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Atualizado em 02/08/2023

Corpo: Som e Movimento – Redescobrindo Brinquedos Cantados na Africanidade Brasileira

Descubra a diversidade do brinquedo cantado na Africanidade brasileira e descubra um novo mundo de som e movimento! Venha experimentar esta cultura rica e única com CORPO: SOM E MOVIMENTO-REDESCOBRINDO BRINQUEDOS CANTADOS NA AFRICANIDADE BRASILEIRA. Não perca essa oportunidade única!

CORPO: Som e Movimento-Redescobrindo Brinquedos Cantados na Africanidade Brasileira

Todos os povos têm suas brincadeiras pertinentes às necessidades expressivas de cada cultura. Como sonhar acordado, brincar é expor-se de dentro para fora. Segundo a Musicoterapia o som tem propriedades físicas que incidem sobre o corpo humano de forma objetiva e subjetiva, movendo o sujeito afetivamente, interferindo no seu desenvolvimento bio-psicosocial. Vamos fazer uma breve leitura de alguns brinquedos do folclore brasileiro que
perpassam as instâncias da arte de brincar , cantar, dançar e imaginar.
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular. Geralmente são cantigas anônimas acompanhadas de movimentos expressivos, saltitantes e ou dramatizados. Nestes brinquedos em geral, as crianças imitam o mundo do adulto vivenciando emoções, sensações e conflitos como veículos de elaboração e
amadurecimento.
Dos três povos que inicialmente formaram a cultura brasileira, o português trouxe maior influência para os brinquedos cantados. A oralidade que caracteriza o processo de transmissão das brincadeiras e brinquedos cantados de certa forma

Todos os povos têm suas brincadeiras pertinentes às necessidades expressivas de cada cultura. Como sonhar acordado, brincar é expor-se de dentro para fora. Segundo a Musicoterapia o som tem propriedades físicas que incidem sobre o corpo humano de forma objetiva e subjetiva, movendo o sujeito afetivamente, interferindo no seu desenvolvimento bio-psicosocial. Vamos fazer uma breve leitura de alguns brinquedos do folclore brasileiro que perpassam as instâncias da arte de brincar , cantar, dançar e imaginar.  Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular. Geralmente são cantigas anônimas acompanhadas de movimentos expressivos, saltitantes e ou dramatizados.

Nestes brinquedos em geral, as crianças imitam o mundo do adulto vivenciando emoções, sensações e conflitos como veículos de elaboração e amadurecimento.  Dos três povos que inicialmente formaram a cultura brasileira, o português trouxe maior influência para os brinquedos cantados. A oralidade que caracteriza o processo de transmissão das brincadeiras e brinquedos cantados de certa forma transformou as cantigas e os modos de brincar, ocorrendo a mistura dos costumes  africanos com os lusitanos, além das variações regionais de uma mesma brincadeira  (CASCUDO,1988). No entanto, os ritmos e danças africanas deram um tempero mais  brejeiro ao legado lúdico brasileiro.

Até o século XIX as brincadeiras das crianças eram muito limitadas pela rigidez  patriarcal imposta ao comportamento infantil, e porque os infantes eram vistos como  miniadultos. Freyre (2005) conta que muitas crianças brancas eram criadas pelas  escravas africanas juntamente com seus filhos negros, os quais eram mais habilidosos  com a natureza, mais dados a traquinagens e a criatividade devido a sua condição servil.

Outro aspecto característico das brincadeiras infantis no tempo colonial  brasileiro, é que as crianças ao acompanharem seus pais no labor cotidiano da casa  grande ou do  jeito, repetiam em suas brincadeiras estes afazeres e também o contexto de  violência vivido na época. (Freyre, 2005)

Nos brinquedos cantados encontra-se o canto, a poesia, a dança, a  brincadeira, o compartilhar, devido a simplicidade musical, riqueza simbólica e ludicidade  peculiar; as vivências através destes elementos lúdicos, conquistam a criança como  aquilo que é próprio do seu tempo.

Os termos brincar e jogar são referenciados como sinônimos por Cascudo  (1988). Nos principais idiomas internacionais (Inglês, Francês, Alemão e espanhol),  brincar e jogar também serve para definir atividades artísticas como a interpretação  teatral ou musical (Santa Roza,1993). Na língua portuguesa o termo “brincar” vem do  latim vinculum e significa laço, união. No entanto é o termo lúdico da nossa língua,  também proveniente do latim “ludus”, que melhor abrange e define as atividades  artísticas, culturais, brincadeiras e jogos. (ibid.)

Passando para o lado prático, vamos brincar com quatro exemplos curiosos do  cancioneiro infantil brasileiro. O primeiro se chama “Uma, duas angolinhas”, é um  brinquedo cantado tipo parlenda em roda, com as crianças sentadas, e um solista ao  meio dando beliscos nas mãos de cada colega enquanto cantam as quadrinhas:

Aquele que tirar a mão por último, Vai leva um be-lis-cão.  Além do beliscão refletindo a idéia da galinha d’angola beliscando as mãos de  cada participante, a protagonista da música, uma ave, é um dos mais importantes mitos  iorubanos sobre a origem da criação do mundo; conta Lopes (2004) que “a galinha  d’angola ciscou sobre as águas iniciais uma porção de terra e a espalhou por todas as  direções fazendo nascer terra firme”. Por este mito e outras razões ela também é  considerada a primeira iaô e é o animal mais importante dentro da tradição dos orixás.

No divertido brinquedo cantado “O Saci Pererê”, as crianças em pé na roda,  devem cantar e imitar as habilidades do saci mostradas na música:

O Saci Pererê, pula numa perna só,

Ele toca o tambor, toca como ele só.

O Saci Pererê, pula numa perna só,

Ele toca o pandeiro, toca como ele só. (…)

Esta brincadeira é aberta a improvisações na letra, onde se podem colocar  quantos instrumentos quiser para o Saci tocar e consequentemente para as crianças  imitarem. O Saci Pererê, elemento tradicional no nosso folclore, aproxima-se de várias  figuras da mítica iorubana como: Exu (em suas traquinagens); Arôni (duende iorubano de  uma perna só, ligado a Ossãim, e que vive nas matas); e ainda é referenciado a uma  palavra do campo semântico da magia e do sortilégio em ioruba “Ásasí”, conforme  assinalado em Lopes (2004 e 2006).

Outro brinquedo cantado de significado muito expressivo é o Tangolomango; as  crianças brincam em roda também para contagem de números decrescentes, no qual um  participante deve deixar a roda ao final de cada verso. Eis algumas quadras desta  cantiga:

Eram dez irmãs numa casa, Uma delas foi tocar o fole,

Deu um Tangolomango nela, E das dez ficaram nove.

Eram nove irmãs numa casa, Uma delas foi fazer biscoito,

Deu um Tangolomango nela, E das nove ficaram oito.

Eram oito irmãs numa casa, Uma delas foi amolar canivete,

Deu um Tangolomango nela, E das oito ficaram sete. (…)

A simbologia contida nesta brincadeira onde a cada momento uma criança deixa  de fazer parte do grupo acometida pelo Tangolomango, vai de encontro as diversas  referências a esta palavra como “Uma doença atribuída a feitiçaria, bruxedo, azar,  infelicidade, morte” (LOPES, 2004). Nota-se que este assunto é bastante difícil para o  entendimento das crianças e carregado de discriminação e preconceito racial, social  entre outros.

Como é de praxe, vamos terminar em samba com uma brincadeira muito  conhecida no sudeste brasileiro, onde as crianças finalizam a música sambando

conjuntamente na roda – como fazem os adultos.

Samba Lelê ta doente, Tá com a cabeça quebrada,

Samba Lelê precisava, É de umas boas lambadas,

Samba, samba, samba ô Lelê, Samba, samba, samba ô Lalá. (bis)

Nosso velho conhecido samba não poderia ficar de fora das brincadeiras das  crianças. Samba é um nome genérico para várias danças brasileiras e para a própria  música; contudo, foi registrado em Angola o verbo  samba  querendo dizer “cabriolar,  brincar, divertir-se”; é remetido também a palavra semba de origem Bantu significando o  mesmo que umbigada. A propósito, “Lê” é o nome do menor dos três atabaques da  orquestra ritual dos candomblés jeje-nagô (LOPES, 2004). As crianças se divertem  aprendendo e ensinando a dança do samba umas às outras. Este parece ser o maior  objetivo dos brinquedos cantados: transmitir a cultura pela oralidade e pela corporeidade,  favorecendo a vivência, a elaboração e o desenvolvimento da criança.

Buscamos neste trabalho retomar um pouco o tema da africanidade permeada em  nossa cultura desde a infância. Há centenas de outros exemplos, mas, precisaríamos de  um espaço específico para mostrá-los.

Acredito que dar à criança a oportunidade de brincar, cantar e dançar é investir num  caminho de busca da essência do ato, da mente, da voz e do pertencimento inventando o  prazer de ser feliz! Para ambientar o final deste artigo, deixo alguns versos de uma  música popular brasileira do compositor Gonzaguinha que é um exemplo de ciranda:

REDESCOBRIR

Como se fora brincadeira de roda (memória)

Jogo do trabalho na dança das mãos (macias)

O suor dos corpos na canção da vida (história)

O suor da vida no calor de irmãos (magia) (…).

Referências:

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª edição. Belo  Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora Universo, 1988.

COSTA, Clarice Moura. O Despertar para o outro: Musicoterapia. São Paulo: Summus  editorial, 1989.

FREGTMAN, Carlos Daniel.  Corpo, Música e Terapia. São Paulo: Editora Cultrix Ltda,  1989.

FREYRE, Gilberto. Casa grande e Senzala. 50ª edição. São Paulo: Global Editora, 2005.

LOPES, Nei.  Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro  Edições, 2004.

__________. Dicionário Escolar Afro-brasileiro. São Paulo: Selo Negro Edições, 2006.

PAIVA, Ione Maria R. Brinquedos cantados. Rio de Janeiro: Editora Sprint ltda. 1998.

SANTA ROZA, Eliza. Quando brincar é dizer: A experiência psicanalítica na infância.

Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 1993.

* Por Denise Guerra

*CRÉDITOS DA AUTORA

 Graduação em Musicoterapia (Conservatório  Brasileiro de Música)-1995.

 Especialização em Psicomotricidade (Universidade Candido Mendes)-2003.

 Licenciatura e Bacharelado em Educação Física (Universidade Estácio de Sá) – 2004.

 Especialização em Cultura Africana e Afro Brasileira (Universidade Castelo Branco) – 2007.

 Trabalho de Dança e Musicoterapia com portadores de deficiência (Apae-Rio)  1996 – 2006.

 Formação em Dança de Salão, Yoga, Massoterapia, Shiatsu.

Professora do Ensino Fundamental e E.J.A da rede municipal de ensino de Japeri  e Queimados.

 Artigo publicado em site da Argentina  http://www.efdeportes.com.br 2004: A  criação do clube escolar e núcleo de artes: uma nova             alternativa no  combate ao ócio estudantil.  2007: Preserve a sua natureza faça atividades  físicas.

 Artigo publicado no jornal Comunicandido – (Univ. Candido Mendes 2003):  Ludomotricidade: Da espontaneidade à construção do sujeito.

 Ministrou cursos no Instituto Isabel de: Recreação, Psicomotricidade, Dança.

 Artigos para a revista eletrônica www.boletimEF.org 2008: A recreação na Educação Especial infantil com o portador de síndrome de  down: contextualizando o desenvolvimento psicomotor   2008:  Brinquedos Cantados na Psicomotricidade

 Professora do Ensino Fundamental e E.J.A da rede municipal de ensino de Je Queimados.

 Artigo publicado em site da Argentina  http://www.efdeportes.com.br 2004: A  criação do clube escolar e núcleo de artes: uma nova   alternativa no combate ao ócio estudantil.  2007: Preserve a sua natureza faça atividades  físicas.

 Artigo publicado no jornal Comunicandido – (Univ. Candido Mendes 2003):  Ludomotricidade: Da espontaneidade à construção do sujeito.

 Ministrou cursos no Instituto Isabel de: Recreação, Psicomotricidade, Dança.

 Artigos para a revista eletrônica www.boletimEF.org   2008: A recreação na Educação Especial infantil com o portador de síndrome de  down: contextualizando o desenvolvimento psicomotor   2008:  Brinquedos Cantados na Psicomotricidade

Revista África e Africanidades – Ano 2 – n. 5 – Maio. 2009 – ISSN 1983-2354

2 respostas para “Corpo: Som e Movimento – Redescobrindo Brinquedos Cantados na Africanidade Brasileira”

  1. A música tem o poder de mexer com as emoções. Muitas cantigas populares são a expressão da cultura de um povo.

    É bonito ver as cantigas acompanhadas por coreografias vibrantes.

    Essa situação traz um momento de alegria. Mas o melhor é que nessa brincadeira as crianças se divertem e acabam também assimilando o conteúdo. Forma peculiar e espontânea de adquirir e compartilhar cultura.

    Paz e felicidade,

    Bruno Borges Borges
    brunoborgesborges.blogspot.com

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