Da fala normal à gagueira: causas, tratamentos e dicas para lidar com o problema
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Gagueira
Na fala normal, na qual ocorre na maioria dos casos, a pessoa não tem nenhum problema que a comprometa, pois uma fala fluente é uma fala em que não repetimos, prolongamos ou hesitamos nas palavras. Mas só conseguimos ser totalmente fluentes quando decoramos ou lemos algum texto, durante emissões automáticas (contar, meses do ano), quando cantamos, etc.
Uma disfluência na qual gaguejamos em situações constrangedoras, difíceis ou que requerem muita concentração é considerada “deslizes”, ou seja, pequenas disfluências que ocorrem na fala normal.
Disfluência
Uma disfluência é quando ocorre algum problema; pode-se perceber uma disfluência que é gaguejar, tropeçar nas palavras. A disfluência é caracterizada por:
- ReReRepetições
- Prolongamentos
- B_Bloqueios
Na fala, nós utilizamos a disfluência como uma estratégia para falar; portanto, estas características podem estar presentes na fala de todos nós e são consideradas normais.
Uma disfluência às vezes pode nos levar a uma fala disfluente, como por exemplo:
- quando estamos nervosos, ansiosos, eufóricos, com raiva;
- quando temos várias coisas para contar ao mesmo tempo;
- quando falamos uma palavra difícil;
- quando a criança está aprendendo a falar.
Uma disfluência pode ocorrer em crianças que estão na fase de aquisição de linguagem, já que elas estão aprendendo a falar. Portanto, quando ocorre no processo de aquisição da linguagem, é considerada normal, apesar de as mesmas situações que vimos anteriormente poderem também gerar disfluência na criança.
Se esta disfluência é frequente, pode ser preciso ver um fonoaudiólogo, pois pode haver algum problema, mas se acontece periodicamente ou de vez em quando, esta é entendida como normal. Às vezes, pode estar acontecendo algo que faça com que ocorra este efeito na fala da criança; portanto, é necessário descobrir o que está causando esta disfluência.
As modificações na configuração da família moderna podem influenciar a criança emocionalmente, o que pode gerar uma frequente disfluência. Nós já vimos que o emocional influencia em nossa fala. Na criança, a influência será maior, já que ela é muito pequena para lidar com problemas como pais que se separam muito cedo, famílias com poucos filhos em um intervalo muito grande entre cada um, mães jovens e solteiras, mães com pouco tempo para cuidar dos filhos; portanto, entender o que está acontecendo com a criança é fundamental. O acompanhamento fonoaudiológico neste momento é importante.
Além da constante disfluência na fala, há outros sintomas associados, como ter consciência do seu problema e não acreditar que possa falar sem gaguejar, evitar situações comunicativas, a tensão é generalizada ou específica, etc.
Disfluência na fala; em crianças
É normal a disfluência na fala de crianças que estão em aquisição de linguagem. Se os pais, ao verem este efeito na fala de seu filho, reagirem de forma negativa, por acharem que o mesmo está com gagueira, essa disfluência, considerada fisiológica (normal), pode passar a ser uma disfluência patológica. Se alguém age de alguma forma negativa diante de uma criança, pode levar a uma disfluência maior ou então a um paciente gaguejar mais.
Os pais, por estarem ansiosos e desinformados, já que pensam que o filho é gago, tentam fazê-lo parar de gaguejar, dizendo frases do tipo: “Fale direito”, “Calma”, “Respire antes de falar”; ou seja, agem de forma negativa à sua fala. Mas não só os pais podem agir dessa forma, mas também professores e pessoas da família, onde o mesmo efeito acontecerá.
Deste modo, o que acontece é que a criança tentará fazer como seus pais querem: falar direito, respirar antes de falar… Mas isso não fará com que ela pare de gaguejar e sim, com que gagueje mais ainda, já que ficará mais tensa e nervosa pela cobrança à sua fala. E nós já vimos o que pode acontecer quando ficamos tensos e nervosos: gaguejamos.
Além disso, no mesmo período em que a criança está aprendendo a falar, acontece a formação de sua identidade (Quem sou eu?). Com toda essa cobrança à sua fala, ela acreditará que é incapaz de falar sem gaguejar, acreditará que é gaga.
É importante não querer comparar a fala do seu filho com a de outras crianças, pois cada uma é singular e se desenvolve em ritmos diferentes; portanto, os pais devem proporcionar momentos de prazer à sua linguagem, como contar histórias e cantar. Nas horas em que a criança gaguejar, tenhamos paciência e deixemos que ela fale tudo o que tem para dizer. A idade até em que se pode gaguejar naturalmente é até os três anos de idade, quando a gagueira é considerada normal, pois é nessa fase que se conhece o mundo das palavras; tudo é novo e aprendido ao mesmo tempo. Nesse período, os pais ou as pessoas que cuidam da criança não devem apressar sua fala, para que ela não atropele as palavras na hora de se comunicar. Para isso, devem ter paciência para ouvi-la e nunca completar as suas frases. Se a gagueira continuar depois dessa idade, é aconselhável uma visita ao fonoaudiólogo que irá ajudá-la no uso da linguagem. No caso das crianças, brincadeiras com fantoches, jogos educativos e interativos são utilizados como tratamento. Já para os adolescentes e adultos, exercícios mais técnicos utilizando a fala podem ajudar a se expressar sem gaguejar.
Disfluência na fala; em adultos
A disfluência em adultos é comum acontecer com todos, pois ela ocorre na maioria das vezes em situações como falar em público, falar em voz alta, falar diante de muita gente ou diante de alguém que existe um sentimento, etc. Estas disfluências que não ocorrem frequentemente são normais e quase todos temos estas. Acontece com todos várias vezes, mas quando este começa a ficar muito frequente diante de situações que não requerem esforço ou pressão, isto se torna um problema que tem de ser investigado e tratado. Às vezes, se este não é tratado quando aparece, ele pode até levar um paciente à gagueira intensa, causando sofrimento a ele.
Gagueira
Como a disfluência da fala (patológica ou não) pode ser considerada normal, temos a gagueira, que já não é considerada normal na fase mais tardia do que os três anos de idade, onde a criança ou o adulto já não deveria mais gaguejar. A gagueira na criança significa muitas coisas: insuficiência linguística (criança com mais de 4 anos), ansiedade na comunicação, falta de organização motora da fala. Portanto, na criança, o que é importante é não fixar a gagueira: como, por exemplo, evitar observações que deem ênfase ao gaguejar, atitude de espanto do interlocutor (fixando: “tem uma coisa errada aqui!”), evitar que a criança se exponha mais naqueles dias ou momentos em que ela está gaguejando mais.
Na criança, o que pode ajudar é dar o exemplo de falar com tranquilidade, pai ou mãe ou professor falando devagar, contar histórias para a criança, desenvolvendo vocabulário e o modelo de fala, como repetir a mesma história muitas vezes, repetindo e fixando palavras, expressões, ideias, pensamentos, pedir à criança que conte as histórias que ouviu, relate casos ou acontecimentos, elogiar a criança quando se expressa bem, reforçando a fluência, etc.
Diferente da gagueira em crianças, para os adultos, gaguejar é um comportamento particular de falar, que o indivíduo desenvolve, com uma grande variável de características, como a tensão muscular, a tensão respiratória, uma repetição de fonemas, alongamento de fonemas, repetição de palavras, movimentos “auxiliares” de rosto, ou de braços ou qualquer parte do corpo; movimento de fuga dos olhos e outras tantas formas diferentes quantas forem as pessoas que gaguejam.
É natural em qualquer pessoa, em algum momento, hesitar ao falar, retroceder na formulação da frase ou do pensamento; a insegurança em algumas vezes se reflete na forma de falar, assim como a raiva, o amor ou qualquer sentimento.
É natural a pessoa gaguejar em alguns momentos. A frequência que possa ocorrer nessas hesitações, repetições, fugas é que faz a diferença.
Assim como a pessoa desenvolve a fala, também desenvolve o gaguejar. O gago vai “aprimorando” esse comportamento, sem o saber, porque com o tempo vai adicionando outros componentes à sua forma de falar, como tensão de alguma parte do corpo, movimento de piscar de olhos, etc.
Muitas vezes, passa a fugir de determinadas palavras ou situações, chegando até a afetar a sua autoestima.
A gagueira é um distúrbio da infância que começa e se desenvolve usualmente ao mesmo tempo que a fala é adquirida, de forma que a natureza, o estresse e demandas conflitivas devem estar centradas em torno da transmissão de valores e expectativas dos pais para as crianças, referindo também uma rapidez para desenvolver distúrbios de fala.
Schrager defende a ideia de que a gagueira é um processo, instalando-se enquanto o sistema nervoso central cumpre suas etapas de desenvolvimento, época de grande significação na evolução e desenvolvimento global da criança. Acrescenta, ainda, que quando os pais exageram a importância das primeiras vacilações e repetições, rotulando-as de gagueira, instala-se um sério componente psicológico, que em muitos casos fixa o sintoma.
Quando a criança inicia seu processo de desenvolvimento da fala, ela começa a pronunciar as palavras que mais ouve, como: “mamãe”, “papai”, “au-au” e assim, quanto mais ela ouve vocabulários novos, ela vai repetindo de acordo com a maturidade do sistema nervoso, crescimento dos dentes, coordenação da respiração e da língua. Chamamos este processo de ouvir para depois falar de “feedback auditivo”; quer dizer, ela precisa ouvir para poder falar e vice-versa.
Portanto, a gagueira consiste numa perturbação da fala que afeta o ritmo, a velocidade e a prosódia (a melodia) da fala. Manifesta-se pela dificuldade em iniciar a fonação (bloqueio), pela repetição de um som, de sílabas ou de palavras, pelo prolongamento de sons. A gagueira é normalmente considerada uma disfunção da fala. A gagueira é, na verdade, uma condição extremamente complexa que envolve mais do que a repetição das palavras, prolongamento das sílabas e outras “disfunções” da fala. A gagueira afeta a pessoa como um todo e é mais adequadamente descrita como uma combinação de disfunções de fala, comunicação e comportamento.
A gagueira é muitas vezes comparada a um iceberg e a disfunção da fala apenas representa a ponta desse iceberg.
A restante massa do iceberg da gagueira permanece sob a superfície e representa as disfunções de comunicação e comportamento. É todo um conjunto de padrões pouco comuns de comunicação e comportamento aliado às “disfunções” da fala que sobressaem nos gagos.
Alguns comportamentos dos gagos incluem:
- Os gagos tendem a evitar o contato direto nos olhos dos interlocutores. Isto porque provavelmente não querem ver as reações dos interlocutores à sua gagueira.
- Os gagos apresentam frequentemente padrões de respiração irregulares e tentam falar com pouco ou nenhum ar nos pulmões. Alguns gagos tentam mesmo falar enquanto inalam.
- Alguns gagos evitam ou tentam evitar a gagueira recorrendo à substituição de palavras: se pressentirem que irão gaguejar com uma determinada palavra, substituem-na por outra com um significado semelhante. Alguns gagos têm tanto sucesso com esta técnica que ninguém, nem mesmo os cônjuges, sabem que sofrem deste problema.
- Os gagos recorrem muitas vezes ao uso de palavras sem sentido como “entendeu”, “né”, etc. Sentem que estas palavras insignificantes lhes permitem ganhar tempo que lhes permita ultrapassar uma palavra temida.
- Os gagos tendem a reagir ao estresse contraindo os músculos das cordas vocais. O que provavelmente explica porque a sua fala piora em situações de estresse. Alguns gagos evitam a gagueira evitando falar pura e simplesmente.
Para além destes padrões pouco comuns de comunicação e comportamento, alguns gagos exibem sentimentos e percepções negativos sobre a sua gagueira e sobre si próprios como:
- Vergonha: os gagos sentem vergonha da gagueira e fazem todos os esforços para ocultá-la.
- Culpa: os gagos sentem culpa por não conseguirem obter aquilo que poderiam obter facilmente se falassem com fluência.
- Frustração: os gagos sentem-se frustrados pela sua incapacidade em comunicar eficazmente com as outras pessoas.
- Baixa autoestima: a gagueira às vezes causa um sentimento de impotência.
Terapias e métodos para a melhora da gagueira
Todos estes elementos ocultos da gagueira tendem a reforçar as disfunções da fala. Uma terapia da fala que se dedique apenas ao mecanismo da fala falhará por completo. Apenas uma terapia da fala holística e exaustiva dedicada a todos os elementos deste problema poderá eliminar com sucesso a gagueira da sua vida. Isto deve ser levado em conta ao escolher uma terapia para a gagueira.
Existem terapias que podem ajudar no tratamento da gagueira. Elas são quatro:
- 1. Auto-terapia da fala
- 2. Dispositivos eletrônicos
- 3. Patologista da Fala
- 4. Clínicas de Linguagem
Que são escolhidos de acordo com cada tipo de gagueira e com cada paciente; é diferente, mas não é possível eliminar a gagueira da noite para o dia.
Portanto, para os fonoaudiólogos, que são especialistas no estudo da fala, as causas da gagueira ainda não foram totalmente desvendadas. Já se sabe que traumas sofridos na infância, sustos, medos e perdas de pessoas queridas, por exemplo, são fatores que podem causar a gagueira. E que se o problema for grave, um tratamento conjunto com um fonoaudiólogo e um psicólogo pode melhorá-lo e, até, resolvê-lo. Mas há casos em que a gagueira pode ser herdada de pais ou avós, nos quais estes ainda permanecem um mistério a ser desvendado pela ciência.
Autor: Renata Leuzzi
Habilidades da BNCC: Língua Portuguesa no Ensino Fundamental 2 podem ser úteis para entender melhor o desenvolvimento da linguagem nas crianças.
Dispositivos eletrônicos podem ser uma alternativa interessante para auxiliar no tratamento da gagueira.
Dica de Português: O que é coerência textual pode ajudar na construção de frases mais fluentes.
Dica de Português: Níveis de linguagem é importante para entender como se comunicar de forma adequada em diferentes contextos.