Brincar, Conhecer e Ensinar de Forma Lúdica
Aprenda, ensine e divirta-se com nossas atividades educativas e divertidas. Oferecemos um ambiente de aprendizado lúdico e estimulante para crianças e adultos. Venha conhecer a nossa maneira divertida e inovadora de ensinar!
De um modo geral, os educadores infantis reconhecem a importância do jogo no desenvolvimento infantil, percebendo seu papel na construção do Eu e das relações interpessoais.
Brincar é algo inerente ao ser humano, tão natural que até os bebês já nascem sabendo. Na infância, ele assume papel de destaque, uma vez que permeia todas as relações da criança com o mundo. Estudos sobre o assunto revelam, inclusive, que crianças que brincam tornam-se adultos mais ajustados e preparados para a vida.
As brincadeiras não são apenas uma forma de divertimento, mas são meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Sabemos que, para manter seu equilíbrio, a criança necessita brincar, jogar, criar e inventar.
Assim, compreendendo a importância das brincadeiras no desenvolvimento da criança, chegamos à elaboração deste relatório de observação da prática de um profissional de uma instituição de Educação Infantil durante uma semana, descrevendo o ambiente, os sujeitos envolvidos, pontuando os limites e as possibilidades do trabalho pedagógico. O objetivo é promover à criança uma aprendizagem de forma lúdica, a partir da rotina, do tempo e do espaço, onde atividades com jogos e brincadeiras venham permitir um desenvolvimento pleno.
Constatamos durante nossa observação que no Centro de Educação Infantil Nona Virgínia há um espaço físico adequado, que oferece um pátio externo ensolarado onde as crianças brincam livremente e também participam de jogos dirigidos e outras atividades. O local oferece boa ventilação, iluminação e organização espacial, que influem de forma acentuada para obter um bom desempenho com o grupo. O mobiliário usado contempla não só a qualidade de rigidez, segurança e estabilidade, mas também proporciona o conforto necessário às crianças.
A qualificação dos profissionais é outro aspecto que tem influenciado a atual situação da instituição observada, pois a maioria de seus profissionais possui formação na área e participa de programas de formação continuada.
Nesta instituição em especial, a sala do berçário, onde centramos nossa reflexão, as educadoras trabalham enfocando a concepção histórico-cultural com caráter educativo-pedagógico. Elas procuram fazer seu trabalho pedagógico da melhor forma possível, estimulando as crianças e direcionando as brincadeiras, onde cada uma é planejada, conduzida e monitorada. Nesse caso, a ação do educador é fundamental. Ele estrutura o campo das brincadeiras, por meio da seleção da oferta de objetos, fantasias, brinquedos, dos arranjos dos espaços e do tempo para brincar, dormir e alimentar-se, a fim de que as crianças alcancem objetivos de aprendizagens predeterminados sem limitar sua espontaneidade e imaginação.
Apenas um fator negativo foi constatado na sala observada: esta conta com 24 crianças de 03 a 18 meses, para 2 atendentes e 1 estagiária, num período de 6 horas consecutivas, fechando a carga horária em 12 horas diárias, seguindo o mesmo procedimento no segundo turno. O excesso de crianças na sala dificulta que os objetivos das atividades sejam alcançados em sua plenitude. Com isso, não é possível manter uma atenção especial e individual, de carinho e estimulação permanente que cada uma deveria receber.
Nesta reflexão, o brinquedo educativo e o brincar estão sendo vistos como imprescindíveis no aprendizado de nossas crianças. Cada vez mais, pais e educadores estão conscientes da necessidade de ajudar suas crianças no desenvolvimento de suas habilidades através de atividades lúdicas.
Já vai longe o tempo em que o brincar era considerado uma perda de tempo. Atualmente, graças aos trabalhos e estudos de psicólogos e educadores como Piaget e Vygotsky, há uma firme convicção de que o brincar é de suma importância para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança.
Brincar é mais que uma atividade sem consequência para a criança. Brincando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que vive, se relacionando com este mundo. Brincando, a criança aprende.
Geralmente, consideramos como sinônimo de jogo, recreação e mais nada. No entanto, atividade lúdica não se define naquilo que a criança está fazendo, mas sim no que sente naquele momento.
Não podemos dizer que a criança está desenvolvendo uma atividade lúdica porque está brincando.
Toda criança tem necessidade de se expressar, de colocar para fora o que sente e pensa. Através da atividade lúdica, a criança demonstra o que é, o que sente, deixando transparecer aspectos de sua personalidade. Assim, todos os seus desejos e necessidades, toda a sua imaginação e fantasia, seus conflitos e tensões são manifestados através do brinquedo.
Para Wajskop apud Vigotsky, a brincadeira,
(…) cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar relacionando os seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel na brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação e moralidade.(1995: 95).
Para a criança, o brinquedo é uma atividade muito séria. A criança, quando brinca, experimenta-se, constrói-se, é uma forma de comunicação e de estar no mundo.
É brincando que ela convive com os medos, com as raivas, com ansiedades e estabelece o equilíbrio entre o mundo interno e externo, conseguindo, com isso, o auxílio para o desenvolvimento de sua personalidade.
É neste aspecto que está o significado da atividade lúdica: a criança exprime seu estado afetivo no momento, por palavras, comportamentos e atitudes, transferindo seu estado emocional ou sua afetividade para os brinquedos, brincadeiras, desenhos, dramatizações e outros.
É importante que, antes de iniciar a atividade, o professor e as crianças estabeleçam juntos as normas de como realizá-las, a fim de que todos participem. Porém, uma vez estabelecida uma norma, esta deve ser cumprida. Tal procedimento exige uma coerência muito grande por parte do professor e das próprias crianças.
Durante a atividade lúdica, é importante a presença do professor. Neste momento, ele é o companheiro que brinca, incentiva e desafia as crianças, levando-as a experimentar e descobrir suas habilidades, pois se é um trabalho coletivo e de aprendizagem, é necessário que o professor interaja junto aos alunos.
A atividade lúdica deve ser planejada com a criança de acordo com seus interesses, pois o ato de brincar só é válido quando nasce da necessidade da criança. É no brincar que ela se sente mais leve, construindo-se. Devemos aproveitar este momento para auxiliar a criança na construção do conhecimento.
Ensinar através de atividades lúdicas é um excelente recurso pedagógico. Podemos comprovar isso em nossa observação, o enorme potencial de aprendizagem e sua importância para o desenvolvimento cognitivo da linguagem e para a socialização das crianças. Para saber mais sobre o desenvolvimento cognitivo, veja dicas e estratégias.
Ensinar é uma tarefa não repetitiva. Dois grupos de alunos nunca são iguais; nem uma classe é a mesma de um dia para outro. O mundo ao redor da sala de aula muda constantemente; o próprio professor muda. A rotina nesta instituição representa a estrutura sobre a qual está organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho realizado com as crianças. O professor tem a oportunidade de ser criativo com todas essas condições mutáveis.
Para Brougére, o brincar e a aprendizagem estão intimamente ligados. Considera que a esfera lúdica, num plano emocional, é revitalizadora tanto quanto mediadora da aprendizagem que, por sua vez, possibilita a criação. Também reflete que a resistência ou a incapacidade de participar de algum jogo revela um Eu enunciado por temores que pode inibir o pensamento e o desenvolvimento psico-emocional e relacional.
Certamente, não é especulativo dizer que, quando bebê, o brincar revela-se de forma sensitivo-motora; contudo, desde esse primórdio já existiam características próprias de movimento, de sensibilidade e de recreações reflexas que enunciam o desenvolvimento psicológico, paralelo ao fisiológico, ou melhor, às sensações sinestésicas. Significa que, a partir dessas sensações, a criança explora e aprende o mundo, realizando atividades que, centralizadas em seu próprio corpo, preparam o desenvolvimento de funções como o andar e a linguagem. Admira-se, portanto, que a partir dessa vinculação, o bebê esteja pronto a encontrar o mundo dos brinquedos e, mais crescido, compartilhar sua imaginação e fantasia.
Como explicou Wajskop apud Vigotsky, as crianças
(…) em seus jogos, reproduzem muito do que vêem, mas é sabido o papel fundamental que ocupa a imitação nas brincadeiras infantis. Estas são, com frequência, mero reflexo do que vêem e ouvem dos maiores, mas tais elementos da experiência alheia não são nunca levados pelas crianças aos jogos como eram na realidade. Não se limitam a recordar experiências vividas, senão que as reelaboram criativamente, combinando-as entre si e edificando com elas novas realidades de acordo com seus desejos e necessidades. O afã que sentem em fantasiar é o reflexo de sua atividade imaginativa, como o que ocorre nos jogos. (1995:101).
É curioso (quanto envolvente) observar como o brincar das crianças tem a ver com a espontaneidade de seus olhares. Todas as vezes que brincam, o fazem não tão somente por serem capazes de participar da natureza desejada que as crianças sejam crianças antes de serem homens, mas por serem capazes de olhar com seriedade os fatos, quando estão a brincar. Talvez, por isso, brincar seja um espaço do qual não pode ser abandonado, tanto porque se descobre a si (e ao outro) através dos brinquedos e brincadeiras (por tanto, aprende-se!), por ser a única atmosfera em que o ser psicológico pode respirar e agir.
Para Piaget, os jogos dividem-se em jogos de exercício, simbólicos e de regras, além dos jogos de construção, presentes ao longo do desenvolvimento. A finalidade dos jogos de exercício é o próprio prazer do funcionamento. Dividem-se em sensório-motores e de exercício do pensamento. Embora típicos dos primeiros dezoito meses, reaparecem durante toda a infância e acham-se presentes em muitas atividades lúdicas praticadas por adultos. Os jogos simbólicos têm como função a compensação, realização de desejos e liquidação de conflitos, e expressam-se no faz-de-conta e na ficção. São característicos da fase que vai do aparecimento da linguagem até aproximadamente os 6/7 anos. Os jogos de regras são aqueles cuja regularidade é imposta pelo grupo, resultado da organização coletiva das atividades lúdicas. Segundo o autor, as regras podem ser transmitidas ou espontâneas e passam de uma condição inicial motora e individual, depois egocêntrica, de cooperação até a codificação.
A importância do brincar e dos brinquedos, no sentido clássico do termo, não constitui apenas uma necessidade biológica destinada a descarregar energia. Quando as crianças brincam, é à verdade, porque pensam sobre suas experiências emocionais e tornam (re)conhecíveis suas potencialidades. Como não há gestos inúteis, qualquer que seja a atividade lúdica conduz ao encontro da criatividade. É no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self).
Ao professor cabe o papel de arranjar um ambiente onde as pessoas sejam estimuladas às pesquisas e experiências. O professor pode variar o caráter de sua mediação entre as crianças e a cultura em vários pontos: quando se estão estabelecendo as metas, quando se está processando a informação, quando está em andamento uma interação humana, quando está em processo a avaliação. Podemos assim julgar a criatividade no ensino pela qualidade de oportunidades efetivamente oferecidas por um professor para que as crianças tenham experiências educativas.
É necessário que o educador insira o brincar em um projeto educativo, o que supõe intencionalidade, ou seja, ter objetivos e consciência da importância de sua ação em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem infantil. Contudo, é preciso renunciar ao controle, à centralização e à onisciência do que ocorre com as crianças em sala de aula. De um lado, o professor deve desejar – a dimensão mais subjetiva de ter objetivos – e, ao mesmo tempo, deve abdicar de seus desejos, no sentido de permitir que as crianças, tais como são na realidade, advenham, reconhecendo que elas são elas mesmas e não aquilo que ele, educador, deseja que elas sejam.
Em linhas gerais, precisamos deixar que as crianças brinquem e construam seu conhecimento de uma forma alegre de aprender, para que mais tarde não se tornem adultos frustrados.
Concluindo, podemos dizer que a brincadeira deve ocupar um espaço central na educação infantil. Entendemos que o professor é figura fundamental para que isso aconteça. Portanto, devemos criar os espaços, rever o tempo necessário para a execução das atividades, oferecendo-lhes material e partilhando das brincadeiras das crianças. Agindo dessa maneira, estaremos construindo um ambiente que estimule a brincadeira em função dos resultados desejados.
Quanto mais as crianças virem, ouvirem, sentirem e experimentarem, quanto mais aprenderem e assimilarem, quanto mais elementos reais tiverem em sua experiência, tanto mais produtiva e criativa será a atividade de sua imaginação.
Assim é o lúdico: muita alegria, cor e movimento, uma forma espontânea de brincar, jogar, cantar e criar, permitindo uma evolução no processo de identidade de cada um e do grupo, em interação com o meio sócio-cultural.
Referências
- BRAGA, Aucy Bernini. Estrutura e Funcionamento da Instituição de Educação Infantil. Florianópolis: UDESC/Cead, 2003.
- BRASIL. REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. v. 1, Brasília: MEC/SEF, 1998.
- BROUGÉRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. Pioneira: São Paulo, 1998.
- KHISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. Pioneira: São Paulo, 1998.
- PIAGET, Jean. A linguagem e o pensamento da criança. 7 ed. Martins Fontes: São Paulo, 1999.
- WAJSKOP, Gisela. BRINCAR na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1995.
Autor: Ildacir Falchetti Hartcoph