O presente artigo constitui um trabalho de conclusão de curso, realizado pela autora com a finalidade de fazer algumas indagações e considerações sobre questões que emergiram durante a realização do Curso Normal, com habilitação em séries iniciais, e tem por objetivo discutir a importância do amor na práxis pedagógica, além de reconhecer relações interpessoais que ocorrem na classe (professor x alunos) e o papel da família no processo de ensino-aprendizagem de seus filhos.
A metodologia utilizada para a realização deste artigo baseou-se numa revisão de literatura feita através de teóricos que tratam do tema, como Campos, Chalita, Kramer, La Taille, dentre outros. Discute-se ainda acerca da importância do afeto e como este pode contribuir significativamente para a aprendizagem do aluno. Os reflexos de uma práxis baseada no amor para a escola são discutidos. Trata-se também da relevância da relação entre escola e família para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, do desenvolvimento na sua totalidade do aluno: ator principal desse cenário.
Introdução
As relações afetivas são essenciais no desenvolvimento do ser humano, e estas devem ser cultivadas, especialmente nas instituições que trabalham com educação infantil, haja vista que a escola que cultiva tal relação tem fortalecida a sua autonomia. Neste contexto, o educador exerce o papel de mediador e incentivador, além de propiciar uma recepção afetiva dessas crianças, ao mesmo tempo em que desenvolve atividades diferenciadas que promovam a aprendizagem do aluno.
O desenvolvimento destas e de demais aptidões dar-se-á com a eficiência da aplicação da prática. Certamente, uma prática pedagógica fundamentada na afetividade possui maiores condições de atender aos objetivos educacionais que cabe à instituição de educação infantil, do que uma prática que ignora tal critério. Para tanto, o que questiono é: Em que medida o sentimento de perda altera o comportamento de crianças de 0 a 6 anos?
Portanto, ao se responder à questão: “em que medida o sentimento de perda altera o comportamento de crianças de 0 a 6 anos?”, fica clara a importância da afetividade no desenvolvimento do indivíduo e demonstra como incluí-lo na prática pedagógica de maneira eficiente.
Apesar de toda a literatura que aborda a questão, através desta pesquisa tenho a intenção de criar contribuições, não só para os educadores da área, mas para as instituições de educação infantil, assim como para os docentes que procuram a formação na área da Pedagogia. Ressalte-se ainda que é extremamente importante levar ao conhecimento dos pais a importância da afetividade na formação da criança, fazendo com que os mesmos contribuam para tal formação.
Diante do exposto, este projeto pretende ainda analisar as seguintes questões: de que maneira a afetividade interfere na aprendizagem? Em que medida a escola sofre o reflexo da afetividade? E que medida as relações interpessoais que ocorrem na classe (professor x alunos e alunos x alunos) podem contribuir para o processo de ensino-aprendizagem?
Este artigo tem por objetivo discutir a importância do amor na práxis pedagógica, além de reconhecer relações interpessoais que ocorrem na classe (professor x alunos) e o papel da família no processo ensino-aprendizagem de seus filhos.
O amor na prática pedagógica
“O professor deverá cumprir com o seu papel de facilitador da aquisição de informações como mediador do processo ensino-aprendizagem e conduzir à aquisição de ideologias e conteúdos libertadores” (BEATRIZ SCOZ, 1996, p. 71).
Desde as mais remotas civilizações, a convivência social foi um grande desafio. Mulheres e homens, crianças e velhos, cada um à sua maneira tentaram ao longo dos tempos percorrer os caminhos da sabedoria para encontrar a tão sonhada felicidade, através desse sentimento (CHALITA, 2003).
Acrescenta o autor acima citado que o ser humano é social, não vive sem o outro e, sem o outro, não consegue ser feliz. Nesse instigante espectro, podemos reconhecer a grandeza divina – somos mais de cinco bilhões de pessoas, e somos únicos. Não há duas pessoas iguais. Sonhos, medos, alegrias, desesperanças… Vida. Nesse mosaico fascinante é que se percebe a importância e a grandeza da arte de educar.
De acordo com o supracitado autor, uma criança quanto mais sente que é amada, mais disciplinada estará para receber a ministração das aulas. Onde não há reciprocidade, isto é, o amor do aluno para com o professor e do professor para com seu aluno, não há assimilação ativa, não há a razão de ser da educação escolar: o desenvolvimento do educando como pessoa humana.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei 9.394, promulgada em 1996, em seus artigos, traz à tona os princípios da educação em cada um de seus níveis e os objetivos reais do legislador brasileiro quanto ao aluno.
Esta Lei postula acerca de dois dos mais importantes princípios de uma prática pedagógica pautada no amor: o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, que são inspirados nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Ambos têm por fim último o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania ativa e sua qualificação para as novas ocupações no mundo do trabalho.
Diante do exposto, na educação infantil, uma relação de amor torna possível o cumprimento do desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, na medida em que o processo didático complementa a ação da família e da comunidade.
A esse respeito, tem-se que:
O professor tem de ser amigo do aluno, é um imperativo, e disso não se pode abrir mão nem fazer concessões. O professor só conseguirá atingir seus objetivos se for amigo dos alunos. (…) e a amizade com os alunos é essencial. Sem afeto, como já dissemos, não há educação (CHALITA, 2001, P. 151).
O aluno, como todo ser humano, necessita de afeto para se sentir valorizado e ter mantida sua auto-estima. As instabilidades emocionais dos alunos não devem ser motivos de surpresa, porém não se pode admitir tal postura da parte dos professores, uma vez que estes, para seus alunos, representam um modelo a ser seguido e, por isso, o pouco de afetividade demonstrada pelo professor representa muito para seu aluno.
Para Chalita (2001), educar é um ato de cumplicidade, de troca, de amor. Educar é ato de vida, o caminho e o encontro da felicidade. Educar é arquitetar e construir o futuro, é o abnegado ofício de plantar e colher. O grande desafio da sociedade contemporânea está aí: educar! Garantir, pelo conhecimento, a liberdade e o desenvolvimento dos povos. O problema econômico mundial passa pela educação. Povo educado tem mais higiene, consequentemente mais saúde. Povo educado trabalha melhor, portanto tem mais produtividade. Ou seja, com bons níveis educacionais se gasta menos, se ganha mais.
Fala ainda da importância de se tecer elogios no momento certo, pontuando que,
[…] são os pequenos gestos de atenção que quebram as barreiras e fertilizam o terreno da amizade entre ambos. É o famoso afeto de que falamos, nada tão complicado que exija sacrifícios. Basta um pouco de boa vontade e muito de vocação para o magistério. Em qualquer aspecto da vida cotidiana, não apenas na escola, a desatenção gera agressividade (CHALITA, 2001, P. 155).
Diante disso, pode-se afirmar que a educação é um ato de coragem e afeto. Coragem, porque não será a máquina ou o computador que substituirão o maestro da orquestra, o regente do processo de saber, a essência da educação: o professor (Chalita, 2003).
Nesse contexto, a educação torna-se ainda mais importante. Afeto, porque educar é um ato de amor ao próximo e a si mesmo. Quem educa não apenas ensina como, permanentemente, aprende. Crescem ambos os que estão envolvidos nesse diálogo, professor e aluno. Porque se confundem na mesma pessoa, na troca de conhecimento. Na evolução pelo saber. No equilíbrio do amar e ser amado, do dar e receber (CHALITA, 2003).
Com o advento das novas tecnologias da informação e do conhecimento, do progresso científico, dos avanços da engenharia genética e outras invenções originadas da mente humana, a vida tornou-se uma forma fantástica de se viver. Pode-se creditar tudo isso à evolução da máquina, a qual evoluiu de forma extraordinariamente impressionante, porém o mesmo não aconteceu em relação ao ser humano. Este pode realizar viagens a vários países, de maneira rápida e segura, todavia não pode fazê-lo dentro do seu próprio interior (CHALITA, 2003).
A exemplo do exposto acima, ainda se assiste em pleno Século XXI a cenas de discriminação, preconceito, isolamento racial, social, econômico. Na vivência da era digital, ficção literária e cinematográfica, a violência não cedeu espaços à paz, a tão desejada paz entre mulheres e homens (CHALITA, 2003).
Diante da competitividade vivida na contemporaneidade:
[…] coube à escola também acumular a tarefa da educação como forma de preparar para a vida, como um todo. Construir homens e mulheres capazes de não apenas viver, mas, principalmente, entender a vida e participar dela de forma intensa. Gente que, pelo saber, exerça a liberdade com responsabilidade e saiba defender os seus direitos; verdadeiros cidadãos (CHALITA, 2003, p. 01).
Com base nas palavras do autor acima, e refletindo acerca do papel deste no contexto escolar, vê-se que cada vez mais o professor torna-se uma figura extremamente importante, uma vez que o ato de ensinar requer do professor uma interação com o sujeito que aprende, ou seja, o aluno, e isso requer do professor maior atenção e compromisso com o seu trabalho e, consequentemente, com o aluno, que é o principal no processo de ensino-aprendizagem, haja vista que este é o responsável pela construção do conhecimento.
Nada disso é viável sem uma formação apropriada da parte do professor, e sem que este acredite no seu potencial de crescimento e mudança enquanto profissional, além de estar propenso a mudanças. Para isso, é preciso que o professor avalie e reavalie a sua práxis, com a finalidade de alcançar os objetivos pretendidos. Saliente-se ainda que tudo isso somente será possível se o professor for capaz de estabelecer em sala um ambiente agradável e prazeroso.
A escola deve ser um espaço sagrado, no qual a convivência seja prazerosa. É o sonho e a realidade que se misturam na nobre missão de construir uma sociedade iluminada. A revolução da Educação é a revolução da humanidade. Colheita de uma semeadura corajosa e competente. Luz que poderá fazer germinar uma geração sem preconceitos e discriminações; com menos violência e apatia. A revelação do melhor, a essência do bem, o encontro da felicidade (CHALITA, 2003, p. 01).
Para cumprir com o papel com maestria no processo de ensino-aprendizagem, apresentando o elenco de informações de forma adequada ao grau de compreensão que seu aluno é capaz, estruturalmente, de ter, o professor precisa agir, “fazendo uso da Pedagogia do Amor” (CHALITA, 2003, p. 167).
O professor e sua relação com o aluno
Na interação com o aluno, o professor poderá observar se há alguma alteração visual, auditiva, motora que modificariam a forma de perceber as coisas. Através de uma relação respaldada no diálogo, é possível entender como se estrutura o pensamento do sujeito que está aprendendo ou não, bem como quais as suas habilidades, interesses, valores e vínculos; que medos, conflitos, defesas, ansiedade está vivenciando; como se relaciona com o saber anterior e o novo e qual o seu modelo de aprendizagem, seu método. O significado, a razão de aprender para ele e para sua família, como cada um valoriza a escola e que expectativas têm em relação ao trabalho desenvolvido na instituição, também são dados que o professor poderia obter para organizar seu trabalho visando a favorecer a aprendizagem.
Entretanto, na medida em que se desenvolvem as relações entre o professor e os alunos, sua liderança pode tornar-se sempre menos institucional e sempre mais natural, pessoal. Na medida em que suas relações com os alunos ultrapassarem os estreitos limites da sala de aula, na medida em que estabelecer com eles um relacionamento amistoso, na medida em que for aceito como pessoa e não como simples autoridade, liderança pessoal.
É na sala de aula que ocorre o momento crucial da educação escolar, e o encontro de duas vidas, ambas buscando crescer e alcançar a plenitude, a comunhão aluno-professor. Um componente importante para o desenvolvimento do trabalho pedagógico é a interação professor-aluno. O relacionamento entre estes dois elementos constitui a chave do processo ensino-aprendizagem. O contato entre mestres e alunos, a demonstração de afetividade, de atenção e interesse e desempenho de suas tarefas.
O aluno e o professor assumem, na sala de aula, posições distintas de cuja interação resultam a aprendizagem e a educação.
A diferente forma de relacionamento que o professor adota com o aluno pode ser considerada como mediações históricas. Elas estão diretamente relacionadas com a concepção de homem, de sociedade, de aprendizagem, de conhecimento, etc.
De acordo com a fundamentação teórica que o professor adota em sua prática educativa, ele revela um tipo de relacionamento com o aluno, tornando-se o centro do processo educativo ou dando ao aluno a possibilidade de se constituir em sujeito desse processo, ou ainda, ambos constituindo-se em agentes educativos.
A abordagem tradicional tem a relação professor-aluno como vertical, sendo que o professor detém o poder decisório sobre a ação do aluno, sua forma de agir diante das situações. As relações que se exercem na sala de aula são feitas longitudinalmente em função do mestre e do seu comando. Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a disciplina é imposta e o meio mais eficaz para assegurar a atenção é o silêncio.
Na abordagem comportamentalista, as relações são estruturadas e objetivas, com papéis bem definidos. O professor é considerado um planejador e um analista das contingências de reforço, de modo a possibilitar ou aumentar a probabilidade de ocorrência de uma resposta a ser aprendida. O aluno recebe e fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema institucional previsto. O aluno não participa da elaboração do programa educacional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, que é o de garantir a eficácia de transmissão de conhecimento. Debates, discussões, questionamentos são desnecessários, assim como não são considerados.
Na abordagem humanista, o professor assume a função de orientador e facilitador do processo ensino-aprendizagem, devendo, portanto, propiciar um clima favorável para a aprendizagem, para que esta ocorra através de vivências de experiências significativas que lhe permitam desenvolver características inerentes à sua natureza. O professor é um especialista em relação humana, ao garantir um clima de relacionamento pessoal autêntico. A relação professor-aluno deve basear-se na autenticidade, na essência, na compreensão da conduta e na confiança em relação ao educando. O aluno deve ser compreendido como um ser que se autodesenvolve e cujo processo de aprendizagem deve ser-lhe facilitado. É uma relação “aberta” que deve favorecer ao aluno a possibilidade de “ser”.
Na abordagem cognitiva, não há lugar privilegiado para o professor, antes seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança; se intervém, é para dar forma ao raciocínio dela. Cabe a ela criar situações que proporcionem condições onde possam se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação, ao mesmo tempo moral e racional, entre alunos. Devem evitar rotina, fixação de respostas, hábitos. Deve orientar o aluno a conceder-lhe ampla margem de autocontrole e autonomia: assumir o papel de investigador, pesquisador, orientador, coordenador, levando o aluno a trabalhar o mais independente possível.
O professor deve conviver com os alunos, observando seus comportamentos, conversando com eles, perguntando, sendo interrogado por eles e realizando também com eles suas experiências, para que possa auxiliar sua aprendizagem e desenvolvimento. É ainda da responsabilidade do professor oferecer orientações adequadas para que os objetivos sejam manipulados pelos alunos e para que encontrem, por si, as soluções dos problemas.
A abordagem sócio-cultural que evidencia as finalidades sócio-políticas da educação e da aprendizagem apresenta a relação professor-aluno de forma horizontal e não imposta. Educador e educando se constituem em sujeitos do ato de conhecer. A aprendizagem, o conhecimento resulta de trocas que se estabelecem na interação com o meio e o sujeito, tendo o professor como mediador. Assim, um professor que esteja engajado numa prática transformadora procura desmistificar e questionar com o aluno a cultura dominante, valorizando a linguagem e a cultura deste, criando condições para que cada um deles analise o seu contexto e produza cultura.
Cabe ao professor proporcionar ao aluno momentos de reflexão que conduzam ao aprofundamento da consciência da situação problemática apresentada em vista à sua superação. A relação dialógica professor-aluno pressupõe envolvimento dos participantes e requer uma atitude aberta de compreensão do homem, de análise e crítica constante. O professor tem uma ação dinamizadora, impulsionando a ação do aluno, individualmente e coletivamente. Seu relacionamento com o aluno o leva a desenvolver modelos de intervenção mútua onde são despertados, por exemplo, o respeito dos outros, os esforços coletivos, a autonomia nas decisões, a responsabilidade compartilhada e a solução comum dos problemas.
Reconhecer que os alunos hoje possuem um outro padrão de aprendizado é um caminho para o professor. De acordo com Pierre Bertaux, em seu livro A Educação do Futuro, o aluno contemporâneo apresenta um aumento visível da sensibilidade visual e audiovisual, no entanto, há uma considerável regressão da sensibilidade auditiva pura; é mais rápido na aprendizagem e na manipulação e interpretação de sinais e símbolos, entretanto, possui importante dificuldade de concentrar-se por mais de dois ou três minutos seguidos sobre o mesmo tema, bem como de decorar e reter textos de certa extensão.
Procura-se atualmente resgatar a dimensão humana do trabalho pedagógico, evidenciando o relacionamento do professor com o aluno, mas ao lado do papel técnico de ensinar, ou seja, o “como se relacionar com o aluno” está incluindo o papel político desse relacionamento e de mobilizar, de acionar a participação efetiva no processo de mudança da realidade.
Leituras e debates entre professores e profissionais da área da saúde poderão ser oportunidades importantes para que o professor conheça mais como acontece e como poderá contribuir para o desenvolvimento cognitivo de seus alunos. Atualmente, muito se discute sobre o funcionamento cerebral e as formas múltiplas de aquisição, memorização, consolidação e evocação de uma informação que poderá ser transformada em saber, levando em consideração que “o cérebro não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas um sistema aberto, de grande plasticidade” (VYGOTSKY apud OLIVEIRA, 1993, p. 4).
Ao promover situações em que se reflita sobre as regras e contra-regras, ordens e contra-ordens, conflitos, oposições, valores, a escola estará preparando o aluno para lidar com a diversidade, para aceitar o outro e sua opinião, experienciando o erro, o fracasso, as perdas, desenvolvendo a sua maturidade emocional, contribuindo, pois, para a formação da sua identidade.
Ao realizar seus planejamentos, o professor que atua com uma postura de educador, antes de organizá-los, considera as vivências, os conhecimentos e as informações que o aluno carrega e a sua forma de ver e de viver no mundo moderno, para optar por uma forma metodológica que auxilie a transpor os conteúdos sistematizados, científicos e promover uma aprendizagem significativa.
Ademais, segundo Chalita (2001, p. 177):
O professor que se busca construir é aquele que consiga de verdade ser um educador, que conheça o universo do educando, que tenha bom senso, que permita e proporcione o desenvolvimento da autonomia de seus alunos. Que tenha entusiasmo, paixão; que vibre com as conquistas de cada um de seus alunos (…) .
E isso não acontece por acaso. A educação, também, se faz na escola, onde muitas outras coisas acontecem. Há reuniões de professores. Há o Plano Diretor para se levar em conta. Há o contato com pais.
A grande responsabilidade para a construção de uma educação cidadã está nas mãos do professor. Por mais competentes e interessados que sejam diretores e coordenadores, nenhum projeto terá sucesso se não for abraçado pelos professores, porque é com eles que os alunos têm maior contato (CHALITA, 2001).
Para executar a contento todas essas atividades, os professores devem possuir características muito especiais. Num perfil profissional, essas características são definidas numa certa ordem, permitindo que se construa uma imagem coerente da profissão.
Mas o ensino não para de mudar, e, com ele, muda a imagem do professor.
Partindo-se do pressuposto de que, para um ensino de qualidade, é necessário constantemente tentar assumir a perspectiva do aluno.
Um ponto de referência do professor poderá ser a experiência do próprio espaço e das diferenças em relação ao aluno; dos espaços mais conhecidos de cada um e que servem de referências individuais. Essa deve ser a concepção fundamental de espaço, porque a mais natural, feita sem ajuda de instrumentos e no contexto da qual o ser humano evoluiu sua inteligência, inicialmente espaços limitados pela capacidade de mobilidade humana. A partir do seu espaço, o aluno poderá imaginar e aprender sobre outros espaços, também conhecidos dele ou dela através de deslocamentos habituais, que fazem o cotidiano de cada um.
A esse respeito, postula Chalita (2001, p. 179):
O professor só conseguirá fazer com que o aluno aprenda se ele próprio continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é, indiscutivelmente, diretamente proporcional à capacidade de aprendizado dos professores. Essa mudança de paradigma faz com que o professor não seja o repassador de conhecimento, mas orientador, aquele que zela pelo desenvolvimento das habilidades de seus alunos.
Nesse contexto, não há mais espaço para professores mal formados, ou que parem de estudar. Ademais, é necessário que o professor esteja por dentro do que se passa na sociedade e se mantenha atualizado em relação aos avanços nos campos da sociedade e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do meio ambiente, da política e da filosofia de vida. Deve saber definir a sua posição quanto a cada um destes avanços, consciente de que é um modelo importante para os seus alunos.
Segundo Veldhüyzen e Vreugdenhil (2004), espera-se do professor que:
- Mantenha em um bom nível os seus conhecimentos sobre os avanços aqui mencionados, através de diferentes meios, inclusive por sua participação na vida social;
- Aguce a compreensão sobre a tensão e a conexão entre características valiosas e relativamente estáveis da sociedade e novas modas e tendências;
- Reflita sobre suas próprias experiências como participante na vida social, dentro e fora das fronteiras de seu país, transformando-as em dados que sejam úteis ao exercício de sua profissão;
- Traduza suas afinidades ou o seu envolvimento com fenômenos sociais específicos, em desenvolvimento contínuo das suas próprias preferências e do seu interesse pela profissão.
A relação entre escola e família
Nessa relação, cabe ao professor ter consciência da importância da família para a promoção efetiva do processo de ensino e aprendizagem, uma vez que é extremamente relevante que estes dois segmentos estejam em sintonia em função do sucesso da criança.
Diante disso, espera-se do professor que:
- Conheça os mais importantes movimentos na história da educação e na atualidade do ensino, bem como o modo pelo qual a educação e o ensino estão ligados entre si no contexto destas correntes;
- Compreenda como o seu trabalho cotidiano está ligado aos acontecimentos na sociedade, no que diz respeito a perspectivas culturais e filosóficas;
- Possua um conceito de trabalho indicando como concretizar de modo coerente a educação e o ensino em suas ações cotidianas.
De acordo com Chalita (2005, p. 23), “as pessoas têm que perceber que a escola pertence à comunidade”. Acrescenta que os atos de agressão praticados contra a escola são uma agressão a si mesmos. Para isso, é preciso que os pais estejam perto de seus filhos.
A educação de um aluno acontece no dia-a-dia, na relação que ele tem com “o pai, a mãe, a igreja a que ele vai, os amigos… Quanto mais os pais estiverem em sintonia com a direção da escola e com os educadores, mais fácil vai ser o processo educativo dessas crianças” (CHALITA, 2005, p. 23).
O atual paradigma de competência repousa em uma ação humana criativa, contextualizada, adequada à realidade, respaldada no conhecimento científico e realizada com muita maturidade emocional.
Aprender a lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado, com o erro, com a dificuldade, transformar informação em conhecimento, ser seletivo e buscar na pesquisa as alternativas para resolverem os problemas que surgem são tarefas que farão parte do cotidiano das pessoas.
A escola, no cumprimento da sua função social, deverá desenvolver nas crianças e jovens que nela confiam a sua formação, competências e habilidades para prepará-los para agir conforme as exigências da contemporaneidade.
Como não há como se distanciar desta realidade, todos os profissionais da educação sentem a necessidade de refletir sobre suas ações pedagógicas, no que diz respeito a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem, a entender o que pode facilitar a aprendizagem.
Segundo o autor acima citado, a aproximação do professor com o aluno melhora a relação humana e melhora também a aprendizagem. É imprescindível que o professor colabore nas atividades de articulação da escola, com as famílias e a comunidade. Nesse contexto, para que o processo de aprendizagem seja eficiente, os atores sociais precisam participar e essa articulação é importante.
A parceria escola/família, escola/comunidade é importante para o sucesso do educando. Do contrário, fica difícil a compreensão do mundo por parte do aluno. Estes segmentos caminhando juntos podem representar um avanço efetivo nesse novo conceito educacional: a formação do cidadão (CHALITA, 2001).
A família, primeiro núcleo do qual a criança faz parte, e a escola, extensão dessa família, constituem os espaços onde o aluno vive a maior parte do seu tempo. As pessoas com as quais os alunos convivem são aquelas que melhor os conhecem. Portanto, a opinião dessas pessoas é fundamental para se compreender esse aluno.
Conclusão
É de fundamental importância que todos os integrantes da educação interessados numa convivência sadia proporcionem, através da vivência de uma afetividade (oferecendo amor, porém impondo limites para os impulsos que contrariam as necessidades do grupo), a oportunidade de o sujeito aprender a cuidar de si e do meio em que vive.
Em última análise, é preciso compreender que tanto no âmbito familiar quanto no escolar, deve haver uma relação de afeto, pois é isso que ajudará a construir um ser humano psicologicamente saudável. O ato de cuidar é maravilhoso – é o sentimento que vai tornar o outro importante. O pai e o professor, educadores que são, devem entender que têm uma missão: construir um ser humano. Isso somente acontecerá pela obra do amor, amor esse que cobra, que é duro, que traz sofrimento e preocupação, mas, por outro lado, traz muito prazer e a realização do ato humano mais criador – fazer nascer um ser de verdade.
Em última análise, pode-se afirmar que uma práxis pedagógica que respeite o ritmo de aprendizagem do aluno e que promova um ambiente agradável, no qual se perceba o amor como sentimento cultivado por todos os envolvidos no processo, além de um ambiente de inter-relações saudável, contribui consideravelmente para o bom desempenho escolar do aluno e o seu crescimento enquanto pessoa.
Referências
CAMPOS, D. M. de Souza. Psicologia da aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1987.
CHALITA, G. B. I. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2001.
_______ . Educar é um ato de coragem e afeto. Jornal A Tribuna (Santos), 27/05/2003. Disponível em <http://www.google.com.br> Acessado em 23 de mar. De 2005.
_______. Lugar de família é na escola. In: Revista Aprende Brasil. Ano 2, nº 3 fev. de 2005.
DEMO, Pedro. Sociologia da educação. Brasília: Plano, 2004.
GADOTTI, Moacir. Antroposmoderno – Pedagogia da terra: Ecopedagogia e educação sustentável. Disponível em <www.uol.com.br/aprendizrevistaedu/abril99/artigo.html> Acessado em abr. 2003.
GOODE, W. J. & HATT, P. K. – Métodos em Pesquisa Social. 3ª ed., São Paulo: Cia Editora Nacional, 1969.
KRAMER, Sonia in Leite Maria Isabel. Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas, S.P: Papirus, 1996.
LA TAILLE, Yves et al. PIAGET, VYGOTSKY e WALLON: Teorias psicogenéticas em discussão. SP: Summus, 1992.
LUCK, Heloísa in DOROTHY G. Carneiro. Desenvolvimento afetivo na escola: Promoção, medida e avaliação. RJ: Vozes, 1983.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma-reformar o pensamento. Cidade: SP, Bertrand Brasil, 2001.
OLIVEIRA, M.K. Vygotsky – aprendizado e desenvolvimento – um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
VELDHÜYZEN, Loek van e VREUGDENHIL, K. O meu professor ideal. Disponível em <http://www.google.com.br> Acessado em 23 de mar. De 2005.
Autor: Mirian Oliveira Machado
Escreva um comentário