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Atualizado em 02/08/2023

A ESCOLA NO PENSAMENTO DE GRAMSCI

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Neste livro a autora faz uma análise do pensamento de Antonio Gramsci, filósofo, jornalista e fundador do partido socialista italiano, que morreu na década de trinta do século passado na Itália fascista, regime contra o qual lutou toda uma vida.

Seus escritos se deram em sua maioria no cárcere, os quais somente foram editados após sua morte; de seus cadernos nem sempre escritos de forma longitudinal, tem-se uma extensa bibliografia.

A maioria dos estudiosos dos problemas educacionais que seguem a orientação marxista afirma que, à escola está reservada a função de reproduzir as desigualdades sociais, reproduzindo a ideologia das classes dominantes.

Gramsci, porém, nos diz algo diferente sobre a escola e a sua função: ela pode ser em certa medida, transformadora, sempre que possa proporcionar às classes subalternas os meios iniciais para que, após uma longa trajetória de conscientização e luta, se organizem e se tornem capazes de “governar” aqueles que as governam.

Gramsci não nega a função reprodutora da escola. Mas seu pensamento tem um compromisso com a transformação da sociedade, e ele procura encarar a escola como uma instituição, que é certo produz o conformismo e a adesão, mas, dentro de certas condições, pode trazer um esclarecimento que contribui para a elevação cultural das massas.

Tendo em vista as dificuldades criadas pelo tipo de exposição característica dos textos de Gramsci, em que as idéias são retomadas em sucessivas oportunidades, precisadas e reelaboradas em diferentes passagens, o procedi-mento adotado pela Professora Luna foi o de tentar isolar os principais conceitos introduzidos por Gramsci em seus textos teóricos dedicados à análise da ideologia e da cultura. Ele assim escreveu seus textos, de forma fragmentária, para “driblar” a censura carcerária a que estava condicionado e pela sua saúde precária (Gramsci morreu quatro dias após conseguir a liberdade).

A característica própria da produção teórica de Gramsci é a perspectiva da transformação da sociedade que orienta sua reflexão e, portanto, a própria natureza dos conceitos que tal reflexão produziu. Assim sua perspectiva é sempre elaborar conceitos que ajudem a classe operária e seus intelectuais (o seu partido) a firmar o poder do proletariado sobre o conjunto das classes subalternas e a disputar a direção intelectual e moral do conjunto da sociedade, visan-do à tomada do poder político e à alteração da situação de dominação.

Seguindo os pensamentos de Antonio Gramsci, a Professora Luna organiza, no que ele refere à educação, sua exposição em torno do eixo fornecido pela idéia da “escola unitária”, proposta educacional construída tendo como ba-se o processo vivo que levou, num dos movimentos empreendidos pela burguesia, para reforçar e proteger sua hegemonia, à constituição da “escola nova”, a “escola ativa”, na qual haveria maior aproximação professor-aluno e os problemas da vida “prática” (mundo do trabalho) passariam a ser firmemente considerados. A “escola unitária” de Gramsci seria o desfecho de todo o processo de crise da velha escola – crise esta determinada pela agonia da sociedade e da cultura tradicionais, pré-industriais, com o que a escola se separou da vida, tornando-se “desinteressada” demais ou “especializada” demais.

A crise da escola, para Gramsci, era uma “progressiva degenerescência”: as escolas de tipo profissional, isto é, preocupadas em satisfazer interesses próprios imediatos, passavam a predominar sobre a escola formativa, imediatamente desinteressada, invertendo a estrutura que prevalecia anteriormen-te. O novo tipo de escola, porém, ainda que tivesse muitos elementos progressistas, não era democrático e acabava por se realizar como um fator adicional de perpetuação e cristalização de diferenças sociais. Para destruir tal armadilha seria necessário, nas palavras de Gramsci, “não multiplicar e hierarquizar os tipos de escola profissional, mas criar um único tipo de escola preparatória (primária-média) que conduza o jovem até os umbrais da escolha profissional, formando-o, durante este meio tempo, como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou controlar quem dirige”. Em outros termos, seria necessário fundar a “escola unitária”, a “escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre de modo justo o desenvolvimento da capacidade trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual”.

No pensamento de Gramsci a construção da “escola unitária” não está condicionada à derrocada do Estado burguês, pois se trata de um processo de superação da escola existente: ele decorre acima de tudo, do desenvolvimento dos elementos racionais da “escola nova” e da luta contra seus aspectos con-servadores, elitistas, cristalizadores das divisões sociais, num processo em que a construção do “novo” se afirma no bojo mesmo da luta pela destruição do “velho”. É por isso que ele afirmava que “o advento da escola unitária significa o início de novas relações entre trabalho intelectual e trabalho industrial não apenas na escola, mas em toda vida social. O princípio unitário, por isso, irá se refletir em todos os organismos de cultura, tranformando-os e emprestando-lhes um novo conteúdo”.

Visualizada no todo, a obra da Professora Luna Galano é muito mais que um estudo sistemático do pensamento de Gramsci: analisando os próprios escritos de Gramsci, cria uma maneira de estudar, ao buscar em obras de ou-tros autores o desmembramento e a interpretação de um pensador que antes de ser brilhante pensou no âmago da própria luta de classes.

Bibliografia:

MOCHCOVITCH, Luna Galano. Gramsci e a escola. SP, Ed. Ática, 1990. 80 p.

Autor: Ana Luiza Teixeira Portella

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