Conceitos Junguianos: aprofunde seu conhecimento na psicologia junguiana
Aprenda os principais conceitos junguianos e descubra como melhorar a sua vida. Saiba como a psicologia analítica de Jung pode te ajudar a viver de forma mais consciente, saudável e feliz!
ARQUÉTIPO:
É uma forma de pensamento universal (ideia) aliada a fortes emoções. São as tendências estruturais invisíveis dos símbolos. Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Jung deduz que as “imagens primordiais”, um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências. Eles se encontram isolados uns dos outros, embora possam se interpenetrar e se misturar.
O núcleo de um complexo é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas. Os arquétipos da Morte, do Herói, de Deus, da Grande Mãe e do Velho Sábio são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo. Embora todos os arquétipos possam ser considerados como sistemas dinâmicos autônomos, alguns deles evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados da personalidade. São eles: a persona, a anima (lê-se “ânima”), o animus (lê-se “ânimus”) e a sombra. Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São estas manifestações que revelam a presença dos arquétipos, os quais as dirigem. A sua origem não é conhecida; e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo – mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por “fecundações cruzadas” resultantes da migração.
Não existe uma definição precisa para eles. Isso porque, assim como os símbolos, não têm um contorno definido e nítido. Para tentar explicá-los tendemos sempre a introduzir as frases com “é como se…”. É como se usássemos a linguagem poética para descrever o que somente metáforas podem mostrar. Primeiro porque não existe a atuação pura de um arquétipo somente. Segundo porque muitas das funções de um arquétipo são também função de outro. Terceiro, vou explanar com um exemplo.
Se você pega um ímã, coloca uma folha de papel e limalha de ferro em cima, você irá ver as linhas magnéticas (influência) do campo magnético do ímã representadas na folha de papel (símbolos). Passando o ímã sobre pregos, nota-se uma ação invisível (arquetípica) só percebida pelo efeito nos pregos (símbolos). Os ímãs têm essa propriedade pelo alinhamento de suas cargas atômicas (arquétipos). Os arquétipos determinam as diferentes personalidades pelo arranjo distinto que formam em cada pessoa. E a sua influência se faz perceber por determinado “alinhamento” deles em nossa psique, o que provoca atrações e repulsões em outros campos psíquicos (influência inconsciente nas pessoas), além de acontecimentos sincronísticos (influência invisível na matéria e nos acontecimentos). (Leia mais sobre os arquétipos no artigo “Os arquétipos na lenda de “O Senhor dos Anéis, passo a passo”.)
AMPLIFICAÇÃO ARQUETÍPICA
Um poema é composto recorrendo o poeta a várias figuras de estilo e metáforas, só para transmitir algo que é indizível, embora possa ser limitadamente captado por esses recursos. A mesma coisa se faz com os sonhos e com os arquétipos manifestados neles. Algo muito revelador num trabalho com sonhos é apanhar material semelhante em outro lugar (mitos, lendas, livros, conceitos, etc.) e usá-los como lentes para ampliar os temas arquetípicos de um sonho, como se fossem uma espécie de microscópio. A isso Jung chamou de amplificação. Um amplificador de som faz com que um sinal invisível, fraco, seja convertido e amplificado até ficar audível para nós. Usam-se amplificadores (os símbolos contidos em outros materiais) para intensificar o sinal a princípio invisível e fraco à nossa compreensão, então eles são convertidos em sinais captáveis aos nossos sentidos (usando frequências, isto é, conceitos, tais como anima, animus, Self… – dentro da faixa audível de som), e assim pode-se “ouvir”, mesmo sem alguns canais, pois nunca se consegue abranger todos, a sinfonia do sonho.
ANIMA E ANIMUS:
Jung atribui a arquétipos o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher. O arquétipo feminino no homem é chamado anima, e o masculino na mulher, animus. Eles são o produto de experiências raciais do homem com a mulher e vice-versa. Constituem a “alma” de cada homem e mulher. No que se refere ao caráter dessa “alma” ela costuma ter todas aquelas qualidades humanas comuns que faltam à atitude consciente. O tirano atormentado por maus sonhos, pressentimentos sombrios e receios interiores, é uma figura típica. Exteriormente cruel, é porém sujeito a qualquer humor, como se fosse um ser menos autônomo e mais maleável. Sua alma contém, pois, aquelas qualidades humanas de fraqueza e determinabilidade que faltam completamente à sua atitude exterior, à sua persona. Se a persona for intelectual, a alma será sentimental com toda certeza. O caráter complementar da alma atinge também o caráter sexual, conforme pude constatar muitas vezes. Mulher muito feminina tem alma acentuadamente masculina; homem muito masculino tem alma feminina. A anima e o animus têm um papel importante nas relações amorosas, onde as pessoas, inconscientes desses arquétipos, são levadas a projetá-los no sexo oposto. O desenvolvimento consciente da anima e do animus acarreta numa ampliação da personalidade e num relacionamento mais rico com o outro. (Leia mais sobre anima/animus no artigo “Os arquétipos na lenda de “O Senhor dos Anéis, passo a passo”.)
COMPENSAÇÃO:
Exprime uma tentativa de equilíbrio ou troca. A consciência constantemente está a selecionar pensamentos, sentimentos e sensações. Esta seleção requer direcionamento da atenção, que por sua vez exige exclusão de tudo o que não tiver importância. Disso resulta obviamente certa unilateralidade da consciência. Os conteúdos excluídos e inibidos pela direção escolhida caem no inconsciente. Devido à sua existência, são um contrapeso à orientação consciente, contrapeso que, ao aumentar a unilateralidade consciente, também cresce e conduz finalmente a uma tensão intensa. Quanto maior a unilateralidade da atitude consciente, maior a oposição dos conteúdos que provêm do inconsciente. Com o tempo, a tensão aumenta de tal forma que os conteúdos inconscientes inibidos se comunicam com a consciência, sobretudo por meio de sonhos ou de imagens surgidas na imaginação espontaneamente.
COMPLEXO
É um conjunto coeso de sentimentos, pensamentos, percepções e memórias que existem no inconsciente individual. Tem um núcleo que atrai em torno de si várias experiências. O núcleo e muitos dos elementos a ele associados são sempre inconscientes, mas podem tornar-se conscientes, o que ocorre muitas vezes.
CULMINAÇÃO
É o auge do drama onírico, parte da estrutura dramática do sonho. Durante o mesmo é que ocorre uma mudança de rumos, uma decisão, uma transformação no sonho. A tensão entre os elementos chega a um ponto culminante. Geralmente é aqui que um pesadelo se define, onde podemos até despertar devido ao jogo intenso de emoções. (Leia mais sobre a estrutura dramática dos sonhos no artigo “A estrutura dos sonhos”.)
EGO (EU)
Complexo de representações que constitui o centro do campo da consciência, que parece ter grande continuidade e identidade consigo mesmo. O complexo do eu é tanto um conteúdo quanto uma condição da consciência, pois um elemento psíquico me é consciente enquanto estiver relacionado com o complexo do eu. Enquanto o eu for apenas o centro do meu campo consciente, não é idêntico ao todo de minha psique, mas apenas um complexo entre outros complexos. Por isso se distingue eu de Self (Si-mesmo). O eu é o sujeito apenas da consciência, mas o Si-mesmo é o sujeito do todo da personalidade, também da psique inconsciente. O ego, enquanto representante da consciência na psique, costuma ser representado nos mitos e lendas na figura de um herói. (Leia mais sobre o arquétipo do herói no artigo “Os arquétipos na lenda de “O Senhor dos Anéis, passo a passo”.)
ESTRUTURA DRAMÁTICA DO SONHO
O processo de trabalho com sonhos através de associações e amplificações é tão dramático como o trabalho de um detetive. O processo de tornarmos consciente o que nos é encoberto acaba gerando sonhos, fantasias e histórias que têm um aspecto dramático, como acontece com o teatro. O estudo da estrutura dramática de um sonho leva em conta essa semelhança, dividindo-o em começo, meio e fim. “Apresenta a situação psíquica inicial, o caminho, seus entraves, como estes se resolvem ou não e as mudanças decorrentes”, diz Marion R. Gallbach. A análise onírica em termos de sua estrutura dramática nos ajuda a perceber sua coerência e sua dinâmica, refletidos dentro de nós, em nossa situação interior. Assim, o sonho se divide em quatro elementos para seu estudo como um drama: exposição, intriga (peripécia ou desenvolvimento), culminação (crise ou impasse) e lise (desenlace ou resolução). (Leia mais sobre a estrutura dramática dos sonhos no artigo “A estrutura dos sonhos”.)
EXPOSIÇÃO DO SONHO
É a situação inicial do sonho, que nos diz do tema, do que se trata a trama. Nela ocorre a apresentação do cenário, do tempo, das personagens e da relação entre esses elementos. “Podemos compará-la com um relatório comercial ou com o cabeçalho de uma carta, em que ‘Ref.’ significa ‘referente a’ e assim, apresenta o assunto básico da comunicação”, esclarece Edward C. Whitmont. “A cena psicológica é essencialmente transmitida por uma localização geográfica em que o sonho começa e/ou pela situação inicial dos personagens dramáticos na cena de abertura”, continua. A exposição é o ponto de partida para os acontecimentos posteriores do sonho. Ela transmite o contexto simbólico ou psicológico da trama onírica. (Leia mais sobre a estrutura dramática dos sonhos no artigo “A estrutura dos sonhos”.)
EXTROVERSÃO
É uma atitude de abertura em relação ao mundo exterior, de interesse por ele e tudo o que ele contém, contrariamente à sua função oposta – a introversão. O indivíduo predominantemente extrovertido, digo isto porque não existe uma atitude puramente introvertida ou extrovertida, pensa, sente e age em relação ao objeto (isto é, pessoas, animais, plantas, organizações, coisas, etc.) de forma direta, positiva e facilmente observável. Conforme a orientação de sua função psíquica, se a extroversão for intelectual, a pessoa pensará no objeto; se for sentimental, ela sentirá no objeto; se for sensual, usará os sentidos em geral para relacionar-se com o mundo; e se for sensitivo, a intuição, para saber das possibilidades que se encerram nas coisas.
FANTASIA:
Corresponde a uma espécie de representação na imaginação dos complexos do sujeito, isto com ou sem controle do mesmo, podendo ser, então, respectivamente, cunhada de fantasia ativa (um bom exemplo é a imaginação ativa) ou passiva. Segundo Robert A. Johnson, em Innerwork – A chave do reino interior, Mercuryo, “fantasia deriva da palavra grega phantasía. O sentido original desta palavra é revelador: ela significava ‘o fazer visível’. Derivada de um verbo que queria dizer ‘tornar visível, revelar’. A correlação é clara: a função psicológica de nossa capacidade para a fantasia é tornar visível a dinâmica invisível da psique inconsciente. Encontramos na psicologia dos gregos um discernimento fundamental que a psicanálise moderna tem precisado redescobrir: a mente humana está investida de um poder especial para converter o reino invisível em formas visíveis de maneira que possa ser visto e contemplado na mente. Chamamos esse reino invisível de inconsciente: para Platão, era o mundo das formas ideais; outros antigos o imaginavam como a esfera dos deuses, a região do espírito puro. Mas todos sentiam uma coisa: só nosso poder de formar imagens nos capacita a vê-lo. Para os gregos, phantasía designava esta faculdade especial da mente para produzir imagens mentais poéticas, abstratas e religiosas; era nossa capacidade de “tornar visível ” o conteúdo do mundo interior dando-lhe forma, personificando-o.
FUNÇÃO INFERIOR (OU QUARTA FUNÇÃO):
Consiste na função que não se desenvolve durante o processo de maturação. É considerado dificílimo o desenvolvimento simultâneo de todas as funções psicológicas e as exigências sociais forçam o desabrochar daquela que poderá servir melhor ao sucesso social ou a seguir a própria natureza. Da identificação mais ou menos plena com a função privilegiada é que surgem os oito tipos psicológicos junguianos, combinados que são com as atitudes de extroversão e introversão. A unilateralidade desse desenvolvimento acaba relegando uma ou mais funções à precariedade, à escuridão, à infância. Normalmente, ocorre de percebermos certos sinais de sua presença em nós, daí a conhecermos pelo menos “de vista”. Nas neuroses, porém, o caso é mais grave, podendo ocorrer forte incompatibilidade com a função principal, vindo a perturbar seriamente o equilíbrio psíquico da pessoa em questão. Com a função inferior no inconsciente, a energia naturalmente investida nela acaba ativando fantasias correspondentes à função em questão. A conscientização dessas fantasias e sua integração através de trabalhos interiores favorece a sua progressão até uma realização mais ou menos completa da pessoa. (Leia mais sobre a a função inferior no artigo “O papel da função inferior no desenvolvimento psíquico”.)
FUNÇÃO INTUIÇÃO:
Transmite a percepção por via inconsciente do que é possível acontecer ou fazer. Tudo pode ser objeto dessa percepção, coisas internas ou externas e suas relações. Por ela vislumbramos o mundo interior. O homem intuitivo vai além dos fatos, sentimentos e ideias, e constrói modelos elaborados da realidade. Responde-nos de onde vem e para onde vai algo. Nos diz das possibilidades das coisas. É uma função irracional.
FUNÇÃO PENSAMENTO:
É a compreensão intelectual da natureza, do mundo e de si mesmo. Responde à pergunta: “o que é?”. Define e identifica as coisas. É considerada uma função racional.
FUNÇÃO SENSAÇÃO:
É a função da percepção do mundo exterior pelos cinco sentidos. Produz representações do mundo. Nos diz que alguma coisa existe. É uma função irracional.
FUNÇÃO SENTIMENTO:
É a função valorativa. Um processo que se realiza entre o eu e um dado conteúdo, um processo que atribui ao conteúdo um valor definido no sentido de aceitação ou rejeição (prazer ou desprazer). É também uma espécie de julgamento que visa a uma aceitação ou rejeição subjetivas, e distingue-se do julgamento intelectual (função pensamento), o qual visa ao estabelecimento de relações conceituais. Provoca repulsa ou atração em diversos níveis. É uma função racional.
FUNÇÕES PSICOLÓGICAS:
São as ferramentas que usamos para funcionarmos. Representam o modo como funcionamos na interação que temos com o mundo e com nós mesmos. Desde o nascimento temos uma predisposição a desenvolvermos mais uma função do que as outras e a educação reforça ainda mais essa tendência. Deste modo, embora todas as pessoas possuam as quatro funções, elas não são desenvolvidas de modo igual. A mais desenvolvida é chamada de “função principal” e a menos evoluída de “função inferior”. A sensação nos diz que alguma coisa existe; o pensamento mostra-nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição dir-nos-á de onde vem e para onde vai. (Leia mais sobre a a função inferior no artigo “O papel da função inferior no desenvolvimento psíquico”.)
FUNÇÕES IRRACIONAIS:
São aquelas que não operam com a razão, que não dependem do raciocínio nem do juízo para funcionarem. A intuição e a sensação são funções psicológicas que devem estar abertas à casualidade e a qualquer possibilidade; por isso não devem ter qualquer direção racional.
FUNÇÕES RACIONAIS:
Fazem uso da razão, do juízo, da abstração e da generalização. São elas o pensamento e o sentimento.
IMAGINAÇÃO ATIVA:
É um método de interação com o inconsciente há muito tempo conhecido dos antigos alquimistas e presente com algumas variações na meditação oriental. Sucintamente, “(…) é um diálogo que travamos com as diferentes partes de nós mesmos que vivem no inconsciente” (Johnson, Robert A. “Innerwork – A chave do reino interior”. 1ª edição, Ed. Mercuryo, 1989, São Paulo, p. 154). Consiste ela em relacionarmo-nos com nossos sentimentos, pensamentos, atitudes e emoções através dos vários personagens que aparecem em nossos sonhos e interagir ativamente com eles, isto é, discordando, quando for o caso, opinando, questionando e até tomando providências com relação ao que é tratado, isso tudo pela imaginação. Quando não sabemos, p. ex., porque uma figura onírica agiu de forma violenta para conosco, podemos ir para a IA, recordar o sonho até esta parte em particular e a partir daí questionar o personagem das razões do seu comportamento para conosco. Nesse momento devemos ter o cuidado de deixarmos que a figura “diga” o que vier à sua cabeça. Você terá a sensação de que está inventando tudo, mas isso não importa e nem altera o efeito real da prática da IA, o que você poderá verificar após a conclusão de qualquer trabalho interior. Difere da fantasia passiva porque nesta não atuamos no quadro mental, de forma a participarmos do drama vivenciado, mas apenas nos contentamos em assistir o desenrolar do roteiro desconhecido, muitas vezes sofrendo involuntariamente, sem proveito algum, e o que é pior, sem que venhamos a conhecer o que há por trás. A Imaginação Ativa pode ser aplicada também quando estamos fortemente influenciados por uma emoção. Neste caso, tratamos de personificarmos a emoção vivenciada para interação do modo como descrito acima. (Leia mais sobre a imaginação ativa no artigo “Imaginação Ativa”.)
IMAGINAÇÃO CORPO-ATIVA
Consiste numa aplicação semelhante à imaginação ativa, porém acrescenta: a vivência corporal do cenário, das personagens e da dinâmica do sonho, através da comunicação com esses elementos; da sua percepção interior através de incorporação e identificação imaginativa em termos de sentimento, emoção, ação, ideia, pensamento e sensação; e por último através de contemplação em estado de relaxamento. Esta técnica, criada por Marion R. Gallbach, visa favorecer o contato com o conteúdo emocional das imagens oníricas. Isto relativizaria o trabalho exclusivamente mental que várias outras técnicas enfatizam. Segundo Marion, “Freqüentemente, afecções corporais parecem constituir a dramatização de conflitos psíquicos. Corpo e psique estão interligados”. Esta técnica pretende fazer justiça à totalidade do sonhador, recorrendo ao uso das várias outras funções psíquicas.
INCONSCIENTE COLETIVO
É o mais poderoso e influente sistema da psique. Parece ser o depósito de traços de memória herdados do passado ancestral do homem. É parte importante do desenvolvimento psíquico evolutivo do homem que se acumulou em consequência de experiências repetidas durante várias gerações. É aparentemente universal, todos os seres humanos têm, mais ou menos, o mesmo inconsciente coletivo. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente pessoal e todas as outras aquisições individuais. Tudo o que uma pessoa aprende como resultado de experiências é influenciado pelo inconsciente coletivo, que exerce uma ação orientadora ou seletiva sobre o comportamento da pessoa, desde o início da vida. Nossa experiência do mundo está moldada pelo inconsciente coletivo, embora não completamente, pois, se assim fosse, não poderia haver variação e desenvolvimento.
INCONSCIENTE INDIVIDUAL
É uma região da personalidade próxima ao ego. Consiste de experiências que foram suprimidas, reprimidas, esquecidas ou ignoradas. Os conteúdos do inconsciente individual são acessíveis à consciência, havendo muitas permutas entre o inconsciente individual e o ego.
INDIVIDUAÇÃO
É o processo de desenvolvimento da individualidade da pessoa que tem como consequência sua diferenciação da coletividade, do conjunto, sem opor-se necessariamente à norma. A individuação não leva ao isolamento do indivíduo, mas à sua integração mais consciente, intensa e abrangente com o coletivo, seja na forma do inconsciente coletivo ou na forma da sociedade como conhecemos. Pode conduzir-se conscientemente ou inconscientemente. O primeiro caso tende a ocorrer quando alguém envolve-se com trabalhos interiores, como a interpretação dos sonhos, a imaginação ativa, a análise, etc. O segundo caso é uma ocorrência natural e geralmente muito mais lenta, que tem a desvantagem de deixar o individuado mais ou menos às cegas quanto ao processo em geral. Geralmente a individuação ocorre na segunda metade da vida. Pode ser detectada através dos sonhos pela repetição cíclica espiral e temática das imagens dos sonhos, num ciclo de desenvolvimento que tende a resolver os conflitos expressos em um nível mais avançado.
INTRIGA (ou desenvolvimento do sonho)
É um dos elementos da estrutura dramática onírica. Mostra o desenrolar da situação onírica, que leva à culminação. Durante a intriga, ainda não sabemos no que irá resultar a trama. Reflete as tendências, a dinâmica e as possibilidades iniciadas com a exposição, tirando desta a fixação inicial. (Leia mais sobre a estrutura dramática dos sonhos no artigo “A estrutura dos sonhos”.)
INTROVERSÃO
É a atitude de voltar-se para dentro de si próprio, isto é, envolve uma relação negativa com o objeto. O interesse da pessoa se retrai do mundo exterior para voltar-se para ela mesma. O introvertido pensa, sente e age de modo a deixar perceber que o mais importante é o indivíduo, enquanto o exterior torna-se secundário. Como na extroversão, que é a atitude oposta à introversão, o sujeito pensa, sente, percebe e intui de acordo com a(s) função(ões) predominante(s) em sua psicologia.
LISE (ou resolução)
Faz parte da estrutura dramática do sonho. É a solução ou conclusão do sonho. Constitui a forma pela qual o desenvolvimento do sonho foi resolvido. Mostra uma saída possível. Às vezes a lise é um fechamento que tem como objetivo simplesmente alertar o sonhador para algo urgente ou dizer-lhe que a situação é inalterável. (Leia mais sobre a estrutura dramática dos sonhos no artigo “A estrutura dos sonhos”.)
PERSONA
É a máscara usada pelo indivíduo em resposta às solicitações da convenção e da tradição sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas. É a personalidade pública, aqueles aspectos que ostentamos ao mundo ou que a opinião pública fixa no indivíduo. Frequentemente o ego se identifica com a persona, originando o que se chama de “inflação do ego”.
SELF (Si-mesmo)
É o ponto central da personalidade, em torno do qual todos os outros sistemas se organizam, formando constelações. Ele sustenta a união desses sistemas, e fornece unidade, equilíbrio e estabilidade à personalidade. Como todos os arquétipos, motiva o comportamento do homem e faz com que ele procure a integração, especialmente pelos caminhos fornecidos pela religião. O Si-mesmo como totalidade psíquica tem um aspecto consciente e um inconsciente. Aparece em sonhos, mitos e contos de fadas, na figura de personalidades “superiores” como reis, heróis, profetas, salvadores, etc. ou na figura de símbolos de totalidade como o círculo, o quadrilátero, a cruz, etc. (Leia mais sobre o Si-mesmo no artigo “Os arquétipos na lenda de “O Senhor dos Anéis, passo a passo”.)
SÍMBOLO
Todo conceito que explica o símbolo como analogia ou designação abreviada de algo conhecido é semiótica (um sinal). Uma concepção que explica o símbolo como a melhor formulação possível, de algo relativamente desconhecido (que se encontra no inconsciente), não podendo ser mais clara ou característica, é simbólica. Explicar a cruz como símbolo do amor divino é reduzi-la a um sinal, pois “amor divino” designa o fato que se quer exprimir, bem melhor do que uma cruz que pode ter ainda muitos outros sentidos. Simbólica seria a explicação que considerasse a cruz além de qualquer explicação imaginável, como expressão de um fato místico ou transcendente (psicológico), até então desconhecido e incompreensível, que pudesse ser representado do modo mais condizente possível só pela cruz. O símbolo é sempre um produto de natureza altamente complexa, pois se compõe de dados de todas as funções psíquicas. Possui um lado que fala à razão e outro inacessível à razão. O símbolo vivo não pode surgir num espírito pouco desenvolvido, pois este se contentará com o símbolo já existente conforme lhe é oferecido pela tradição.
SINCRONICIDADE
Coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos (no caso, equivalência de um processo físico externo com um processo psíquico), sem relação de causa e efeito mas com o mesmo significado. Uma explicação para as sincronicidades é que os arquétipos não se situam exclusivamente na esfera psíquica, mas também nas circunstâncias exteriores. Estamos acostumados a considerar o “sentido” das coisas como uma ocorrência na nossa psique e relutamos em admitir que ele possa existir também fora de nossa personalidade. É isso o que a sincronicidade parece indicar. Em outras mentalidades, principalmente de caráter introvertido, tais como a chinesa, o sentido encontra seu lugar também nos eventos exteriores. É que, para eles, o sentido (Tao) se obscurece quando fixamos o olhar apenas nos detalhes das coisas, perdendo a visão do conjunto. Já para nós, ocidentais, os detalhes são importantes por si mesmos e não encontram conexão com a totalidade da existência. Achamos que a psique é inteiramente dependente de um cérebro material, esquecendo-nos que o comportamento “significativo” ou “inteligente” de organismos inferiores nada tem a ver com a atividade cerebral. (Leia mais sobre sincronicidade no artigo “Para que servem as coincidências”.)
SOMBRA
É o arquétipo responsável pelo aparecimento em nós de pensamentos, sentimentos e ações desagradáveis e socialmente reprováveis. Nela encontram-se todos os aspectos que reprovamos na nossa personalidade. Daí a sombra fazer parte do inconsciente pessoal. Constitui o oposto do eu (ego). É normalmente retratada nas histórias em quadrinhos como o “alter-ego”, o lado sombrio da personalidade. Aparece normalmente nos sonhos e na vida desperta projetada nas pessoas do mesmo sexo que detestamos. Se nos ofendemos muito com certas críticas, podemos estar quase certos de ter detectado um pouco da nossa sombra. Será proveitoso citar aqui um excerto do livro “Ao encontro da sombra”, de Connie Zweig e Jeremiah Abrams (orgs.), da Ed Cultrix.
“Em 1886, mais de uma década antes de Freud sondar as profundezas da escuridão humana, Robert Louis Stevenson teve um sonho altamente revelador: um homem, perseguido por um crime, engolia um certo pó e passava por uma drástica mudança de caráter, tão drástica que ele se tornava irreconhecível. O amável e laborioso cientista Dr. Jekyll transformava-se no violento e implacável Mr. Hyde, cuja maldade ia assumindo proporções cada vez maiores à medida que o sonho se desenrolava. Stevenson desenvolveu o sonho no seu famoso romance The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde [O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde]. Seu tema integrou-se de tal modo na cultura popular que pensamos nele quando ouvimos alguém dizer, “Eu não era eu mesmo”, ou “Ele parecia possuído por um demônio”, ou “Ela virou uma megera”. Como diz o analista junguiano John Sanford, quando uma história como essa nos toca tão a fundo e nos soa tão verdadeira, é porque ela contém uma qualidade arquetípica – ela fala a um ponto em nós que é universal.
Cada um de nós contém um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde: uma persona agradável para o uso cotidiano e um eu oculto e noturnal que permanece amordaçado a maior parte do tempo. Emoções e comportamentos negativos – raiva, inveja, vergonha, falsidade, ressentimento, lascívia, cobiça, tendências suicidas e homicidas – ficam escondidos logo abaixo da superfície, mascarados pelo nosso eu mais apropriado às conveniências. Em seu conjunto, são conhecidos na psicologia como a sombra pessoal, que continua a ser um território indomado e inexplorado para a maioria de nós”. (Leia mais sobre a sombra nos artigos “Os arquétipos na lenda de “O Senhor dos Anéis, passo a passo” e “A saúde e a autoconsciência do mal”.)
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