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Atendimento de crianças de 0 a 2 anos no espaço escolar

O artigo discute a importância do atendimento a crianças de 0 a 2 anos em ambientes escolares, abordando as possibilidades e desafios dessa fase crucial do desenvolvimento infantil.

Atendimento de crianças de 0 a 2 anos no espaço escolar

 

Possibilidades e desafios

Nos primeiros meses de vida, a criança é a prioridade para os pais. As experiências que ela viver nesta fase repercutem pelo resto da vida. Com a família, a exploração da condição de vida do bebê geralmente passa pelo período do movimento, independência e aquisição da fala. Torna-se fundamental e importante a criança brincar, vivenciando experiências físicas e emocionais para adquirir alicerces para o futuro.

 

O crescimento fruto do aprendizado ocorre geralmente quando se considera a preocupação em criar condições para que a criança goste de aprender. Este aprendizado não está apenas em casa, no processo educacional, mas em todas as esferas da vida.

 

O atendimento a crianças nesta faixa etária nos espaços educacionais configura-se como uma das mais importantes aquisições deste período. As reações aos pensamentos e sentimentos são expressas no próprio corpo, daí a importância de compreender os sentimentos da criança e colocá-los em palavras, propiciando o entendimento do que se passa e a possibilidade de resolver algo que se julga necessário.

 

Ao ingressar na escola, a família ainda se constitui no grupo por excelência para a criança. No entanto, a escola proporciona uma diversificação dos grupos nos quais a criança poderá se inserir. O papel do grupo formado por crianças da mesma idade passa a ser o de favorecer a aprendizagem social, ou seja, o convívio com os padrões e regras sociais. Durante esse estágio, o grupo permitirá à criança diferenciar-se dos outros e descobrir sua autonomia e originalidade (WALLON, 1953).

 

O modelo de educação caracterizado antes como creche, espaço onde as mães deixavam seus filhos pequenos para serem cuidados, higienizados e alimentados, hoje vem sofrendo mudanças significativas, adquirindo qualidade pedagógica. Dessa mudança, firmada pela Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases), surge a Educação Infantil, assumindo aspectos afetivos, cognitivos, motores e simbólicos.

 

Este período de 0 a 2 anos volta-se para a exploração do ambiente físico e das dificuldades de interação com o mundo.

 

“Os ambientes de aprendizagem precisam garantir a vivência de processos criativos que cultivem ao mesmo tempo o desenvolvimento do sujeito, a sistematização conceitual e a mudança da realidade. Os ambientes de aprendizagem precisam da arte, pois a arte une a ciência, objeto, subjetividade e objetividade: pensamento e sentimento; homem e natureza. Daí para frente, querer significa o futuro e esse é o primeiro passo para a aprendizagem, vista como um movimento de tomar para si” (PIMENTEL, 2001).

 

A partir dessas considerações, pode-se afirmar que a Educação Infantil estimula o desenvolvimento de valores saudáveis, a vivência de grupo e a adaptação na formação da personalidade. Propõe-se a construção de diversos saberes e a promoção de mudanças.

 

Nestes espaços, os professores exercem a organização e estabelecem as relações sociais com os pequenos, estimulando as experiências em grupos, tudo feito dentro de uma rotina flexível e com base na satisfação da criança. As crianças são avaliadas diariamente por meio de registros das observações que avaliam sua condição física, motora, social e emocional.

 

Kramer (1998) acredita que a criança estabelece a linguagem e valoriza padrões de acordo com o espaço geográfico e sua inserção nele. Os padrões de autoridade, linguagem e costumes são condições de alternativas e busca para a criação de sujeitos históricos, criadores de cultura. A Educação Infantil oferece experiências significativas culturais em diferentes espaços de socialização. As crianças têm um olhar crítico capaz de fantasiar, criar, imaginar e inventar. Porém, para que a criança na Educação Infantil desempenhe seu papel, o trabalho realizado em creches e pré-escolas e outros espaços deve permitir que ela construa e desconstrua o mundo ao seu redor, conhecendo e reconhecendo, manipulando o ambiente, usando restos e sobras de diferentes materiais, contemplando suas necessidades.

 

Kramer acredita que aos municípios falta valorizar locais para crianças pequenas, instituições próprias, espaços para brincar, garantir os serviços nas famílias e o direito das crianças. Os desafios são muitos em relação à infância, pobreza, problemas educacionais, questões urbanas e dificuldades em lidar com as questões infantis.

 

Questionamentos surgem a todo instante sobre como as pessoas percebem a criança, os grupos sociais na infância e a cultura infantil. Como assegurar que, diante das contradições, a sociedade se comprometa com o reconhecimento do outro e suas diferenças? No entanto, as possibilidades e desafios perpassam por condições de qualidade profissional, cultural e de suas áreas básicas, discussão de valores, experiências e formação entendida como qualificação que implica em novas propostas pedagógicas e garante espaço para que narrem suas práticas e ampliem seu saber. Negar esse direito é descaso, implica na formação cultural do educador e na ação que o mesmo causa nos educandos.

 

“Na infância, a imaginação, a fantasia e o brinquedo não são atividades que podem ser apenas pelo prazer que proporcionam. Para a criança, o brinquedo é uma necessidade” (VYGOTSKY, 1984).

 

A ênfase dada ao processo de interação com atividades lúdicas leva-nos a entender a importância que a inclusão de espaços de relações sociais tende a desenvolver as funções em seu potencial.

 

Os ambientes de aprendizagem precisam garantir que se cultive o desenvolvimento do sujeito, pensamento e sentimento, dando importância a fatores como ambiente sócio-cultural, motivação e sistema escolar.

 

A criança precisa receber estímulos do seu ambiente para satisfazer suas necessidades básicas de afeto, apego, segurança e disciplina. Esta relação favorece a auto-estima, o diálogo e a socialização.

 

Estímulo é a palavra que determina o porquê das ações, seguido de disputar e entusiasmar, palavras que levantam a auto-estima e o emprego de incentivos.

 

Motivar considera três variáveis: o ambiente, as forças internas e o emprego de incentivo, como necessidade, desejo, vontade, interesse e impulso, que institui o objeto que atrai o indivíduo por ser fonte de satisfação de força interna. Essas variáveis podem ser encontradas em todo momento da vida, em casa, no trabalho, na escola e no lazer, são situações que temos que nos desafiar a fazer algo que se deseja. Significa predispor o indivíduo a certo comportamento desejável naquele momento. Os motivos dirigem o comportamento para satisfazer suas necessidades, mantendo o organismo ativo.

 

A grande flexibilidade e o desejo de exploração da criança partem das experiências vividas por elas em seu espaço, com liberdade para explorar as diversas situações.

 

Nas aulas de Educação Física, por exemplo, citadas no artigo Dicas pedagógicas de biologia para o ensino médio, como possível instrumento de contribuição para práticas corporais na Educação Infantil, utilizando o espaço escolar numa perspectiva de produzir uma prática especificamente voltada a crianças de 0 a 2 anos e atuando nas suas potencialidades corporais.

 

Contudo, a Educação Física nas escolas de crianças pequenas apresenta atividades de exploração do espaço, significativamente e movimentos bem coletivos ou individuais que favorecem as interações e a independência ao mesmo tempo. Essa postura que a criança pequena vai desenvolvendo percebe-se com suas atitudes curiosas, expressando seus sentimentos.

 

Partindo da observação da prática corporal nos ambientes escolares, podemos dizer que diversas atividades realizadas com crianças maiores podem ser realizadas também com as crianças bem pequenas. Usando ambientes com diversos materiais, jogos, parques, pátios e atividades cotidianas realizadas em espaços extra-classe.

 

Neste sentido, observamos qualidades a serem desenvolvidas com o brincar, coragem e iniciativa, que enriquecem valores e podem evidenciar-se como um espaço para linguagem corporal, criando situações de diversos contextos históricos.

 

Educar significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens, orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros, em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança. (BRASIL: RCNEI, 1998)

 

Pensamos a criança buscando e aprendendo desde pequena suas linguagens fundamentais, descobrindo-se.

 

A educação não pode estar preocupada somente com a transmissão de cultura, transmissão do que já é conhecido. Os educadores voltam sua atenção para a descoberta e a criatividade, num esforço de interessar seus estudantes.

 

Considerando que o ser humano é o produto do desenvolvimento de processos físicos e mentais, cognitivos e afetivos, internos e externos, para que o aluno se sinta motivado a aprender algo, é preciso que o professor estruture o ambiente de tal forma que o educando sinta vontade de aprender, desperte o desejo, a necessidade e a vontade do aluno para atingir o objetivo traçado.

 

Podemos citar a música, os jogos simbólicos, o faz de conta, as brincadeiras cantadas e várias outras atividades como estimuladoras do aprendizado nesta faixa etária. Contudo, a afetividade no processo educativo é importante para que a criança manipule a realidade e estimule a função simbólica, estando ligada à auto-estima.

 

A afetividade, a princípio centrada nos complexos familiares, amplia sua escala à proporção da multiplicação das relações sociais e os sentimentos morais evoluem no sentido de um respeito mútuo e de sua reciprocidade, cujos efeitos de descentramento em nossa sociedade são mais profundos e duráveis (PIAGET, INHELDER, 1990, P.109).

 

De certo, o pensamento e o afeto são indissociáveis, os desejos, as necessidades e os impulsos. A afetividade oferece aos educandos a possibilidade de estabelecer regras e evita bloqueios afetivos e cognitivos. O desenvolvimento afetivo é paralelo ao moral. A formação moral da consciência da criança é resultado da qualidade da intenção familiar com o ambiente. O trabalho pedagógico voltado para o processo educacional considera três aspectos: o cognitivo, o comportamental e o emocional. É necessário identificar emoções, impulsos, expressões e sentimentos, distinguir sentimentos de ações e compreender, criando expectativas para resolver problemas novos de comportamentos, interpretando indícios sociais. A afetividade passa a ser um estímulo gerador para a motivação de aprender, dependendo da qualidade de intervenção do diálogo.

 

Wallon (1989) atribui a diferenciação de emoção e afetividade:

 

“As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida afetiva. Na linguagem comum, costuma-se substituir emoção por afetividade, tratando os mesmos como sinônimos.”

 

Atribui-se também o entusiasmo do aluno, dinamismo e bom humor. Dar valor ao material escolar e dispor ao educando diversos materiais é indispensável para um ambiente prazeroso, visto que para a criança até os 2 anos de idade, ela apresenta-se no estágio impulsivo-emocional, no qual prevalecem as emoções.

 

Por todos os caminhos que se constitui a Educação Infantil, suas principais teorias enfatizam a infância como o período em que o indivíduo organiza o mundo.

 

Para além das questões mais afetas ao atendimento direto à criança e da importante questão dos Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil, são ainda objeto de reflexão as questões de caráter político-institucionais. Todas as reflexões apresentadas apontam a necessidade de deslocamento da visão de educação. Precisamos romper a dicotomia creche/escola, cuidado/educação, pensar a Educação Infantil, garantindo o saber e enfrentando desafios.

 

De acordo com o RCNEI:

 

“A instituição deve criar um ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às crianças, garantindo oportunidades para que sejam capazes de: experimentar e utilizar os recursos que dispõem para satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades, desagrados, agindo com progressiva autonomia […] adotar hábitos de autocuidado, valorizando as atitudes relacionadas com higiene, alimentação, conforto, segurança e proteção com o corpo.”

 

Essa diversidade precisa ser considerada para garantir a aprendizagem de todos, pois somos diferentes. A dimensão social precisa ser considerada, bem como as habilidades do pensamento voltadas para a qualidade da autonomia.

 

Partindo dessas concepções, podemos afirmar que é inegável que a perspectiva de esclarecer ideias, ampliar conhecimentos com clareza e perceber as inúmeras propostas de trabalho para essa faixa etária dentro de diversos espaços é ampla.

 

O ato de conhecer é fundamental, pois o conhecimento escolar é um saber sistematizado que perpassa pela empatia, relação afetiva e possibilidades. Educar requer diferentes sustentações, conhecimentos e pesquisa, permitindo ao professor variar seus recursos adaptados a diferentes situações e diferentes faixas etárias.

 

No cotidiano, aprendemos a resolver problemas, impondo limites e regras que devem estar relacionadas à família ou não. Potencializar a apropriação do conhecimento exige ambos, educador e educando, uma aproximação, uma relação afetiva que se torna prazerosa.

 

A aprendizagem se dá num processo de construção. Nas experiências adquiridas por meio da observação e participação, evidenciando-se que o conhecimento é algo que vem produzido de modo fragmentado.

 

O educando de qualquer idade precisa ser estimulado a buscar soluções que precisam transformar ações cotidianas e desafios. O processo de qualquer aprendizado precisa ser vivido em função da construção da autonomia, pois vivemos em um processo democrático, lidando com contradições e questionando a igualdade e mudança.

 

A criança, desde o nascimento, apresenta vontades e sentimentos que são desenvolvidos ao longo do tempo e se tornam importantes para o desenvolvimento.

 

Autor: Adriana da Silva de Jesus


Professora Fábia Monteiro
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