Nosso sistema de escrita funciona segundo um princípio alfabético: a quantidade de letras de uma palavra corresponde, a grosso modo, ao número de sons que compõem a palavra. Entender o princípio alfabético não é o mesmo que conhecer os sons das letras. Uma criança pode saber que ao símbolo escrito E corresponde ao som [e], que ao símbolo L corresponde o som [l], mas, mesmo assim, ela pode não ter compreendido o mecanismo que permite formar uma palavra escrita.
Algumas crianças chegam à escola com a compreensão do princípio alfabético. Outras pensam que o número de letras de uma palavra é igual ao número de sílabas de uma palavra, enquanto outras, sequer entenderam que as letras escritas têm relação com os sons das palavras. Devemos lembrar sempre que as crianças não chegam à escola com o mesmo nível de compreensão que do seja ler e escrever.
Como professores, precisamos ter consciência de que os conhecimentos, para poderem ser ensinados, passam necessariamente por uma transformação em relação aos seus contextos de origem, porém, é muito importante evitar que nesta transformação percam seu significado, seu sentido original. Ao mesmo tempo em que se preserva o sentido do objeto do conhecimento, é indispensável que se proteja o sentido deste saber do ponto de vista do sujeito que trata de reconstruir esse objeto, isto é: a criança. Por essa razão, a transposição didática deve implicar em fidelidade ao saber de origem, assim como fidelidade às possibilidades do sujeito de atribuir um sentido ao dito saber.
Deste modo, ante um conhecimento complexo, tendemos a delimitá-lo em conhecimentos parciais, porque partimos da suposição que a fragmentação facilita a compreensão. Mas, ao delimitá-los em fragmentos autônomos, provocamos sua descontextualização, porque na realidade os fragmentos que separamos fazem parte de complexos processos de interrelações e assim estamos desconectando a rede de problemáticas que lhes dão sentido completo. Assim, instauramos uma ruptura entre o modo de ensinar e o modo de aprender, pois que o sujeito que aprende não se depara com a realidade analisando um pedaço de cada vez, e sim, o faz, tratando de entender como funciona, analisando os aspectos que seus esquemas cognoscitivos lhe permitem observar, tratando de encontrar e dar um sentido ao que está fazendo.
Como bem o demonstram as investigações de Ferreiro e Teberosky, assim como em outros âmbitos, no âmbito da língua escrita, a criança é um sujeito ativo que se depara com a realidade, construindo conhecimentos, criando teorias e hipóteses, comparando-as entre si e modificando-as.
Para ilustrar um exemplo da falta de coerência entre o modo de ensinar e o modo de aprender, vamos ter em mente a fase inicial do ensino da escrita que se desenvolve nos primeiros anos do ensino fundamental ou nos últimos da educação infantil.
Analisando esta página de caderno, pode-se compreender facilmente quais são as ideias que estão dirigindo a proposta didática: uma letra, uma sílaba, uma palavra por vez, seguindo uma ordem de dificuldade crescente do ponto de vista do adulto. Não passam de exercícios de escrita, que têm como objetivo memorizar a relação grafema-fonema e a coordenação viso-motora.
O mesmo se pode notar no exercício ao lado.
As crianças, nesse caso, estão escrevendo fragmentos: letras, sílabas e palavras, mas não textos. Os textos são deixados para depois, para quando o professor acredita que os alunos já tenham aprendido a “técnica instrumental” da escrita.
Entretanto, quando se observam alguns exemplos de escrita espontânea de crianças, por exemplo, na fase da educação infantil, nota-se que independentemente do modo de escrever (grafismos primitivos, escritas diferenciadas, escritas silábicas, alfabéticas etc.), o que prevalece nelas é a construção de uma mensagem, escrita com clara intenção comunicativa e não a construção de fragmentos de escrita. Deste modo, ao invés de favorecer o processo de aprendizagem da escrita por meio do uso de “fragmentos”, por achá-los mais simples para a criança, na verdade, isso pode tornar-se um obstáculo. Há uma ruptura entre o modo de ensinar a escrever e o modo com que as crianças se apropriam da escrita.
A importância da leitura é um aspecto fundamental que deve ser considerado no processo de ensino da escrita, pois a leitura e a escrita estão interligadas e se influenciam mutuamente.
Além disso, para aprimorar suas habilidades de escrita, é essencial entender as regras da língua e como aplicá-las corretamente. Para isso, você pode explorar recursos como materiais didáticos que ajudam a desenvolver a escrita de forma eficaz.
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