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Atualizado em 09/08/2024

Adolescência na Atualidade: O Amor, a Sexualidade e Vida Cultural

Explore as transformações da adolescência contemporânea, abordando amor, sexualidade e influências culturais. Entenda como esses fatores impactam o desenvolvimento dos jovens e como os pais podem se envolver nesse processo.

INTRODUÇÃO

A adolescência é conhecida como o período de transição da dependência infantil para a autosuficiência adulta. Psicologicamente, é considerada uma situação marginal na qual ajustes devem ser feitos, distinguindo o comportamento de crianças e adultos em uma determinada sociedade. Cronologicamente, este período se estende dos 12 aos 21 anos, podendo haver grandes variações individuais e culturais. É importante ressaltar que este período tende a ocorrer primeiro para as moças do que para os rapazes.
Na adolescência, há uma total revolução do ponto de vista fisiológico, cultural, emocional e social, e em sua grande maioria, essa revolução vem acompanhada por uma total incerteza dos papéis adultos à sua frente. Juntamente com as mudanças fisiológicas do amadurecimento sexual, caminham componentes psicológicos, como o instinto sexual (energias da libido procurando extravasamento), dentre outros fenômenos.
Os valores, a ética, a moralidade e a religião muitas vezes estabelecem questões difíceis para os jovens, que parecem extremamente preocupados com o que possam parecer aos olhos dos outros, em comparação com o que eles próprios julgam ser, e com a questão de como associar os papéis e aptidões cultivados anteriormente aos protótipos ideais do presente. É na fase transitória da adolescência que de fato ocorre o início da formação da identidade dos indivíduos.
A passagem por esta fase nem sempre se faz de modo simples e fácil, afinal, o adolescente, apesar de estar “crescendo” (a palavra adolescência vem do latim “adolescere”, que significa “crescer” ou “tomar-se forte”), ainda apresenta características psicológicas um tanto infantis. Assim, não sendo criança e não chegando a ser adulto, o adolescente vê-se tratado injustamente, uma vez que lhe exigem mais deveres e lhe reconhecem menos direitos. Eis por que os conflitos entre os desejos e a realidade são mais agudos, podendo este jovem propender à rebeldia.
Na cultura ocidental, a adolescência tem sido tipicamente encarada como uma fase de turbulência, na qual podem surgir inúmeros problemas que, algumas vezes, perduram por longo tempo na vida do indivíduo.

CULTURA
A cultura é vista como o conjunto de valores, crenças e conhecimentos que caracterizam e impregnam a conduta da maioria dos membros de um grupo humano, neste caso, específico dos adolescentes. De acordo com Linton, “é a configuração de comportamentos aprendidos e de seus resultados, cujos elementos componentes são partilhados e transmitidos pelos membros de uma sociedade”. Assim, pode-se notar que a socialização tem grande influência da cultura. Segundo Lopez, a problemática da adolescência é criada por influxos culturais da nossa época e, por conseguinte, não existe nem em povos selvagens nem tampouco nos civilizados que viveram na era anterior à máquina. Por este motivo, este autor acredita que a adolescência adquirirá caracteres distintos, de acordo com a espécie de influxos culturais (políticos, econômicos, sociais, religiosos, morais) que incidam sobre a personalidade do jovem.
Embora o indivíduo se desenvolva socialmente durante toda a sua vida, a fase mais difícil de todos os ajustamentos sociais encontra-se na adolescência. A família começa a ceder terrenos a outras fontes de influência na vida do adolescente. Sobretudo, no início da adolescência, esta influência da sociedade se intensifica devido ao desejo que o adolescente tem de ser socialmente aceito e pelo consequente esforço em conformar-se com os padrões aprovados pelos grupos a que pertence (como a classe que estuda, os vizinhos da rua).
A maior parte dos adolescentes se caracteriza por atitudes sociais positivas, como a simpatia pelos fracos e oprimidos, interesse por causas sociais, impaciência perante restrições e desejo de reformar os outros. De acordo com tais princípios, o adolescente determina os amigos que serão mais próximos, íntimos e os que serão mais afastados.
Para o jovem, possuir uma coleção de amigos íntimos é sinal de popularidade perante os colegas. Pelo fato de ser bem aceito pelos outros, ele se sente feliz e seguro. Desta forma, o jovem adquire autoconfiança, que o ajudará a desenvolver características que o tornarão ainda mais popular.
À medida que vai amadurecendo, o indivíduo começa a valorizar mais as confidências, e só as confia a alguém que seja realmente íntimo. Na última fase da adolescência, há um estreitamento no círculo de amizades, não sendo mais importante ter um grande número de amigos, mas sim ter amigos verdadeiros. Mayes observou que, para sentir-se seguro, o jovem escolhe amigos que tenham os mesmos interesses, habilidades e nível socioeconômico.
É também na adolescência que se intensifica o interesse pelo sexo oposto. Os homens, principalmente, escolhem amigos capazes de ajudá-los na conquista das mulheres.
O adolescente passa a dar valor à individualidade, não querendo ser apenas um membro do grupo. Assim, procura chamar atenção com roupas diferentes, comportamento rebelde, gastos extravagantes e tudo mais que for necessário para ser percebido.
Durante a adolescência, são comuns os pensamentos relativos à sua origem e ao seu destino (vida e morte). Daí provém também, em grande parte, as oscilações da fé religiosa, assim como as atitudes místicas e pragmáticas. A religião é a principal responsável por criar questionamentos a respeito do que é certo ou errado, além de criar questionamentos quanto à própria espiritualidade (como a existência ou não de uma força divina).
Nesta fase, o indivíduo precisa construir uma escala de valores, muitas coisas antes essenciais para ele perdem sua importância. A busca de realização é caracterizada pela procura e conservação dos valores, entre os quais, o mais precioso é o “eu”.
Durante a adolescência, os rapazes, principalmente, apresentam uma extrema necessidade de emancipação familiar, mas esta só é obtida através da independência econômica. Tal situação é uma causa frequente de desajustamento de adolescentes, já que, devido à complexidade dos estudos para que se tenha um nível médio de cultura, este vê-se obrigado a passar anos como estudante, em total dependência, “como na infância”. Alguns se rebelam contra esta situação e desenvolvem algumas atividades que lhes tragam algum retorno financeiro. Já as moças apresentam uma menor necessidade da independência econômica, o que pode ser explicado pelo papel de obediência e submissão que a mulher desempenhou e até hoje ainda desempenha em nossa sociedade. Assim, uma moça não “fica mal” se tem um comportamento acriançado, contudo, esta característica num rapaz é extremamente criticada, já que aos rapazes é imposta a missão de adquirir, produzir e servir, em seus aspectos sociais, econômicos e políticos. Atualmente, mulheres e homens concorrem em um mesmo mercado de trabalho, assim aquelas têm de se preparar como estes, adquirindo então grande parte da problemática que ocorre na adolescência masculina.
Num momento em que o avanço dos progressos tecnológicos no comércio, na indústria e na agricultura requerem uma alta capacitação dos indivíduos e que a taxa de desemprego em nosso país alcançou os piores índices de toda a história, os adolescentes (em sua grande maioria) se veem obrigados a participar das despesas domésticas mensais precocemente. Desta forma, este adolescente tenta integrar um mercado de trabalho muito competitivo com pouca idade. Tal necessidade afasta ou impossibilita o adolescente de concluir os estudos, alguns não conseguindo sequer acabar o ensino médio. Chegar a um ensino superior torna-se cada vez mais complicado para os adolescentes de classe baixa em nosso país.

AMOR
Em qualquer idade, existe um processo de adaptação em consequência do próprio desenvolvimento físico do indivíduo e das mudanças ambientais. Além disso, podemos acrescentar que todo processo de adaptação exige uma certa dose de esforço individual e, consequentemente, provoca uma tensão emocional. A emotividade desenvolve-se, portanto, segundo Brides, dentro de um “continuum de energia”.
A adolescência é o período de maiores tensões, justamente por coincidir com a fase de maior desenvolvimento de mudanças físicas que favorecem o desenvolvimento das emoções e dos sentimentos. Para que haja harmonia no desenvolvimento integral do indivíduo, é necessária uma série de adaptações acarretadas pelo ritmo das mudanças físicas e ambientais e, consequentemente, pelo desenvolvimento emocional, incluindo os sentimentos.
Quando se fala em sentimentos, o primeiro em que se pensa é o amor, que tem a seguinte definição: “emoção agradável, duradoura e renovável, marcada pela identificação mútua entre duas pessoas, e também pela atração mútua”. Há uma grande variedade de “tipos” de amor: de uma criança pelos pais, dos pais pelos filhos e inclusive o amor próprio. O sentimento do amor quase sempre implica e proporciona felicidade.
Para o adolescente, a família é um objeto de amor e também é a primeira mudança ambiental à qual ele deve se adaptar. A família exerce a maior influência sobre ele, embora aparentemente isso possa parecer enganoso. Mas é fato comprovado que o bom relacionamento com os pais faz com que a criança adquira maior disponibilidade para enfrentar os problemas que o mundo oferece. Por outro lado, ficou constatado que a maioria dos desajustados emocionais havia experimentado péssimas relações familiares.
Quando, na adolescência, surge o interesse pelo sexo oposto, onde grande parte dos adolescentes, principalmente do sexo feminino, chamam de primeiro amor, o adolescente se depara com uma terrível sensação de medo e insegurança.
Quando se fala em amor pelo sexo oposto, fica claro em nossa cultura o seguinte: as meninas sonhadoras esperando um príncipe encantado, muitas delas inclusive se apaixonam por ídolos, geralmente objetos inatingíveis; por outro lado, os meninos realistas que não demonstram tanto sentimento, preocupados em mostrar para seu grupo de convívio social como ele é extremamente forte e consegue tudo que quer, inclusive as meninas. Segundo Freud, o primeiro objeto sério de amor de um menino é uma mulher madura, e o de uma menina, um homem mais velho (isto é, as figuras da mãe e do pai).
A conquista amorosa é um terreno atraente e temível para o rapaz, devido a toda insegurança que ocorre nesta fase e a dúvida do seu poder de conquista. Este oscila entre o receio de não parecer suficientemente masculino e o de ser julgado grosseiro (sendo o primeiro extremo considerado mais importante). Para as moças, a grande dúvida é quanto ao seu poder de “ser conquistada”, oscilando entre o temor de parecer demasiadamente infantil ou despudorada, sendo o último considerado por estas mais importante.
Voltando às tensões emocionais, incluindo o medo, vemos um adolescente com desejo de autoafirmação, mediante atos heroicos de bravura; é inconcebível comportar-se como um medroso, isso gera uma tensão escondida que, se permanecer por muito tempo, pode desenvolver no indivíduo um comportamento depressivo. A preocupação em proteger sua realidade interior, incluindo todos os seus sonhos, faz com que o adolescente desenvolva grande tendência narcisista, ou seja, uma superestima por si mesmo.
A emoção no adolescente, pelo lado positivo, representa grande força de motivação. O adolescente aparentemente apático encontra sentido para tudo o que faz e dificilmente pode-se descobrir um aspecto rotineiro em sua vida. Avindo emocionalmente motivado, quase nunca experimenta sensações de fadiga física. Sua carga emotiva representa um dinamismo interno que necessita de atividades que deverão ser bem orientadas, de forma que tal dinamismo não se disperse em atividades infrutíferas.

SEXUALIDADE
De acordo com Sullivan, após uma pré-adolescência, vem um período chamado adolescência anterior. Esta fase é caracterizada pelo desenvolvimento da heterossexualidade. As mudanças fisiológicas da puberdade são vistas, pelo jovem, como experiências de prazer. Destes sentimentos, surge o dinamismo do prazer que começa a afirmar-se na personalidade. O dinamismo do prazer envolve, principalmente, a zona genital, porém outras zonas de interação, tais como boca e as mãos, também participam do comportamento sexual. Nesta fase, ocorre a separação entre a necessidade erótica e a necessidade da intimidade. A necessidade erótica tem por objeto um membro do sexo oposto, enquanto a necessidade da intimidade se fixa em um membro do mesmo sexo. Quando essas necessidades não se separam, o jovem apresenta tendência homossexual, em lugar da heterossexual. Esta fase inicial da adolescência persiste até que a pessoa encontre maneira de exprimir seus impulsos sexuais. Por último, vem o período final da adolescência, que inicia os privilégios, deveres, satisfações e responsabilidades da vida social. Segundo Sullivan, “essa fase final da adolescência estende-se de uma atividade genital qualquer, passando por inúmeras experiências, até o estabelecimento de um repertório amadurecido de relações que as próprias condições pessoais e culturais tornarem possíveis”.
Para Mead e outros antropólogos, com efeito, as sociedades que negam, adiam ou regulam o sexo e outras atividades apresentam mais marcantes os problemas da adolescência, a que Mall classificou como o período de “storm and stress”. É esse o caso da sociedade latino-americana, onde o sexo ainda é considerado um tabu. Entre tais problemas relacionados aos conflitos do adolescente está “a crise da intimidade”.
A crise da intimidade é um período onde o jovem precisa estar desenvolvendo a formação de sua identidade. O jovem que não está seguro de sua identidade furta-se à intimidade ou lança-se em atos “promíscuos”, sem uma verdadeira fusão ou real entrega de si próprio. Quando o indivíduo não consome relações íntimas com outros utilizando seus próprios recursos internos, ele poderá desenvolver, no final da adolescência e início da vida adulta, um profundo sentimento de isolamento, podendo gerar na vida adulta homens com graves problemas de caráter, pois ele nunca se sentirá ele próprio.
O adolescente enfrenta atualmente um grande problema que é a falta de esclarecimentos sexuais. As jovens estão engravidando cada vez mais novas e, consequentemente, devido ao fato de não estarem maduras o suficiente, assumem responsabilidades que deveriam estar sendo conferidas a adultos.
A contraparte da intimidade é o distanciamento, a facilidade em repudiar, isolar e, se necessário, destruir aquelas forças pessoais cuja essência pareça perigosa para o indivíduo. Assim, a consequência duradoura da necessidade de distanciamento fortifica o território da própria intimidade e solidariedade, valorizando todas as diferenças entre os indivíduos, podendo criar preconceitos, onde pessoas fanáticas estão prontas a matar, mostrando lealdade à sua proposta ou a alguém. Mas, à medida que as áreas da responsabilidade adulta são delineadas, surge um sentimento ético, onde se passa a aceitar as diferenças entre as pessoas; essa certeza sucede à convicção ideológica da adolescência e é a marca do adulto.
Perguntaram a Freud o que uma pessoa normal poderia fazer bem, e ele respondeu com palavras bem simples: “amar e trabalhar”. Seria esta a fórmula mais simples, porém, quando aprofundamos nosso pensamento, enxergamos a real complexidade. Pois, quando Freud disse “amor”, este significa tanto o amor íntimo (genital) como a generosidade da intimidade; quando disse amar e trabalhar, significava uma produtividade geral do trabalho que não preocupasse o indivíduo ao ponto em que pudesse perder o seu direito ou capacidade para ser uma criatura sexual e amorosa. Um indivíduo só atingirá a total maturidade sexual quando este amadurecimento da intimidade sexual, com a plena sensibilidade genital, estiver relacionado com a capacidade de descarga de tensão do corpo, sendo esta característica uma marca adulta.

CONCLUSÃO
A adolescência é o período de ajustamento sexual, social, ideológico e vocacional, e de luta pela emancipação dos pais. O indivíduo, sentindo-se adulto, experimenta a necessidade de maior liberdade e autoafirmação. A tensão intrapsíquica chega ao máximo, pois ao reajustamento interior individual se associa o reajustamento de mudança de atitude diante do meio familiar, social e do destino da vida, que ele precisa pressentir, fixar e conquistar. Segundo Hurlock, a adolescência é um período de transição que requer grande esforço de adaptação.
Não se deve, porém, exagerar sobre o aspecto de turbulência da adolescência e, sobretudo, não se pode generalizá-la e colocar sobre este rótulo todos os jovens do mundo. A concepção de que esta fase é necessariamente um período de lutas, dificuldades e atritos vem sendo questionada por alguns antropólogos que afirmam que, em sociedades (culturas) mais desenvolvidas, esta passagem da infância para a maturidade é feita de forma suave e com pressões internas menos violentas, possibilitando ao indivíduo uma tomada de consciência progressiva e, consequentemente, um ajustamento mais fácil à nova fase de sua existência.
Devemos lembrar que, quando se procura compreender o adolescente, a imagem que este traz do mundo nem sempre corresponde à realidade, assim como a imagem que este faz de si mesmo. Isso evitará que o julguemos incoerente quando, na verdade, ele é bastante coerente com seu mundo interno e corre o seu momento.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
– Erikson, H.E. 1971. Identidade, juventude e crise. Zahar Editores. pp 322.
– Holland, J.G. Skinner, B.F. 1969. A análise do comportamento. EDUSP. pp 175.
– Lima, L.P. 1974. Dicionário da psicologia prática, vol. 1. 4 ed. Homor editorial LIDA. pp 207.
– Muss, R. 1966. Teorias da adolescência. lnterlivros. pp 144.
– Lopez, E. M. 1954. Psicologia evolutiva da criança e do adolescente. 2a ed. Científica. pp 322.
Outros autores: Vivian Katz, Samantha Alves e Andreia Pereira.

Autor: Daniela Bezerra

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Este texto foi publicado na categoria Saúde Mental e Psicológica.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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