História da Análise do Comportamento
Explore a evolução da análise do comportamento, desde suas raízes históricas até suas aplicações práticas na melhoria do desempenho humano. Descubra como essa abordagem se desenvolveu ao longo do tempo e suas implicações na psicologia moderna.
Fases da Obra do Autor
Um autor vai mudando ao longo de sua carreira, com B. F. Skinner, expoente maior do Behaviorismo Radical, não foi diferente…
O primeiro Skinner foi o jovem (34 anos) que escreveu “The Behavior of Organisms” (1938). Com esse livro, ele rompe amistosamente com Watson (na verdade, superando-o como um amigo pode superar outro sem rivalidades). Essa é a fase da fundação do Behaviorismo Radical e da Análise Experimental do Comportamento. É ainda nessa fase que ele se torna um dos psicólogos mais influentes do mundo, talvez o mais de todos, e suas ideias mudam os rumos da Psicologia no século XX.
O Segundo Skinner é o maduro, famoso e bem-sucedido autor (aos 54 anos) de Verbal Behavior (1957). Já com seu programa de pesquisa bem delimitado em torno dos operantes (em especial dos verbais), e um objetivo definido: “Como projetar culturas?”.
Eu diria que é o auge de Skinner. Aliás, ele trata essa obra como “O meu livro”.
Porém “Verbal Behavior” foi amplamente criticado pela turma cognitivista, em especial Noam Chomsky. Como Skinner não se defendeu como esperavam, para muita gente pareceu que ele havia dado o braço a torcer e admitido que o Cognitivismo havia suplantado o Comportamentalismo (O que de fato não ocorreu).
O Último Skinner é o senhor sábio e idoso de 85 anos que escreveu “Questões Recentes na Análise Comportamental” (1990), e morreu poucos meses depois.
O que marca essa fase foi um tom de amargura pela Análise do Comportamento ter tão pouca popularidade e se ver mais e mais substituída pelo Cognitivismo.
Nesse livro, ele tenta responder a seguinte questão: “O que houve, pessoal? Por que o Comportamentalismo não se tornou A Psicologia?”.
Vê-se impelido a explicar questões como o papel do cérebro no comportamento, dos genes, da cognição (que ele mostra que são comportamentos também) e a subjetividade, dentre outras das quais sempre foi acusado (injustamente) de negligenciar.
Esse livro tem um certo tom de lamentação. Dizem que Skinner morreu um tanto deprimido, por sua obra ter-se entrincheirado nas universidades e ter tido tão pouca repercussão fora desse ambiente, na sociedade, onde deveria estar presente resolvendo problemas.
E depois de Skinner?
Com sua morte, em 1990, demarco o fim da 2ª geração de Behavioristas. (A 1ª teve Watson como expoente).
Já a 3ª geração, que é a atual, começa difusamente na década de 1990, com inovações na Clínica (FAP, ACT, tratamento para o autismo, etc) e a expansão e atualização do programa skinneriano para outras áreas de pesquisa e outros ambientes, além das universidades.
Obs.: A década de 1990 também demarca a ascensão do Neurocognitivismo (que é uma leitura atualizada do Mentalismo), daí um dos motivos da 3ª geração de Behavioristas parecer brilhar tão pouco (Estão ofuscados pela fama da “turma Neuro”).
Como anda essa 3ª geração, hein? Para responder a essa pergunta, apenas sabendo como a Análise do Comportamento está, se é que está, fazendo diferença na sociedade com resultados práticos…
Afinal, se a proposta Comportamental vai sobreviver e evoluir por mais gerações e gerações, depende fundamentalmente dela ser reforçadora para quem faz parte de seu ambiente. E isso passa necessariamente por satisfazer o sonho skinneriano de aplicá-la para resolver os problemas práticos do mundo.
História da Análise do Comportamento
1859 – Charles Darwin lança “A Origem das Espécies”. O Darwinismo muito inspirou o trabalho de Skinner.
1870 – William James se destaca como precursor do Pragmatismo, abordagem filosófica que muito influirá no Behaviorismo atual.
1879 – Wundt cria o primeiro laboratório de Psicologia. Com sua Psicofísica, Wundt inaugura na prática a ideia de que a Psicologia deveria ser mais que especulações metafísicas: deveria contar com suporte experimental.
1890 – O físico Ernst Mach delimita o Funcionalismo, abordagem filosófica determinante, mais tarde, à obra de B. F. Skinner.
1904 – Pavlov ganha o prêmio Nobel de Medicina por seu pioneiro trabalho sobre aprendizagem. O cientista russo supera o modelo de estudo da Fisiologia apenas pela vivissecação ao defender a unidade mínima de estudo o reflexo, que é uma relação entre estímulo e resposta.
1910 – Watson torna-se o grande expoente do Behaviorismo Metodológico, com seu livro “A Psicologia como um Behaviorista a vê”, onde questiona a introspecção como fonte de dados para a Psicologia e defende o uso de experimentos laboratoriais no lugar.
1920 – Wittgenstein inaugura a “Filosofia Analítica”, que muito veio a contribuir com o Behaviorismo Radical.
1910-1940 – Primeira geração de terapeutas comportamentais, pautados na “Modificação do Comportamento”. Nessa fase, sem conhecimentos técnicos e sem rigor ético, surgem grandes problemas e estereótipos com a terapia comportamental que duram até hoje.
1930 – Autores como Tolman e Hull propõem o Behaviorismo Mediacionista, que entende que o organismo se relaciona com o ambiente de forma indireta, mediado por “variáveis interiores”. Essa versão dualista do Behaviorismo, contudo, não foi para frente, sendo substituído pela seguinte (o Behaviorismo Radical).
1940 – B. F. Skinner surge superando o modelo Pavlov-Watson, de reflexo condicionado, ao inaugurar o conceito de comportamento operante, bem como de comportamentos encobertos. Com isso Skinner cria o Behaviorismo Radical, pautado não no reflexo como unidade mínima de análise, mas nas contingências de reforçamento.
1950-1970 (Período crucial, cheio de reviravoltas!)
– Gilbert Ryle aplica a Filosofia Analítica ao Behaviorismo.
– Surge a 2ª geração de terapeutas comportamentais. Fase da Terapia Comportamental clássica: já madura e bem formatada.
– Ocorre a suposta “Revolução Cognitiva”, minando a influência do Behaviorismo
– Surge os pós-Behavioristas, como Bandura, que defendem uma mistura do Behaviorismo Radical com o Cognitivismo (que para muitos é a 3ª geração do Behaviorismo, depois do Metodológico e do Radical, chamado “Behaviorismo Social”. Prefiro ver nisso, contudo, apenas uma tentativa frustrada de misturar o Behaviorismo Radical com o Cognitivismo, e falar de temas que o Radical já aborda, como a aprendizagem social)
– Noam Chomsky publica uma resenha desfavorável ao livro “Comportamento Verbal” de Skinner, que por muitos anos ficou sem resposta, o que, para muitos, prejudicou a fama do Behaviorismo
– Advento do paradigma misto Cognitivo-Comportamental, como suposto destronador da Análise do Comportamento
– Devido a todos esses fatores mencionados acima, nesse período entre 1950-1970 acontece o que chamo de “O Grande Entrincheiramento”.
I.e., os behavioristas se escondem nas universidades, único ambiente não tão hostil às suas ideias, onde podem desenvolver, longe dos olhos da sociedade leiga, suas pesquisas teóricas e básicas (deixando um pouco de lado as pesquisas práticas e intervenções). Por causa do Entrincheiramento, o Behaviorismo parece ter morrido para o público leigo, quando na verdade estava criando raízes e crescendo de forma discreta no ambiente acadêmico.
– Arthur Staats sugere que uma 3ª geração para o Behaviorismo (sendo o Metodológico a 1ª e o Radical a 2ª). Staats chama essa nova versão de “Behaviorismo Social” (posteriormente, “Behaviorismo Psicológico”) e diz que ele seria mais capaz de explicar os comportamentos humanos complexos por lidar melhor com emoções, aprendizagem social e símbolos.
1980 – Richard Rorty expande e atualiza o Pragmatismo, somando-o à Filosofia Analítica. Leitura indispensável para todo Behaviorista atual.
1990 –
– Surge a 3ª geração de terapeutas comportamentais, com novas abordagens como a FAP e o ACT.
– Temas sociais cada vez mais ganham a atenção de behavioristas. A Análise do Comportamento mais e mais sai dos laboratórios e vai ao social.
de 2000 para cá:
– Os Cognitivistas começam a enfatizar mais o ambiente como determinante, se tornando mais parecidos com os behavioristas. Ex: Cognição Situada.
– Nos EUA vê-se uma nova onda de behavioristas, oriundos não do meio acadêmico, mas do ambiente profissional, especialmente em Saúde, movidos em grande parte pela eficácia notória do método behaviorista para tratamento do autismo.
– No Brasil multiplica-se o número de periódicos, eventos, congressos, pós, etc, sobre Behaviorismo e Análise do Comportamento. Ainda de forma discreta, os behavioristas brasileiros começam a sair do entrincheirado meio acadêmico rumo à sociedade leiga.
Nesse contexto histórico, hoje os behavioristas se veem diante de um instigante dilema: “Como ir além das trincheiras acadêmicas sem por a teoria-prática a perder em termos de criteriosidade e rigor?”