Ética na Família, na Educação e seus Reflexos na Vida em Sociedade
Resumo
Este trabalho é fruto da reflexão sobre a importância do ensino da ética moral e das relações de respeito entre os seres humanos, ou seja, mais do que isso, é ter atitudes éticas diante dos filhos, dos alunos e da sociedade como um todo. Como nós, profissionais da Educação, podemos contribuir para que os valores éticos e morais não fiquem esquecidos, mas sejam resgatados, valorizados? Ao discutir este tema quero propor uma reflexão, e ao mesmo tempo, fazer um resgate dos valores morais herdados de nossa própria cultura, recebidos através dos processos formais e informais de educação. Objetivando sensibilizar as famílias, professores e todos os indivíduos ao conhecimento destes valores em suas práticas pessoais cotidianas. Proporcionando assim um bom convívio social.
Palavras-chave
valores, respeito, formação, personalidade e reflexão.
Abstract
This study is a reflection about the importance of teaching moral ethics and about respect between human beings, or more than that, is about to have ethical attitudes before the children, students and for all society. How us, education professionals can contribute to the ethical and moral values do not fall into oblivion but be rescued and have more value? Discussing this issue I want to propose a reflection, and at the same time, make a rescue of the moral values inherited from our own culture, received through the formal and informal education. Aiming to raise awareness among families, teachers and all individuals to the knowledge of personal values in their everyday practices. Thus providing a good social life.
Key-Words
values, respect, training, personality and reflection.
Introdução
O artigo é uma reflexão sobre as nossas atitudes perante os outros e o meio social em que vivemos. Uma reflexão pautada em princípios éticos e morais que nos direcionam.
Será que temos o direito de criticar os outros, uma vez que nós mesmos não agimos de acordo com os princípios legais, éticos e morais? Quanto ao ditado popular sobre o “jeitinho brasileiro”, diz respeito ao nosso jogo de cintura ou ao nosso modo torpe de tratar as coisas alheias? E quanto à capacidade que o ser humano tem de justificar seu erro? Vemos em outros casos como: atravessar no farol vermelho; estacionar em vagas destinadas a deficientes; fazer barulho depois do horário permitido incomodando os vizinhos; levar o cachorrinho de estimação para passear e realizar suas necessidades fisiológicas, e não se preocupar em apanhar a sujeira do chão; fumar em local não permitido; passar à frente de pessoas nas filas nos postos de saúde, ou nos bancos, só porque você é conhecido do atendente, tudo isso são formas de justificar a nossa falta de princípios.
Todos os dias vemos e ouvimos nos telejornais, rádios, lemos artigos de revistas, sobre catástrofes com enchentes, desabamentos, terremotos que vitimam pessoas, animais, cidades, Estados como Rio de Janeiro, Santa Catarina e até parte de um país, o tsunami ocorrido no Japão. Em todos os casos sempre encontramos alguém que justifica tais situações, quando não, muitas pessoas se eximem de sua culpa colocando em outrem as causas de todos estes desastres, ou dizem, “é culpa do governo”, sem perceber que todos fazemos parte desse Governo e, que o dano provocado é uma postura, uma conduta coletiva. Pois desde crianças aprendemos que lixo se coloca no lixo, não no chão, mas mesmo assim existem pessoas que insistem em fazer o contrário, depois dizem não ter culpa da sujeira nas ruas, da poluição dos rios, enfim da degradação do meio ambiente, do meio social em que vivemos e convivemos.
Considerando o teor da reflexão, questionamos: Onde nos perdemos? Como tem sido trabalhada a questão da educação e do respeito nas instituições de ensino? E a família tem exercido sua responsabilidade? Já fomos crianças, viemos de um contexto familiar específico e a maioria de nós, frequentou uma escola de educação infantil. Para uma reflexão mais profunda sobre a educação infantil, você pode conferir A educação infantil em Panorama Brasileiro.
Ética e Moral
Segundo Álvaro Valls “a ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta.” (1994, p. 07). Muitas vezes apontamos, ou melhor, julgamos um comportamento como não sendo ético ou como um ato de imoralidade. Mas, na realidade, por vezes não sabemos diferenciar ética de moral.
A definição de ética segundo o dicionário da língua portuguesa (Houaiss, 2008), refere-se a um conjunto de preceitos sobre o que é moralmente certo ou errado é parte da filosofia dedicada aos princípios que orientam o comportamento humano. A moral está relacionada ao conjunto de regras de conduta desejáveis num grupo social.
Segundo Yves de La Taille, a convenção mais adotada para diferenciar moral e ética é reservar o primeiro para fenômeno social e o segundo para a reflexão filosófica. (2006, p. 26). La Taille diz ainda que o fenômeno a que se refere é o fato de todas as comunidades humanas serem regidas por um conjunto de regras de conduta. Então devemos entender que para julgarmos se um indivíduo teve uma conduta moral ou não, precisamos antes verificar quais são os costumes e hábitos da sociedade em que está inserido.
Conforme o pensamento Cristão, ética se trata de um conceito universal, que diverge da moral, que muitas vezes está ligada às questões da sexualidade. Mas na verdade, a moral muda de acordo com a cultura de um povo, ou seja, do lugar no qual está inserido e a moral que se estabelece. Por exemplo: na cultura dos Esquimós é costume oferecer, a seus visitantes, a própria mulher para dormir junto com eles; Países onde é comum um homem ser casado com várias mulheres, poligamia. Diferente de outros povos que consideram tal atitude como sendo imoral. O assunto Clonagem, não envolve apenas questões morais, mas também, uma discussão ética, principalmente quando se trata de criar outro ser. Será uma maneira de querer “brincar de Deus?” Do poder da criação? Outro assunto, que também envolve questões morais e éticas, é o Aborto, que vem sendo praticado em muitos países, legalizado ou não e, diante desta situação, perguntamos: será que temos o direito de tirar a vida de alguém?
Para Platão, o conceito de ética está ligado aos critérios do agir humano para a organização da vida em sociedade, o que é o Bem e Mal, Justiça e Bondade. Platão, afirma em sua obra (A República), uma pessoa boa e justa consequentemente é uma pessoa dotada de princípios éticos.
Segundo Chalita “só podemos dizer que alguém é realmente justo quando esta pessoa age de acordo com a excelência moral e tem, na mente e no coração, a disposição de agir segundo a justiça” (2003, p.124). O autor (2003) diz ainda que, questões de justiça e injustiça envolvem sempre outras pessoas, uma comunidade justa acontece quando seus membros cultivam o senso de justiça. Cabe aqui, mais uma vez, refletirmos sobre nossas atitudes perante essa comunidade, já que nós não vivemos sozinhos, como anda o respeito ao meu vizinho, aos meus amigos, o respeito com aqueles que me servem: como o garçom, o auxiliar de limpeza, a pessoa que opera o caixa de supermercado, os passageiros do ônibus e mesmo os motoristas nesse trânsito maluco. Quando nos deparamos com essas situações, um exercício muito válido é o de se colocar no lugar do outro. Como me sentiria, se eu fosse aquele operador de caixa, já no final de um dia de trabalho e ainda com uma fila de pessoas irritadas reclamando da minha demora no atendimento? E se fosse o auxiliar de limpeza que limpou todos os escritórios, os banheiros e vem o chefe exaltado dizendo que o cesto de lixo estava cheio e eu precisava ser mais eficiente na limpeza. Um exercício para a prática da justiça, da paciência, do respeito e outras virtudes.
O individualismo exacerbado
Ao falarmos de egoísmo exacerbado, não significa falar simplesmente do egoísmo, em que alguém exageradamente deseja o melhor: um melhor salário, melhores condições de sobrevivência, mas sim a forma de como o indivíduo consegue esse melhor.
Cada um de nós tem uma cultura, temos costumes, características próprias, peculiaridades de onde vivemos, estamos inseridos numa sociedade, como diz a sociologia, o ser humano é um ser social por excelência e, viver em sociedade não é fácil, temos que aceitar conviver com as diferenças de cada indivíduo, às vezes, não só conviver com elas, mas respeitá-las e aceitá-las. As consequências, do bom ou mau convívio, dependerão de nossas atitudes e escolhas. Mario Sergio Cortella (2008, p. 136), fala sobre as três questões éticas: QUERO? DEVO? POSSO?
Tem coisa que eu devo, mas não quero, tem coisa que eu quero, mas não posso, tem coisa que eu posso, mas não devo. Aqui, nestas questões, vivem aquilo que a gente chama de dilemas éticos; todas e todos sem exceção temos dilemas éticos, sempre, o tempo todo: devo, posso e quero?
Segundo Cortella as questões éticas destacadas em sua obra, estão ligadas também ao individualismo exacerbado e aos valores morais. Ao falarmos do “Eu quero o melhor”, envolve o questionamento: “eu devo fazer tal coisa, para conseguir esse melhor?” Ou ainda, “eu posso fazer de tudo, sem pensar no convívio com os outros, pensar só no meu melhor?”. Estas são decisões que envolvem valores morais e éticos. Claro, que posso fazer muita coisa, mas os meus princípios morais devem reger o que vou fazer. O mesmo deve ser pensado em relação ao querer, se quero atuar conforme as leis morais ou de acordo com minha conveniência. Pois, em alguns comportamentos fica visível a questão do “convém que agora faça assim”, por exemplo: não devemos jogar lixo nas ruas, mas no momento não encontro lixeira por perto, então vou jogar o papel de bala aqui mesmo no chão. Outro caso é do pedestre, que dá uma corridinha para atravessar a rua em vez de atravessar na faixa, com a desculpa que está com pressa.
Nos dias atuais, presenciamos muito a falta de valores éticos e morais. Dificilmente vemos alguém preocupado com o outro, com o próximo. Todos os dias encontramos nos meios de comunicações fatos e notícias de pessoas que para obterem lucro, subir na vida e terem sucesso, tornam-se corruptas, trapaceiam nos negócios, desrespeitam a vida dos outros, em razão de uma vida mais cômoda e mais fácil. É o caso, por exemplo: dos donos de postos de gasolina que vendem gasolina adulterada, das promessas de emprego com salários altíssimos, em empresas fantasmas, as notas e moedas de dinheiro que são falsificadas. Diante de tantas catástrofes, das enchentes em nossas cidades, os bueiros cheios de lixo, impedindo o escoamento das águas, que inundam as ruas, casas e destroem tudo que encontram pela frente e na maioria dos casos, muitas vidas são ceifadas. Cabe a nós questionarmos: onde estão os princípios éticos aprendidos? Onde fica o respeito pelo próximo que herdamos de nossos ancestrais? Mais uma vez, o que se vê é que caímos no individualismo exacerbado.
Yves de La Taille fala que a moral e a ética se juntam, ele diz: “o sentimento que opera a junção entre a moral e a ética é o auto-respeito.” (2006, p. 64). Essa ideia me leva a refletir sobre o ser humano e o respeito, respeito ao próximo, respeito ao meio e também o respeito a si mesmo. Quando o indivíduo respeita as outras pessoas, não há lugar para o egoísmo. Uma vez ouvi minha mãe dizer: “se você quer que uma criança te respeite, respeite-a também.”. Se nós, adultos, não respeitamos, adulterando e lesando o próximo, o que estamos ensinando para as nossas crianças? Ser egoísta é vantajoso? O que importa é o TER? Esse é um valor? Acreditamos que aquilo que realizamos, da maneira como realizamos é um valor, um princípio moral.
Responsabilidade da família
É na família que damos os primeiros passos e do mesmo modo recebemos as primeiras noções de valores morais, formamos nosso caráter e desenvolvemos nossa personalidade como indivíduo singular que somos. Segundo Ellen G. White (2010, p.275) “a primeira professora da criança é a mãe. Nas mãos desta acha-se em grande parte sua educação, durante o período de seu maior e mais rápido desenvolvimento. À mãe oferece-se em primeiro lugar a oportunidade de moldar o caráter para o bem ou para o mal.”
Não muito tempo uma criança relatou o seguinte fato: sua mãe estava com “conjuntivite de mentirinha”. Pedi que explicasse por que de “mentirinha”, ela respondeu que sua mãe havia passado sabonete no olho para irritá-lo, e que não estava indo trabalhar, pois, estava de atestado médico. Perguntei o que ela achava dessa atitude, se era certo o que sua mãe havia feito. Ela respondeu que não era certo, mas que quando fosse grande e estivesse cansada do trabalho, iria fazer isso também. Mais uma vez pergunto: Onde estão os valores morais e éticos? Este caso é especificamente grave, pois, não se trata só da falta de princípios do indivíduo que cometeu o ato, mas, da mãe que demonstrou para seu filho, princípios morais deturpados, não se atentando ao fato de que seu filho é um ser em formação. E quantos outros casos: mãe que joga lixo no rio, aquele sofá que não serve mais é descartado no córrego perto de casa, o papel de doce ou latinha de refrigerante que é arremessado pela janela de um transporte coletivo.
Outro fato instigante narrado pelo médico Robert Coles (2005, p.10), ocorrido enquanto se dirigia ao hospital, com seu filho para uma consulta. Conduzia velozmente seu carro, quando seu filho lhe pede para ter mais calma, referindo-se não somente com o carro. Pois, sendo médico, sentiu-se tentado a tirar partido de sua posição. Porque, como médico, poderia ser atendido, assim que chegasse ao hospital, antes mesmo de que todos que estivessem na fila, aguardando atendimento, que sofrem tanto quanto seu filho. Será que nós também não nos sentiríamos tentados a fazer o mesmo se tivéssemos alguém conhecido, passando-nos na frente de todos sem que precisássemos enfrentar fila?
Situações como a que vimos acima, é que precisamos prestar atenção, principalmente quando falamos e fazemos na presença de crianças. Tirar proveito das coisas, ao próprio favor, não pensando nas outras pessoas, que às vezes estão na mesma situação, ou em situação pior do que a nossa, tudo isso mostra o quanto somos individualistas.
Outra reportagem interessantíssima, intitulada Faça o que eu faço, é de uma mãe que falava sobre educação e como as atitudes impensadas, muitas vezes acabam interferindo na formação de um ser.
O dia em que eu entendi o que era educação foi num sábado de manhã, ao atender um telefonema de telemarketing. (…) contei uma mentira rápida, ‘a Roberta não está’, desliguei com se nada estivesse acontecendo – me deparei com uma pessoa me encarando intrigada. “Mas, mamãe, você tá! Por que você fingiu?! (FARIAS, 2011, p. 10).
Farias (2011, p. 10) diz ainda que educação, “não é aquilo que eu dou, mas aquilo que eu sou”. Essa é uma situação tão corriqueira que as pessoas nem sequer pensam que estão transmitindo valores errados, como é o caso da mentira. Muitas vezes, a conveniência entra em ação e justifica a mentira, passando a ser uma desculpa necessária. Como White diz, a mãe é a primeira professora, aquela que dá o exemplo.
Coles enfatiza que “o mais persuasivo ensino moral que nós, adultos, podemos dar é pelo exemplo: o testemunho de nossa vida, nossa maneira de ser, de falar e de nos dar com os outros” (2005, p. 37).
Responsabilidade da escola
Nós educadores nos preocupamos com as crianças e sua formação. Crianças que aprenderam que lixo não se joga no chão; que ao atravessarmos a rua devemos fazê-lo na faixa de pedestre e quando o “menininho” está verde; que os carros param quando o farol está vermelho; Aprendemos que devemos ser educados e respeitar pai, mãe e as pessoas mais velhas; E quanto as palavrinhas mágicas: Por Favor, Desculpe e Obrigado; Aprendemos que nos rios têm vida e os peixes precisam de água limpa para sobreviver; nos ensinaram a não mentir, não brigar com o colega, não falar palavras “feias” (palavrão). E tantos outros ensinamentos. O que vemos hoje é o contrário de tudo que foi aprendido no jardim da infância, crianças que presenciam adultos jogando lixo nos rios, ou qualquer coisa que julgam não precisar mais; motoristas que não respeitam nenhum tipo de sinalização; pessoas brigando por motivos banais, muitas vezes causando a morte de um dos envolvidos;
Questionamos se a educação como instituição de ensino, tem contribuído para que esses maus hábitos se propaguem? Como os profissionais dessas instituições veem trabalhando os princípios morais e éticos com os seus educandos? Segundo Ellen G. White (2010, p.225) “o mundo não necessita tanto de homens de grande intelecto, como de nobre caráter (…) a formação do caráter é a obra mais importante que já foi confiada a seres humanos”. Ela não se refere somente a professores, mas a todos os indivíduos que convivem em sociedade e passam conceitos e dão exemplos de seus atos a todo o momento.
Pensamos que o educador, mesmo sem perceber, deixa que seus princípios morais aflorem, isso faz com que acabem interferindo na formação da ética pessoal desses alunos. Percebemos a nossa educação bastante falha. Hoje vemos que a lei que prevalece é a do “dente por dente”. Não existe mais o respeito entre os colegas, presenciamos alunos agredindo alunos, alegando estarem se defendendo de algum tipo de insulto, alunos discutindo exaltadamente com professores e que às vezes terminam em agressões, professores estressados e sem paciência com as mau criações dos discentes. Analisamos ser muito difícil que, diante dos casos citados haja concordância entre o discurso e a prática desse profissional. Fica claro à necessidade de uma reflexão: o que estamos fazendo na educação? O que queremos manifestar nos indivíduos em formação? E principalmente se ainda queremos fazer alguma coisa para transformar princípios?
A Psicopedagogia e a contribuição ética em sua prática
Quando falamos de Psicopedagogia lembramos de uma frase que é muito pertinente “não existe Psicopedagogia sem família e sem escola”, elas devem andar sempre juntas e dependentes. A Psicopedagogia é regida por um código de ética da ABPp, este nos relata algumas coisas sobre os campos de atuação.
Artigo 1º – “ A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio _ família, escola e sociedade _ no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia” (BOSSA, 2007, p. 95).
A citação mostra-nos a importância do trabalho com a família em cumplicidade com o trabalho escolar e também com o social. O profissional tem que apresentar uma postura ética para que tenha a credibilidade no momento do trabalhar com os pacientes ou mesmo com suas famílias. Ainda falando sobre o código de ética, este tem um capítulo que vem falar sobre a responsabilidade do profissional de Psicopedagogia.
Capítulo II Artigo 6º – “São deveres fundamentais dos psicopedagogos:
A) Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o fenômeno da aprendizagem humana; B) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo; (…)F) Responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara do seu diagnóstico; G) Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos (…) I) Manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do psicopedagogo para a harmonia da classe e manutenção do conceito público. (BOSSA, 2007, pp. 95 e 96) .
O código aborda o zelo pelo bom relacionamento com especialistas, diz que o psicopedagogo deve trabalhar em conjunto com outras áreas como: o Psicólogo, o Neuro e o fonoaudiólogo. Quando uma escola encaminha uma criança com problemas na aprendizagem, realizamos um diagnóstico e segundo a ética profissional, ao percebermos que o caso do paciente é de ordem emocional, devemos encaminhá-lo para o profissional habilitado para trabalhar nesse campo. O mesmo deverá acontecer quando diagnosticamos problemas na fala, se uma criança não adquire uma pronúncia correta a escrita fica defasada. É importante também o envolvimento de motricistas, pois às vezes, a criança não aprende por dificuldades na coordenação de seus movimentos. Nessas situações o psicopedagogo tem que mostrar seus princípios morais e éticos, para um relacionamento no qual prevaleça o respeito mútuo.
A atuação do psicopedagogo no atendimento clínico deve ser de extremo sigilo como nos diz o código de ética “o psicopedagogo está obrigado a guardar sigilo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do exercício de suas atividades” (Bossa, 2007, p. 96).
Esse exercício refere-se à fase de avaliação diagnóstica nos atendimentos com os pacientes, na qual avaliamos a criança como um todo em seus aspectos emocionais, cognitivos e sociais. Para isso há o primeiro contato com a família, a entrevista inicial, é quando, os responsáveis vêm nos relatar qual é a queixa, o porquê acreditam que a criança precisa de um acompanhamento. Relatam-nos, na maioria dos casos que na escola apresentam dificuldades principalmente de atenção, leitura e escrita. E ao final da entrevista, percebemos que as expectativas com relação ao tratamento são muito elevadas. Leila Sara José Chamat (2004, p.47) nos fala sobre essa expectativa e ansiedade “no levantamento das expectativas dos pais, em relação ao tratamento, pode-se verificar mais intensamente esse nível de comprometimento dos mesmos e a transferência de responsabilidades ao psicopedagogo, inclusive atribuindo-lhe o poder da cura.”
Devemos ter uma postura ética, saber ouvir, interpretar e não interferir no momento de exposição do responsável. O psicopedagogo não pode impor sua opinião e sim fazer-se entender que não somente ele é o responsável pelo progresso da criança, mas a cooperação da escola, da família e o esforço dele próprio.
A postura ética deve estar presente em todos os momentos da avaliação. Na observação perante o comportamento do paciente diante das atividades dadas: jogos, desenhos dirigidos e outras atividades gráficas. Aprendemos com os estágios clínicos que através dos jogos podemos enfatizar alguns dos princípios éticos e morais. Quando trabalhamos com jogos de regras, podemos observar aqueles pacientes que tentam burlar essas regras, tentam trapacear para ganhar o jogo, o espírito de competição, a não aceitação da perda. Segundo Maria Lúcia Lemme Weiss, o jogo nos possibilita outras observações e nos diz que:
Experimentando a Hora do Jogo Diagnóstico, de diferentes formas, com facilidade eu obtinha dados sobre aspectos afetivos gerais da aprendizagem, dados esses em relação a exploração e à estrutura do novo, às possibilidades de “entrar, fixar, relacionar e sair” do conhecimento, às operações de “juntar e separar”. Além de relações com a evolução da psicossexualidade da criança. (2008, p. 76).
O mesmo acontece nas sessões de intervenção, com a diferença que podemos intervir durante a aplicação tanto dos jogos como das outras atividades. Neste momento enfatizamos com o paciente os valores, durante o tratamento perguntamos: é certo que esconda peças do jogo de dominó, por exemplo, para poder ganhar a rodada? Na maioria dos casos o paciente diz não ser o certo, porém fica claro que faz qualquer coisa para não perder. Devemos como profissional enfatizar esses princípios desde que nós também tenhamos os valores morais presentes e, uma postura de acordo com os princípios.
Outra situação de postura ética do psicopedagogo é em relação à devolutiva aos responsáveis, falar do que foi avaliado sobre sua criança. É difícil para esses responsáveis ouvirem que sua criança está enfrentando problemas de ordem emocional, causados na maioria das vezes por eles próprios e que esses problemas afetivos estão interferindo no processo de aprendizagem. Segundo Pichon-Rivuère, citado por Chamat (2008, p.31) nos diz que:
Existe uma estreita ligação entre o vínculo e a aprendizagem. Aquele que se faz portador de uma problemática vincular, inefavelmente terá problemas de vinculação com o “Ser que ensina”, transferindo isso para o “conhecimento” para com a família (vice-versa) e até para com os amigos.
Chamat (2008) também faz referência à escola, esse vínculo tem que ser construído com o professor. Como a Psicopedagogia está ligada com a escola, cabe ao profissional levar uma devolutiva do aluno à instituição de ensino e nesse momento a postura ética do psicopedagogo deve estar presente, mantendo o sigilo de informações colhidas durante a avaliação diagnóstica.
Metodologia
Esta é uma pesquisa bibliográfica. Com o intuito de reavaliarmos nossas atitudes e comportamentos.
A coleta de dados foi feita mediante a leitura de livros, artigos que abordam o tema.
A organização dos dados foi realizada a partir da análise e separação dos conteúdos das bibliografias lidas.
Considerações Finais
Considerando os princípios morais e éticos como norteadores para que haja um bom convívio social, temos que ter a consciência daquilo que estamos passando e das nossas próprias atitudes. Somos responsáveis pelos exemplos transmitidos aos filhos, aos alunos e também aos pacientes. Temos que nos acostumar à reflexão, à prática de se colocar no lugar do outro, do ditado que diz: “não façamos para os outros, o que não queremos que façam para nós”. Lembrar que somos vigiados a todo o momento. Mas a postura ética vai além, independentemente se estamos sendo vigiados ou não, os nossos princípios precisam ser bem definidos e não devem mudar de acordo com a conveniência. Devemos ter consciência do que falamos e para quem falamos; do que fazemos e porque fazemos; do que podemos fazer e como queremos fazê-lo. Temos a consciência de que é muito difícil sermos éticos a todo o momento, durante as vinte e quatro horas do dia. Mas, não podemos usar isso como pretexto para continuarmos agindo com a falta de princípios morais.
Cabe aqui pensarmos: quais são os benefícios das nossas atitudes corretas e, as consequências das atitudes menos corretas; sobre os comportamentos sociais e cuidados com o meio ambiente; formação de indivíduos que não sejam tão individualistas, que cultivem o bom relacionamento. Estamos nós educadores assumindo as nossas responsabilidades? Quando falamos de educadores não nos referimos somente aos professores, mas aos pais, pois a família é o primeiro núcleo da educação, através dela recebemos os principais princípios morais e éticos e estes, serão levados adiante por durante todo o nosso processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e social.
Pretendemos com este artigo, fazer uma interiorização e promover uma reflexão para que possamos alcançar mudanças de comportamento visando o bem social. Como já foi dito: “ninguém vive sozinho”, e o respeito é o maior responsável para que possamos conviver bem.
Referência Bibliográfica
- BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
- CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
- CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico: o diagnóstico clínico na abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.
- __. Técnicas de intervenção Psicopedagógicas: para dificuldades e problemas de aprendizagem. São Paulo: Vetor, 2008.
- COLES, Robert. Filhos éticos e responsáveis. Rio de Janeiro: Campus, 2005
- CORTELLA, Mario Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
- FARIAS, Roberta. Faça o que eu faço. Sorria: para ser feliz agora, São Paulo, n.18, p. 10, 2011.
- HOUAISS, Antônio. Houaiss Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
- PLATÃO. A República. São Paulo: Martim Claret, 2004.
- TAILLE, Yves de La. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
- VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
- WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
- WHITE, Ellen G. Educação. 9ª ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2010.
Autor: Maria Del Carmen E. Ferreira
Escreva um comentário