Um pouco de História
Por volta dos séculos IX e VIII a.C., a matemática engatinhava na Babilônia.
Os babilônios e os egípcios já tinham uma álgebra e uma geometria, mas somente o que bastasse para suas necessidades práticas, e não de uma ciência organizada.
Na Babilônia, a matemática era cultivada entre os escribas responsáveis pelos tesouros reais.
Apesar de todo material algébrico que tinham os babilônios e egípcios, só podemos encarar a matemática como ciência, no sentido moderno da palavra, a partir dos séculos VI e V a.C., na Grécia.
A matemática grega se distingue da babilônica e egípcia pela maneira de encará-la.
Os gregos fizeram dela uma ciência propriamente dita, sem a preocupação de suas aplicações práticas.
Do ponto de vista de estrutura, a matemática grega se distingue da anterior, por ter levado em conta problemas relacionados com processos infinitos, movimento e continuidade.
As diversas tentativas dos gregos de resolverem tais problemas fizeram com que aparecesse o método axiomático-dedutivo.
O método axiomático-dedutivo consiste em admitir como verdadeiras certas preposições (mais ou menos evidentes) e, a partir delas, por meio de um encadeamento lógico, chegar a proposições mais gerais.
As dificuldades com que os gregos depararam ao estudar os problemas relativos a processos infinitos (sobretudo problemas sobre números irracionais) talvez sejam as causas que os desviaram da álgebra, encaminhando-os em direção à geometria.
Realmente, é na geometria que os gregos se destacam, culminando com a obra de Euclides, intitulada Os Elementos.
Sucedendo Euclides, encontramos os trabalhos de Arquimedes e de Apolônio de Perga.
Arquimedes desenvolve a geometria, introduzindo um novo método, denominado método de exaustão, que seria um verdadeiro germe do qual mais tarde iria brotar um importante ramo da matemática (teoria dos limites).
Apolônio de Perga, contemporâneo de Arquimedes, dá início aos estudos das denominadas curvas cônicas: a elipse, a parábola e a hipérbole, que desempenham, na matemática atual, papel muito importante.
No tempo de Apolônio e Arquimedes, a Grécia já deixara de ser o centro cultural do mundo. Este, por meio das conquistas de Alexandre, tinha-se transferido para a cidade de Alexandria.
Depois de Apolônio e Arquimedes, a matemática grega entra no seu ocaso.
A 10 de dezembro de 641, cai a cidade de Alexandria sob a verde bandeira de Alá. Os exércitos árabes, então empenhados na chamada Guerra Santa, ocupam e destroem a cidade, e com ela todas as obras dos gregos. A ciência dos gregos entra em eclipse.
Mas a cultura helênica era bem forte para sucumbir de um só golpe; daí por diante a matemática entra em um estado latente.
Os árabes, na sua arremetida, conquistam a Índia, encontrando lá um outro tipo de cultura matemática: a Álgebra e a Aritmética.
Os hindus introduzem um símbolo completamente novo no sistema de numeração até então conhecido: o ZERO.
Isto causa uma verdadeira revolução na arte de calcular.
Dá-se início à propagação da cultura dos hindus por meio dos árabes. Estes levam à Europa os denominados Algarismos arábicos, de invenção dos hindus.
Um dos maiores propagadores da matemática nesse tempo foi, sem dúvida, o árabe Mohamed Ibn Musa Alchwarizmi, de cujo nome resultaram em nossa língua as palavras algarismos e algoritmo.
Alchwarizmi propaga a sua obra, Aldschebr Walmakabala, que ao pé da letra seria: restauração e confronto. (É dessa obra que se origina o nome Álgebra).
A matemática, que se achava em estado latente, começa a se despertar.
No ano 1202, o matemático italiano Leonardo de Pisa, cognominado de Fibonacci, ressuscita a Matemática na sua obra intitulada Leber abaci, na qual descreve a arte de calcular (Aritmética e Álgebra). Nesse livro, Leonardo apresenta soluções de equações do 1º, 2º e 3º graus.
Nessa época, a Álgebra começa a tomar o seu aspecto formal. Um monge alemão, Jordanus Nemorarius, já começa a utilizar letras para significar um número qualquer, e ademais introduz os sinais de + (mais) e – (menos) sob a forma das letras p (plus = mais) e m (minus = menos).
Outro matemático alemão, Michael Stifel, passa a utilizar os sinais de mais (+) e menos (-), como nós os utilizamos atualmente.
É a álgebra que nasce e se põe em franco desenvolvimento.
Tal desenvolvimento é finalmente consolidado na obra do matemático francês, François Viete, denominada Algebra Speciosa.
Nela, os símbolos alfabéticos têm uma significação geral, podendo designar números, segmentos de retas, entes geométricos etc.
No século XVII, a matemática toma nova forma, destacando-se de início René Descartes e Pierre Fermat.
A grande descoberta de R. Descartes foi, sem dúvida, a Geometria Analítica, que, em síntese, consiste nas aplicações de métodos algébricos à geometria.
Pierre Fermat era um advogado que, nas horas de lazer, se ocupava com a matemática.
Desenvolveu a teoria dos números primos e resolveu o importante problema do traçado de uma tangente a uma curva plana qualquer, lançando assim, sementes para o que mais tarde se iria chamar, em matemática, teoria dos máximos e mínimos.
Vemos assim, no século XVII, começar a germinar um dos mais importantes ramos da matemática, conhecido como Análise Matemática.
Ainda surgem, nessa época, problemas de Física: o estudo do movimento de um corpo, já anteriormente estudados por Galileu Galilei.
Tais problemas dão origem a um dos primeiros descendentes da Análise: o Cálculo Diferencial.
O Cálculo Diferencial aparece pela primeira vez nas mãos de Isaac Newton (1643-1727), sob o nome de cálculo das fluxões, sendo mais tarde redescoberto independentemente pelo matemático alemão Gottfried Wilhelm Leibniz.
A Geometria Analítica e o Cálculo dão um grande impulso à matemática.
Seduzidos por essas novas teorias, os matemáticos dos séculos XVII e XVIII, corajosa e despreocupadamente, se lançam a elaborar novas teorias analíticas.
Mas, nesse ímpeto, eles se deixaram levar mais pela intuição do que por uma atitude racional no desenvolvimento da ciência.
Não tardaram as consequências de tais procedimentos, começando por aparecer contradições.
Um exemplo clássico disso é o caso das somas infinitas, como a soma abaixo:
S = 3 – 3 + 3 – 3 + 3…
supondo que se tenha um número infinito de termos.
Se agruparmos as parcelas vizinhas, teremos:
S = (3 – 3) + (3 – 3) + … = 0 + 0 + … = 0
Se agruparmos as parcelas vizinhas, mas a partir da 2ª, não agrupando a primeira:
S = 3 + (-3 + 3) + (-3 + 3) + … = 3 + 0 + 0 + … = 3
O que conduz a resultados contraditórios.
Esse “descuido” ao trabalhar com séries infinitas era bem característico dos matemáticos daquela época, que se acharam então num “beco sem saída”.
Tais fatos levaram, no ocaso do século XVIII, a uma atitude crítica de revisão dos fatos fundamentais da matemática.
Pode-se afirmar que tal revisão foi a “pedra angular” da matemática.
Essa revisão se inicia na Análise, com o matemático francês Louis Cauchy (1789 – 1857), professor catedrático na Faculdade de Ciências de Paris.
Cauchy realizou notáveis trabalhos, deixando mais de 500 obras escritas, das quais destacamos duas na Análise: Notas sobre o desenvolvimento de funções em séries e Lições sobre aplicação do cálculo à geometria.
Paralelamente, surgem geometrias diferentes da de Euclides, as denominadas Geometrias não euclidianas.
Por volta de 1900, o método axiomático e a Geometria sofrem a influência dessa atitude de revisão crítica, levada a efeito por muitos matemáticos, dentre os quais destacamos D. Hilbert, com sua obra Fundamentos da Geometria (Grudlagen der Geometrie, título do original), publicada em 1901.
A Álgebra e a Aritmética tomam novos impulsos.
Um problema que preocupava os matemáticos era o da possibilidade ou não da solução de equações algébricas por meio de fórmulas que aparecessem com radicais.
Já se sabia que em equações do 2º e 3º graus isto era possível; daí surgiu a seguinte questão: será que as equações do 4º grau em diante admitem soluções por meio de radicais?
Em trabalhos publicados por volta de 1770, Lagrange (1736 – 1813) e Vandermonde (1735-96) iniciaram estudos sistemáticos dos métodos de resolução.
À medida que as pesquisas se desenvolviam no sentido de achar tal tipo de resolução, ia se evidenciando que isso não era possível.
No primeiro terço do século XIX, Niels Abel (1802-29) e Evariste de Galois (1811-32) resolvem o problema, demonstrando que as equações do quarto e quinto grau em diante não podiam ser resolvidas por radicais.
O trabalho de Galois, somente publicado em 1846, deu origem à chamada “teoria dos grupos” e à denominada “Álgebra Moderna”, dando também grande impulso à teoria dos números.
Com respeito à teoria dos números, não nos podemos esquecer das obras de R. Dedekind e Georg Cantor.
R. Dedekind define os números irracionais pela famosa noção de “Corte”.
Georg Cantor dá início à chamada Teoria dos conjuntos e, de maneira arrojada, aborda a noção de infinito, revolucionando-a.
A partir do século XIX, a matemática começa então a se ramificar em diversas disciplinas, que ficam cada vez mais abstratas.
Atualmente, se desenvolvem tais teorias abstratas, que se subdividem em outras disciplinas.
Os entendidos afirmam que estamos em plena “idade de ouro” da Matemática, e que nos últimos cinquenta anos tem-se criado tantas disciplinas, novas matemáticas, como se haviam criado nos séculos anteriores.
Esta arremetida em direção ao “Abstrato”, ainda que não pareça nada prática, tem por finalidade levar adiante a “Ciência”.
A história tem mostrado que aquilo que nos parece pura abstração, pura fantasia matemática, mais tarde se revela como um verdadeiro celeiro de aplicações práticas.
Fonte: LISA – Biblioteca da Matemática Moderna
Por Equipe Brasil Escola
Boa noite. Meu nome é Fernanda Vitorio. Sou professora de história e atualmente, estou reformulando livros para o 1º ano.
Gostaria de saber se poderia usar como texto citado a parte da História da Matemática. Colocarei os devidos créditos.
Muito obrigada
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