir com o grupo sem deixar que ela se dispense da leitura, deve-se também ter uma noção de como contar os contos; preocupação com o tom da voz e se o livro agrada a todos.

Ao final de cada história contada, trazia para as crianças provocações sobre a história abordada, deixando que elas questionassem sobre ela, pois quanto mais argumentos a criança possuir para responder aos desafios emocionais, mais segura de si ela estará, e, consequentemente, melhor será a visão que terá de si mesma e de suas emoções.

As histórias infantis bem apresentadas constituem um interessante recurso para resolver determinados conflitos emocionais na vida da criança. O professor também deve ter bastante cuidado, a fim de evitar que esse conflito não assuma uma forma prejudicial à criança. Os conflitos relatados em algumas histórias podem mexer com o emocional, sendo prejudicial às crianças, pois causam um desequilíbrio na personalidade infantil, deixando como causa complexos futuros. Por esse motivo, a história contada na sala de aula ou mesmo isolada deve ser adequada à idade.

Para contar uma história é imprescindível saber como se faz, pois através da literatura a criança descobre palavras novas, capta o ritmo, a sonoridade das frases, dos nomes, a melodia dos versos, as rimas, o jogo das palavras e enfim a harmonia da voz e o seu tom. Segundo Abramovich:

Contar história é uma arte… e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, […] Ela é o uso simples e harmônico da voz. (1991, p. 18). Ao ler uma história para criança usando essa técnica alcancei muitos objetivos como: atenção, concentração, equilíbrio emocional, despertar nos alunos o prazer pela leitura, pois a mesma criava suas próprias percepções de mundo relacionando com a fantasia.

A literatura infantil são as obras que mais encantam as crianças, mas é importante proporcionar a elas diferentes obras para que criem um repertório amplo. Os livros são um ótimo caminho para ampliar o universo cultural dos pequenos porque permitem entrar em contato com situações desconhecidas. O professor tem que se preocupar com a qualidade literária e não com o conteúdo ético. E isso não quer dizer que você pode escolher histórias imorais para aquela faixa de idade, mas uma história bem escrita tem mais chance de prender a atenção das crianças.

Assim sendo, temos que ficar bem atentos ao escolher as histórias, pois, tem-se que trazer textos com descrições ricas e que misturem mistérios, comédia e estimulem a imaginação, criando uma aventura conveniente para aquela criança.

Saber escutar é uma das principais características de grande importância no desenvolvimento da aprendizagem da criança. A leitura infantil, contos e fábulas é uma atividade que desenvolve, na criança, a capacidade de escutar. Pois quando a criança escuta a literatura infantil tenta acompanhar uma sequência lógica dos fatos da narrativa que tem em cada história narrada pelo contador, desta maneira a criança procura entender o enredo. E essa é uma atividade que atrai, dá alegria e atende também à necessidade infantil da fantasia, da sedução, do encantamento e relaxamento da criança, além de enriquecer o vocabulário de maneira agradável pelo contato com a modalidade culta da língua portuguesa. Para que possamos formar leitores críticos e reflexivos, é necessário, portanto, propiciar, nas salas de aula, a cultura viva da literatura através das histórias infantis.

Acredito que o professor, ao trabalhar com a literatura, produz na criança além de informação, instrução, o conto infantil pode dar prazer quando é bem trabalhado. Afinal, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor bastante conhecimento para saber adequar os contos de fadas às crianças, gerando um momento propício de encanto e estimulação para a sua imaginação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa, com a intenção de refletir sobre a minha prática pedagógica utilizando a literatura infantil na sala de aula, levou-me a constatar que o aluno se encanta ao ouvir o professor contar uma história a partir do objeto livro. E esse encantamento fica mais nítido quando os elementos constituintes da história escolhida guardam relação com a criança.

Enquanto docente, não tinha o hábito de ler para as crianças, achando que o livro era apenas um passa-tempo na vida dos alunos, e que não tinha utilidade a não ser para promover o acesso à leitura e preencher horas de lazer; depois desta pesquisa, pude confirmar que a literatura infantil promove outras habilidades e desenvolvimentos quando modifica o pensamento da criança e trabalha diretamente com sua emoção. É importante que o professor tome consciência da importância da literatura na vida da criança e desenvolva o hábito da literatura na sala de aula.

Ao utilizar a literatura na sala de aula, tive que primeiramente me preparar em alguns aspectos: a dicção da voz, pois o seu uso correto pode incentivar a imaginação da criança; a seleção de livros específicos (é importante para essa faixa etária que os livros tenham ilustrações para ajudar a conduzir à narrativa); ler e entender as narrativas (tive que me apropriar da história, buscar literaturas não muito longas, que trouxessem um sentido para a vida da criança). E ao final de cada narração, fazia alguns questionamentos, essenciais para coletar as impressões dos pequeninos, o que pode ser feito com perguntas simples: de que parte da história que mais lhe chamou atenção; o que mais gostou das personagens. Essas e outras perguntas farão com que a criança pense o que foi lindo para ela.

Esse momento de pensar sobre o que foi lido e expressar opinião é um comportamento típico de quem gosta de ler e que vale para toda a vida. Não devemos esquecer que cada criança tem a sua opinião, podendo ser diferente sua interpretação e o professor como educador deve saber respeitar suas respostas. Essa troca estimula os pequenos a aprender a ouvir o que o outro tem a dizer.

A leitura não deve ser feita só pelo professor, mas também pelos alunos, pois é essencial que todos manipulem exemplares para que a criança sinta o gosto pela literatura. No final de cada história é importante que a criança leve o livro para casa, fazendo com que a sua família tenha contato também com esse mundo literário.

Portanto, ao vivenciar a prática da literatura na sala de aula, acredito que somente iremos formar crianças que gostem de ler, e que tenham uma relação prazerosa com a literatura, se proporcionarmos a elas desde muito cedo um contato frequente e agradável com o objeto livro, e com o ato de ouvir histórias propriamente ditas – com seus textos e ilustrações.

É com a prática de ouvir e contar histórias que surge a nossa relação com a leitura e a literatura; uma relação que poderá se perpetuar ou não, por isso o estímulo durante a vida da criança e do adolescente deve ser frequente.

A literatura prepara a criança para assimilação das regras, valores e símbolos da sociedade adulta, pois durante a sua infância a criança não só percebe os conflitos sociais, como deles está protegida pela fantasia de um mundo irreal, em que todos os seus desejos podem ser magicamente realizados. Portanto, quanto mais acentuarmos no cotidiano da Escola Infantil estes momentos, mais estaremos contribuindo para formar crianças que gostem de ler e vejam no livro da literatura infantil uma fonte de prazer e divertimento.

A partir dessa minha prática em sala de aula, tive a capacidade de correlacionar à importância da literatura como função social que o professor tem na vida da criança. Isso implica compreender que a aprendizagem produz uma interação de troca de informação entre o sujeito e o meio que se vive, valorizando através de reflexões sobre a experiência, onde as crianças possam desenvolver o falar e escutar. Desta forma, a pesquisa contribuiu para dar um novo significado à minha prática docente habitual e ajudar ainda mais como instrumento gerador de novos saberes.

Enquanto resultado, essa pesquisa indica que a literatura “mexeu” diretamente com o emocional da criança, do professor e do grupo, principalmente quando é trabalhada estrategicamente na sala de aula. É preciso também que o docente tenha um comprometimento com a turma, levando em consideração que a sala de aula deve ser um espaço dinâmico, alegre e propício para uma boa educação.

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AUTORES: Patrícia Gonzaga e Geraldo Francisco dos Santos (orientador)

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