Dislexia: Um Estudo Reflexivo nos Dias Atuais
Este artigo explora a dislexia, suas causas, sintomas e intervenções psicopedagógicas, além de oferecer orientações para educadores e familiares sobre como apoiar crianças disléxicas.
DISLEXIA: Um Estudo Reflexivo nos Dias Atuais
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
I CONCEITUANDO DISLEXIA
1.1 ANTECEDENTES DA DISLEXIA
1.2 ALGUNS DOS SINTOMAS MAIS FREQUENTES DA DISLEXIA
II DIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS DISLEXAS
2.1 DEFININDO O DIAGNÓSTICO
2.2 A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO
2.3 AVALIAÇÃO DO DIAGNÓSTICO.
2.4 VERDADES E MENTIRAS A RESPEITO DA DISLEXIA
2.5 O EXAME DO DISLEXO
III INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA EM CRIANÇAS DISLEXAS
3.1 NA ESCOLA
3.2 NA FAMÍLIA
3.3 COM O ALUNO
3.4 UMA PALAVRA FINAL SOBRE DISLEXIA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS:
INTRODUÇÃO
A dislexia é uma dificuldade ou distúrbio de aprendizagem e linguagem, não sendo necessariamente todos os problemas de aprendizagem detectados como dislexia, pois existem vários outros fatores que interferem.
Apresenta como questões de estudo verificar e ajudar a descobrir maneiras, ou método pela qual o disléxico possa se desenvolver, ajudando educadores e familiares a compreenderem que a dislexia é um problema, buscando compreender e encontrar formas eficazes de se trabalhar. Para mais informações sobre o desenvolvimento infantil, consulte Psicologia Infantil: Processos Interacionais e Construção de Conhecimento e Subjetividade.
Assim, esse trabalho apresenta como objetivo compreender a dislexia, para que ela seja corretamente diagnosticada por profissionais especializados e comprometidos, e verificar a importância do professor quanto à sua atuação, sendo imprescindível o conhecimento do assunto Dislexia.
Com ajuda de especialistas e profissionais, é possível desenvolver as capacidades, levando o disléxico a se desenvolver melhor sem discriminações e preconceitos.
Assim, aguçou-nos o interesse de se trabalhar com o assunto dislexia, pois, como se pode observar, muitas crianças são reprovadas nas séries iniciais do ensino fundamental, sem ter o acompanhamento de profissionais qualificados, e muitas vezes sem saber qual é a causa de tanta repetência. Não podemos deixar de falar na grande falta de conhecimentos e divulgação que o assunto dislexia traz.
O professor deve identificar a dislexia e ter clareza para melhor trabalhar, assim conseguindo resultados desejáveis e abrindo portas para se enfrentá-la com maior segurança e confiança.
Desta forma, realizaremos uma pesquisa bibliográfica com a finalidade de encontrar respostas para esse problema. Para tanto, foram mapeados os autores Condemarim (1989), Inahez e Nico (2003), Wallon (1927), Frank (2003), Gorman (2003), entre outros, que deram o suporte teórico necessário à pesquisa.
Assim, a pesquisa foi desenvolvida em capítulos para uma melhor compreensão do tema abordado. No 1º capítulo, Conceituando Dislexia, procurou-se entender, dar e conhecer os conceitos básicos dessa dificuldade e verificar os sintomas mais frequentes da mesma.
I CONCEITUANDO DISLEXIA
Levando em consideração os estudos da ABD, International Dyslexia Association (1994), ou seja, a Associação Internacional de Dislexia, pressupõe que a dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. Um distúrbio específico de linguagem, de origem constitucional, caracterizado pela dificuldade em decodificar palavras simples. No qual o dicionário Michales-UOL (acesso em 27 de agosto de 2007) define o distúrbio como: perturbação, agitação, desordem, motim, traquinice, transtorno, confusão, rebuliço, alteração.
Segundo Ross Alanoto (1979), distúrbio é uma discrepância demonstrável entre o potencial teórico estimado e o desempenho teórico real, distúrbios que variam de brandos a severos e que são associados a desvios de função do sistema nervoso central, onde se manifestam por diversas combinações de deficiências na percepção, conceitualização, linguagem e controle de atenção, de impulso ou função motora.
Demonstra uma insuficiência no processo fonológico, e essa dificuldade na decodificação de palavras simples não é esperada em relação à idade. A criança falha no processo de aquisição da linguagem com frequência, incluindo os problemas de leitura, aquisição e capacidade de escrever e soletrar, mesmo apresentando inteligência adequada, instrução adequada, oportunidade sociocultural e ausência de distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais.
Além disso, apresenta uma história de atraso na aquisição e uso da linguagem falada. Por apresentar muitas formas e variados sintomas que se combinam de modos diferentes em cada indivíduo, pois quando se fala em dislexia, observa-se que é uma dificuldade mais facilmente descrita do que denominada.
A etimologia da palavra, segundo Ianhez e Nico (2002), se apresenta como: dis = distúrbio, dificuldade, lexia = leitura (do latim) e/ou linguagem (do grego) e dislexia = distúrbio de linguagem.
Esse termo foi adotado para denominar um distúrbio específico na aquisição da leitura e escrita. Isso não implica dizer que qualquer sinal de dificuldade nesta área possa identificar um indivíduo com dislexia, pois são vários os sintomas que podem intervir no processo da aquisição da linguagem, assim se torna imprescindível um diagnóstico preciso, multidisciplinar e de exclusão. Durante a realização de testes, feito por um profissional, este irá descartar ou confirmar a suspeita da dislexia, e assim a avaliação prossegue, isto é, vai se excluindo possibilidades.
Há suspeitas de um quadro de dislexia, ou quadro de risco, mesmo se o indivíduo tiver inteligência adequada, bem como oportunidades de ensino e aprendizagem, prevê que se o indivíduo apresenta alguns dos sintomas citados anteriormente, é possível que seja dislexo. Esses sintomas podem se manifestar de forma combinada e, ainda se combinarem de diferentes modos em cada disléxico.
Segundo Frank (2003), dislexia é um problema neurológico relacionado à linguagem e à leitura. As habilidades de escrita, de palavras e de textos, de audição, de fala e de memória também podem sofrer impactos.
Um enorme número de pessoas acredita erroneamente que dislexia seja simplesmente uma questão de espelhar números ou ter dificuldade para ler; ela é muito mais complexa e extensa do que isso. Traz dificuldades na escrita, nas relações espaciais, nas direções, na administração do tempo, na lembrança de palavras e na memória.
Dentre todos os desafios que as pessoas com dislexia enfrentam, os problemas com o processo da linguagem, incluindo ortografia e escrita, são os mais facilmente reconhecidos.
Muitas vezes, os disléxicos têm dificuldade em processar palavras. Esse exercício mostra como é ter de pensar em cada palavra que se fala e como é ter de falar com mais lentidão. Todas as pessoas com dislexia apresentam certa dificuldade com a linguagem, mas o que isso significa de criança para criança pode variar muito.
Embora a dislexia afete a capacidade da criança de ler, escrever, compreender a linguagem ou expressar-se claramente enquanto escreve ou fala, ela não é devida à falta de inteligência.
Frank (2003) afirma que a maioria dos indivíduos disléxicos possui inteligência igual ou superior à média. Infelizmente, os problemas de uma criança com capacidade de aprender e de processar, de reter, de obter e de expressar informações podem resultar na impressão errônea de que a criança não é esperta.
Qualquer pessoa, de qualquer etnia ou classe socioeconômica e de ambos os sexos, pode vir a ter dislexia. Não há meios de predizer se determinada criança vai ter dislexia. Contudo, se alguém na família tiver dislexia, os filhos terão maiores chances de vir a manifestá-la do que uma criança que não apresente essa condição. Pode haver uma ligação genética na família, mas um pai com dislexia não vai necessariamente ter um filho com dislexia.
O medo da descoberta é talvez o elemento mais significativo para a criança com dislexia, que se vê em situações nas quais as pessoas à sua volta não sabem de seu problema; então pode decidir mantê-lo oculto porque se sente envergonhada, embaraçada ou anormal. Ela pode sentir que a única solução é evitar situações em que possa ser descoberta.
Frank (2003) alerta que muitas crianças, ou mesmo muitos adultos, temem que, uma vez que seu transtorno se torne público, não consigam fazer o que esperavam ou acreditavam que pudessem. A carga emocional que o medo causa pode ser esmagadora e é por isso que é tão importante enfrentar com a criança disléxica, ajudando-a a encontrar maneiras de superar seu transtorno.
A melhor maneira de lidar com o problema é explicar com clareza o que é dislexia e o que ela acarreta, usando palavras simples para descrever como a dislexia se manifesta mais comumente, bem como dar à criança com dislexia palavras que ela consiga compreender, colaborando, assim, para que ela se sinta mais confortável com seu estilo exclusivo de aprendizagem.
O terror de errar que toda criança sente é ampliado na criança com dislexia, porque o erro foi cometido com alguma coisa que para os outros é simples e básico, que uma criança da pré-escola deveria saber. Enquanto todas as crianças erram e geralmente superam seus erros, a vergonha recorrente da criança disléxica pode fazê-la desistir de ir atrás de coisas que quer fazer.
Crianças com dislexia tendem a se sentir nervosas algumas vezes; não há como evitar esse sentimento por completo, mas existem maneiras de redirecioná-lo. O primeiro passo é lembrá-la das coisas que ela faz bem. Quanto mais os atributos e talentos forem enfatizados, mais o indivíduo vai se concentrar em seus pontos fortes ao invés dos fracos; o segundo passo é encontrar um espaço adequado para que se possa expressar sua raiva.
A chave é encontrar uma atividade em que possa se sair bem, e isso exige pesquisa, além de tentativas e erros. Um lugar onde possa se sobressair vai lhe dar a certeza de que, embora não consiga ler ou escrever com a mesma facilidade dos outros, tem seus talentos específicos, o que é essencial.
A melhor maneira de dar apoio às crianças com dislexia é estar presente e ser paciente com seus sentimentos. Negar que ela vai vivenciar essas emoções de vez em quando ou dizer a ela para não se sentir assim é inútil. Deixar que ela saiba que não é errado se sentir assim, mas sempre garanta que você vai ajudá-la a encontrar formas de lidar com a dislexia.
Uma criança com dislexia vivencia seus efeitos vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. É uma questão para a vida toda da criança, a qual, geralmente, pergunta:
Por que não posso ser normal?
Por que isso sempre acontece comigo?
Mesmo quando tem idade suficiente para entender seu problema e para utilizar as estratégias de cópia, ainda é difícil não se sentir inferior ou diferente dos outros, que parecem realizar todas as coisas com tanta facilidade.
Muitas crianças e adultos com dislexia têm dificuldades com a lembrança de palavras. A informação é armazenada no cérebro, mas a recuperação apresenta um problema, e esse tempo que leva para lembrar uma simples palavra pode ser extremamente frustrante. A frustração e a tensão se elevam à medida que a criança percebe que está perdendo outras atividades porque uma tarefa comum toma muito tempo.
Para Frank (2003), não há estratégia mais importante do que acreditar na criança com dislexia e mostrar abertamente essa fé. Não importa se for um pai, avô, professor, orientador, diretor ou amigo, toda criança com dislexia precisa de alguém que acredite que ela é capaz e de alguém que lhe dedique mais tempo em ajudá-la para que isso aconteça.
O autor citado conclui que o correto é oferecer quantas estratégias e ferramentas forem possíveis para que a criança com dislexia consiga realizar as tarefas independentemente. Às vezes, elas poderão surpreender, mas as adversidades podem inspirar força. Muitas crianças e adultos com dislexia veem seu transtorno apenas como mais um desafio a ser vencido. Uma vez que a criança decide assumir o problema da dislexia, ela pode exibir determinação e força incríveis. Outras podem não encarar essa adversidade na vida e estar despreparadas para isso.
Segundo estudos de Condemarin (1989), a dislexia pode ser específica ou dislexia de evolução. É um conjunto de sintomas reveladores de uma disfunção parietal ou parietal occipital, geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num contínuo que se estende do sintoma leve ao severo.
A dislexia é frequentemente acompanhada de transtornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e redação.
A dislexia afeta os meninos numa proporção maior que as meninas.
O termo dislexia é aplicável a uma situação na qual a criança é incapaz de ler com a mesma facilidade com a qual lêem seus iguais, apesar de possuir uma inteligência normal, saúde e órgãos sensoriais intactos, liberdade emocional, motivação e incentivos normais, bem como instrução adequada.
A dificuldade para ler persiste até a idade adulta, os erros na leitura e na escrita são de natureza peculiar e específica, existe uma incidência familiar de tipo hereditário da síndrome, a dificuldade se associa também a outros símbolos e este modelo pode ser útil para detectar um leitor deficiente em função de uma dislexia específica.
1.1 ANTECEDENTES DA DISLEXIA
A existência de um familiar próximo que apresente ou tenha apresentado problemas de linguagem ou dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, dificuldades no parto: anoxia, hipermaturidade, prematuridade do tempo ou peso, doença infecto-contagiosa que tenha produzido no sujeito um período febril, com vômitos, convulsões ou perda de consciência, atraso na aquisição da linguagem ou perturbações na articulação, atraso na locomoção, problemas de dominância lateral são manifestações de indivíduos disléxicos.
Os antecedentes raramente se apresentam em sua totalidade na história de um disléxico, entretanto, basta a presença de um ou mais para levar à suspeita de uma possível disfunção neurológica. A característica mais marcante do disléxico, ou seja, seu sintoma mais notório, é a acumulação e persistência de seus erros ao ler e escrever.
A análise quantitativa da leitura oral de um disléxico revelará alguma ou várias das seguintes dificuldades:
- Confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia; a – o; c-o; e-c; f-t; h-n; m-n; v -u; etc.
- Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço: b-d; p-q; d-p; d-b; d-q; n-u; w-m; a e,
- Confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x; c-g; m-b; m-b-p; v-f, inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras: me – em; sol tos; som mos; sol tas; pal pla, substituição de palavras por outras de estrutura mais ou menos similar ou criação de palavras, porém com diferentes significados: soltou / salvou; era / ficava, contaminações de sons, adições ou omissões de sons, sílabas ou palavras:
- Famoso substituído por fama; casa por casaco, repetições de sílabas ou frases, pular uma linha, retroceder para linha anterior e perder a linha ao ler, excessivas fixações do olho na linha, soletração defeituosa: reconhece letras isoladamente, porém sem poder organizar a palavra como um todo, ou então lê a palavra sílaba por sílaba, ou ainda lê o texto palavra por palavra, problemas de compreensão, leitura e escrita em espelho em casos excepcionais e ilegibilidade.
Em geral, as dificuldades do disléxico no reconhecimento das palavras obrigam-no a realizar uma leitura hiperanalítica e decifratória. Como dedica seu esforço à tarefa de decifrar o material, diminuem significativamente a velocidade e a compreensão necessária para a leitura normal. Alguns disléxicos apresentam dificuldades para lembrança imediata. Outros, dificuldade para lembrar fatos passados, enquanto que, outros apresentam muita dificuldade para memorizar visualmente os objetos, palavras ou letras.
Freqüentemente, o disléxico apresenta dificuldades para aprender séries, os dias da semana, meses do ano, o alfabeto, custa aprender a ver as horas, tem dificuldade de relacionar um acontecimento com outro no tempo, pois não consegue aprender o significado de sequência e tempo. Os disléxicos são incapazes de orientar-se com propriedade no espaço e aprender a noção de direita e esquerda. Têm freqüentes dificuldades para situar-se com relação a mapas, globos terrestres e em seu próprio ambiente.
O disléxico, não sendo severamente disgráfico, consegue copiar, porém quando escreve um ditado e na escrita espontânea revela sérias complicações e ainda apresenta disgrafia, que é uma dificuldade para escrever ou desenhar as letras, os sinais ou conjuntos gráficos num espaço determinado. O disléxico pode ser capaz de automatizar os aspectos operatórios, porém apresenta dificuldades para aplicá-los na solução de problemas reais. Eles invertem os números ou então sua sequência.
1.2 ALGUNS DOS SINTOMAS MAIS FREQUENTES DA DISLEXIA
Segundo Frank (2003), os sintomas mais comuns da dislexia são:
- Desempenho inconstante, demora na aquisição da leitura e da escrita, lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não orais, escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas, dificuldade com os sons das palavras e, conseqüentemente, com a soletração, dificuldade de associar o som ao símbolo, dificuldade com a rima (sons iguais no final da palavra) e aliteração (sons iguais no início das palavras), discrepâncias entre as realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo, dificuldade para a organização espacial sequencial, por exemplo, as letras do alfabeto, os meses do ano, tabuada e semelhantes dificuldades em nomear objetos, tarefas e outros.
- Dificuldade em organizar-se com tempo (hora), no espaço (antes e depois) e direção (direita e esquerda), dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações, ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata, dificuldade em organizar suas tarefas, dificuldade em cálculos mentais, desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever e persistência no mesmo erro, embora conte com ajuda profissional.
A dislexia não é uma doença, mas um distúrbio específico de aprendizagem na área da leitura e da escrita. Os indivíduos com dislexia caracterizam-se justamente com a inteligência no mínimo média. Crianças com inteligência abaixo da média se enquadram em outro tipo de dificuldade, portanto não são disléxicas.
II DIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS DISLEXAS
2.1 DEFININDO O DIAGNÓSTICO
A diagnose, segundo o Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa (1997), apresenta conhecimentos ou determinação de uma doença pelos sintomas e conjunto dos dados em que se funda essa determinação. E segundo Antônio Geraldo da Cunha (1986), do grego diagnósis que quer dizer discernimento, exame de diagegnoskei, discernir, capaz de ser discernível.
2.2 A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO
Levando em consideração os estudos de Ianhez e Nico (2002), um diagnóstico correto, feito no momento adequado, logo que as dificuldades se fizerem presentes, presta um grande serviço para a criança quanto para os seus pais. Pois a suspeita traumatiza a criança e pode paralisar os pais na busca de soluções adequadas.
A constatação de que uma criança é portadora de dislexia provoca ansiedade tanto na família quanto na escola e nos profissionais de educação. Em relação à criança, observa-se que definir a causa de suas dificuldades provoca mais a sensação de angústia, pois não ficará mais exposta ao rótulo de preguiçosa, desatenta, bagunceira ou outro adjetivo pejorativo.
(…) esforçar-nos-emos para dissipar o mito da dislexia como apenas uma condição que afeta crianças e adultos na leitura, escrita e soletração. É importante lembrar que a dislexia pode causar profundos efeitos negativos na personalidade, se não for acompanhada adequadamente, mas também poderá ter numerosos efeitos positivos tanto na personalidade quanto na vida escolar e profissional da pessoa afetada. (INAHEZ & NICO, 2002, p.16).
Portanto, o diagnóstico da dislexia é de exclusão, isto é, excluindo possibilidades, deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo. Quando necessário, é feito o encaminhamento para outros profissionais como: neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista e pediatra. É feito para se determinar se existem ou não outros fatores que possam comprometer o processo de aprendizagem, ou mesmo coexistindo com a dislexia.
É imprescindível a troca de informações entre os profissionais envolvidos para se confirmar a dislexia. Informações sobre o histórico familiar, o desenvolvimento da criança, desempenho escolar e métodos de ensino são de muita importância, por isso os pais e a escola também são fontes essenciais de informações.
Essa troca de dados entre os profissionais é de extrema importância para se fazer o encaminhamento adequado e também para esclarecimento sobre o diagnóstico para os pais, professores e para o próprio disléxico. E o objetivo não é rotular, mas tentar estabelecer um prognóstico e encontrar caminhos eficazes para a reeducação.
Entretanto, considerando os estudos de Condemarin (1989), observa-se que para diagnosticar uma criança com dificuldades na aprendizagem é necessário um conjunto de procedimentos e sugestões a serem utilizadas. A autora admite que entre 10% a 15% dos alunos com dificuldades de aprendizagem são disléxicos, numa proporção de 3 (três) meninos para 1 (uma) menina.
A leitura se apresenta como uma das formas mais abstratas de estudo, pois implica captar e interpretar, e baseado nesta abstração o professor precisa estar atento para a dificuldade específica de cada aluno. Se a criança é incapaz de automatizar as destrezas e habilidades na leitura, ela precisa abraçar um trabalho decifratório e lento. O professor não deve avançar, é preciso acompanhar o aluno para poder ajudá-lo.
Na atualidade fala-se muito em evasão e fracasso escolar sem se despertar para esta necessidade de acompanhar mais de perto o aluno, pois geralmente o disléxico é uma criança triste e deprimida, outras vezes agressiva e angustiada. Esses sentimentos negativos presentes afetam o estado emocional, e as dificuldades de leitura produzem complicações na aprendizagem escolar e ainda incidem no diagnóstico das crianças com problemas de adaptação.
A criança que não consegue ler ou lê com dificuldade, fracassa na maioria das matérias escolares, e em outras épocas, considerava-se o leitor deficiente com um retardo mental ou negligente, obrigando a criança a repetir o ano ou a abandonar a escola. Isso era confundido com incapacidade ou dificuldade para aprender. Mas na atualidade existe uma preocupação no sentido de discriminar a natureza do problema e estabelecer um diagnóstico preciso como procedimentos terapêuticos adequados.
De acordo com Condemarin (1989), a leitura não constitui uma habilidade isolada, faz parte de um processo lingüístico complexo. O desenvolvimento da linguagem tem etapas interdependentes e hierarquizadas, a leitura e a escrita marcariam os estágios superiores. Recebendo estímulos auditivos, visuais, táteis, olfativos e gustativos associados, chegam a ser significativos. Com eles, a criança forma uma linguagem interna, escuta símbolos auditivos que representam acontecimentos de seu ambiente, os quais chegam a ser significativos para ela. Assim, desenvolve uma linguagem receptiva.
Após um período de assimilação e graças à imitação, a criança utiliza símbolos verbais, que compreende a entrada no período da linguagem expressiva. Em torno da idade de seis anos e meio, quando ingressa na escola, aprende a ler pela imposição de símbolos verbais e visuais à sua linguagem auditiva. A palavra impressa representa símbolos auditivos, que por sua vez representam experiências.
Mais tarde, a criança é capaz de expressar-se através da escrita de símbolos gráficos. As etapas sequenciais do funcionamento verbal seriam: aquisição de significado, compreensão da palavra, expressão da palavra impressa (leitura), expressão da palavra impressa (escrita). Aprender a ler é uma parte do desenvolvimento total da linguagem. As dificuldades da leitura não podem ser consideradas de maneira isolada, mas formando parte de uma deficiência na estrutura ou organização da linguagem em geral. Sendo a dislexia específica (hereditária) a mais frequente das dificuldades para aprendizagem da leitura e da escrita.
2.3 AVALIAÇÃO DO DIAGNÓSTICO
Examinando as características das crianças com problemas na leitura numa população escolar, verifica-se que certo número delas não pode ser consideradas disléxicas. E a maioria das dificuldades na leitura, excluindo a dislexia específica, proveria de: incapacidade geral para aprender; imaturidade na iniciação da aprendizagem da leitura; alterações no estado sensorial e físico; problemas emocionais; carência cultural e métodos de aprendizagem defeituoso. Essas causas podem produzir na criança um retardamento secundário na leitura.
Condemarin (1989) relata que, no entanto, a dificuldade para captar o significado dos símbolos gráficos frequentemente é confundida com a incapacidade para aprender. Uma incapacidade para aprender pode ser o resultado de uma inteligência inferior. E a imaturidade na iniciação da aprendizagem constitui uma causa frequente de dificuldades na aprendizagem da leitura. A instrução formal da leitura deve iniciar-se quando a criança possui uma idade mental de seis anos e meio aproximadamente. Essa iniciação formal refere-se ao ensino sistemático dos símbolos gráficos.
Entretanto, nem todas as crianças atingem um nível de maturidade para a leitura numa mesma idade cronológica; tal como no ato de caminhar, nem todos atingem a maturidade necessária para a aprendizagem sistematicamente simultaneamente. As diferenças de sexo são muito acentuadas, geralmente os meninos amadurecem um ano e meio depois que as meninas e são estas que, como grupo, aprendem a ler primeiro.
No entanto, as escolas regem-se pela idade cronológica como único critério de seleção para alunos que ingressem na primeira série e não consideram o aspecto de maturidade para a iniciação da aprendizagem da leitura. Estar pronta para ler implica maturidade em vários aspectos: a criança deve possuir uma idade visual. Crianças de seis anos possuem frequentemente uma hipermetropia, isto é, não podem ver com clareza objetos tão pequenos como uma palavra, portanto a iniciação precoce na aprendizagem conduz a dificuldades que podem adquirir o caráter de permanentes.
Sendo também que uma saúde deficiente pode constituir-se na base de uma incapacidade para aprender, ocasionando uma série de fatores que podem intervir como: disfunção glandular, deficiência vitamínicas, problemas nutricionais e circulatórios, enfermidades no coração, amigdalite, asmas, alergia, tuberculose, entre outros.
Os estudos de Condemarin (1989) relatam que o metabolismo basal alterado pode transformar a convergência dos olhos, e a criança pode ser incapaz de manter uma adequada visão binocular: retorna, omite palavras e perde a linha.
A Diabetes melitus também pode associar-se com problemas visuais, pois as condições de hipertiroidismo impedem a normal fixação do conteúdo lido, que então ocasionam falhas na atenção e fadiga geral. E crianças cujas condições motoras ou cujos órgãos sensoriais (visão ou ouvido) ou da fala são muito deficientes podem ter grande atraso na leitura, mesmo não sendo disléxicas.
No entanto, a causa essencial de seu mau rendimento encontra-se em problemas emocionais. Demonstra que tanto a angústia como a depressão diminuem a eficiência da aprendizagem. E pais severos, autoritários ou ansiosos podem originar, por deslocamento, medo do professor ou fobia à escola.
Crianças com problemas emocionais severos tendem comumente a refugiar-se num estado regressivo infantil. E os problemas afetivos limitam a possibilidade de a criança ter uma aprendizagem com sucesso.
Alunos disléxicos apresentam problemas emocionais. Em sua grande maioria, estes aparecem como consequência de sua dislexia. O disléxico sofre em função de seu mau rendimento escolar, e diante de seus repetidos fracassos, retira-se da competição, tornando-se uma criança deprimida.
Entretanto, outra causa que implica perturbações na aprendizagem da leitura é a privação cultural. A alta correlação existente entre o aspecto cultural do lar, da comunidade e o rendimento escolar.
Crianças que têm experiências com livros, televisão, viagens, boa linguagem, etc., possuem potencial maior para captar e dar significado à folha impressa. Pelo contrário, para as crianças culturalmente carentes, a maioria dos símbolos da página impressa é vazia de significados, na medida em que apresentam experiências que nada têm a ver com elas.
O aspecto cultural afeta tanto a motivação como o incentivo para a aprendizagem. As causas anteriormente assinaladas, a deficiência instrucional pode afetar a aprendizagem da leitura. A instrução pode ser inadequada porque não está adaptada àquela criança individualmente ou não é sistemática, ou o professor não enfatiza as habilidades básicas, ou então não utiliza um método único apropriado.
Algumas condições metodológicas inadequadas, demasiada ênfase, por exemplo, no fonético, pode produzir uma leitura excessivamente analítica que limita a compreensão e a velocidade da leitura. Um método sobrecarregado, monótono, difícil e que descuida os interesses infantis na seleção do vocabulário e dos temas pode criar na criança uma atitude negativa e de recusa com relação à leitura.
Rigidez ou falta de flexibilidade por parte do professor quanto à aplicação do método, ou inadequação com relação às diferenças individuais das crianças, pode criar também atitudes negativas; falta de instrução naquelas habilidades que for seu nível de dificuldades, requerem mais exercício, pode afetar o domínio da etapa e das etapas seguintes da aprendizagem. Sendo que, nenhuma dessas dificuldades deve incluir-se entre as causas da dislexia.
De acordo com Frank (2003), diagnosticar a dislexia não é uma questão simples. O processo envolve um grande número de profissionais e uma bateria de testes. Envolve muitas áreas diferentes e níveis de especialidade. Nenhum diagnóstico é útil sem um plano de ação traçado com base nos resultados obtidos dos profissionais no campo da educação especial.
Frequentemente, é o professor quem percebe primeiro os sinais da dislexia. As suspeitas costumam aparecer quando uma criança brilhante demonstra problemas na leitura. Isso pode ser uma surpresa para os pais, pois esperam que ela vá bem na escola uma vez que sempre foi uma aluna(o) exemplar.
É mais adequado procurar ajuda e descobrir que seu filho não precisa dela, do que descobrir muito depois que ele necessita dela, mas não a recebeu porque os adultos não estavam por dentro (FRANK, 2003, pg. 79).
Portanto, para se fazer um diagnóstico correto da dislexia, deve-se verificar inicialmente se na história familiar existem casos de dislexia ou de dificuldades de aprendizagem e se na história do desenvolvimento da criança ocorreu um atraso na aquisição da linguagem.
A avaliação da dislexia ocorre com mais frequência na terceira série, embora às vezes o problema seja detectado mais tarde. Quanto mais rápido conseguir os profissionais adequados trabalhando em benefício da criança, melhor.
Na busca de um diagnóstico preciso e do planejamento para uma intervenção e remediação, um completo diagnóstico diferencial deve ser administrado, considerando a totalidade da síndrome da dislexia. É necessário verificar se é uma dislexia propriamente dita, ou se é um atraso no desenvolvimento da leitura decorrente de fatores adversos como uma deficiência sensorial ou atraso cognitivo.
No entanto, há casos em que podem ocorrer comorbidades, ou seja, mais de um transtorno ao mesmo tempo. Um exemplo disso é a presença da dislexia associada a um quadro de Transtorno de Déficit de Atenção (mais comumente conhecido pelo freqüente sintoma da hiperatividade). Nesses casos, uma avaliação médica faz-se necessária.
Materiais didáticos para auxiliar no aprendizado podem ser uma boa opção para ajudar crianças com dislexia.
Autora: Maria José Fonseca
Psicóloga