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A construção da linguagem e suas influências no conhecimento

Este artigo explora como a construção da linguagem influencia o conhecimento e a compreensão do mundo, destacando a importância da linguagem na educação e no desenvolvimento humano.

A construção da linguagem e suas influências no conhecimento

A Construção da Linguagem e suas Influências no Conhecimento


“Se o seu destino é pensar, então venera esse destino como se venera a um deus e sacrifica-lhe o que de melhor tiveres, o que mais amares” (Nietzsche, F.)

A Construção da Linguagem e suas Influências no Conhecimento

As crianças, quando pequenas, a partir dos seis anos, vão se dedicar nessa etapa para aprender “tudo” o que precisam para o seu futuro. Com membros adultos ativos de um grupo social e na escola, elas vão aprender a se relacionar com os adultos diferentes dos seus pais, pessoas com quem têm contato em seu dia a dia. Os seus “amiguinhos” vão ser ponto de referência para os processos de comparação social (elas vão começar a comparar os “coleguinhas” e ver que um é diferente do outro).

Um dos maiores desafios que a educação tem enfrentado é o de alfabetizar. Uma porcentagem muito elevada de crianças não tem conseguido apropriar-se do sistema de escrita ou, quando o fazem, não conseguem tornar-se letrados, ou seja, pessoas que consigam fazer um uso produtivo da leitura e da escrita. Uma série de fatores está envolvida nessa situação e, dentre eles, ganha destaque o papel desempenhado pela linguagem, tanto oral quanto escrita. Para saber mais sobre a importância da linguagem na alfabetização, veja Alfabetização e seus métodos.

Nós, educadores, necessitamos partilhar experiências que digam respeito à aquisição de linguagens e à importância destas na construção da identidade das crianças enquanto seres humanos.

Precisamos entender que a cultura, no seu sentido mais amplo, também influencia tanto a linguagem de nossos alunos quanto a nossa própria, portanto a metodologia nas nossas escolas.

Para compreendermos melhor, precisamos entender o que é linguagem.

Assim, a linguagem, a língua é estudada como parte dos processos de interação e comunicação dos seres humanos, e elemento unificador da sociedade e da cultura. A partir da discussão do significado de linguagem, língua, signos verbais e não verbais e comunidade lingüística, são focalizados os seguintes aspectos, segundo o Projeto Veredas:

  • A linguagem (linguagem como enunciação; linguagem verbal, língua e signo verbal; variação lingüística);
  • A intencionalidade da e na linguagem (os elementos envolvidos no processo da comunicação; funções da linguagem);
  • O lúdico na linguagem (o conceito de lúdico; os jogos de linguagem);
  • A intertextualidade (a intertextualidade na cultura; o diálogo entre textos verbais e não-verbais; a paráfrase e a paródia).

Portanto, como a linguagem é um produto de uma coletividade, um meio que viabiliza a construção de uma visão de mundo, podemos pensar que a aprendizagem da língua materna “padronização da palavra” possibilita o ingresso do ser, enquanto humano, na sociedade.

Falando em sociedade, a linguagem se confunde com a própria cultura, pois é um fenômeno mundial.

Segundo o Materialismo histórico, o homem só é ser social quando se comunica, pois a aprendizagem adquirida a partir dessa vivência pessoal é partilhada e influenciada pelo grupo/sociedade.

Segundo Luria (1979), colaboradora de Vygotsky, só podemos imaginar o que podemos conceituar (padronização da palavra).

“Assim como o martelo potencializa a força, a linguagem é mediadora que potencializa a capacidade humana” (Zanluchi, 2005).

Com a releitura de Fiorim (2002), por ser a linguagem uma instituição social, ela é determinada por fatores ideológicos e tem autonomia dentro da sociedade.

Ao analisarmos a linguagem com a visão filosófica (Teoria Geral do Conhecimento), veremos um confronto dos homens com os outros animais. O homem não vive apenas numa realidade mais ampla, e sim, numa nova realidade. Já não vive num universo simplesmente físico, mas num universo simbólico.

A linguagem, o mito, a arte e a religião são partes deste universo. São os vários ramos entrelaçados de um contexto simbólico. Todo o progresso humano no pensamento e na experiência aperfeiçoa e fortalece a linguagem.

Na linguagem do bom-senso, todos se entendem, apesar de falarem na pluralidade de línguas. Somos guiados pelo bom-senso e é aqui que os indivíduos mais se entendem e se comunicam. O bom-senso, ou senso comum, é a concordância prática, o acordo espontâneo ou a síntese do que entendemos, imaginamos, sentimos e desejamos.

A expressão “senso comum” não foi inventada pelas pessoas de senso comum. Com certeza, ela foi criada por pessoas que se julgam acima do senso comum, como forma de diferenciarem-se das pessoas que, segundo seu critério, são intelectualmente inferiores, portanto é um conhecimento elitista. (Ferreira, 2005)

O bom-senso nos diz como viver nesse complicado mundo cultural, nos tornando mais humanos e menos culturalistas.

Só o homem fala, a linguagem nos abre a realidade, nela ouvimos, percebemos, conhecemos, esperamos, imaginamos, calculamos, confiamos…

Somente quando a criança aprende a língua materna é que ela ingressa, verdadeiramente, no mundo humano, pois a fala esclarece a si e ao grupo que ela vive.

“A língua verbal do homem é somente o nível mais superior da fala em que a totalidade da natureza acontece”. Heinrich Rombach.

Na linguagem, somos motivados à tarefa de procurar, bem como a de escutar. A escrita ensina as nuanças sonoras da voz humana. No som e na letra, a linguagem nos remete à convivência em sociedade, que nos finaliza no exercício da língua que falamos (materna), e no uso correto de suas palavras.

A linguagem, ao ser usada, se torna língua falada e modifica uma palavra, dando-lhe outro sentido. Não querer ser entendido é fugir da ordem.

O conteúdo claro e objetivo da linguagem científica é respaldado dos enunciados de uma lei, conforme a sentença cartesiana: Penso, logo existo.

Na linguagem estão contidos sistemas de uso de todos os signos, a comunicação só acontece mediante usos ou jogos lingüísticos, segundo Wittgenstein (wikipedia 2005).

Os signos ou palavras são os termos básicos da língua que falamos. Estamos em permanente contato com a variedade de signos.

As teorias semióticas mostram como os signos se relacionam, formando conjuntos estruturais e funcionais.

A aprendizagem da linguagem se faz usando as palavras: compondo juízos. Nessa aprendizagem, escolhemos o sentido das palavras. Na escolha do sentido, percebemos que a linguagem e a aprendizagem da língua, a prática de conversar, ler e escrever, mostram a consciência da liberdade, ou seja, o conhecimento metafísico.

O livro ensina por meio das palavras, muitas vezes desconhecidas da linguagem informal. Essas linguagens, formal e informal, de uma mesma língua materna mostram que o homem, enquanto ser, quer ser livre em sua opinião, quer questionar sua convivência. Encontramos exemplos disso principalmente nas nossas músicas.

Na pedagogia contemporânea, temos dois pesquisadores, Piaget e Vygotsky, que se destacaram com a introdução do construtivismo e socioconstrutivismo, respectivamente, na metodologia pedagógica de ensinar, onde sustentam que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio, indo de encontro à teoria empirista (para a qual a evolução da inteligência é produto apenas da ação do meio sobre o indivíduo) e da concepção racionalista (que parte do princípio de que já nascemos com a inteligência pré-formada).

Vygotsky vê a linguagem como fundamental para o desenvolvimento da consciência de si e social do indivíduo, a qual se processa através da linguagem, do pensamento e das ações que o homem realiza ao se relacionar com outro homem, portanto a linguagem organiza o pensamento.

Para se compreender as relações existentes entre pensamento e linguagem, eleita por Vygotsky, é o significado da palavra que é, ao mesmo tempo, um fenômeno do pensamento junto à palavra, assim como o fenômeno da fala, na medida em que a fala não é apenas uma tradução do pensamento, mas completa-o.

Entretanto, a relação estabelecida em ambos os processos não é constante ao longo do desenvolvimento, não sendo paralela nem tampouco uniforme. A palavra se coloca como signo mediador na formação dos conceitos e, mais tarde, converte-se em seu símbolo.

A dicotomia linguagem e pensamento, em sua origem, possui raiz diferenciada, assim como diferente linha de evolução.

Com relação Cultura X Linguagem, Vygotsky diz que, por meio da segunda, as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto sociedades e culturas diferentes produzem culturas diferenciadas.

Para Vygotsky, a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental. (Zacarias, 2005)

Portanto, para ele, é na escola que se desencadeia o processo de ensino-aprendizagem e o professor tem o papel de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e construção de conceitos; e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal.

A zona de Desenvolvimento Proximal abarca tudo aquilo que a criança não faz sozinha, mas consegue fazer imitando o adulto ou outra criança. São habilidades que poderão se resolver com ajuda (potencial de aprendizagem) (Zaluchi, 2005).

O desenvolvimento humano, segundo Piaget, é dotado de uma teoria de etapas que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.

Para ele, a linguagem é uma construção da inteligência sensório-motora, preparada passo a passo, até se concretizar no período pré-operatório, mais ou menos aos dois anos de idade.

O ser humano interage com o meio, não sendo “uma folha em branco” e os princípios básicos do desenvolvimento cognitivo são os mesmos do desenvolvimento biológico. (Zaluchi, 2005)

O conhecimento, portanto, procede da ação e, desta forma, toda ação que se generaliza por aplicação a novos objetos gera um esquema, uma espécie de conceito prático.

Considera, ainda, que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como: maturação (crescimento biológico dos órgãos), experiência ativa (funcionamento dos esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos através da acomodação e/ou assimilação), interação social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração (processo de auto-regulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido).

Um dos pontos divergentes entre Piaget e Vygotsky parece estar basicamente centrado na concepção de desenvolvimento. A teoria piagetiana considera-o em sua forma retrospectiva, ou seja, o nível mental determina o que o sujeito pode fazer. A teoria vygotskyana considera-o na dimensão prospectiva, ou seja, enfatiza que o processo em formação pode ser concluído através da ajuda oferecida ao sujeito na realização de uma tarefa.

Em Piaget, deve-se levar em conta o desenvolvimento como um limite para escolha do tipo de conteúdo de ensino para impulsionar progressivamente o aluno, em Vygotsky temos que estabelecer uma sequência que permita o progresso de forma adequada, impulsionando ao longo de novas aquisições, sem esperar a maturação “mecânica”, pois a aprendizagem vai à frente do desenvolvimento e a escola tem um papel essencial na construção desse ser.

Em conclusão, não basta alfabetizar o pensamento e ensiná-lo a ler. É preciso exercitá-lo no ofício de viver. Na prática de uma profissão, temos que ler e entender o que estamos lendo, pois segundo Stephen Kanitz:

(…) Se você pretende ser útil na vida, aprenda a fazer boas perguntas mais do que sair arrogantemente ditando respostas…


Bibliografia

FERREIRA, João Vicente Hadich (Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea – UNOPAR – aulas de 29/04/05 e 06 e 30 /05/05

FIORIN, José Luiz, Linguagem e Ideologia, 7ª edição, editora Àtica, 2202, 87p

Kanitz, Stephen. Ponto de Vista. Revista Veja, São Paulo, edição 1898. 30 de março de 2005

LURIA (1979) vídeo aula de 01/04/2005

PIAGET, J. – A linguagem e o pensamento da criança. SP, Martins Fontes, 1986.

Projeto Veredas, disponível em acesso em 13/05/05

ZACARIAS, Vera Lúcia Camara F. Mestre em educação. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/multirio/>, acesso em 14 de maio de 2005.

ZANLUCHI, Fernando (Mestre em Educação – UNOPAR – aulas de 01, 13 e 20/04/05)

WITTGENSTEIN, Ludwig, disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Wittgenstein, acesso em 15/05/05

Autor: Katia Palma Nascimento Cardoso


Pedagogia ao Pé da Letra
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