Crônica: Pipi Habitt
Parece nome de parque temático? Parece circo? Não. Mas deste colchão sai coelho molhado, sim, senhor.
Excelente memória mantenho. Corri os olhos pelo colchão exposto ao sol e ao dimensionar o “mapa mundi”, hesitei em acreditar:
– Meus respeitos, mas você fez xixi na cama?
– Sim, respondeu, sem pestanejar. Passei alguns minutos dividida entre o espanto e o riso preso. Decidi: apesar de saber o quanto foi traumatizante, desatei a rir da franqueza da mijona. Lembrei-me da infância e de que “todos os dias chovia” naquele colchão feito de capim, pela minha mãe, com uma agulha de palombá e um tecido listado, colorido, muitas vezes indiscreto. Afinal, minha mãe era professora, cozinheira, educadora, rainha e a melhor costureira de tudo e de colchões que existiu. Deve estar costurando algo no céu, cerzindo, remendando, fazendo bandeiras de misericórdias, “dias santos”, trajes de galas, vestidos de casamentos, bordados, bilros, enfim… colchões com agulhas de palombá e capim.
E vou esquecer as recordações passadas da “fazia tudo e muito bem”, para me preocupar com o indivíduo suspeito do “mapa mundi”. Certifico que após longa carreira de fazer xixi na cama até uma certa idade grande, ela tirou umas férias e mijou de novo. Nada de explicações tipo, foi sem querer, eu sonhei que ia ao banheiro, bebi muito líquido. Era uma coisa encardida, lembrava os mulambos que na época a gente definia como colchão, porque o capim era fácil de se encontrar, mas o pano de listas era caro. Uma síntese: ela mijou na cama depois de grande, mãe, dona de casa, professora, pedagoga, pós-graduada, mestrada, VIP, poderosa, muitas jóias. Mijou e pronto. E contou descaradamente: abri a torneira e não foram um, dois, três, dez pingos não. Foi um banho de uréia e todas as enzimas, toxinas, esteróides e “et’s” que conseguiu eliminar no luxuoso colchão de molas vindo sei lá de que país.
Agora, para conter outro vexame destes, só fraldões geriátricos.
Com certeza nossa mãe prontamente faria alguns, com tecidos listados, e, quem sabe, utilizaria umas sacolas plásticas de supermercados e de quebra, algumas calcinhas com panos de saco e botões laterais com costuras reforçadas no “panceps”.
Très Chic.
Autora: Aurea Mendonça Coelho Gonçalves
A relevância dos contos de fadas para o processo de alfabetização é um tema que merece ser explorado, especialmente quando se fala sobre a infância e as memórias que construímos ao longo da vida.
Facilitando a comunicação é essencial para que possamos entender melhor as experiências que vivemos e como elas moldam nosso comportamento.
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