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Atualizado em 10/08/2024

A Origem do Futebol

Descubra a origem do futebol e como ele se tornou o esporte mais popular do mundo. Saiba como o jogo evoluiu ao longo dos séculos e como foi disseminado globalmente. Aproveite esta oportunidade única de mergulhar na história deste esporte fascinante!

Campo de futebol

Origem do futebol – compreendendo os diversos jogos de bola com o pé que antecederam o futebol atual – cobre um período de muitos séculos e pode ser dividida em cinco fases principais: a primeira das origens aos vários tipos rudimentares de futebol praticados, na Antiguidade, povos da Ásia, América pré-colombiana e Europa; a segunda, da Idade Média e Renascença, em que antecedentes mais próximos do futebol atual se desenvolveram na Inglaterra, França e Itália, ao séc. XVII; a terceira marca de um longo período de transição, até o esporte ser introduzido nas escolas públicas inglesas, do séc. XVII e XIX; a quarta assinala o nascimento do futebol moderno, numa taberna londrina, a 26 de outubro de 1863; e a quinta vem com a internacionalização do esporte e vem até os dias de hoje.

Antiguidade. Mesmo não considerando certas teorias antropológicas desprovidas de fundamento científico, segundo as quais um futebol incipiente teria sido praticado já na pré-história, afirmam que o homem se sentiu atraído a brincar com objetos esféricos, há documentos provando a existência, em épocas remotas, de diversos jogos que podem ser considerados precursores do futebol atual.

Achados arqueológicos permitem afirmar que um jogo de bola, praticado com o pé, já era conhecido no Egito e na Babilônia, há mais de trinta séculos. Admite-se que tal jogo tinha caráter religioso, a bola simbolizando o sol, para os egípcios, a Lua, para os babilônios, ou ainda maus espíritos que os jovens, em certas festividades, procuravam afugentar golpeando com os pés uma bexiga de boi inflada de ar, para os povos asiáticos.

Antiguidade

Os escritores chineses Tao-tse e Yang-tse fazem referência a outro tipo de jogo de bola, que teria sido praticado na China, cerca de 26 séculos antes da nossa era. Esse jogo – cuja invenção muitos autores atribuem ao próprio Yang-tse – chamava-se Tsu-chu (golpeara a bola com o pé) e começou como parte do treinamento militar da guarda do imperador.

O Tsu-chu era bastante simples, oito jogadores, sem poderem deixar a bola tocar no solo, tentavam passá-la além dos limites demarcados, por duas estacas fincadas no chão e ligadas por um fio de seda, a bola de couro, o campo era quadrado com 14 metros de lado.

No Japão, com o nome de Kemari. Este, embora inspirado no jogo dos chineses, possuía características próprias. Não se contavam pontos, sendo como único objetivo do jogo apurar a técnica de dominar a bola com os pés. O kemari era um passatempo da realeza. Consta que os imperadores En-ji e Ten-ji estavam entre os seus praticantes.

América pré-colombiana

Outros achados arqueológicos atestam que, em vários pontos da América pré-colombiana, à mesma época que os chineses e japoneses se entregavam ao seu futebol, os nativos também se dedicavam aos jogos de bola. O historiador espanhol Herrera y Tordesillas menciona “uma bola de borracha extraída das árvores”, que os índios jogavam no Haiti, quando lá chegou Cristovão Colombo.

Acredita o historiador Jean Le Floc’hmoan que tenham sido os sul-americanos os primeiros a fabricar bolas de resina com fins lucrativos.

Embora cronistas mencionem “meninos maias e astecas, impulsionando com os pés, esferas de látex”, todos esses jogos eram, basicamente, disputados com as mãos, guardando, portanto, pouca semelhança com esportes que, como os do Oriente, são considerados precursores do futebol.

Na Europa

Na antiguidade, vão ser encontrados nos grupos de jogos de bola a que os gregos deram o nome genérico de Sphairomakhia. Nos 12 séculos de existência dos antigos jogos olímpicos, esportes com bola jamais foram incluídos nos programas oficiais. No entanto, eram muito populares, especialmente um denominado epyskiros, jogado com o pé. Pouco se sabe de suas regras, ou mesmo do número de componentes de cada equipe, mas Júlio Pólux cita uma linha de meta localizada no fundo de cada lado do campo, através da qual a bola deveria ser arremessada, contando-se com isso um ponto.

É quase certo que os romanos tenham copiado os gregos ao criarem, séculos depois, o harsparum. Sobre esse jogo – disputado com os pés, utilizando-se uma bexiga de boi como bola.

Os romanos – cujos exércitos seguiram conquistando terras rumo ao norte – certamente levaram a outros povos os seus jogos de bola. É muito provável que tenham sido eles os introdutores do futebol na Gália e depois na Bretanha, sendo que, quanto a esta última, os historiadores divergem: uns acreditam que tenha sido de fato os romanos, durante os quatro séculos de domínio que se seguiram à primeira expedição de Júlio César, no ano 43 d.C., que deram a conhecer aos bretães as regras do harpastum; outros afirmam que os romanos, ao chegarem à Bretanha, já encontraram lá um futebol nativo, de origem meio lendária, meio cívica.

Idade Média e Renascença

Durante toda a Idade Média, e por muitos séculos depois, realizou-se na cidade de Ashbourne, Inglaterra, um jogo de bola que pode ser considerado o mais importante precursor do futebol moderno. Tal jogo era disputado anualmente, nas Shrove Tuesdays (espécie de terças-feiras gordas), entre os habitantes da cidade: um número ilimitado de participantes, às vezes de 400 a 500 de cada lado, corria atrás de uma bola de couro fabricada pelo sapateiro local, com o objetivo de alcançá-la, dominá-la e finalmente levá-la até a meta adversária, no caso as portas norte e sul da cidade, uma para cada equipe.

As origens do jogo de Ashbourne – mais tarde praticado em outros pontos do condado de Derbyshire – também são discutidas. Um cronista da época afirma que se tratava de uma comemoração anual da vitória dos bretães sobre os romanos, numa partida de harspatum, efetuada no ano de 217.

O futebol conhecido em Derbyshire, durante a Idade Média, era um jogo primitivo, violento, semi-bárbaro e, por tudo isso, mal visto. A não ser pelas partidas de caráter cívico.

Com ocorrências trágicas não se devessem propriamente ao jogo de bola, desde que elas se registraram, o ludus pilae começou a ter ataques a pelo menos três direções: do rei, da igreja e da municipalidade. A 13 de abril de 1314, os cidadãos de Londres já liam o edito real que determinava: …das quais muitos males podem advir sem a aprovação de Deus, determinamos e proibimos, em nome do rei, sob pena de prisão, tal jogo de bola na cidade.

Eduardo II notara que o interesse de seus soldados pelo futebol era tanto que temia viessem eles a se descuidar de esportes mais adequados para o treinamento para guerra, arco e flecha, esgrima, arremesso e lanças.

Durante as guerras com a França, no séc. XIV, constou que o rei temia que a habilidade do arco e flecha estivesse quase que totalmente posta de lado, em benefício de jogos sem utilidade e fora da lei.

As proibições reais seriam reforçadas de tempos em tempos, até o séc. XIV, por Henrique VIII e logo em seguida por Eduardo VI e Isabel I, de modo que o futebol na Inglaterra da Idade Média não passasse de um jogo severamente combatido pelas autoridades. Embora em algumas paróquias fosse comum os padres usarem os pátios das igrejas para organizarem jogos entre meninos, incluindo o ludus pilae de que fala Fitzstephen, tais práticas eram mantidas atrás dos muros, pois também a Igreja, em defesa dos bons costumes, condenava o violento esporte.

Fora da Inglaterra, porém, tanto na Idade Média quanto na Renascença, o futebol teve nobres apoiadores. O jogo dos franceses – denominado soule ou choule, provavelmente era também uma variante do harpastum romano, sendo praticado pelo homem do povo como por nobres, como Henrique II, e poetas, como Pierre de Ronsard. Menos violento do que o futebol dos ingleses, esse jogo francês quase não encontrou opositores.

Na Itália, além de não ter opositores, o futebol medieval foi entusiasticamente apoiado pela nobreza.

As regras do calcio foram fixadas por Giovanni Bardi, em 1580, com base em relatos feitos que haviam assistido ao jogo de 51 anos antes.

Os Séculos de Transição

Diante das proibições, o futebol passou por sucessivas modificações na Inglaterra, civilizando-se a partir do séc. XVII. Antes disso, jogado nos pátios das igrejas, ou em campos afastados onde se podia burlar a lei, sua sobrevivência foi difícil.

No início do séc. XVII, quando Jaime VI da Escócia subiu ao trono da Inglaterra como Jaime I, a proibição ainda existia, mas já não era levada tão a sério.

Assim, afastado ou mesmo combatido pela nobreza, mas já contando com alguma tolerância das autoridades do futebol, pouco a pouco, foi-se transformando. Todo o séc. XVII vai ser marcado por novas aberturas ao futebol, o visconde de Dorchester já recebia um convite de John Chamberlain para assistir a um jogo em Florença: em 1613, o vigário de Wiltshire organiza duas equipes para se exibirem numa vista real em 1620, o futebol é introduzido em dois colégios de Cambridge, o St. John’s e o Trinity.

Carlos II torna-se o primeiro rei inglês a autorizar a prática do futebol, permitindo que seus criados enfrentassem, numa partida, os doduque de Albuquerque.

O séc. XVIII será todo ele de transição, e os diferentes tipos de jogos de bola vão deixando de ser passatempos primitivos e violentos para se estabelecerem como prática comum nas escolas. No início do séc. XIX, quando Thomas Arnold reforma todo o ensino superior inglês, dando aos esportes em geral um lugar de destaque na educação dos jovens, o futebol não será posto de lado. Pelo contrário, será um dos primeiros jogos a serem introduzidos nas escolas públicas, já em caráter oficial.

Arnold recomendava que os esportes fossem utilizados nas escolas, como fim de canalizar para os campos de competição a energia que, de outra forma, os jovens poderiam desperdiçar em práticas condenáveis, segundo aqueles educadores, práticas condenáveis não eram apenas o vício do jogo e do álcool, mas ideias políticas de sentido reformista que poderiam pôr em risco o conservadorismo defendido pelos vitorianos.

Na primeira década do século, o futebol e outros esportes já faziam parte da educação regular dos jovens que frequentavam não só as escolas públicas, mas também os estabelecimentos particulares e universidades. Em cada um deles, o futebol foi sendo codificado, surgindo as primeiras leis ou regras escritas, impressas e publicadas.

As regras adotadas pelas escolas e logo em seguida pelos clubes que foram surgindo em toda a Inglaterra eram semelhantes e não iguais.

O futebol de 11, porém, foi o que se afirmou, acreditando-se que isso se deva ao fato de as turmas de Cambridge terem 10 alunos e 1 bedel (as turmas de rugby eram compostas de 12 alunos e 1 bedel). As bolas mudaram muito de formato, ora redondas, ora ovais.

O Futebol Moderno

Os historiadores são unânimes em fixar a data de 26 de outubro de 1863 como a do nascimento do futebol moderno. O fato de existirem várias regras em vigor em Londres e outras cidades inglesas, dificultando a realização de jogos e torneios entre clubes e colégios, impunha a criação de um organismo que, centralizando esses clubes e colégios, pudesse uniformizar as regras. Alguns veteranos de Cambridge, apoiados pelo jornalista John D. Cartwright, que escreveu uma série de artigos nesse sentido, iniciaram campanha para que os interessados se reunissem e debatessem a criação do novo organismo, o que ocorreu a 26 de outubro.

Os próprios ingleses se encarregam de universalizar o futebol, levando-o depois de difundi-lo por todo o Reino Unido, a países bem mais distantes. Por volta de 1865, um grupo de emigrantes ingleses já havia fundado em Buenos Aires o Football Club, na Argentina, sendo este um dos primeiros países a conhecer o esporte fora do Reino Unido. No início da década de 1870, foram ainda os ingleses que introduziram o futebol na Alemanha e em Portugal.

Em 1876, é introduzido na Dinamarca: três anos depois, nos Países Baixos e também na Suíça, onde é fundado o Football Club Saint-Gall. Ao mesmo tempo, na Inglaterra, o interesse pelo futebol aumentou em 1878, por ocasião do primeiro jogo noturno, utilizando-se precária iluminação elétrica, o Bramall Lane em Sheffield, que recebeu um público de 15 mil pessoas, seja três vezes mais do que se costuma registrar numa final da Taça da Inglaterra.

Há provas de que, no início da década de 1880, o futebol já era praticado em Praga, embora a federação nacional tcheca só se fundasse em 1899. O primeiro clube belga, o Football Club Antwerp, surgiu em 1880, ano em que o futebol chegou ao Canadá e Austrália. Em 1882, os ingleses haviam levado o jogo até Montevidéu. Em 1889, Dinamarca, Países Baixos e Áustria fundavam suas federações nacionais. Em 1891, surgia a Federação Neozelandesa, seguindo-se as da Argentina e da Itália, ambas em 1893, a África do Sul em 1897, as da Alemanha, Hungria e Uruguai em 1900.
A 12 de outubro de 1902, realizava-se em Viena, a primeira partida entre seleções nacionais, fora do Reino Unido: Áustria e Hungria, com a vitória da equipe local por 5 a 0. A partir de então, os encontros internacionais, em várias partes da Europa, tornaram-se comuns.

A 13 de janeiro de 1904, Hirschmann voltaria a escrever a dirigentes de federações nacionais europeias, entre eles o francês Robert Guérin. Após uma série de entendimentos, quase sempre por carta, fundou-se a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), sob a presidência de Guérin e com sede provisória em Paris. Os sete países fundadores foram França, Espanha, Bélgica, Países Baixos, Suíça, Dinamarca e Suécia. No ano seguinte, no primeiro congresso levado a efeito pelo novo organismo, também em Paris, mais cinco países se filiaram: Alemanha, Áustria, Itália, Hungria e Inglaterra, esta desfiliando-se em 1919, voltando a filiar-se em 1924, retirando-se novamente em 1929 e filiando-se pela terceira e última vez em 1946.

Desde a sua fundação, a FIFA teve entre suas principais metas a organização de um grande torneio internacional entre todas as filiadas, mas tal meta, apesar dos incansáveis esforços de vários de seus dirigentes, o mais notável de todos o francês, Jules Rimet, só seria atingida em 1930, com a realização em Montevidéu, da primeira Copa do Mundo. Antes disso, o mais que a FIFA conseguiu, no campo das competições internacionais, foi supervisionar, com permissão do Comitê Olímpico Internacional, o torneio de futebol dos jogos olímpicos, o primeiro dos quais em 1908 em Londres, ganho pela Inglaterra. Na verdade, o futebol já fazia parte do programa olímpico nos jogos de 1900 em Paris e de 1904 em St. Louis, com os títulos sendo conquistados, respectivamente, pelo Upton Park Club, representando a Inglaterra, e o Galt Football, representando o Canadá, mas tanto um torneio como outro não sendo considerados oficiais, incluindo-se entre as provas de exibição.

O número cada vez maior de países filiados e a presença efetiva que vem como entidade criadora, promotora e organizadora da Copa do Mundo, competição vitoriosa tanto do ponto de vista esportivo quanto financeiro, fazem da FIFA, ao lado do Comitê Olímpico Internacional, o mais bem-sucedido organismo esportivo em todo o mundo. Graças a esse organismo, a universalização do futebol, a partir do momento que ele saiu das ilhas Britânicas para ser introduzido em outros países, foi sempre progressiva, não sendo afetada por qualquer crise esportiva ou política.

O futebol, durante todos esses anos, tornou-se provavelmente o mais universal de todos os esportes.

O Futebol no Brasil

Embora 1894 seja o ano que os historiadores assinalam como o da introdução oficial do futebol no Brasil, é certo que muito antes disso o jogo tenha sido praticado no país, ainda que de forma improvisada. Em 1872 ou 1873, um dos padres do colégio São Luís, em Itu, SP, organizou partidas entre os seus alunos, segundo as regras então adotadas em Eton, Inglaterra.

Em 1874, marinheiros ingleses teriam jogado bola na praia de Glória, Rio de Janeiro, o mesmo acontecendo com tripulantes do navio Criméia, que o fizeram num capinzal próximo à rua Paissandu, diante da residência da Princesa Isabel, já por volta de 1878.

Há inúmeras outras referências à prática de futebol no Brasil antes de 1894. Marinheiros ingleses, ainda, realizaram jogos por quase todo o litoral, havendo pelo menos provas de que tais jogos tiveram lugar em Recife e Porto Alegre. Em 1875 ou 1876, um certo Mr. John, também inglês, foi juiz de uma partida amistosa entre funcionários da City Companhia de Navegação e da Leopoldina Railway. Em 1882, Mr. Hugh, outro inglês, teria organizado um jogo entre funcionários da São Paulo Railway, em Jundiaí.

O ano de 1894 é aceito pelos historiadores como o da introdução oficial do futebol no Brasil, porque quando Charles Miller chegou a São Paulo, depois de fazer cursos em Southampton, Inglaterra, trazendo de lá duas bolas de couro e uniforme completo de futebol, material utilizado nos primeiros jogos que ele mesmo organizou em Várzea do Carmo, São Paulo, entre ingleses e brasileiros da Companhia de Gás do London Bank e da São Paulo Railway, e mais tarde na chácara da família Dulley, também em São Paulo Athletic Club, agremiação que se dedicava ao críquete e a outros esportes introduzidos no país pelos ingleses.

Charles Miller, introdutor oficial do futebol no Brasil, nasceu no bairro de São Brás, São Paulo, em 1874, de pai inglês e mãe brasileira, e morreu na mesma cidade em 1953. Em 1884, após concluir seus estudos preliminares, transferiu-se para Banister Court School, Southampton, onde ficou conhecendo o futebol. Na Inglaterra, chegou a integrar como center-forward a seleção do condado de Hampshire, numa partida com o Corinthians londrino. De volta ao Brasil, Miller foi não apenas o responsável pelo início da prática regular e organizada do futebol no país, mas foi também o primeiro a se destacar como jogador e a ganhar popularidade. A jogada de amortecer a bola com a face externa do pé era sua marca registrada, e por isso ficou conhecida como charles. Jogou futebol até 1910 e foi juiz até 1914.

A partir de Miller, a história do futebol brasileiro pode ser dividida em seis fases principais: implantação, difusão, popularização, transição, afirmação e, finalmente, a atual.

A primeira fase – implantação – vai até 1910, caracterizando-se pela fundação dos primeiros clubes. Foram eles, São Paulo Athletic Club (1888), Associação Atlética Mackenzie College (1898), Sport Club Internacional e Sport Club Germânia (1899), e Club Atlético Paulistano (1900).

Evolução do futebol no Brasil

No Brasil, de um modo geral, a evolução do esporte foi mais lenta. Quer as modificações nas regras dos jogos, quer as modificações de ordem técnica e tática, sempre aqui foram desenvolvidas com uma lentidão e um atraso deveras lamentáveis.

No que diz respeito à legislação, jamais nossos órgãos interpretativos têm tomado conhecimento das constantes modificações com a presteza necessária, e é frequente acontecer que, muito antes de determinadas modificações serem devidamente interpretadas e difundidas, outras novas chegam para o mesmo assunto, criando situações de verdadeira confusão.

No que diz respeito às questões de ordem técnica e tática, a situação tem sido a mesma. As modificações, as coisas novas, o progresso, enfim, dos desportos, em suas várias manifestações, tardavam a chegar a nós por razões diversas. Em primeiro lugar, como causa mais importante, vamos encontrar a falta de um intercâmbio internacional mais constante e, em segundo plano, a nossa conhecida auto-suficiência. De um modo geral – e no futebol em particular – nós nos consideramos sempre o melhor que existe, e as constantes e dolorosas lições que os sul-americanos, em todos os tempos e os mundiais até 1954, nos deram nunca eram devidamente aproveitadas, pois nos apressávamos a atribuir os nossos fracassos a causas mais extravagantes.

Evolução do Jogo

Técnica, prática, estratégia e sistema são termos que se empregam largamente no vocabulário do futebol, quase sempre de maneira imprópria, ora se confundindo uns com os outros, ora pecando pela imprecisão.

Técnica é o conjunto de meios de que dispõe o jogador, ao usar os pés, pernas, tronco, braços, ombro e cabeça, para o domínio lícito da bola, sua proteção, arremate ou passagem a um companheiro de equipe.

Tática é a arte de combinar a ação individual de cada jogador, em diferentes linhas e posições, de modo a obter o máximo de rendimento no transcurso de determinada partida.
Sistema é o modo pelo qual os 11 jogadores são distribuídos em campo, ocupando-o em largura e profundidade.

Estratégia é o conjunto de medidas adotadas dentro ou fora do campo, pelo treinador, médico ou dirigentes, com o objetivo de obter certos resultados mediatos, tais como a conquista de um campeonato, a passagem de uma divisão para outra, uma classificação.

A evolução do futebol tem-se apoiado fundamentalmente nesses quatro fatores. A técnica é resultado, em parte, do conjunto de dons naturais que possui o jogador, somado ao treinamento intensivo e controlado. No Brasil, é crença geral que um bom jogador nasce feito, o que é parcialmente verdadeiro, levando-se em conta que dificilmente um jogador de pouco talento individual será transformado em uma estrela do futebol, apenas às custas do treinamento. Já na Europa, embora não se desprezando os dons naturais, dá-se mais importância ao preparo técnico, com verdadeiras escolas de futebol funcionando regularmente em vários países, de modo a apurar a habilidade do jogador em seu contato com a bola e em relação aos companheiros de equipe.

Atualmente, visando a técnica, o futebol tem lançado mão de todos os meios disponíveis para preparar seus jogadores: da dieta adequada ao preparo físico cientificamente ministrado, do treinamento com ou sem bola aos períodos de concentração, de noções teóricas transmitidas por observadores, treinadores ou professores, à ajuda indispensável da medicina esportiva.

A tática e a estratégia estão intimamente ligadas, na história da evolução do jogo, ao sistema. Antes de 1880, praticamente não havia um sistema de jogo, sendo as equipes formadas por um goleiro e dez elementos que funcionavam apenas como atacantes. Por volta de 1870, os primeiros princípios de ocupação do campo aparecem, com um e às vezes dois jogadores recuando para proteger o goleiro no trabalho defensivo. Foram os primeiros zagueiros ou backs, surgidos muito mais por instinto do que propriamente por determinação de algum treinador.

Em 1880 – adotado de início pelo Nottingham Forest e logo em seguida pelo Blackburn Rovers e por quase todas as equipes inglesas – surge, de fato, o primeiro sistema: um goleiro, dois zagueiros, três médicos e cinco atacantes. Tal sistema – que ficou conhecido como formação clássica – decorreu de sucessivas alterações a partir daquele recuo inicial de dois homens, agora criando-se entre os atacantes o compartimento intermediário que vai constituir o primeiro setor de ligação de que se tem notícia.

Em 1925, uma vez aprovada nova alteração na chamada lei do impedimento, modificações profundas seriam introduzidas, também nos sistemas em voga. Como a nova regra dava condição de jogo ao atacante que tivesse pela frente no mínimo um de dois adversários, em vez de três, no momento que lhe dessem o passe, as equipes tornaram-se mais ofensivas. Antes, podia acontecer que o simples avanço de um dos zagueiros fosse o bastante para deixar impedido um atacante adversário; agora, não só havendo esse avanço se tornava ineficaz, como, com ele, a defesa ficava mais vulnerável. Essa mudança na lei provocou o recuo de mais de um jogador para ajudar a defesa, no caso o center-half, que assim se transformou em um terceiro zagueiro. Para ajudar os dois médicos no trabalho de armação, os dois meias passaram a atuar um pouco mais recuados. Tal sistema, que Herbert Chapman adotou no Arsenal de Londres e por volta de 1930 se difundiu pela Europa, é o WM que os teóricos do futebol consideram ponto de partida para os outros sistemas modernos.

Pelo equilíbrio, simetria e distribuição racional dos jogadores em campo, o WM foi, de fato, a palavra de ordem por quase três décadas, mesmo alguns sistemas surgindo depois, não passaram de variantes do de Chapman. Um deles, que se caracterizava por um defensivismo exagerado, foi empregado especialmente pelo austríaco Karl Rappan, a partir do momento que passou a dirigir a seleção da Suíça na década de 1930. Contando com jogadores modestos, sem grande capacidade técnica, Rappan reforçou sua defesa, um zagueiro permanentemente na sobra, os três já usados no WM, dois extremas, o auxílio do meio-campo e apenas dois atacantes, visando, com isso, a evitar goleadas ou a tentar empates em seus jogos com equipes mais fortes. O sistema chamou-se verrou, no Brasil conhecido por ferrolho.

Outro sistema derivado do WM surgiu no Brasil na década de 1940. Pelas características do meia-esquerda da equipe do Vasco da Gama, Ademir Marques de Meneses, o treinador Flávio Costa introduziu uma alteração na disposição dos homens de meio-campo.

Ademir, projetando-se, atuava como um quarto homem de frente, o meia direita Maneca, mais recuado. O que resultou disso foi um WM com meio campo assimétrico a que Flávio deu o nome de diagonal.

A variante nunca chegou a ser bem-sucedida, depositando o Vasco da Gama, na época, toda a sua força nos excelentes jogadores que possuía. No entanto, foi a criação do quarto homem de frente que redundou na do quarto zagueiro que será encontrado fixo no 4-2-4 e no 4-3-3, sistemas adotados pela seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1958 e 1962.

Atualmente, embora as equipes de clubes ou seleções, em todo o mundo, adotem este ou aquele sistema, quase sempre variantes do WM, a disposição dos jogadores em campo obedece muito mais a princípios do que propriamente a esquemas rígidos, como o 4-2-4, o 4-3-3 e o próprio WM. O preparo físico apurado dos jogadores atuais, permitindo-lhes cumprir funções muito menos estáticas do que há alguns anos, foi um dos principais responsáveis pela moderna filosofia de jogo, segundo a qual, antes de posições fixas, cada jogador está encarregado de um número maior de missões, atacando, armando e defendendo, em estreita cooperação com os seus companheiros. O rigor das posições do futebol vai desaparecendo cada vez mais. E os esquemas antigos tornam-se, com isso, cada vez menos rígidos.

Bibliografia

  • Enciclopédia Mirador
  • Livro do Mec

Autor: Carlos Vaz Dias

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