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Atualizado em 10/08/2024

A importância dos jogos de regras no desenvolvimento social da criança

Descubra como os jogos de regras podem ajudar no desenvolvimento social das crianças. Aprenda as melhores práticas para estimular o aprendizado, a cooperação e o amadurecimento emocional. Venha descobrir como desenvolver o melhor na criança!

Jogos de Regras no Desenvolvimento Social da Criança

O jogo é a forma através da qual a criança entra em contato com o mundo, com a sociedade e consigo mesma. Através do jogo, a criança se apresenta como realmente é e se sente diante e dentro do meio em que se encontra. Dentro dos vários tipos de jogos existentes, temos os jogos de regras que contribuem para o desenvolvimento social da criança, fazendo com que ela tenha uma melhor adaptação às mudanças que ocorrem durante sua vida, pois, neste tipo de jogo, as regras se transformam a todo momento, dependendo da necessidade e criatividade de seus jogadores.

Segundo Piaget (citado por Negrini, 1994), os jogos podem ser classificados em jogos de exercícios (sendo motores), simbólicos e de regras. Nos jogos de exercício, que compreendem a fase do nascimento até o surgimento da linguagem, o objetivo é o prazer do funcionamento, o simples divertimento; os jogos simbólicos, que vão do aparecimento da linguagem até os 6-7 anos, são aqueles em que surge o símbolo, que possibilita à criança “criar” sua realidade utilizando para isso a imaginação. Aqui, a criança procura se autoafirmar. E os jogos de regras, que iniciam aos 6-7 anos, são aqueles que surgem elementos que vão reger comportamento e as atitudes nos jogos, sendo que as regras têm origem nas relações sociais e individuais que a criança recebe ou já recebeu.

A regra surge para a criança como uma forma de afirmação do seu eu. A submissão dela à regra social é um dos meios que o eu utiliza para se realizar, sendo assim a regra se mostra como instrumento da personalidade, é a ordem colocada em nossos atos (CHATEAU, 1987). As regras do jogo podem ser transmitidas, as que passam de geração em geração, e as espontâneas, criadas na hora do jogo, sendo por isso mais fáceis de serem esquecidas. Já nas regras transmitidas, a criança copia regras que dirigem seu comportamento, como por exemplo brincar de escolinha, de motorista, de mãe, de vendedora. O modelo funciona como a regra do jogo. Nas regras espontâneas, a criança, segundo Chateau (1987), manifesta sua vontade pela permanência de seu ato, como por exemplo andar sobre a calçada. Ela não se deixa vencer pelas dificuldades. Ela afirma o seu ato, proclama o valor de sua personalidade. Enquanto brinca, se afirma através da obediência à lei que ela mesma se submeteu. (p.64)

Vygotsky (apud Friedman, 1996) afirma que a criança, ao brincar, torna real o que imagina e que não há atividade lúdica sem regras; a diferença é que nos jogos as regras não precisam e não são expostas explicitamente. Este autor acredita que o respeito da criança às regras é uma fonte de prazer e permite à criança fazer parte da realidade.

Liontiev (apud Friedman, 1996) menciona um fato interessante: a ideia de que a criança, por meio dos jogos de regras, começa a se autoavaliar segundo suas próprias ações, comparando-as com as de outras crianças.

Os jogos de regras possibilitam à criança o desenvolvimento do pensamento abstrato, porque são introduzidos no jogo novos significados, simbólicos e ações. Nessa fase, a criança adquire autonomia, pois ela cria e recria as regras do seu jogo; ela toma decisões que possibilitam o desenvolvimento cognitivo diante de diversas situações. A regra coletiva começa a ser introduzida e interiorizada pela criança. Ela aprende que existem regras a serem seguidas dentro da sociedade e que, se não forem cumpridas, constituem falta e quem a desrespeitou terá que arcar com as consequências de sua escolha, sendo punido por tal ato.

A criança, através dos jogos de regras, já tem uma certa noção da vida em sociedade, o que contribui para o seu desenvolvimento social e para a formação de um adulto que sabe que tem regras a seguir e que se adapta mais facilmente a elas. Quando não se sente à vontade ou satisfeita com as regras, tanto do jogo como da vida em sociedade ou até mesmo individual, busca uma transformação para sentir prazer em suas ações. É o que ocorre no jogo, quando em grupo, por exemplo, as crianças brincam e a todo momento mudam as regras do jogo e o próprio jogo. Negrini (1994) afirma que:

(…) a criança joga de muitas coisas em um determinado espaço de tempo. Pode-se dizer que a criança, em uma situação de jogo inferior a trinta minutos, chega a representar, pelo menos, três papéis diferentes (…). À medida que muda-se o jogo, muda a representação, e com ela as emoções em um processo muito dinâmico. (p.87)

Segundo Chateau (1987), no mundo adulto não há lugar para o jogo, pois a sociedade impõe regras rígidas e imutáveis, o que torna a criança e o adulto, em seus passivos e dependentes de regras pré-estabelecidas pelo meio exterior. Sendo contra esta tirania, estes dogmas fixados, a criança, quando se tornar adolescente, irá lutar e buscar transformá-la.

Através dos jogos de regras, a criança aprende a respeitar as pessoas e o meio em que vive. Ela tem maior interação, consigo mesma, com os outros e sua afetividade, que consiste em amor, raiva, ódio, alegria, insegurança e tristeza, irá influenciar em suas escolhas. A motivação também é uma área afetiva que pode fazer com que a criança se esforce ou não na realização de alguma tarefa, sendo seu desenvolvimento afetivo prejudicado caso esteja com algum bloqueio nessa área. Enquanto educadores, devemos detectar o problema e as aflições que impedem o bom desenvolvimento do aluno, utilizando atividades lúdicas para reverter esta situação.

As regras externas, quando associadas às internas, levam a uma supressão de benefícios em proveito de uma relação recíproca de confiança e respeito com o adulto e com outras crianças, o que leva à autonomia, que é alcançada graças à cooperação (KAMIL apud FRIEDMAN, 1996). O desenvolvimento moral nas crianças a partir dos jogos de regras pode ser alcançado através do trabalho em grupo, destacando-se aqui os jogos cooperativos, que proporcionam à criança a percepção de que, em um grupo, em uma sociedade, todos dependem uns dos outros, que há a necessidade de se montar estratégias para se chegar a um objetivo, porém todos devem se ajudar mutuamente, já que o grupo é quem decide as regras do jogo.

Os jogos de regras possuem características que vão acompanhar o indivíduo até sua fase adulta, onde vivenciará mais explicitamente a concepção de regras. Com esses jogos, a criança desenvolve aspectos cognitivos; tem a atenção, o senso de responsabilidade e criticidade despertados; adquire noções de sociedade e regras, torna-se mais interagida socialmente, terá suas escolhas afetadas por sentimentos como raiva, ódio e alegria, além de relacionar as regras internas às externas e desenvolver aspectos morais como autonomia e cooperação. É de extrema importância que o educador integre a criança na sociedade de forma lúdica, dinâmica e completa, promovendo o desenvolvimento dessa criança e para uma futura sociedade que prime pela democracia, justiça e cooperação.

Para mais informações sobre a importância dos jogos na educação, confira a importância dos jogos para o desenvolvimento psicológico da criança.

REFERÊNCIAS

CHATEAU, Jean: O jogo e a criança – São Paulo – Summus, 1987.

FRIEDMAN, Adriana: Brincar, crescer e aprender: O resgate do jogo infantil – São Paulo, Moderna, 1996.

NEGRINI, Airton – Aprendizagem e desenvolvimento infantil V-1 – Porto Alegre: Prodil, 1994.

NEGRINI, Airton – Aprendizagem e desenvolvimento infantil V-2 – Porto Alegre: Prodil, 1994.

Autora: Katria Araujo


Este texto foi publicado na categoria Maternidade e Desenvolvimento Infantil.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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