Iremos tentar dar uma noção para o leitor sobre o que é a ADD, como se manifesta, como diagnosticar e o que sabemos sobre o problema atualmente.
Epidemiologia
O índice de crianças com ADD na população média dos Estados Unidos é de 3% a 5%. No Brasil, pesquisas semelhantes chegaram a valores entre 3 e 6%, enquanto na Grã-Bretanha este número é estimado entre 1 e 2%. Esta diferença leva alguns médicos europeus a criticarem os seus colegas do Novo Mundo, dizendo que estes tendem a rotular crianças com ADD em quantidade muito maior do que realmente seria o correto. Até o presente momento, não se sabe se esta acusação é justificada, se a causa seria outra como uma cultura mais aberta a este tipo de comportamento, ou ainda se o correto seria o contrário, ou seja, que os europeus estariam evitando dar diagnósticos corretos sobre o ADD.
Características Clínicas
A ADD é caracterizada por uma série de sintomas nem sempre claros e facilmente distinguíveis de outras patologias psiquiátricas (nos seus casos mais graves) ou da normalidade (nos casos mais leves). De uma forma geral, pessoas com este transtorno tendem a apresentar alguns problemas como:
- Dificuldade de atenção e concentração
- Problemas de aprendizado
- Distúrbios do comportamento
- Instabilidade e hiperatividade
- Distúrbios motores
- Retardos da fala
Dificuldade de atenção e concentração
Talvez o fator que mais caracteriza a ADD seja a falta de capacidade do indivíduo se concentrar e prestar atenção no que está sendo apresentado a ele, sem se distrair com qualquer outro estímulo. Aparentemente, a pessoa com ADD sente uma necessidade extrema de prestar atenção em estímulos novos e muitas vezes irrelevantes. Pessoas com ADD passam a impressão de que nunca conseguem completar nenhuma tarefa iniciada, pois assim que começam uma nova empreitada, facilmente se distraem e passam a fazer outra coisa, deixando um rol de tarefas incompletas. Estas pessoas também apresentam dificuldade de memorizar coisas e se lembrar de compromissos, encontros e onde deixaram certos objetos (como chaves).
Esta falta de atenção leva muitas vezes a problemas profissionais devido à falta de produtividade e também a problemas de relacionamento, pois a falta de atenção causa a impressão em outras pessoas de que elas são sem importância. Para mais informações sobre a inclusão de alunos com dificuldades, veja Educação inclusiva: envolvimento da família.
Problemas de aprendizado
O indivíduo com ADD costuma apresentar problemas com o aprendizado, seja através da dificuldade em prestar atenção e manter a concentração, como já foi mencionado, ou por outros problemas como a dislexia, disgrafia e discalculia, além de problemas sociais no ambiente escolar devido aos problemas de comportamento e isolamento social consequente.
Frequentemente, estas dificuldades acabam levando a pessoa a assumir uma atitude negativa perante o estudo e à escola devido às dificuldades que encontra. A falta de compreensão do círculo social do indivíduo com ADD leva a uma condição onde a pessoa passa a ser acusada de preguiçosa, burra, etc., o que só piora ainda mais a situação, abrindo caminho para comportamentos patológicos e antissociais.
Muitas vezes, estes problemas podem ser compensados pela vontade do indivíduo ou pela atitude das instituições de ensino. O indivíduo muitas vezes, até mesmo sem perceber, desenvolve técnicas para poder superar as suas deficiências. Entre estas técnicas estão o uso de acessórios de estudo coloridos e chamativos para não dispersar a atenção com outros estímulos, uso de lembretes, chaves coloridas, etc. Em relação às instituições de ensino, muitas delas estão desenvolvendo salas de aula especialmente planejadas para estes alunos e programas especiais para o reforço do estudo. As salas de aula para pessoas com ADD são projetadas de forma a ter o menor número possível de estímulos distrativos e os programas especiais tentam sanar as deficiências e dar suporte psicológico ao aluno com ADD.
Distúrbios de comportamento
Quando falamos de ADD, é muito difícil separar os problemas comportamentais primários dos secundários. O indivíduo com ADD tende a exibir um comportamento irrequieto que faz com que as pessoas à sua volta o tratem de uma forma diferenciada. Na maioria das vezes, esta diferenciação é negativa, se manifestando através da exclusão social do indivíduo por causa da sua inabilidade de se manter quieto, de praticar esportes ou a sua tendência de quebrar coisas.
Muitas vezes, os indivíduos com ADD têm a tendência de se sentir excluídos, pois o seu comportamento leva outras pessoas a lhe chamarem de preguiçoso, problemático, estranho e até mesmo louco. Este tipo de exclusão vai levar o indivíduo a desenvolver problemas psicológicos que podem seguir duas direções opostas, dependendo da estrutura pessoal do indivíduo: a introversão ou o comportamento antissocial.
A introversão ocorre quando o indivíduo resolve se submeter às regras que lhe são impostas, escondendo o seu verdadeiro comportamento, se separando das relações sociais por se achar demasiadamente incompetente para tal coisa e muitas vezes acaba entrando em depressão por sentir que não é aceito pelo seu jeito de ser.
O comportamento exibicionista pode aparecer quando o indivíduo mostra a sua ira através de agressividade. Este tipo de comportamento tende a ser o principal motivo pelo qual os pais acabam levando a criança para uma consulta com um especialista de saúde mental.
Não são raros também os casos de comportamentos antissociais ligados ao ADD, como vício em drogas (causado pela vontade de resolver o problema), alcoolismo, destrutividade, agressões sexuais, etc. Este tipo de comportamento tende a ocorrer quando o ADD não é diagnosticado e tratado a tempo, pois é uma forma do paciente expressar a sua desesperança com o seu problema, acreditando que nada pode ser feito para resolvê-lo. Embora não consigamos achar trabalhos sobre o assunto, não é difícil levantar uma hipótese de um número maior de suicídios entre pessoas com ADD do que em pessoas normais, tamanha é a dificuldade que estes pacientes encontram em se adaptar à vida social.
Distúrbios motores
Pessoas, especialmente crianças com ADD, apresentam distúrbios como a incoordenação e a hiperatividade.
A incoordenação se manifesta através de dificuldades ou atraso em atividades como andar de bicicleta, amarrar os sapatos e escrever (Allen, J. E. – 1977 p.249). Pode se manifestar também pelo jeito desajeitado que a criança mostra ao interagir com o mundo, ou “clumsiness” como este comportamento é expresso na língua inglesa. Alguns autores fazem uma comparação deste comportamento afirmando que ele se aparenta àquele que supostamente seria exibido por um “King Kong”, tal é o modo grosseiro e desajeitado destes movimentos. “Os objetos ao seu redor correm permanentemente perigo: as pontas dos lápis, os copos, os botões das camisas, as cadeiras que são colocadas à prova quando sobre elas se atiram para sentar, os brinquedos, o aparelho de TV, enfim, tudo que esteja ao seu alcance” (Lefevre, A.B – 1978-p.798).
A hiperatividade se apresenta através da dificuldade do indivíduo em controlar os seus movimentos. O indivíduo é incapaz de ficar mais do que alguns segundos parado sem realizar um movimento inútil. Mesmo quando as condições exigem, ele não é capaz de ficar parado; quando, por exemplo, esta pessoa tem que ficar sentada, ela começa a apresentar movimentos nos membros. A hiperatividade se apresenta na grande maioria dos casos de ADD, embora, em alguns casos, este problema pode não estar presente, dando uma subdivisão de ADD sem hiperatividade que será estudada no item 3.1 ainda neste capítulo.
Estes distúrbios motores são um dos principais motivos de queixas de professores e pessoas em geral que lidam com o indivíduo com ADD. Um dado interessante é que os pais parecem se tornar acostumados com estes distúrbios nos seus filhos, pois dados levantados por Lefevre apontavam que, embora só uma pequena parcela dos pais se queixasse da hiperatividade dos seus filhos (cerca de 15%), os exames clínicos posteriores demonstraram que quase cerca de 65% das crianças estudadas apresentavam hiperatividade.
Retardos da fala
Os indivíduos com ADD apresentam, em alguns casos, retardos na fala que podem se apresentar em 3 tipos diferentes, por ordem de frequência: 1-Retardo da aquisição, 2-Dislalias, 3 – Distúrbios de ritmo.
Os retardos na aquisição se caracterizam pela diferença apresentada pela criança entre o que seria esperado dela em termos de produção verbal em relação ao seu desenvolvimento neuropsicológico e o que realmente ela consegue produzir. Os testes de desenvolvimento psicomotor são apropriados para medir esta diferença, já que a criança apresenta uma discrepância entre o setor da fala e os demais. Não são raros casos de crianças com ADD que chegam à idade de alfabetização com a fala ainda não totalmente desenvolvida.
As dislalias, ou seja, a troca de fonemas, também podem ser apresentadas por crianças com ADD em uma idade muito superior ao que normalmente seria esperado. É importante salientar que este problema deve ser corrigido o mais cedo possível, pois com o tempo a criança pode acabar incorporando a dislalia como parte da sua linguagem normal, tornando a correção do problema muito mais difícil.
Os distúrbios de ritmo se apresentam através do “clutter”, ou seja, a falta de separação nítida entre uma palavra e outra, tornando difícil a compreensão do que está sendo dito. Muitas vezes, este problema é confundido por leigos como sendo uma espécie de gagueira, mas é importante diferenciar o diagnóstico para evitar problemas e facilitar o tratamento do problema.
Diagnóstico
O diagnóstico de ADD pode se tornar traiçoeiro, especialmente para profissionais menos experientes, por isto recomendamos que os diagnósticos sejam feitos baseados nos seguintes critérios:
Histórico e anamnese detalhada
Devido às suas manifestações no comportamento da criança e na dificuldade de se associar ADD com algum sintoma ou problema físico, o histórico do problema e a observação do comportamento da criança por outras pessoas do seu meio social, como professores, babás, etc., são de vital importância para o diagnóstico do transtorno.
O histórico pode mostrar problemas com a atenção, dificuldade de aprendizado, problemas em se manter parado, etc. Podem também aparecer problemas relacionados à gravidez e ao parto, já que a incidência deste problema em pessoas com ADD é substancialmente maior do que na população normal. Também podem aparecer dificuldades na coordenação motora, problemas em tarefas como abotoar a roupa, amarrar os sapatos, dificuldade em movimentos alternados rápidos. Assim como podem também aparecer déficits de linguagem, problemas com a fala e problemas psicológicos secundários como depressão, agressão, baixa autoestima, assim como sentimentos de rejeição. Embora não se saiba a explicação, pais de pacientes com ADD tendem a ter um índice de separação no casamento maior do que na população em geral.
No caso do psicólogo, uma vez descartados outros problemas físicos que podem apresentar semelhanças com ADD, o diagnóstico pode ser realizado através de testes psicológicos como WISC, já que crianças com ADD tendem a apresentar uma diferença grande entre os testes de atenção e memória em relação a outros testes, como de inteligência geral. A reprodução dos cubos é uma tarefa particularmente difícil. No desenho da figura humana, a sua performance é inferior ao que se seria esperado por uma criança da sua idade, por causa de problemas de atenção, localização espacial, desenvolvimento motor, etc.
No teste gestáltico de Bender, as figuras apresentam rotação, as relações espaciais não são nitidamente copiadas e a discriminação figura-fundo é pobre (CHESS, 1982). É comum a criança com ADD ter uma inteligência normal ou até acima da média e mesmo assim apresentar déficit escolar e dificuldades sociais ou de adaptação.
Exames Eletroencefalográficos (EEG) podem mostrar alterações, já que 50% da população com ADD apresenta problemas nestes exames, enquanto só cerca de 10 a 15% da população normal apresenta problemas semelhantes.
Como meio de confirmação de diagnóstico, pode-se verificar a resposta do indivíduo a estimulantes.
Além dos problemas psicológicos já mencionados, o ADD também pode estar associado a outros problemas neurológicos e psicológicos como S. Gilles de La Tourette, epilepsia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), problemas com drogas, comportamentos de alto risco e personalidade limítrofe (borderline).
Autor: Fernando Lage Bastos
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