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Gênero, Identidade e Sexualidade: Explorando as Conexões com o Corpo

Descubra as interfaces entre gênero, identidade e sexualidade com o corpo humano. Estudar e compreender como nos relacionamos com nós mesmos e como nos identificamos em relação às nossas próprias identidades de gênero.

Gênero, Identidade e Sexualidade: Explorando as Conexões com o Corpo

CONSTRUÇÕES DE GÊNERO

GÊNERO, IDENTIDADE E SEXUALIDADE: INTERFACES COM O CORPO


“Somos o que somos porque pertencemos a uma determinada classe social, cumprimos determinadas funções sociais e por isso temos que desempenhar certos rituais, tantas e tantas vezes que por fim, a nossa cara, a nossa maneira de pensar, de rir, de chorar… acabam por adquirir uma forma rígida, pré-estabelecida, uma máscara social. O corpo revela uma personalidade, uma cultura e por extensão, uma sociedade”. Augusto Boal

“Não se nasce mulher, torna-se.” Simone de Beauvoir


Ser homem ou mulher, hoje na sociedade em que vivemos, nos faz pensar nas condições de desigualdade que aceitamos. As crianças nascem fêmeas ou machos, mas vão sendo criadas, educadas e moldadas segundo aquilo que a sociedade considera próprio para meninos ou meninas.

Sobre essas diferenças biológicas e sociais, vão sendo criadas desigualdades sociais que atribuem papéis estereotipados para o masculino e o feminino, nos quais há sempre um desequilíbrio – o papel do homem é sempre mais valorizado que o papel da mulher – pois parece existir duas esferas: a pública, que é o lugar do homem, e a privada, que é o lugar das mulheres, domésticas, passivas, subjetivas, aquela que “cuida”. É o modelo onde o homem trabalha fora e é o provedor da casa, sendo resguardada à mulher a condição de cuidadora, a reprodutora, a provedora de carinho e amor dentro da casa. Para saber mais sobre a educação de gênero, veja Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais.

Segundo DaMatta, a rua é o local onde se trabalha, se ganha o pão com o trabalho, e a casa é o local onde todos são uma família e vivem em harmonia; é onde encontramos o carinho, o afeto e a boa comida, produzida pela mulher, que é a esposa; porque aquela que serve para divertir também está na rua.

Mas esse modelo de vida só existe ainda para uma pequena parcela das sociedades, e que diminui cada vez mais, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, conquistando espaço no mundo da produção, até então considerado masculino. No entanto, ainda é muito forte a concepção de que a mulher deve ser apenas mãe e dona de casa e que todo o poder de decisão deve estar nas mãos masculinas.

“O exercício do poder cria perpetuamente saber e, inversamente, o saber acarreta efeitos de poder”. (FOUCAULT, 1979).

“A hegemonia de algumas masculinidades sobre outras se dá nesse sentido: ela é exercida quotidianamente (práticas sociais), produzindo saberes sobre o homem que se reforçam e se constroem nas relações formadas entre homens e entre homens e mulheres no seu quotidiano e através da história. Esses saberes são produtores de efeitos de poder, reforçam e integram as práticas de dominação e submissão, e no seu movimento também alteram e subvertem essa dominação.” (FOUCAULT, 1979).

Entendido como um movimento social iniciado na década de 60, no feminismo, a mulher aparece como indivíduo, um sujeito moral, inconformado com o seu papel na sociedade e reivindicando uma posição política, ou seja, direitos sociais, educação, trabalho e respeito. A partir desse momento, começa o questionamento sobre a divisão entre o público e o privado.

O feminismo denunciava o preconceito ocasionado pela diferença sexual, biológica, física e corpórea entre homem e mulher. A opressão contra a mulher é tomada como um valor universal. Hoje, porém, essa diferença não é considerada apenas sexual, mas de gênero. A desigualdade não aconteceria apenas por diferenças sexuais, mas por tudo o que é criado e inventado socialmente a respeito dessas diferenças ao nível das ideias.

O sexo não pode ser visto como uma realidade natural primeira, sob a qual a cultura age constituindo o que hoje entendemos por gênero. O sexo não é exterior à cultura e à história, pois a maneira de olharmos para as diferenças anatômicas, os sistemas de classificações que adotamos, desde já são construções culturais que variam dependendo do contexto histórico. O corpo é sempre visto através de uma interpretação social, de modo que o sexo não pode ser visto independente do gênero.

Assim, o gênero pode ser definido como a organização social da diferença sexual.

Por ‘gênero’ eu me refiro ao discurso sobre a diferença dos sexos. Ela não remete apenas a ideias, mas também a instituições, a estruturas, a práticas quotidianas e a rituais, ou seja, a tudo aquilo que constitui as relações sociais. O discurso é um instrumento de organização do mundo, mesmo se ele não é anterior à organização social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primária, mas ele constrói o sentido dessa realidade. A diferença sexual não é a causa originária a partir da qual a organização social poderia ter derivado; ela é mais uma estrutura social movediça que deve ser ela mesma analisada em seus diferentes contextos históricos”. (SCOTT, 1998, p. 15, apud GROSSI, 1998).

Segundo Laqueur, no modelo do sexo único, homens e mulheres tinham o mesmo sexo. Em vez de serem divididos por suas anatomias reprodutivas, homens e mulheres eram ligados por um sexo comum, o modelo da perfeição. Neste mundo, as fronteiras entre o masculino e o feminino eram de grau e não de espécie, porque as mulheres tinham os mesmos órgãos que os homens, porém projetados para dentro. Elas eram homens invertidos e, consequentemente, menos perfeitas, pois sua quantidade de calor era menor.

O sexo que nós conhecemos, ou seja, o sexo como um novo fundamento de gênero, surge como um contexto político e como uma imputação do desejo de se assumir enquanto pessoa.

Ao pensar sexo, gênero e sexualidade, refletimos sobre a diferença biológica entre os sexos, a diferença social construída entre os gêneros, pensando no corpo como uma variável histórica e socialmente específica cujo sentido e importância são reconhecidos como potencialmente diferentes em contextos históricos e sociais variáveis.

Segundo Stoller (1978 apud GROSSI, 1998), a escolha do objeto sexual de desejo se dá a partir da adolescência e não interfere na identidade de gênero do indivíduo “normal”, criado segundo sua rotulação de macho ou fêmea, portanto masculina ou feminina. Um homem que não deseje mulheres e que se sinta atraído por homens não deixa de se sentir homem. Mas é claro que, devido a pressões sociais, alguém que não é heterossexual se sente “diferente” daquilo que aprendeu como o comportamento sexual correto.

Mesmo os travestis sabem que são homens e alguns chegam mesmo a dizer que estão “brincando” de ser mulher ao se vestirem e se comportarem como tais. Muitos deles parecem reproduzir o modelo de feminilidade, muitas vezes melhor do que as próprias mulheres, o que pode até deixá-las incomodadas.

“A sexualidade é apenas uma das variáveis que configura a identidade de gênero, em concomitância com outras coisas como os papéis de gênero e o significado social da reprodução. (…) Sexo é uma categoria que ilustra a diferença biológica entre homens e mulheres; gênero é um conceito que remete à construção cultural coletiva dos atributos de masculinidade e feminilidade; identidade de gênero é uma categoria pertinente para pensar o lugar do indivíduo no interior de uma cultura determinada; e sexualidade é um conceito contemporâneo para se referir ao campo das práticas e sentimentos ligados à atividade sexual dos indivíduos.” (GROSSI, 1998)

Nessa perspectiva, somente é possível pensar o homossexual como aquele ou aquela que chega a desejar e consumir dominantemente referenciais biológicos do outro sexo, de tal forma que, identificando-se com ele, passe a desejar uma nova posição, a posição daquele que é igual a ele.

O homossexual, tanto o homem como a mulher, exige um espaço maior do que aquele previamente arranjado pela sociedade, porque para a maioria das pessoas, o homossexualismo é um incômodo, como se estas pessoas não estivessem assegurando a ordem e a tranquilidade do sistema; ele é visto como provocação e provocativo, despertando fúria e reação. Para a sociedade, o homossexual deve comportar-se como se fosse heterossexual, porque as instituições sociais como a igreja, a escola, a família, o exército, o estado, não os aceitam e acabam tornando-se alvo de fofocas, discriminações e estereotipações.

Tanto o feminismo quanto o movimento homossexual vão questionar a superioridade do homem sobre os outros grupos, o porquê de ser obrigatoriamente heterossexual e o modo como os homens se relacionam consigo, com outros homens e com as mulheres.

Como a sociedade é extremamente preconceituosa, os grupos que se sentem excluídos e oprimidos acabam juntando-se em movimentos particulares onde são aceitos como são, e da forma que escolheram para viver.

É o caso das revistas para homossexuais, aqui demonstrada pela Revista G [Magazine], direcionada ao público, com o conceito mercadológico de GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), o que vem a renovar toda a concepção por trás do marketing dos produtos gays, ou voltados para o seu público.

A Revista G [Magazine] busca, de uma forma consistente e unificada, no desejo homoerótico, bem como enaltece e trabalha a autoestima dos homossexuais, garantindo seu espaço no mundo do consumo e na sociedade como um todo.

A G [Magazine] buscou desde o início fugir da pornografia, marca registrada de algumas publicações destinadas tanto ao público homossexual quanto ao heterossexual, no caso de publicações como Playboy e Sexy, que de certa forma, vulgarizam a mulher, tornando-a uma espécie de objeto.

A G [Magazine], além de trazer fotos de homens famosos e outros nem tão famosos, traz inúmeras curiosidades, dicas de livros, cinema, cuidados com o corpo, dicas de viagens, entrevistas com personalidades bem-sucedidas, entre outras reportagens culturais; da mesma forma como existem as revistas direcionadas ao público feminino, como NOVA, CLAUDIA. A revista tem um diferencial pelo fato de mostrar uma alternativa que não é só sexo, mas também conteúdo. G [Magazine] mostra a cultura gay, tornando-se o mais alto canal de conhecimento entre esses dois mundos.

Um dos fatores diferenciais mais importantes é a perspectiva do que significa ser homossexual, a postura em relação ao preconceito e a necessidade de “assumir-se”, assim como em relação ao desejo homoerótico.

Até pouco tempo atrás, o espaço para os homossexuais nos veículos de comunicação era ocupado por figuras estereotipadas como a “Vera Verão” do programa “A Praça é Nossa” do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). O homossexual era tido como um marginal, fora do universo do bem, do certo, ou então como uma figura prostituída, abandonada pela família.

Contudo, apesar da informação das pessoas com respeito à homossexualidade, a rejeição continua grande, sendo muitas vezes desvalorizada e julgada.

Dessa forma, a revista G [Magazine] procura construir condições de construir o mundo e o desejo do homossexual, fazendo com que se conquiste o espaço e atenda-se aos desejos de viver como cidadão, lutando pelo que julga ser correto e pelos seus ideais.

Para a elaboração deste artigo, analisamos a edição n.º 69 da Revista G [Magazine], de Junho de 2003, e confirmamos a sua diversidade de assuntos e matérias, que a tornam realmente um diferencial. Contudo, a pergunta que surge é a seguinte: G [Magazine] é uma revista para homossexuais, porém, o conteúdo pode ser também direcionado às mulheres, pelo simples fato dos belíssimos modelos em fotos sensuais que despertam o desejo de qualquer mulher, da mesma forma que as revistas masculinas como VIP, Playboy entre outras despertam o desejo dos homens; mas então por que ainda há o “preconceito” de uma mulher ir à banca e comprar uma G [Magazine]? Fato esse que seria perfeitamente normal, se não vivêssemos em uma sociedade que ainda está ligada ao poder masculino, ou ao preconceito, depende da leitura que se faz.

Na mesma edição, G [Magazine] publicou um artigo do jornalista João Silvério Trevisan, onde ele acrescenta que: “Desde que o mundo é mundo existiram homossexuais masculinos e femininos de grande destaque em todos os ramos do saber e das artes. Somos tantos que nossos nomes dariam uma lista sem fim. Enfatizemos alguns como Safo, Sócrates, Alexandre o Grande, o imperador Adriano e a rainha Cristina da Suécia. Pensemos também em Michelangelo, Leonardo da Vinci, Shakespeare. Ou ainda: Oscar Wilde, Nijinski, Virginia Woolf, Mishima, Pasolini e nosso Mário de Andrade. Dessa multidão de gênios homossexuais, temos orgulho. (…) E a celebração do nosso orgulho é apenas o começo da construção das políticas homossexuais, elas próprias resultantes da consciência da grandeza do nosso amor.”

A homossexualidade, assim como a heterossexualidade, não se dá com extrema exclusividade, porque reconhecem a troca, a mudança, a transferência capaz de sustentar a integridade do caráter, da personalidade e da identidade e o reconhecimento social, que corresponderia ao prazer e gratificação de ser o que somos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DaMATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? 3ª ed. Rio de Janeiro, Rocco,1987.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução e organização de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

GROSSI, Miriam. Gênero, Violência e Sofrimento (coletânea). Cadernos Primeira Mão. Florianópolis. PPGAS/UFSC. n.º 6. 1995 (2ª versão 1998).

LAQUEUR, Thomas. Inventando o Sexo. Corpo e Gênero dos gregos a Freud. Trad. Vera Whately. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001.

TREVISAN, João Silvério. Porque Tenho Orgulho de Ser Guei. G Magazine. Rio de Janeiro, Ano 6, nº 69, p. 16 e 17. Junho/2003.

  • Autor: Kátia Regina Beal Rodrigues


Pedagogia ao Pé da Letra
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