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Desenvolvimento sociocultural no turismo: benefícios e impactos

Descubra os benefícios do desenvolvimento sociocultural para o turismo! Entenda como as práticas culturais e sociais afetam a experiência de viagem e como as mudanças podem melhorar sua experiência.

Desenvolvimento sociocultural no turismo: benefícios e impactos


Resumo:
O município de Canindé do São Francisco, localizado no noroeste do estado de Sergipe, é banhado pelo Rio São Francisco e faz limite com os estados de Alagoas e Bahia. A pequena cidade de Canindé, a 213 km de Aracaju, passou a ser o município mais visitado após a construção da Usina Hidroelétrica de Xingó. Este artigo tem como objetivo analisar o desenvolvimento sociocultural do turismo presente no município de Canindé do São Francisco e a sua importância no processo cultural e social da comunidade no município estudado.

Para a realização desse estudo, utilizou-se um vasto material bibliográfico, visando fundamentar a análise, tanto do ponto de vista empírico como teórico. Utilizou-se também informações obtidas através de moradores mais antigos e entrevistas com a população autóctone do município. Constatou-se com a análise que o ambiente sociocultural do município apresenta uma grande potencialidade, mas não há uma valorização pela própria comunidade e até de órgãos públicos e privados. Assim, concluímos que é de fundamental importância o interesse das autoridades e da comunidade local para a promoção do desenvolvimento.


O tema deste artigo pretende apresentar um levantamento de dados referentes ao desenvolvimento sociocultural do turismo no Município de Canindé do São Francisco – SE. Desde a Antiga Canindé, existia um ambiente sociocultural bastante singular, se projetando até a Nova Canindé com virtudes e problemáticas.

Na Antiga Canindé, se destacavam como sociocultural as festas tradicionais, as religiões, o artesanato e principalmente as danças, que atualmente não apresentam tanta intensidade no município. Com a construção da Hidrelétrica de Xingó, as águas invadiram a Antiga Canindé, onde habitavam vinte famílias que eram todos parentes e se conheciam. Em consequência, os moradores foram transferidos para a Nova Canindé, e junto com eles, algumas de suas tradições sociais os seguiram. Com essa mudança, outros ambientes socioculturais surgiram, como a Festa da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição, comemorada no dia 08 de dezembro. Além disso, o artesanato também é predominante em Canindé, ressaltando o bordado, ponto cruz, pinturas e trabalhos feitos em couro que influenciaram o município através da Antiga Canindé, onde foi fundado um curtume de couro. LÓCIO (2000, p.10)

Vale a pena ressaltar que, com a passagem da Antiga para a atual Canindé, foram agregadas outras culturas, dentre elas, a religiosa, o artesanato e a comida típica com a presença de novos moradores e visitantes.

Este artigo tem, portanto, como objetivo analisar a questão sociocultural presente em Canindé do São Francisco – SE, cujos reflexos aparecem na população local do município. Apóia-se nos textos de Kadt (1976) e O’Grady (1981), que detalharam casos em que o turismo causou mudanças profundas na estrutura, nos valores e nas tradições de sociedades.

Deve-se enfatizar que o desenvolvimento do turismo pode ocasionar impactos socioculturais. Em fase das diretrizes centrais adotadas para a concretização dessa pesquisa, procedeu-se inicialmente a um levantamento bibliográfico e, em seguida, foram levantados dados através da pesquisa direta realizada com moradores mais antigos, inclusive os que moraram na Antiga Canindé, através de entrevistas junto à comunidade local.

O período abrangido pelo estudo compreende os meses de março ao final de maio de 2003. O presente artigo foi subdividido: na primeira parte, as definições preliminares de turismo, turismo cultural e sociocultural; na segunda parte, Canindé do São Francisco-SE e sua história; e na terceira parte, aspectos socioculturais.

1. DEFINIÇÕES PRELIMINARES DE TURISMO, TURISMO CULTURAL E TERMO SÓCIO-CULTURAL

O fenômeno turístico, em termos de história, iniciou quando o homem deixou de estar em um só local e passou a viajar, motivado pelas necessidades de comércio com outras civilizações. Assim como a motivação econômica, a motivação religiosa foram fatores responsáveis pela prática do turismo. McIntosh indica que o turismo deve ter surgido com os babilônios por volta de 4.000 a.C.:

“El invento del dinero por los sumerios (babilonios) y el auge del comercio que se inició aproximadamente em el año 4.000 a.C., tal vez señale el comienzo de la era moderna de los viajes. Los sumerios fueron los primeiros en concebir la idea del dinero y en aplicarla a sus transacciones comerciales. (También inventararon la escritura y la reuda, por lo que se les podría considerar como los fundadores de los viajes). El hombre podía pagar por el transporte y el alojamiento ya fuera con dinero o por trueque de bienes.” (McIntosh, 1993).

No Brasil, a história do turismo é traçada através do descobrimento, pelas primeiras expedições marítimas que chegaram com Américo Vespúcio, Gaspar Lemos, Fernando de Noronha e outros. As viagens não foram praticadas apenas pelos portugueses. Alguns documentos relatam que os navegadores holandeses, ingleses, espanhóis e franceses também utilizaram as costas brasileiras.

Analisando diversos autores, IGNARRA aborda o conceito de turismo como sendo uma matéria bastante controversa, estando relacionado com viagens, porém nem todas as viagens podem ser consideradas como turismo (1998, p.24).

Oscar de La Torre definiu da seguinte forma: “Turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.”

Visando ampliar o entendimento do turismo, buscou-se a definição da OMT – Organização Mundial do Turismo, definindo turismo como sendo “as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outros.” (OMT, 2001, p.46).

Como se vê pela diversidade das definições, o turismo é um fenômeno amplo. Entretanto, se torna necessário entender o significado de turismo cultural e, consequentemente, o termo sociocultural. IGNARRA, numa definição, diz que o turismo cultural compreende uma infinidade de aspectos, todos eles possíveis de serem explorados para atração do visitante (1997, p. 120).

SWARBROOKE (2000, p.36) indica que o turismo cultural é um dos principais segmentos do turismo e, de modo geral, pode ser associado com outras atividades turísticas. Pode ser definido como uma atividade de lazer educacional que contribui para aumentar a consciência do visitante e sua apreciação da cultura local em todos os seus aspectos, históricos, artísticos, etc. Desse modo, turismo cultural é uma segmentação do mercado turístico que incorpora uma variedade de formas culturais, incluindo museus, galerias, festivais, festas, arquitetura, sítios históricos, performances artísticas e outras que caracterizam uma comunidade e que atraem os visitantes em busca de características singulares de outros povos.

O turismo cultural é sensível, suave e inteligente, no qual se complementa ao turismo sustentável. Há vários aspectos do turismo cultural, e é preciso definir o que é turismo cultural, por apresentar vários tipos de recursos, será apresentado um esquema elaborado por SWARBROOKE (2000, p.36).

Tabela 1.1 – RECURSOS DO TURISMO CULTURAL

Fonte: SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: Turismo Cultural, Ecoturismo e Ética.

O estudo apresentado sobre o termo sociocultural é fundamental para o entendimento do desenvolvimento sociocultural do turismo. Para um melhor entendimento da ligação entre turismo cultural e sociocultural, torna-se necessário conceituar o termo. COOPER, numa definição, diz que sociocultural é manifestado através de uma gama enorme de aspectos, que vão desde as artes e o artesanato até o comportamento fundamental de indivíduos e grupos coletivos (2001, p. 201).

Esta análise sobre sociocultural é bastante complexa, onde se diz respeito a toda uma gama de instituições, crenças, valores e sistemas de vida que as sociedades têm criado através de sua evolução histórica, ou seja, a cultura em seu sentido mais amplo. São compostas por elementos e manifestações tangíveis ou intangíveis, produzidas pelas sociedades, no qual fazem parte as diversas manifestações da cultura popular (indígena, regional, popular, urbana), as populações ou comunidades tradicionais, as línguas indígenas, os artesanatos e as artes populares, os trajes, os conhecimentos, valores, costumes e tradições características de um grupo a cultura.

Da mesma forma que uma pouca atenção tem sido dada aos impactos socioculturais do turismo sobre uma população de turistas, que tais podem ser positivos ou negativos e que podem afetar tanto os nativos quanto os visitantes. Os impactos podem ser positivos, em casos que o turismo preserva ou resgata as habilidades artesanais das comunidades, ou até mesmo aumenta a comunicação cultural entre duas populações diferentes. Contudo, os impactos podem ser negativos com a degeneração das artes e artesanatos e a comercialização de rituais e cerimônias de uma população nativa, prejudicando a comunicação entre ambos os povos.

Desse modo, até mesmo as roupas que usamos, a comida que comemos e os estilos de vida e comportamentos em geral podem ser influenciados pelos lugares que visitamos ou vice-versa. Os impactos em suas duas classificações provocam mudanças e estas, por sinal, espalham-se pela sociedade que sofrerá influências de vários fatores, incluindo o sociocultural.

O “efeito demonstração” é um conceito complexo que está em torno da ideia de que a presença de turistas, em conjunto com a população local, aos estilos dos visitantes, apresenta um impacto sobre os estilos de vida da comunidade local. Em 1982, MATHIESON e WALL afirmaram o conceito que:

“O efeito demonstração pode ser vantajoso se ele encorajar a população local a adaptar-se ou trabalhar por coisas que ainda lhe faltam. Geralmente, ele é prejudicial e a maioria dos autores mostra preocupação com os efeitos sobre as destinações do exterior e os impactos dos turistas que desfilam símbolos de suas riquezas para as comunidades locais. Os objetos estrangeiros são raramente desejados antes que sejam introduzidos nas comunidades locais e, para a maioria dos residentes nas áreas turísticas dos países emergentes, esses objetos permanecem dolorosamente fora de seu alcance. Como resultado, o descontentamento cresce entre as comunidades visitadas.” (Mathieson e Wall, 1982).

Para que o efeito demonstração aconteça, não é necessário que o turista entre em contato direto com os membros da população anfitriã. Alguns membros anfitriões são influenciados pelo comportamento de turistas, e até mesmo vice-versa.

De uma forma geral, tem-se dado uma atenção mais significativa aos impactos negativos socioculturais do turismo sobre a comunidade local e sua própria cultura. Mas, é importante reconhecer que também existem impactos positivos nas sociedades e suas culturas que serão ilustrados na Figura 1.2.

Fonte: SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: Turismo Cultural, Ecoturismo e Ética.

A chave dos impactos socioculturais do turismo pode ser a relação entre comunidades locais e turistas. Alguns turistas são afetados pelo que veem nas férias e isso pode trazer algumas consequências:

  • desejam aprender mais sobre culturas diferentes;
  • buscam outras culturas;
  • desenvolvem outro tipo de visão.

Tanto turistas quanto anfitriões desejam imitar outros estilos de vida, ou até mesmo observá-los, estilos da comunidade local e visitante. A partir desse contato de comunidade e visitantes, despertando uma relação sociocultural entre ambos, surgiu então um nível de irritação gerado por esse contato.

  • Nível de euforia – a excitação e o entusiasmo iniciais que vêm com o desenvolvimento do turismo, resultam no fato de que o turista é bem recebido.
  • Nível da apatia – uma vez que o desenvolvimento do turismo está em curso e a consequente expansão aconteceu, o turista passa a ser considerado como algo natural e visto apenas como uma fonte de lucros. Qualquer que seja o contato estabelecido entre anfitrião e hóspede, acontece em uma base comercial e formal.
  • Nível de irritação – à medida que a indústria se aproxima do ponto de saturação, os anfitriões não podem mais atender ao número de turistas em instalações adicionais.
  • Nível do antagonismo – o turista é visto agora como o anunciador de todos os males, os anfitriões estão abertamente contrários aos turistas, que são vistos como estando lá para serem explorados.
  • Nível final – durante o processo de “desenvolvimento” acima, a população anfitriã esqueceu-se de que tudo o que ela uma vez considerou como sendo especial era exatamente aquilo que atraiu o turista, mas na corrida para desenvolver o turismo, as circunstâncias mudaram. Fonte: SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: Conceitos e Impacto Ambiental.

2. CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO-SE E SUA HISTÓRIA

2.1 HISTÓRIA ANTIGA

Canindé fazia parte da sesmaria de 30 léguas de terras, concedidas aos Burgos – família da Bahia chefiada pelo desembargador Cristóvão Burgos e Contreiras – que lhes foi doada em 1629, pelo governador de Pernambuco D. João de Souza. Essas mesmas terras pertenceram depois ao Morgado de Porto da Folha, instituído por Antônio Gomes Ferrão Castelo Branco.

Conforme registro na enciclopédia dos Municípios Brasileiros, nos tempos do Brasil colonial, o território de Canindé foi devassado pela cobiça das bandeiras, mas, por causa da seca que castiga toda a região sertaneja, os primeiros desbravadores acabaram perdendo o interesse pelas terras, apesar da grandeza do Rio São Francisco.

Assim é que, no fim do século XVIII, apenas quatro fazendas existiam nos arredores: Cuiabá, Brejo, Caiçara e Oroco, dispersas nas clareiras abertas no cerrado caatingal de baraúnas, aroeiras, carnaubeiras, coroa de frade, xique-xique, alastrado e mandacarus, ligados pela unha-de-gato. No final do século XIX, Francisco Cardoso de Brito Chaves, conhecido como coronel Chico Porfírio, resolveu investir naquelas terras. Comprou pela quantia de quinhentos mil réis, ao capitão Luiz da Silva Tavares, herdeiro do referido morgado do Porto da Folha, a grande propriedade, então inexplorada, onde se assenta a sede Municipal de Curituba.

Mais tarde, o coronel Chico Porfírio, como era conhecido e tratado, ali construiu a casa em que passou a residir, estabelecendo-se nas proximidades com um curtume de couros em sociedade com o coronel João Fernandes de Brito, que foi ampliando, com o tempo, até a condição de desenvolvida indústria mecanizada e, na proporção de seu progresso, crescia o operariado e, consequentemente, o número de moradias no lugar. Pela Lei estadual nº 368 de 7 de novembro de 1899, já a povoação era elevada a sede de distrito de paz, lei que mais tarde veio a ser revogada.

Em 1936, quando contava 120 casas e uma capela sob o orago de Cruz, foi restaurado o seu distinto de paz como 2º do município de Porto da Folha pela Divisão Territorial fixada em 31 de dezembro do citado ano, passando a vila pelo Decreto-lei nº 69 de 28 de março de 1938.

Logo depois, embora o curtume Canindé encerrasse suas atividades, destacando-se a principal fonte de vida dos habitantes da Vila, contudo, seu progresso não paralisou de vez, tanto que em 1955 possuía as condições mínimas para ser elevada à categoria de cidade.

Canindé recebeu a categoria de cidade e de sede do município do mesmo nome com território desanexado do de Porto da Folha pela Lei estadual nº 525-A de 25 de novembro de 1953.

A Lei estadual nº 554 de 6 de fevereiro de 1954, que fixa a Divisão Administrativa e Judiciária do estado vigorante no qüinqüênio 1954-1958, estabelece no Distrito único de Canindé Termo Judiciário, anexo à comarca de Porto da Folha.

Em 6 de fevereiro de 1955, foi instalado o município, tomando posse a Câmara de Vereadores constante de cinco membros e o prefeito municipal, Sr. Ananias Fernandes dos Santos, eleitos em 3 de outubro de 1954.

A palavra Canindé, de origem indígena, significa ave trepadora da família dos psitacídios (araras e papagaios) que possui cabeça e cauda azuis e abdômen amarelo. As cores da bandeira do município foram inspiradas no colorido da ave. LÓCIO (2000, p.12)

2.2 A NOVA CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO

No dia 6 de março de 1987, foi feita a transferência da Nova Canindé, que ficou localizada a 3 km da Velha Canindé. Esta transferência foi necessária por consequência da barragem de Xingó, como também pelo progresso de Canindé. Sobre os aspectos culturais, a cidade da Nova Canindé do São Francisco apresenta uma vida modesta, haja vista a sua localização e suas condições econômicas. Quadro que tende a mudar pelo progresso eminente.

Temos na nossa cidade o Perímetro Irrigado Califórnia que vem enriquecendo a nossa agricultura (por consequência do clima ser semiárido).

Este projeto foi implantado pelo Governador de Sergipe Dr. João Alves Filho, em 1983 e, precisamente em 1987, criado aqui no município da Nova Canindé.

Com o loteamento do Projeto Califórnia, ficou a seguinte maneira: 1.360 hectares irrigados e 1.900 há sequeiros, foram entregues estes lotes aos colonos, para que pudessem desenvolver a agricultura. Estes lotes produzem: quiabo, milho, feijão, cenoura, repolho, tomate, batata, inhame, aipim, etc. Estes lotes tiveram uma distribuição da seguinte forma: 243 lotes para colonos; 17 lotes para empresários; 10 lotes para técnicos; 6 lotes de sequeiro; 02 lotes públicos. SILVA (1985, p.18)

2.3 A CONSTRUÇÃO DA NOVA CANINDÉ

Com a construção da Nova Canindé, foram destruídos vários hectares de ambiente natural, em especial a vegetação da caatinga, que ainda se encontram na Fazenda Mundo Novo, um sítio arqueológico a céu aberto. Esta destruição se deu pela construção das casas da população Antiga Canindé, no qual a arquitetura das residências era a gosto do morador. Na Nova Canindé, as casas foram todas padronizadas, mudando somente o tamanho e classificação entre A, B, C e D.

Segundo Dona Maria Socorro, moradora das duas Canindés, as casas da Antiga Canindé eram melhores em relação à Nova Canindé. Dentre os ambientes construídos, Canindé do São Francisco apresenta uma potencialidade bastante rica, se estruturando e formando-se a cada passo que o município dá.

Além da Nova Canindé do São Francisco, foi construída uma estrada de 100 km, rasando o setor, mas abrindo uma porta de acesso ao ponto onde se ergueria a gigantesca obra. Canindé, o primeiro grande resultado de Xingó. Uma cidade que cresce ordenadamente e que promete ser um dos mais importantes polos de desenvolvimento regional do nordeste, atraindo para sua influência áreas sergipanas, alagoanas e baianas. Ela já é, hoje, centro de atração, não só pela obra de Xingó quanto por suas características próprias, de cidade dinâmica, de mercado variado e forte, de cultura própria e de ricas demonstrações de seu colorido artesanato. RIBEIRO (1999, p.25)

2.4 HIDROELÉTRICA DE XINGÓ: HISTÓRICO

Este nome originou-se por causa do riacho que divide os dois estados: Sergipe e Bahia, também chamado de Xingozinho. Por razões técnicas, a CHESF resolveu deslocar o eixo da barragem para o local onde foi construída e trouxe consigo o mesmo nome. Esta usina foi idealizada por um consórcio de empresas e órgãos públicos que trabalham em Xingó.

O aproveitamento hidroelétrico de Xingó localizou-se no São Francisco, onde os estados de Alagoas e Sergipe, a cerca de 2 km a montante da cidade de Canindé do São Francisco, aproximadamente a 9º37,5’ de latitude sul e 37º46’ de longitude oeste.

Nos anos 80, foi relocada para o sítio onde atualmente se localiza, em função do Projeto Hidroelétrica de Xingó.

Após a conclusão da Usina Hidroelétrica de Xingó, sediada dentro do seu território, Canindé tomou novo impulso de crescimento, inserindo-se definitivamente no ranking das cidades brasileiras com elevado potencial turístico.

Ocorreu na gestão do prefeito Genivaldo Galindo e do secretário municipal de esportes, turismo, lazer e comunicação J. Carlos, a municipalização do turismo, que por viabilidade através de ações direcionadas ao seu desenvolvimento e divulgação, o que muito tem contribuído para o aumento do fluxo de visitantes, que cada vez mais, descobre os encantos ecoturísticos de Canindé.

Há uma vocação natural à prática de esportes, sejam náuticos, jet ski, canoagem, pesca, mergulho; ou bud jampt no vôo livre que liga SE/AL, montanhismo nas Serras Canindeense ou caminhadas de pequeno, médio e grande esforço. Além das opções ecoturísticas, o município é marcado historicamente pelo cangaço, movimento social que em décadas passadas percorreu os estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Canindé foi abrigo e passagem de Lampião e seu bando, de volantes e coieiros.

Foi palco de sangrentas perseguições entre a polícia e os cangaceiros, que seguindo a trilha de Angico à margem do São Francisco, emboscou e matou Lampião e Maria Bonita, na grota de Angico, em 28 de julho de 1938. SOUZA (1999, p.12)

2.5 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

Microrregião: Sertão Sergipano do São Francisco.

Mesoregião: Sertão Sergipano. RIBEIRO (1999, p.32)

LOCALIZAÇÃO – No planalto, colocado entre os rios Sergipe e São Francisco, no agreste que parte a Serra Negra, estava situado o município de Curituba como unidade da zona fisiográfica “Sertão de São Francisco”. Limitava-se com os municípios de Poço Redondo e Voturana (BA) e o Estado de Alagoas. A cidade de Curituba situa-se em uma elevação à margem direita do São Francisco. Distância de 160 km em linha reta da capital do Estado, sendo a cidade mais distante de Aracaju. Canindé, localizada na região noroeste do estado de Sergipe, é banhada pelo Rio São Francisco e faz limite com os estados de Alagoas e Bahia. RIBEIRO (1999, P.32)

QUADRO POPULACIONAL

ÁREA – A área do município foi estimada pela Inspetoria Regional de Estatística Municipal em 909 km², representando cerca de 4,1% da superfície do Estado. A área do centro urbano é de 4,8 km².

ALTITUDE (M) – 68 m acima do nível do mar.

POPULAÇÃO – Por ocasião do VI recenseamento geral do Brasil, realizado em 16 de julho de 1950, existia no Distrito de Curitiba 3.052 habitantes, dos quais 1.461 eram homens e 1.591 mulheres, ou seja, 109 mulheres correspondente a cada grupo de 100 homens. A densidade demográfica era então 3,35 hab/km². Em 1950, viviam na sede municipal 160 habitantes contra 2.892 no quadro rural. Canindé abriga uma população de 21.000 habitantes (censo de 1996) que sobrevivem em sua maioria da agropecuária, da pesca e da agroindústria, esta última ainda iniciante, mas já atuando no ramo de laticínios e processamento de frutas. RIBEIRO (1999, p.32)

CLIMA – O clima é semiárido com chuvas no outono, ou seja, um inverno a partir de abril até agosto, de precipitação reduzida (em torno de 600 mm/ano), às vezes irregular, com efeito calamitoso. A precipitação média anual (mm) é de 485,5 e a temperatura média anual oscila entre 21º C e 39ºC. O tipo climático de Canindé é Megatérmico árido com pequeno ou nenhum excesso de água.

HIDROGRAFIA E RELEVO – Os principais rios são o Rio São Francisco, que serve de limite com o Estado de Alagoas; rio Xingó, que serve de limite à oeste com o Estado da Bahia; Riacho Pedras, que nasce na Serra Negra, corta todo o município e vai desaguar no São Francisco, e outros menos importantes como o Xingozinho, Mão Direita e Curituba. O relevo apresenta serras como a Serra Negra e Saco de Arara nos limites com a Bahia e Cana Brava; Pico do Tara e Morro do Sobradinho, além de outras sem designação.

VEGETAÇÃO – A vegetação predominante é a caatinga, típica do sertão nordestino, composta em sua maioria por baraúnas, aroeiras, caraibeiras, coroas de frade, entre outras espécies.

SOLO – Bruno não cálcio. Planosol. Regosol Distrófico. Solos Litólicos Eutróficos.

GEOLOGIA:

  • Coberturas fanerozóicas
  • Permiano: Psb
  • Carbonífero: Cc
  • Siluriano/Devoniano: Sdt
  • Complexo cristalino
  • Proterozóico: ptj
  • Rochas básicas e ultrabásicas: Pumu, Pung, Pugt, Pugz. RIBEIRO (1999, p.32)

3. ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS.

3.1 POVO SOFRIDO EM CANINDÉ VELHA

Os meios de comunicação têm sido pródigos em relação à vida de Canindé do São Francisco, município que ganhou projeção após o direito constitucional de ver sua receita elevada para picos verdadeiramente astronômicos. A nova cidade foi projetada e construída sob a égide da grandeza, e pessoas de todo o Brasil acorreram à procura de lucros e vantagens. A Nova Canindé era o grande eldorado de Sergipe. E os pioneiros da Velha Canindé? O que foi feito deles? Quais as providências e cuidados que as autoridades do Estado e do País tomaram em relação às famílias do pequeno núcleo ribeirinho? Com ares de “bom moço”, os responsáveis pela hidrelétrica, guiados pela insensibilidade característica daqueles que não possuem o mais elementar sentimento de humanidade, cuidaram de convencer aquela gente a se mudar para a nova e grandiosa cidade com argumentos tentadores.

Chegou o dia da mudança. Muito sofrimento aquela triste despedida. Foi com dor no coração que aquela gente abandonou sua casa e se retirou de sua cidadezinha amada, com destino à nova cidade.

Cada um daqueles beiradeiros sonhava com melhores dias, uma condição melhor, uma mesa farta, e junto a esses sonhos, a certeza da continuidade da paz e harmonia que gozavam no pequenino lugar de seus troncos e raízes.

A pequena cidade de Canindé, a 213 km de Aracaju, passou a ser o município mais visitado do Estado, tanto comercialmente quanto politicamente, após a construção da hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco, que dera 25% de energia do Nordeste. A receita mensal do município, decorrente do ICMS da Usina, de repente ultrapassou os R$ 2,5 milhões, só perdendo para a capital (Aracaju).

A partir da década de 90, a pacata cidade nascida de uma aldeia de pescadores passou a ter uma vida política conturbada, movida por assassinatos e corrupção. Por volta de 1936, às margens do Velho Chico, existiam dois pequenos arruados situados entre morros, que ficaram conhecidos como Canindé de Cima e Canindé de Baixo. A povoação deixou de existir a partir da implantação da Usina. A justificativa para a transferência da sede do município foi o fato de que, além da cidade não ter espaço para se expandir, ela ficava na chamada área de risco da hidrelétrica.

Diante disso, foi feito um trabalho de conscientização junto aos canindeenses para convencê-los da necessidade da transferência. Os governos municipal, estadual e federal uniram-se para que o projeto de US$ 3,5 bilhões de dólares se concretizasse. Com a mudança da cidade, alguns moradores receberam indenização e a maioria fez permuta por uma casa na cidade planejada.

A nova Canindé foi construída pela CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco – e entregue aos moradores. A cidade, apesar de projetada, com área administrativa, comercial e residencial, não foi estruturada suficientemente para receber a quantidade de gente que procurou a cidade com o sonho de melhorar de vida.

O tempo passou. Lá se vão 14 anos da inauguração da nova cidade. O município enriqueceu, o povo empobreceu ainda mais. A maioria dos que vieram da Velha Canindé perdeu sua identidade e hoje são considerados restos de um povo que perdeu suas casas, sua tranquilidade e o aconchego das ruazinhas poeirentas do lugar em que nasceu e viveu os melhores anos de suas vidas.

O que se vê nos dias de hoje é um injusto e inexplicável contraste, o município que nos tempos de penúria e indigência era um pai amoroso que se preocupava com seus filhos, nos dias atuais tornou-se um pai perverso e injusto para com seus descendentes que os tem mergulhado numa pobreza absoluta, enquanto ele (o município) é detentor de grandes posses.

Pobre povo da Velha Canindé. Perderam tudo. Atônicos e abismados, os moradores da cidade condenada assistiram ao final triste da história do Canindé Velho de Baixo. Naquele inesquecível e doloroso instante começava também a perda da identidade dos filhos do último porto do Baixo São Francisco.

Tudo foi dizimado. A cidade foi varrida do mapa de Sergipe. A troco de quê? Absolutamente nada. De vez que, com o passar dos anos, foram construídas casas e até a estrutura de um hotel, numa prova mais do que evidente de que não havia necessidade de se assassinar a história do povo da Velha Canindé. E ainda mais, não se respeitou nem os mortos da cidade destruída. Numa atitude absurda e verdadeiramente incompreensível, os restos mortais do povo que deu vida à Canindé e à Sergipe foram arrancados de suas tumbas, onde repousavam para a eternidade, e foram levados para o novo cemitério da nova e vaidosa menina sertaneja.

A Nova Canindé roubou a identidade cabocla. Destroçou de cada um dos descendentes da eira do “Velho Chico”. Em lugar da caça e da pescaria, a sobrevivência chega através do bendito dinheirinho das aposentadorias, além da vergonha de se ver obrigado a ir para uma fila mendigar uma cesta básica vergonhosa do Governo Federal.

3.2 HÁBITOS DE VIDA: CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO

Há um certo saudosismo das modificações deste final de século no tocante às tradições antigas, posto que não prevalecem mais, ou seja, há uma inversão de valores no que concerne aos seguintes hábitos no município de Canindé do São Francisco:

  • Horário de refeições considerado sagrado, quando lembrando a figura do patriarca que se sentava à mesa;
  • Os pais aceitam, com naturalidade, a gravidez das filhas antes do casamento. Esse fato tem gerado preocupação em parte da sociedade do município, pelas consequências que advêm em se criar filhos sem condições financeiras e a ausência do convívio paterno;
  • A celebração do casamento perdeu seu valor tradicional face às relações amancebadas, o que implica registrar uma curva de convivência entre os casais, refletindo na desestruturação da família. Sabe-se, todavia, que filhos mal orientados gerarão conflitos na formação da personalidade dessas crianças que irão conceber o mundo de forma deturpada, emitindo ações compatíveis com seus próprios valores.

Em relação à restauração dos locais de adoração e culto não há projeto, tendo em vista que a cidade foi construída em 1987. Por isso, esses locais encontram-se em bom estado de conservação. No tocante aos templos (Igrejas, seitas, candomblés), não há restrições para serem visitados. Há ainda a preocupação da prefeitura, os religiosos e leigos em manterem acesas as tradições religiosas como forma de revitalizar a fé. SOUZA (1999, p.44)

3.3 CULTURA DE CANINDÉ

O sertanejo que vive às margens do São Francisco é um homem apegado à terra e às tradições. A preservação dos valores culturais e religiosos é uma característica permanente em várias cidades do Sertão.

A cultura na região é bem rica em manifestações. No artesanato, destacam-se trabalhos que têm atraído a atenção dos amantes da arte despretensiosa dos nordestinos, como a talha, a renda, o bordado, o tricô, crochê, as redes e os tapetes de fios. Estes produtos são comercializados nas grandes cidades do país, chegando até o exterior.

O sertanejo mantém viva uma grande religiosidade, que se manifesta praticamente em todas as cidades do semiárido brasileiro.

O cangaço deixou sua marca na cultura da região. Foi aqui que Lampião teve mais amigos, existindo muitas histórias e lendas sobre suas façanhas e as de sua Maria Bonita. VIEIRA et al (2003, p.32)

3.4 BORDADO

Rico, sofisticado e, sobretudo versátil, enfeitam toalhas, caminhos de mesa, colchas, cortinas e o que mais sua imaginação e habilidade conseguirem criar, conferindo a cada peça a nobreza e a majestade que lhes são tão característicos. Assim está presente o bordado em Canindé. VIEIRA et al (2003, p.33)

3.5 CROCHÊ

É de origem europeia, mas esta atividade encontrou nas mãos habilidosas dos artesãos sergipanos de Canindé do São Francisco. O crochê é um trabalho exclusivamente manual onde a agulha (que tem um gancho na extremidade) junto à linha, vai e volta com pequenos nós resultando em belíssimas peças para o uso doméstico como: toalha de mesa, colchas, bicos e até mesmo peças de vestuário. VIEIRA et al (2003, p.33)

3.6 ESCULTURAS EM MADEIRA

Mesmo nos tempos modernos, com a imposição dos metais e dos plásticos, a madeira é bastante utilizada na fabricação de móveis, portas e outras peças. Mas é no interior, principalmente na solidão de moradias sertanejas, que ela aparece na forma de artesanato. Com suas próprias mãos, o sertanejo fabrica os objetos de que necessita, como bancos, pilões, colheres e gamelas. É um artista nato e, muitas vezes, vai mais além, produzindo figuras expressivas das coisas que compõem o seu mundo. Basta uma faca ou um simples canivete para que ele transforme a madeira em verdadeiras expressões de arte. VIEIRA et al (2003, p.34)

3.7 FESTIVAIS DE CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO

Dentre as festas populares de Canindé destacam-se a Festa da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição, os festejos juninos, Festa da Emancipação e do Aniversário da Nova Canindé, Canindé Fest realizada no mês de abril e a Vaquejada, realizada no Parque de Vaquejada Jorge Luiz. VIEIRA et al (2003, p.36)

A vaquejada é a festa mais tradicional do ciclo do gado no Nordeste do Brasil, sendo atualmente um acontecimento urbano e público, que atrai grande número de curiosos. Consiste na reunião do gado nos fins do inverno, para beneficiamento, castração, ferra, tratamento de feridas.

Antigamente, a festa tinha a finalidade prática da apartação, que era a divisão do gado entre os fazendeiros. O gado era criado solto em pastos comuns, parecendo não ter dono. No mês de junho, era conduzido para os grandes currais. Uma parte do gado era guardada ou reservada para a derrubada, ou seja, a vaquejada propriamente dita, o folguedo de derrubar o animal pela cauda, indo o vaqueiro de cavalo. O boi (ou a vaca) era tangido para fora da porteira, correndo ao seu lado sempre dois cavaleiros. O da esquerda, chamado esteira, tinha a função de manter o animal numa determinada direção, numa certa linha reta e o da direita é o que tentaria derrubá-lo e a quem caberia todas as honras da aclamação. Emparelhado com o animal em disparada, o vaqueiro segura-lhe a cauda dando um forte puxão (a puxada), afastando ao mesmo tempo o cavalo. É o que se chama mucíca, saiada ou arrasto.

Desequilibrado, o animal cai, com as patas para cima, numa queda completa, triunfal conhecida como mocotó passou. Se depois da derrubada a rês rola no chão, gritam e aplaudem: – Embolou! Quando o vaqueiro não consegue derrubá-lo, fugindo o animal ileso da puxada, recebe vaias, zombarias, batidas de bombo ou pratos, o que é conhecido como botou o boi no mato, ganhou os paus, ganhou a madeira, caiu no marmelo, sumiu na poeira, deu adeus ao rabo. Nesse caso, dizem que o vaqueiro levou féde (do verbo feder).

No Brasil não se tem registro da vaquejada antes de 1870. Acredita-se que a vaquejada, caracterizada pela saiada, puxão pela saia, queda-de-rabo, tenha origem espanhola. O seu emprego era habitual entre os crioulos, mestiços, espanhóis nascidos na América, mas não entre os indígenas, que manejavam o ferrão e dominavam o gado com a garrocha (pau com ferro farpado numa extremidade).

A derrubada do boi pela cauda popularizou-se rapidamente pelo Nordeste brasileiro, por causa do tipo de vegetação das caatingas e carrascais, entrançados de cipós, juremas e marmeleiros, que impossibilitam o espaço livre para o lançamento do laço ou boleadeiras. Fora da exibição das vaquejadas, o vaqueiro persegue e derruba o animal para colocar-lhe o chocalho, mascará-lo, peai-lo e leva-lo para o curral, havendo lances dramáticos nas derrubadas feitas nas caatingas, sem testemunhos e sem aplausos. Portanto, a vaquejada é um dos festivais existentes em Canindé do São Francisco, que se apresenta no Parque de Vaquejada Jorge Luiz.

3.8 DANÇAS

CAVALHADA – a Cavalhada é composta por doze cavaleiros, divididos em duas equipes, diferenciadas pelas cores azul e vermelha que ostentam nas lanças, chapéus e lenços, como também nos cavalos ajoelhados. Os grupos de cavaleiros desfilam com pompa até o local da disputa. Como brincadeira popular, conhecida como jogo das argolinhas. Processa-se em local descampado com dois postes nos quais prende-se uma corda ou arame e bem no meio prende a ponta de um fio ou fita uma argolinha, que facilmente se desprende, quando nela se enfia a ponta de uma lança, empunhada pelo cavaleiro. O acertador geralmente oferece na ponta da lança a argolinha – troféu de vitória a alguma autoridade, recebendo em troca um laço de fita no peito. Enquanto a argolinha volta a ser dependurada, o gentil vencedor oferece o laço de fita a uma dama ou donzela favorita, que se obriga a retribuir a oferta com algum presente. VIEIRA et al (2003, p.37)

REISADO – atualmente o Reisado é dançado, também, em outros eventos e em qualquer época do ano. A cantoria começa com o deslocamento do grupo para um local previamente determinado, onde é cantado “O Benedito”, em louvor a Deus, para que a brincadeira seja abençoada e autorizada. A partir daí, começam as “jornadas”. O enredo é formado pelos mais diversos motivos: amor, guerra, religião, história local, etc. Vários personagens formam o grupo. O “caboclo” ou “Mateus” e a “Dona Deus” ou “Dona do Baile” são personagens fundamentais da brincadeira. Há, ainda, o “Caboclo”, a “Cabocla”, a “Cigana”, a “Viúva”, o “Velho”, a “Velha” e o “Boi”. Os instrumentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, pandeiro, zabumba, triângulo e ganzá.

RODA DE SÃO GONÇALO – é uma manifestação típica de Canindé e, principalmente em época de seca, os mais velhos faziam ao São Gonçalo um tipo de promessa para pedir chuva, era uma tradição da Antiga Canindé. A apresentação da roda de São Gonçalo acontecia todos os anos na Velha Canindé. Atualmente, na Nova Canindé, esta cultura sofreu modificações, o que era todos os anos apresentado, as apresentações passaram a ocorrer geralmente no final de ano e às vezes uma apresentação na época que festeja a Padroeira de Canindé, Nossa Senhora da Conceição, dia 08 de dezembro. A manifestação folclórica perdeu um pouco de sua essência, não sendo realizado como antigamente. VIEIRA et al (2003, p.37)

PASTORIL – Auto de Natal, eco popular dos miracles e mystéres do teatro religioso da Idade Média, outrora representado no interior de igrejas em Sergipe, envolvendo um bando de pastores tentado por Satanás quando a caminho de Belém para adorar o Menino. Vive sob três formas:

(a) pastorinhas meninas e mocinhas, dispostas em semicírculo, vestidas de modo típico e simbólico, a qual não faltam asas, diademas, cetros e resplendores, encarnam os mais variados personagens – Gabriel, Estrela-d’Álva, Estrela do Oriente, as virtudes da Fé, Esperança e Caridade, etc.;

(b) pastoril, dito de jornadas soltas as pastoras moças em plena juventude, dividem-se em cordões, o azul, da direita, chefiado pela Contramestra, e o encarnado, da esquerda, sob o comando da Mestra, tendo o centro moderadora Diana, metade encarnada, metade azul, com alguns pastores, sobretudo o Velho, personagem cômico, malicioso, burlão, que conta (em versos) anedotas picantes e faz alusões pornográficas às maldosas, aos presentes, que tomam partido, muitas vezes de maneira violenta, por algum dos cordões. Durante a ação, que se passa no caminho de Belém, há o rapto e o assassínio da Contramestra;

(c) bailes pastoris, peças escritas cômicas ou dramáticas, já tradicionalizadas, com personagens humildes, que não tratam diretamente do nascimento de Cristo, mas sempre terminam com a chegada de alguém que o anúncio e convida os espectadores a ir adorá-lo em Belém. Os pastoris são encenados do Natal ao Dia de Reis, encerrando-se alguns dias depois, com a queima das palhas (palhinhas) do presépio ou lapinha. SOUZA (1999, p.38)

3.3.1 GASTRONOMIA

Os serviços de alimentos e bebidas se encarregam de satisfazer as necessidades básicas, fisiológicas e psicológicas, recuperando as energias dos indivíduos. A princípio, serão relacionados os cinco bares e restaurantes de maior expressividade dos municípios e estados, seguidos de outros também importantes para uma fatia de mercado de baixa renda, quais sejam: Karranca Bar e Restaurante, Bar e Restaurante Angicos, O Canecão, O Sertanejo, Macambira Bar e Restaurante, Pizzaria Central, Canteiros Bar e Restaurante e Pizzaria. . VIEIRA et al (2003, p.39)

3.3.2 RELIGIOSIDADE

O Município de Canindé do São Francisco apresenta aspecto religioso singular herdado da Antiga Canindé, no qual destacamos Santa Cruz, depois mudando para São Francisco, devido ao Rio São Francisco. Atualmente no Município, Nossa Senhora da Conceição é a atual padroeira escolhida pelo povo. Apesar das grandes transformações ocorridas, concluímos que a religião predominante é a católica, mesmo com outras religiões inseridas em Canindé.

Na Velha Canindé não existia igreja, e assim no ano de 1960 a família Brito construiu uma Capela vizinho a sua residência onde as pessoas podiam rezar seus terços, fazendo orações novenas, mas com o passar dos tempos, a Srª Elida Brito dizia que a capela era dela e, nem sempre aceitava alguma coisa que a comunidade queria fazer na capela. Diante desse posicionamento, a comunidade se reuniu e construiu outra capela, no ano de 1963 e, colocaram o nome de Capela de Padre Cícero.

Nessa capela passou a ter missa uma vez por ano, sempre na noite de natal. Depois, o Frei Enoque passou a ser padre da região de Canindé e, a cada 90 dias descia até a cidade Velha para celebrar missa e fazer batizado. Com o passar dos anos, a CHESF disse que toda a cidade da Antiga Canindé seria inundada com a chegada da Hidrelétrica de Xingó e, as pessoas vieram para uma nova cidade, onde foi construída a igreja matriz, Nossa Senhora da Conceição no ano de 1986, feita pela CHESF e a prefeitura.

A comunidade queria que tivesse dois padroeiros, alguns gostariam que fosse Nossa Senhora da Conceição, outros São Francisco de Assis. Então Frei Enoque fez uma eleição na Igreja, e o povo escolheu para Santo Padroeiro Nossa Senhora da Conceição e a igreja foi inaugurada no ano de 1987. A capela de Padre Cícero, existentes na Antiga Canindé foi transferida para nova Canindé, com o empenho da Srª Durvalina, responsável pela manutenção da mesma, pois a CHESF se recusava a construir outra capela, alegando que já existia uma Igreja na Nova Canindé.

A transferência dos objetos da antiga Canindé foi distribuída da seguinte forma: a primeira e segunda igreja herdaram bancos, mesinhas e algumas imagens. Duas dessas imagens, Sagrado Coração de Jesus e Coração de Maria foram destruídas por um evangélico na oportunidade de sua mudança. Essas imagens tinham sido doadas por Juvêncio de Brito, Bispo e filho natural da Antiga Canindé. A terceira igreja herdou o sino.

Os moradores mais antigos do Município ainda continuam a frequentar uma capela existente em Canindé, e lá a praticarem as orações na mesma, onde muitos da comunidade não frequentam a igreja de Nossa Senhora da Conceição. É importante ressaltar que Santa Cruz foi uma cruz encontrada pela família Brito, fundadores da Antiga Canindé, supondo ser dos bandeirantes. Entretanto, as duas Canindés influenciaram e formaram um contexto religioso bastante complexo, onde hoje acontece no atual município a Festa de Nossa Senhora da Conceição, que passou por grandes transformações em seu calendário, no qual era festejado no mês de maio, só que em vez de ser uma novena, se festejava os trinta e um dias, a partir do dia 1º até o final do mês, havia três noites tradicionais, que era a noite dos solteiros, a noite dos casais e a noite do Sr. Ananias que foi prefeito três vezes lá em Canindé e pai de Jorge Luiz que foi prefeito aqui duas vezes também, no dia 31 de maio era o aniversário dele com muita comida, bebida, banho de mar e forró. Hoje Nossa Senhora da Conceição é festejada no dia 29 de novembro e encerrada no dia da festa 08 de dezembro. VIEIRA et al (2003, p.43)

3.3.3 TRADIÇÕES: CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO – SE

  • Comemoração da semana santa, com encenação da morte e ressurreição de Jesus (prática de piedade muito usada pelos fiéis);
  • No período de páscoa todo canindeense da antiga cidade comemora a data com um costume bem peculiar: saboreando a carne de cágado;
  • Velório com cantorias antigas de encomendação dos mortos. Essa prática é passada de geração em geração;
  • Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição, com novenário iniciado dia 29 de novembro e encerrado no dia da festa 08 de dezembro;
  • Tríduo de São Francisco comemorando na capela de mesmo nome inicia-se no dia 01 (primeiro) de outubro e encerra-se no dia 04 com missa e procissão;
  • Comemorações natalinas com encenação do nascimento de Jesus;
  • Há outros credos religiosos já discriminados. Igrejas e seitas como: espiritismo e candomblé. Os espíritas desenvolvem a prática assistencialista de distribuir um sopão aos necessitados da periferia todas as sextas-feiras. VIEIRA et al (2003, p.46)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município de Canindé do São Francisco-SE detém a segunda maior receita do Estado de Sergipe, devido à construção da Usina Hidrelétrica de Xingó.

No município de Canindé, um dos pontos fortes são os grupos folclóricos, em especial a cavalhada e a Dança de São Gonçalo, que poderiam ser aproveitados turisticamente, entretanto não se verificou uma promoção e uma valorização pela própria comunidade para como os grupos, sendo necessário o desenvolvimento de projetos culturais que poderiam reverter esse caso, trabalhando nas escolas com área de artes para valorizar os aspectos folclóricos da região.

Apesar do município ser novo, apenas 16 anos, já sofreu duas intervenções estaduais. Existem aqueles que consideram que o turismo seja a salvação para o desenvolvimento sociocultural do município, no entanto, nada é feito para melhorar essa situação, por isso não há um envolvimento direto entre a comunidade e o turista, pois a prática do turismo é feita às margens do Rio São Francisco, mas quando há contato, a população é receptiva. Deve-se, todavia, observar que o respaldo das autoridades locais é de vital importância para gerar decisões que contribuam para o desenvolvimento do turismo.

Explore as ricas tradições do artesanato brasileiro e descubra como elas podem enriquecer a experiência turística.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DENCKER, Ada de Freitas Manete. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo. 5 ed. São Paulo – SP: Futura, 2001.

IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. Ed Pioneira, 1997.

LÓCIO, Airson Bezerra. Almanaque Vale do São Francisco. 1 ed. Brasília, Codevasf.

LICKORISH, Leonard; JENKINS, Carson L. Introdução ao Turismo. Trad. de Fabíola de Carvalho S. Vasconcelos. – Rio de Janeiro: Campus, 2000.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao turismo. São Paulo: Roca, 2001.

RIBEIRO, Nurimar.O Direito à Memória: O Vale do São Francisco e Sua História. 1 ed. Brasília, Codevasf, 1999.

SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: Conceitos e impacto ambiental. Vol 1 (Tradução Margarete Dias Pulido) – São Paulo: Aleph, 2000.

SOUZA, Kátia Maria Araújo. Canindé do São Francisco- H e Curiosidades. 2 ed, São Paulo, SP: J. Andrada LTDA, 1999.

SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: Turismo Cultural, Ecoturismo e Ética. Vol. 5; Tradução Saulo Krieger. – São Paulo: Aleph, 2000.

VIEIRA, J.A. BARROS, L.P. SILVA, L. FRAZÃO, M. COSTA, T.I. NERIS, T. SOUZA, V. LIMA, Z. Relatório Técnico-Científico: Turismo e Desenvolvimento Cultural. 2003. 139 f. Relatório (Graduando em Turismo) – Faculdade Sete de Setembro, Paulo Afonso – BA.

Autor: Zaira de Lima Ferreira


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