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Atualizado em 10/08/2024

A Indisciplina na Escola: o que fazer?

Descubra as melhores soluções para lidar com a indisciplina na escola! Aprenda como aplicar estratégias eficazes para garantir que seus alunos façam o melhor trabalho possível.

Este artigo tem como objetivo a importância da construção da disciplina na sala de aula e na escola como forma de busca por uma sociedade de cidadãos autônomos.

Trabalho com educação religiosa, dentro de uma instituição religiosa, onde a clientela tem um perfil de comportamento pré-estabelecido, isto é, são raras as ocorrências de atitude indisciplinar a ponto de perturbar o trabalho pedagógico.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica fundamentada em estudos que descrevem os instrumentos necessários para a construção da disciplina na sala de aula e na escola.

No capítulo 1, coloco em discussão a disciplina e a importância de se construir a disciplina transformadora que proporcionará ao educando autonomia, liberdade e senso crítico.

No capítulo 2, problematizo a seguinte questão: o que os profissionais da educação desejam em termos de disciplina? Apresento depoimentos colhidos junto aos professores, coordenadores e diretora da escola já mencionada, durante minha experiência de estágio.

No capítulo 3, proponho uma reflexão e um levantamento das possíveis causas que geram indisciplina na sala de aula e na escola, apoiado em alguns teóricos que se destacaram na questão.

No capítulo 4, apresentarei a questão do ponto de vista dos trabalhos da equipe pedagógica, entendendo a necessidade de uma postura confiante diante dos alunos para a construção de uma disciplina baseada no diálogo entre educador e educando, visando a participação e o compromisso.

Tentando definir disciplina

Comumente se entende por disciplina a palavra definida pelos dicionários, ou seja, regime, ordem imposta, ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar). Relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor. Observância de preceitos ou normas sob um regulamento. Disciplinar é o ato de sujeitar ou submeter à disciplina: disciplinar uma tropa. Fazer obedecer ou ceder, acomodar, sujeitar, corrigir.

Para a maioria dos educadores, disciplina é entendida como a descrita acima, ou seja, é entendida como adequação do comportamento do aluno àquilo que o professor deseja. Considera-se ainda que disciplina é o comportamento do aluno previamente esperado pelo professor.

A questão que poderia ser colocada é a seguinte: que comportamento deseja o professor?

Freqüentemente, o desejo do professor é que o aluno fique quieto, ouça as explicações que tem para dar, faça corretamente os exercícios e pronto. Se as atividades acontecerem, o professor vai sentir-se realizado. Porém, entendo que o caminho não é este, uma vez que, desta forma, estaremos definindo uma disciplina centrada fora do sujeito e não a partir do sujeito.

Refletindo sobre a temática no contexto escolar, pensamos que o trabalho na escola não pode realmente efetivar-se sem esforços, dedicação e, principalmente, disciplina.

Considera-se que a disciplina na escola não poderia ser entendida como se tivesse uma finalidade educativa em si mesma, não pode ser puramente exterior, baseado num conjunto de regras e condutas, normas hierárquicas e rígidas.

A necessidade da disciplina aparece não por meio de autoritarismo ou arbitrariedade dos responsáveis pela condição do trabalho escolar, mas como condição indispensável para a condução de uma prática pedagógica comprometida com a construção do conhecimento. (Revista Escola, março/1999).

O professor possui autoridade e não deve usá-la de forma abusiva, mas por ela, apresentar suas ideias, conhecimentos e experiências, sem desrespeitar o conhecimento do grupo, sempre encorajando-os à participação, encarando-os como sujeitos conscientes e responsáveis pelo seu próprio processo de aprendizagem.

O educador deve procurar organizar o ensino a partir de desafios que solicitam a ação dos alunos e as trocas interindividuais com vista à reflexão, à discussão e à busca das soluções conjuntas. O professor favorece o desenvolvimento da iniciativa e da autonomia do educando na medida em que problematiza, orienta e questiona as situações-problema, estimulando-o para a participação do processo de decisão. Ao mesmo tempo, ele favorece as vivências de atitudes de cooperação entre alunos, promovendo o desenvolvimento do senso de justiça em substituição à norma de obediência. Promove, portanto, o fortalecimento da vivência de relações democráticas asseguradas pela participação responsável e comprometida do grupo e pelo desenvolvimento do respeito mútuo entre os alunos e entre o educador e o grupo que coordena, como podemos constatar no diálogo de (FREIRE e SHOR), “o educador deve estabelecer uma relação dialógica com seu aluno e abrir espaços livres para que participe, pois é impossível ensinar participação sem participação”.

Entende-se, portanto, que para definir disciplina na escola, é necessário considerar uma série de questões sociais atuais e rever o comportamento de muitos profissionais da educação.

Me atrevo até a tentar dar uma definição à disciplina, como o acontecimento da aprendizagem em sua plenitude, dentro de uma dinâmica organizada e orientada pelo professor, cujo desenvolvimento não depende de um padrão pré-estabelecido. Ao contrário da indisciplina, que é percebida como um estado gerado pela ociosidade dos alunos e seu desencanto na escola.

Problematizando o assunto

O que se deseja em termos de disciplina? Buscamos construir uma nova disciplina que seja consciente, interativa e marcada pela participação, respeito, responsabilidade, construção do conhecimento e formação do caráter e da cidadania.

Será que ainda existem educadores que acreditam que salas de aula silenciosas, com carteiras alinhadas, são sinônimo de aprendizagem?

No estágio, questionei os diversos profissionais da escola sobre o assunto, obtendo as seguintes respostas:

  • Professora de Educação Física: “os alunos deveriam aprender a separar o tempo, isto é, tem hora para tudo”.
  • Merendeira: “quando a merenda é do gosto da maioria, o comportamento no recreio é melhor (calmo), espero que possamos definir um cardápio mais aceitável”.
  • Inspetora de aluno: “eu gostaria de ser no mínimo respeitada, o que não acontece”.
  • Diretora: “realmente o padrão de comportamento dos alunos vem mudando a cada ano, não considero que seja um aumento da indisciplina, mas uma forma diferente de se expressarem, cabe a nós interpretar esta nova linguagem”.

Ficou claro que a disciplina interessa a todos, mas só teremos disciplina quando os educadores assumirem a responsabilidade pela disciplina, como articuladores da proposta, levando o grupo a assumi-la progressivamente.

Portanto, necessita-se de uma disciplina significando ordem, espaço e limites, sem que os educadores deixem de compreender e considerar o educando como um ser em desenvolvimento, com desejos de integração em seu meio e época, com uma nova contextualização.

Normalmente, o que se vê são alunos inconformados, revoltados, por ter a repressão de seus movimentos, e a disciplina sendo elevada às alturas, além do seu significado real.

É fácil compreender que a criança oriunda de uma classe desfavorecida pode ser percebida pela escola como agressiva, grosseira, rebelde e, de modo geral, “sem modos”, tendo como consequência desta percepção uma atitude repressiva por parte da escola, uma vez que a escola procura enquadrar o comportamento do aluno conforme seu entendimento padrão.

Logo, o problema da disciplina, com o objetivo educacional tomado em sentido social ou individual, envolve uma melhor e mais criteriosa definição do conceito e sua tradução em metas mais específicas. Somente assim será possível a definição de ações pedagógicas mais adequadas que representem ou guardem coerência com o mundo real da criança, com o seu ambiente imediato e com o momento que a criança vive.

É importantíssimo apresentarmos ideias que não envolvam somente noções disciplinares significando tão somente repressão. E sim, apresentar formas alternativas do comportamento, relativizar o valor da conduta observada sem agredir a criança enquanto ser humano, tornando-se um trabalho pedagógico desafiador e instigante.

Possíveis causas da indisciplina na sala de aula e na escola

Por que as crianças não obedecem? Esta pergunta intriga vários profissionais da educação.

Por que atualmente as crianças não obedecem nem seus pais, tampouco os professores?

Durante o estágio, o que mais se ouvia por parte dos professores sobre o comportamento dos alunos em sala de aula era “Os alunos hoje não têm limites”. Passei a observar todo o cotidiano escolar, colhi relatos dos funcionários e até mesmo da diretora, e estes também destacaram a questão disciplinar como uma das dificuldades fundamentais para o bom desenvolvimento do trabalho escolar. Segundo os professores, o ensino teria como um de seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, como: bagunça, tumulto, falta de limites, mau comportamento, desrespeito.

Realmente, conquistar a disciplina em sala de aula e na escola tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino atual, tanto nas instituições de âmbito público como privado, e merece uma séria reflexão. E os questionamentos continuam.

  • Mas, o que fazer diante de uma classe de baderneiros?
  • Como colocar ordem no caos?
  • De quem é a culpa?

Muitas pessoas atribuem a culpa pelo comportamento indisciplinado do aluno à educação recebida na família, assim como à dissolução do modelo nuclear familiar. Segundo o psicólogo Esron Ribeiro, do corpo docente do Seminário Teológico de Sumaré, muitas crianças têm uma criação familiar totalmente autoritária, estão acostumadas a serem surradas e a receberem severos castigos, por esta razão não conseguem viver em ambiente democrático.

Para Esron, muitos pais acabam dando liberdade excessiva a seus filhos, criando filhos indisciplinados, cheios de dengos, que não conseguem conviver com obrigações rotineiras e sentem-se frustrados quando não são o centro das atenções. A maior parte dos alunos vem de lares desestruturados, são filhos de pais separados, por isso apresentam um comportamento tão agressivo.

Após conversa com um acadêmico que está pesquisando sobre o relacionamento da escola e a família, acrescento que o problema da indisciplina também está associado à desvalorização da escola por parte dos pais, que dificilmente aparecem na escola, muito menos nas reuniões, além de não acompanhar as lições dos filhos e tomar conhecimento de seus comportamentos na escola.

“Há pais que, por manter seus filhos na escola, acham que esta é responsável pela educação dos mesmos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas dos alunos, os pais jogam a responsabilidade sobre a escola.” (TIBA, 1996:169)

Objetivamente, a família não está cumprindo sua tarefa de fazer iniciação civilizatória, estabelecer limites e desenvolver hábitos básicos.

Segundo a diretora da Escola Estadual de 1º e 2º Grau Prof. Luiz Campos Dallorto Sobrinho, Sra. Marli, sede do estágio, para cada sala de aula, quando das convocações de reunião de pais e mestres, o comparecimento médio dos pais é de 60%.

(Groppa 1996), inspirado nas pesquisas de Moreno e Cubero, aponta três estilos de práticas educacionais paternas, vejamos:

Pais autoritários: Pouco afetuosos e comunicativos, bastante rígidos, controladores e exigentes com padrões rigorosos de conduta. Os filhos devem obedecer às normas preestabelecidas mesmo que não as compreendam. Diante da transgressão, os pais ameaçam e infligem castigos físicos. Seus filhos costumam ser obedientes, organizados, mas também tímidos, com pouca autonomia e baixa autoestima.

Pais permissivos: Valorizam o diálogo, o afeto, interessam-se muito pela opinião da criança. Mas, como têm grande dificuldade em exercer qualquer controle sobre ela, cedem a todos os seus caprichos. Não estabelecem limites e não costumam exigir responsabilidade dos filhos. Por isso, embora alegres e dispostas, essas crianças são, em geral, impulsivas e imaturas e não conseguem assumir obrigações.

Pais democráticos: São muito equilibrados. Demonstram alto nível de comunicação e afeto, estimulam os filhos a dar suas opiniões, são flexíveis, mas conseguem fixar limites e regras claras, bem explicativas; seus filhos têm maior autocontrole, autoestima, iniciativa, sociabilidade e autonomia.

Outras pessoas atribuem a culpa da indisciplina dos alunos à escola, ao professor.

Realmente, na prática, o que vemos é uma escola que não proporciona alegria, satisfação e tampouco aprendizagem consistente, estando, desta maneira, muito distante de suas aspirações e necessidades dos alunos.

O professor tem um papel essencial como fonte emissora de informação que os alunos vão transformar em conhecimento. Alguns estudantes adoram ou detestam determinadas matérias, justamente por causa do professor. (TIBA 1996:125)

A maioria dos alunos com quem tive contato durante o estágio comentam que os professores, quase que em geral, são autoritários e não permitem uma participação mais ativa do aluno em sala de aula, não preparam aulas, chegam atrasados, lidam com aluno padrão ideal e não com o aluno passivo à indisciplina. Transmitem conhecimentos abstratos na medida em que não relacionam os conhecimentos transmitidos à prática dos homens, não dominam competentemente os conteúdos, ministram aulas monótonas, repetitivas e aborrecidas. Uma escola chata, sem atrativos. Os alunos não aprendem, repetem, evadem e são submetidos a esquemas precários de recuperação e, com isso, se sentem incapazes para as atividades intelectuais, além de não sentirem nenhuma felicidade de sentar nos bancos escolares.

Diante destas alegações, diligenciei junto à coordenadora para saber se eram do seu conhecimento estes fatos e o que se poderia fazer a respeito. Ela respondeu que há um projeto na Regional de Ensino que visa programas de reencantamento da profissão docente. Somente comentou, mas não me mostrou nenhum documento.

A maior arma de persuasão que o professor tem é sua habilidade de tornar o conteúdo interessante, a ponto de converter a distração, que normalmente se torna um ato de indisciplina, em atenção e aprendizagem.

Haverá interesse do aluno pelo conteúdo do programa escolar sempre que houver uma correlação entre este e o dia a dia do estudante. O professor sábio estabelece tal correlação. (TIBA, 1996:125)

Vários estudiosos apontam como grande causa para a indisciplina o fato de a escola ter parado no tempo. A escola ainda não incorporou no seu cotidiano a tecnologia à que os educandos da classe média têm acesso. Os colégios atuais ainda se baseiam no modelo giz e quadro-negro.

Os alunos querem aulas dinâmicas e criativas, com o uso de desenhos, de novidades.

Muitos alunos revelam que “matam aula” porque acham que o assunto não interessa ou o professor é ruim.

É evidente que os computadores e outros recursos não bastam para resolver o problema de indisciplina, mas o uso intensivo desses equipamentos que fazem a cabeça do adolescente e das crianças talvez ajudasse a melhorar o estado geral das coisas. Há, de fato, um descompasso entre o ritmo perturbador de videoclipe que o jovem vive fora da escola e o clima de sonolência que jovens e crianças experimentam dentro da escola, contribuindo para a dificuldade de concentração.

Conforme a diretora, Sra. Marli, os especialistas de ensino (orientadores educacionais, supervisores escolares) deveriam ser mais atuantes na escola, mas não estão bem preparados para atuar na escola pública, não sabem o que fazer na escola. Brigam entre si e com os professores. Esses especialistas pouco têm trazido de positivo para a melhoria do ensino e da aprendizagem.

Após esta afirmação da diretora, então o que dizer dos diretores que frequentemente eram escolhidos por motivos clientelistas, transformando-se dessa forma em verdadeiros cabos eleitorais de políticos medíocres?

De outro lado, esses burocratas da educação passam dia após dia assinando papéis, pouco sabem de educação, do que se passa na escola e na sala de aula. Ao invés de serem uma direção consciente do trabalho pedagógico coletivo da escola, transformam-se em administradores incompetentes da educação. Mas não é o caso da Sra. Marli, que mostra ser uma competente profissional.

A situação dos professores é preocupante, salários indignos e formação profissional precária, fatores incompatíveis com qualquer trabalho sério que se pretenda. O aluno, no entanto, tem sido a maior vítima dessa situação toda. A luta pela melhoria salarial deve corresponder à luta por procedimentos pedagógicos compatíveis com a aprendizagem do aluno. Entre outras melhorias, deveriam lutar para encontrar métodos mais adequados de alfabetização, material didático apropriado, trabalhar de maneira mais integrada, enfim, deve-se lutar diariamente para eliminar a indisciplina na escola.

O aluno que é deixado de lado, ocupado com tarefas que não lhe interessam, pode tender para duas atitudes extremas: ou se torna apático e se sente diminuído e alheio aos trabalhos escolares, ou se torna revoltado, chamando atenção de todos, agredindo para ser ouvido. No primeiro caso, é ignorado, pois não incomoda ninguém. No segundo, é punido e repudiado por todos. Em ambos os casos, o resultado é um só: a exclusão da escola, engrossando as estatísticas da evasão escolar. (D’ANTOLA, 1989:86)

A escola, mesmo dentro dos parâmetros da sociedade, estará contribuindo para a transformação social e ajudando para a melhoria da qualidade de ensino e para a socialização do saber. Na medida em que a escola cumpra o seu papel, a disciplina deixará de ser a principal questão.

A sociedade é outro fator que influencia na indisciplina dos alunos. Percebe-se na sociedade brasileira mudanças profundas, tais como: aceleração do processo da industrialização, a expansão das telecomunicações, crise ética (levar vantagem em tudo, corrupção, falta de projeto nacional), desemprego, subemprego, gastos elevadíssimos, falta de qualidade da propaganda nos meios de comunicações.

A concentração de renda no país e a ânsia de consumo são dois fatos que influenciam a dinâmica familiar, tendo como resultados:

  • O homem trabalha mais;
  • A mulher vai para o mercado de trabalho;
  • A preocupação maior é o desemprego.

No entanto, os responsáveis pelas famílias de classe pobre acabam tendo que trabalhar para garantir a sobrevivência. Os de famílias de classe média alta, de um modo geral, trabalham para o consumo.

O caminho deveria partir de um trabalho em conjunto entre escola, família e sociedade para sanar os problemas disciplinares.

É indispensável uma participação coletiva dos elementos que fazem parte da escola, na construção de regras gerais que a escola tenha e deva ter para um bom desempenho dos membros pertencentes à escola, inclusive os pais e a sociedade em geral.

Sem dúvidas, é um processo longo e difícil, mas se essas regras forem bem elaboradas, discutidas e colocadas em prática, realmente colheremos bons resultados.

A postura dos diretores e professores diante dos alunos em relação à disciplina

A disciplina na sala de aula e na escola continua a ser uma das preocupações centrais dos dirigentes e professores. Tem sido considerada essencialmente em termos de indisciplina dos alunos, a consequente perturbação na sala de aula. Entretanto, além de preocupações dos educadores, a disciplina também é o foco de atenção dos alunos quando se refere à postura da escola diante dos alunos.

No cotidiano escolar, pode-se perceber um forte questionamento em relação à disciplina:

  • Será que com mais rigidez se conseguirá uma disciplina melhor?
  • Como disciplinar sem causar conflito?
  • Como devemos agir com alunos indisciplinados?

A Revista Escola de Minas (Abril/2000) traz um artigo muito interessante, retratando a postura dos educadores nos dias atuais:

a) Liberais – convictos (não vou reprimir) ou demissionários (vou dar aulas para quem quiser assistir).

  • Autoritários – não importa como, mas impõem ordem, mesmo em prejuízo à aprendizagem.
  • Comprometidos – Como enfrentar o problema? Como superá-lo?
  • Bem resolvidos – Intuitivos (Não sei o que faço, só sei que dá certo) ou conscientes (Meu trabalho é fundamentado no seguinte).
  • Acusadores – (Os pais são responsáveis. É o sistema e a direção que nada faz.).
  • Desesperados – (Não sei mais o que fazer) Em vias de desistir (assim não vai dar mais).

Nas salas de aula, se constata que os alunos observam a insegurança do professor nas diferentes posturas que o mesmo assume perante eles.

O professor precisa educar sem culpa. O aluno não se forma sozinho. Precisa interagir com o outro para vir a ser pessoa. Construir a disciplina em sala de aula e na escola implica em dialogar com todas as grandes questões da humanidade: o amor, a fraternidade, a compreensão e outras.

O professor deverá ter transparência no seu papel, ser firme quanto à postura em relação à disciplina. O professor precisa conquistar a confiança e o respeito da turma para se tornar o seu legítimo organizador.

Na visão libertadora da educação, Freire (1981) equaciona muito bem esta contradição, quando afirma: “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. (FREIRE, 1981:79)

Necessita-se chegar a um novo senso comum pedagógico; não se aceita mais a educação tradicional de cunho autoritarista, mas também não se deseja a educação moderna de cunho espontaneísta. Diante desta clareza, a questão que está colocada para muitos é como chegar ao meio-termo.

A partir da Direção da instituição escolar, tem que haver convicção da proposta que estará sendo levada para os alunos; considerar que tal proposta é muito importante e significativa para os educandos, sentir que tem algo relevante a trabalhar com aquela turma e a proposta deve estar bem preparada para atender às verdadeiras necessidades dos alunos. Se um dos professores demonstrar-se não tão convicto, este deve ser orientado a procurar estudar, resgatar o sentido daquilo que deve construir nos alunos.

Quando um professor usa sempre as mesmas fichas e exemplos há décadas, sem ter o cuidado de atualizar-se, é sinal de que não está levando em consideração os alunos, que estão “plugados” com as novidades, que vivem num ritmo acelerado, nestes tempos de Internet movido a adrenalina. (TIBA, 1996:129)

Ter respeito para com o aluno é uma das necessidades de postura de um educador consciente.

Portanto, o professor não deveria se preocupar demais com as exigências do aluno em relação à disciplina, é normal que alguns alunos não gostem de determinadas disciplinas por terem dificuldades nelas. Para que o professor não se torne mais um fator de indisciplina, deve entender que o silêncio e a ordem das carteiras não são sinônimo de aprendizagem.

Muitas vezes, as crianças não conseguem verbalizar o que estão sentindo, mas sinalizam com seu corpo, com seu comportamento. O fato de o aluno querer ir constantemente ao banheiro, sair para falar com alguém, deveria significar algo para o professor. O educador deveria ajudar a construir a disciplina na sala de aula e na escola, e não alienar alunos que demonstram desinteresse em sua aula.

Os dirigentes escolares devem motivar seus professores a uma constante reavaliação da proposta de trabalho, visando o vínculo à realidade e às necessidades dos alunos. Devem também verificar a metodologia de trabalho dos professores, pois ainda há aquela que é essencialmente expositiva, em que a única disciplina admissível é o silêncio dos alunos.

O gestor deve orientar seus professores quanto à atualização e conhecimento da matéria que vai trabalhar, sem esquecer que conheçam a realidade dos seus alunos.

Bem como propor recomendações tais como:

O cuidado para não produzir o desinteresse pela matéria, pelo fato do conteúdo estar muito além ou muito abaixo do nível do aluno, sob pena de perturbar o comportamento de alguns alunos.

O cuidado de não usar a nota para conter a indisciplina, é preciso que fique claro que os problemas de disciplina devem ser tratados como problema de disciplina, não tentando sufocá-los através da ameaça da nota. (Arlette D’Antola: 1989).

O cuidado de ter a sala de aula sob um domínio consciente e construtivo, evitando que algum aluno de sua turma seja vítima de vitupérios na sala de aula, ao sofrer gozações quando faz uma pergunta. Essas gozações provocam uma distorção no relacionamento com os outros e com a cultura, de forma que apenas certos alunos terão direito à dúvida. O professor deve cultivar este espírito de participação dos alunos sem nenhum vestígio de traumas, para uma construção de aprendizagem aos mandos da liberdade que pregou Paulo Freire. Neste tocante, escreveu Içami Tiba:

O professor deve convidar o aluno a participar da elaboração do prato, o que aumenta seu interesse e torna a matéria mais apetitosa. A grande maioria dos alunos não se contenta em ser apenas um comensal. (TIBA, 1996:125)

Inclusive, quando um aluno expressar dúvida, insegurança, o professor deve fazer com que se coloque para a classe, levando para o coletivo, pois a sala de aula não é apenas para apropriação individual do conhecimento.

Enfim, O DIRIGENTE EM PRIMEIRO LUGAR E OS DEMAIS ENVOLVIDOS NO PROCESSO EDUCACIONAL devem despir-se de eventuais preconceitos em relação à classe ou a determinado aluno. Rotular significa não acreditar na possibilidade de mudança. No fundo, é não acreditar no próprio trabalho e no determinado aluno.

Fica claro que os educadores devem dar atenção geral na sala de aula, não demonstrando preferências a certos alunos. Devem entender que o trabalho na escola não transcorre baseado apenas na cognição; se assim fosse, grandes problemas estariam resolvidos. Ocorre que, na realidade, há uma grande carga afetiva envolvida, podendo passar por agressão, busca de afeto ou aceitação. A dialética afetividade/cognição pode atuar sobre o afetivo e cognitivo quando o aluno se autoavalia e o professor fortalece as condições afetivas do grupo, facilitando a aprendizagem com disciplina.

Todos envolvidos no processo escolar devem rever os seus planos, recolocar seus objetivos e rever a sua postura diante dos alunos. A ideia de que a disciplina é importante na escola não apenas como um conjunto que organiza o ambiente escolar, mas também como um objetivo educacional que leva o aluno à construção do conhecimento, da liberdade e, principalmente, da autonomia.

Conclusão

Este trabalho se preocupou em colocar a problemática que envolve o conceito disciplinar na sala de aula e na escola, assim como discutir e tentar encaminhar o problema, entendendo ser um clima favorável ao desenvolvimento das atividades escolares.

Através do estágio na escola anteriormente citada, em contato com todos os profissionais da escola, bem como nas pesquisas bibliográficas, observa-se que a todos educadores interessa a disciplina. Uma disciplina que constrói ordem, organização, responsabilidade, que corrige condutas e que forma hábitos sadios. Uma disciplina que aponta o diretor como autoridade na escola, o professor como autoridade na sala de aula, mas não se confunde com arbitrariedade e com autoritarismo.

Assim, se vê que há uma enorme possibilidade de termos uma disciplina que resulta em construção de aprendizagem, através da autoridade dos DIRIGENTES E PROFESSORES que se destacam pela competência, responsabilidade, sensibilidade e afeto no relacionamento com os alunos. Uma autoridade que emerge de sua coerência e não do título que possui ou cargo que ocupa.

A experiência de estágio poderia ter sido muito mais agradável se não fosse esta questão que é notória naquele estabelecimento de ensino. Lembro que algumas vezes no corredor da escola questionei alguns alunos porque eles estavam pelo lado de fora da sala, alguns respondiam, outros ignoravam a pergunta, quando se ouve a seguinte frase “ah… a tia não tá nem aí com nós, só quero ver o que ela vai dar na prova”. Mas, por outro lado, havia ali salas de aula que eram tomadas de farta alegria, participação, (até parecia que os alunos não tinham tempo para se posicionarem como disciplinados ou indisciplinados, o que importava é que ora faziam silêncio para ouvir, ora barulho e muito movimento para participar das atividades, o professor mais parecia um maestro que, com seu bastão, regia a harmonia, enquanto os alunos respondiam com o ritmo, e assim se construía a doce melodia do ensino).

Sim! O que se deseja é disciplina. Uma disciplina onde o aluno é chamado a cumprir suas tarefas sob um ambiente harmonioso, um chamamento que deve ocorrer baseado na prática coletiva de escola e não algo simplesmente impresso em regulamentos escritos e que não se sabe por quem.

Enfim, uma disciplina orientada pela vontade de formar cidadãos conscientes e autônomos, prontos para interferirem na sua realidade. Instrumentalizados para o exercício da cidadania e capazes de colaborar na construção de um mundo mais humano e mais fraterno.

Autor: Habacuque Nascimento Pimentel

Para saber mais sobre a importância da disciplina na sala de aula, confira também Construção da Disciplina na Sala de Aula: Fatores que podem ou não interferir.

Se você está buscando recursos para auxiliar na educação, considere explorar opções de materiais didáticos que podem enriquecer o aprendizado dos alunos.

Além disso, a relação entre escola e família é fundamental. Para entender melhor essa dinâmica, veja Relação Escola-Família e a Intervenção do Psicopedagogo.

Por fim, a formação de professores é essencial para a construção de um ambiente escolar saudável. Confira Formação de professores na teoria histórico-crítica de Saviani: o problema abordado.

Uma resposta para “A Indisciplina na Escola: o que fazer?”

  1. Boa noite! Gostei muito dessa leitura, me fez refletir sobre a importância da união entre educandos e alunos, o diálogo e a escuta sensível a empatia.

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