Os primeiros momentos em que se ouviu falar de educação, organização de classes e coletividade entre membros de uma mesma comunidade foram no período conhecido como primitivo.
Os membros eram indivíduos livres, com direitos iguais, que formavam democraticamente seu conselho. Todo o grupo, homens, mulheres e crianças, repartiam e consumiam tudo o que produziam.
A criança adquiria sua primeira educação, sem que ninguém a conduzisse. Elas eram proibidas de serem castigadas durante seu aprendizado e cresciam com todas as suas qualidades e defeitos.
“A sua educação não estava confiada a ninguém em especial, e sim a vigilância difusa do ambiente.”
A comunidade não mantinha privilégios sobre as crianças. A partir dos sete anos, elas acompanhavam os adultos em todos os seus trabalhos e ajudavam de acordo com o seu potencial. Como recompensa, recebiam a sua porção de alimentos como outro membro do clã. A convivência diária permitia conhecer normas, crenças e valores.
As crianças deveriam se ajustar ao ideal pedagógico da tribo, que consistia em adquirir:
“o sentimento profundo de que não havia nada, mas absolutamente nada, superior aos interesses e às necessidades da tribo.“
Com o aumento dos rendimentos e o surgimento do excedente, os administradores, como representantes da comunidade, comerciavam tanto com as tribos vizinhas quanto com as longínquas. Desde esse momento, o aparecimento das classes sociais teve duas origens: o escasso rendimento do trabalho humano e a substituição da propriedade comum pela propriedade privada.
Acompanhando as transformações, a situação social da mulher também sofreu modificações. Para assegurar a perpetuidade da riqueza privada, o matrimônio passou a ser monogâmico. A mulher, que antigamente desempenhava funções úteis à comunidade, agora exercia funções domésticas, perdendo a igualdade em relação ao homem.
“Começa a haver hierarquia em função da idade, acompanhada de uma submissão autoritária que exclui o antigo tratamento benévolo demonstrado para com a infância, ao mesmo tempo que surgem as reprimendas e os castigos.”
“Para a nobreza latifundiária era muito conveniente instruir os seus próprios filhos, mas inteiramente inútil fazer o mesmo com os filhos do povo, que estavam destinados a viver sempre em estado servil e a não ter, portanto, nem propriedade, nem servidores.”
No momento em que surgem a propriedade privada e as sociedades de classes, aparecem também uma religião com deuses, a educação “sistemática, organizada e violenta”, autoridade paterna, a submissão da mulher e dos filhos e a separação entre os trabalhadores e os sábios.
A partir do século VII, com o aumento do rendimento do trabalho humano, a economia comercial começou a suplantar a puramente agrícola. Pouco a pouco, começou-se a produzir com fins comerciais.
Em relação à educação que necessitavam os homens das classes dominantes, deviam cumprir três finalidades essenciais:
- destruir os vestígios de qualquer tradição inimiga;
- consolidar e ampliar a sua própria situação de classe dominante;
- prevenir uma possível rebelião das classes dominantes.
Apesar de serem donos da terra, estes não podiam vendê-las ou legá-las. Os lotes de terras eram passados de pais para filhos. Os filhos defeituosos, por não poderem manusear armas e administrar terras, eram sacrificados.
As classes superiores transformaram a sua organização social em um acampamento militar e fizeram com que a sua educação estimulasse as virtudes guerreiras. Por isso, aos sete anos, o Estado apoderava-se do jovem espartano, e não mais abria mão dele.
A partir desse momento, foi aumentando a importância da vida para o ateniense nobre. Este começou a perceber que os seus filhos necessitavam de uma nova instituição, que até agora não encontramos: a escola que ensinasse a ler e a escrever.
Atenas exigia algo mais do que a direção de um acampamento como Esparta. Já há algum tempo funcionavam algumas poucas escolas que ensinavam os interessados a fixarem em símbolos os negócios e os cantos.
A educação era livre e o Estado não intervia na designação dos professores, nem nas matérias que eram ensinadas. O filho do nobre, por outro lado, podia completar integralmente todo o programa de uma educação, que compreendia desde a infância até a morte. Já os pequenos proprietários conseguiam custear os estudos de seus filhos só até os 16 anos.
Roma passou, como todos os povos conhecidos, à sociedade de classes, baseada na escravidão.
“Os filhos dos proprietários de terras recebiam a sua educação ao lado do pai, acompanhando-o nos seus trabalhos, escutando as suas observações, ajudando-o nas suas tarefas mais simples.”
A partir do século IV a.C., os membros da nova classe começaram a ter opinião diversa. Achando insuficiente a educação ministrada até então aos nobres, começaram a exigir uma nova educação.
Surgiu então em Roma o lugimagister, encarregado da educação primária ou primeiras letras. O lugimagister era livre: um antigo escravo, um velho soldado ou um proprietário arruinado. Eles só recebiam se a família de seu aluno quisesse pagá-lo. As escolas eram mal instaladas e dispunham apenas de alguns bancos para os alunos e de uma cadeira para o mestre.
Sob a pressão do mestre, os alunos eram obrigados a repetir incessantemente lições a respeito do texto das “Dozes Tábuas”. A instrução primária foi deixada em mãos particulares, sem se preocupar com a preparação dos professores. Os professores primários, por estarem em contato direto com os cidadãos pobres e com os desprezíveis artesãos, não podiam ingressar nas classes superiores.
As escolas públicas primárias foram uma criação dos comerciantes e dos industriais.
A criança rica, que aos sete anos havia entrado para a escola do magister, e que aos doze começava a frequentar a do gramático, exigia a vida inteira para ser assimilada com proveito.
Preocupados unicamente em aumentar sua riqueza pela violência e pelo sangue, os senhores feudais desprezavam a instrução e a cultura. Ainda que soubessem ler, os nobres consideravam o escrever como coisa de mulheres.
A nobreza careceu de escolas no sentido estreito, mas não de educação. As primeiras escolas apresentavam o caráter fechado dos grêmios. O jovem nobre vivia sob tutela materna até os sete anos, ocasião em que entrava como pajem a serviço de um cavaleiro amigo.
Segundo Lutero, havia uma grande necessidade de assimilar ensinamentos, em vez de simplesmente recebê-los. Adquirem o seu verdadeiro alcance inovador quando os comparamos com as tradições do ensino feudal.
As aldeias, ao invés de receber professores, continuavam recebendo pregadores. Já os jesuítas, sem se preocupar com a educação popular, esforçavam-se para controlar a educação dos nobres e burgueses abonados.
Pós-revolução francesa e industrial, século XIX, os trabalhadores passaram a vender sua força de trabalho, surgindo os primeiros operários assalariados.
Produzir e produzir cada vez mais, para isso foi preciso engajar mulheres e crianças nos trabalhos das fábricas e formar indivíduos aptos ao manuseio das máquinas. Estes eram os principais ideais da burguesia.
Neste período de grande crise econômica, ideológica e educacional, surgem os pensadores que buscavam ideais para uma nova educação.
Basedown afirmava que ” as crianças das grandes escolas (populares) devem, por outro lado, de acordo com a finalidade a que deve obedecer a sua instrução, dedicar pelo menos metade de seu tempo aos trabalhos manuais, para que não se tornem inábeis em uma atividade que não é tão necessária, a não ser por motivos de saúde, as classes que trabalham mais com o cérebro do que com as mãos.” (1724-1790)
Já, para Filangieri, a educação que se inicia na “infância deve ser uma instrução que possa afastá-lo do vício e conduzi-lo à virtude, ao amor à Pátria, ao respeito às leis, uma instrução que possa facilitar-lhe o progresso na sua arte, mas nunca uma instrução que possibilite a direção dos negócios da Pátria e a administração do governo.” (1752-1788)
“É certo que ele passou a vida educando crianças ricas, assim era a vida de Pestalozzi, um falido agricultor da época. (1746-1827)
As escolas tradicionais não estavam em condições de atender às necessidades da massa, pós-Revolução Francesa, por isso começaram a surgir as escolas politécnicas, frutos das próprias fábricas e iniciativas privadas.
A burguesia tinha reservado para os seus filhos outro tipo de ensino, inteiramente separado do trabalho, que considerava como o único tipo de ensino verdadeiramente digno das classes superiores, o chamado “clássico”, que correspondia ao domínio da inteligência e das técnicas.
Século e meio pós-revolução, a burguesia não era capaz de dar às massas o mínimo de ensino que convinha a seus interesses. O ensino era inepto, “pois não atendia às necessidades de toda a população segundo idade, situação escolar e tendências.”
A escola primária era logo abandonada pelos filhos dos trabalhadores, não por serem incapazes, mas por terem que ajudar muito cedo nos orçamentos familiares.
O pensamento burguês se interessou em culpar os programas e os métodos escolares, por ter reconhecido o seu fracasso, sentindo a necessidade de reformulá-los, surgindo assim, duas correntes: a metodológica e a doutrinária.
Na corrente metodológica, “impôs formas cada vez mais complexas de solidariedade, assim também a coletivização do trabalho de um grau com o de outro, de modo que a criança, em vez de permanecer encerrada em seu grau, pudesse sair dele para entrar em contato com os demais graus ou grupos, mediante planos comuns e trabalhos coletivos.”
A corrente doutrinária “admite que a criança deve ser respeitada no que tem de mais íntimo, pretende também proporcionar às crianças em desenvolvimento que esteja de acordo com a ideia da humanidade e com seu destino completo.”
Mas, tudo se finda na seguinte explicitação: “A estrutura econômica das classes sociais, a educação, em cada momento histórico, não pode ser outra coisa a não ser um reflexo necessário e fatal dos interesses e aspirações das classes superiores.”
Referências
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 18. Toda a comunidade era responsável pela educação das crianças. (Citação nossa).
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 21
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 28
- Letourneau, ob. Cit., pág. 122
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 28 – Educação sistemática é aquela que possui uma organização. (Citações nossas)
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 62 – A educação era informal, pois, se dava na prática, próprias palavras (Citações nossas).
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 68 – Doze Tábuas, eram leis para patrícios e plebeus (Citações nossas).
- Basedown, ob. Cit., pág.: 41
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 138
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 142
- Schallzman – Humanizacion de la Pedagogia, pág.: 96
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 161
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 162 e 167
- Ponce, Anibal: Educação e Luta de Classes, obs. cit. pág. 169
Autor: Debora Caliman
Para saber mais sobre a importância da educação infantil, acesse a importância da educação infantil.
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL. Pedagogia ao Pé da Letra, 2013. Disponível em: . Acesso em: 8 de dezembro de 2021.
Parabéns pelo texto interessante!