Sendo consciente do nosso modesto conhecimento quanto ao complexo mundo dos ditames da Lógica, enquanto matéria filosófica, visto que esta engendra um tema tão amplo e denso, seria, para nós, difícil visar a um conhecimento real que requer um maior cabedal, que no momento, em virtude do pouquíssimo tempo em que nos encontramos envolvidos com a cadeira de Filosofia da Cultura, não nos permite exercê-lo em plenitude.
Isto não nos ausenta da responsabilidade de pesquisar, de aperfeiçoar o nosso elementar conhecimento e de, acima de tudo, apresentar um trabalho ao qual passamos a ter domínio sob seu conteúdo, uma vez que foi estudado, interpretado e transcrito com nossas próprias palavras, com exceções onde citamos alguns importantes pensamentos.
Partindo do princípio que existe sempre na produção de pensamentos essenciais, dentro da tradição filosófica, uma lógica correspondente, procuramos ter uma noção dos diferentes conceitos intersecionais assumidos, nos atendo mais especificamente à Grécia Clássica, na arte dos poetas trágicos exorbitantes e, enfim, na dialética da ideia ou do conceito platônico.
Em virtude das limitações de extensão, a discussão das ideias será menos pormenorizada que o desejável. Porém, de forma panorâmica, tentamos buscar uma visão do tema e, naturalmente, buscamos também alguns tópicos que nos sentíamos aptos a explicar com um pouco mais de atenção.
Enfim, nós agradecemos ao senhor, professor Sampaio, pela compreensão em avaliar-nos como meros iniciantes de um tão abrangente e rico conhecimento, que requer um intenso empenho, permanente estudo e periódica dedicação.
Desejo, fingimento e subversão nas culturas lógigo-diferenciais
Entre os gregos – filosofia, a arte dos poetas exorbitantes e a dialética platônica
Durante o período Pré-Socrático, os gregos se faziam perguntas como: de onde vêm os seres? Quem existe? Para onde eles vão? Interseção que se transformam? Ou seja, buscavam uma explicação racional sobre a origem da Natureza – a cosmologia. Assim, para estes, a Natureza era eterna, ninguém a criara e tudo na natureza se transformara em outra coisa sem desaparecer. E a physis (fazer surgir) era o elemento primordial eterno, imperecível e gerador das coisas mortais e em contínua transformação.
Interseção consequente, floresceu naquele ambiente uma incessante busca do conhecimento verdadeiro; de um lado, Heráclito de Éfeso e, de outro, Parmênides de Eléia, originários ambos de escolas filosóficas diversas, esse da Escola Jônica e aquele da Escola Eleata. Essa diferença surgiu como uma crise angustiante, pois cada um dos dois havia erguido um sistema coerente de pensamento para explicar a realidade primeira e última de todas as coisas, a essência do mundo, mas esses sistemas eram opostos e irreconciliáveis. Onde está a verdade? Com quem estava ela?
De outro lado, se tomarmos por Lógica tudo que alguma vez já foi tido como tal pela tradição filosófica, portanto alargando a validade deste conceito, percebemos que a distinção aí também se faz entre o heraclitismo e o eleatismo. Sucede como principal problema a existência ou inexistência do uno e do múltiplo, do Ser e do Devir, da imobilidade e do movimento. Isto é, como definir a realidade somente dentro da lógica da diferença, heraclitismo, ou dentro da lógica da identidade, eleatismo. Inclusive porque o Homem, através do tempo, leia-se aí cronologicamente e não historicamente, se deparou com algo captado por ambas as lógicas.
Assim, fica tácita a urgência na qual se encontrava a filosofia, estava literalmente submersa num enguiço. Urge acrescentar que não cabiam soluções salomônicas, mas um revolucionário e criativo sistema lógico-filosófico, que impelia, justamente, Platão numa árdua e meticulosa contração de sua Dialética.
I – A LÓGICA NO PENSAMENTO DE PARMÊNIDES DE ELÉIA
De modo genérico, pode-se afirmar que foi o pensamento de Parmênides de Eléia, juntamente com a filosofia natural dos jônicos e da especulação matemática dos pitagóricos, que inaugurou, na Grécia: a Lógica, isto é, a consciência da força constrangedora das ideias e de suas consequências.
Por conseguinte, a máxima “o Ser é e o não-Ser não é”, representa a Lógica da Identidade (lógica I); onde para esta sentença em termos de números considera-se, para validá-la, o não-Ser como 0 (zero), ou seja, o nada e o Ser é tido como o 1 (um), o imutável. Esses são valores que representam a verdade da Lógica I.
A “aspiração do Ser à justiça”, como se lê no poema parmenideano, significa a exigência racional de expulsar o devir e a mudança, o movimento e a multiplicidade, porque fariam do Ser, não-Ser, nada, vazio. O pensamento não suporta a contradição e a díke (justiça) a que aspira o Ser é justamente a expulsão do contraditório, do que não pode ser pensado nem dito.
Quando Parmênides afirma que “Ser e pensar são o mesmo” e que “Ser e dizer são o mesmo”, está afirmando a identidade entre ser, pensamento e linguagem e esta identidade é o real. Por isso o real – ser, pensar, dizer – se exprime na palavra lógos, que concentra em si os três termos. Este pensar pequenino da consciência em sua intimidade e transparência é o pensar reflexivo que se mantém igual a si mesmo.
Desta maneira, a lógica é ontologia, as leis do pensamento e da linguagem são as leis do Ser. E as leis do Ser são as do pensamento e da linguagem. Logo, esta transparência indica que pensar no que penso é igual a nada de novo, a não ser no mesmo pensado; a diferença entre o que se pensa per si e o que se está pensando em si é absolutamente nula, um nada. Ou em outras palavras, a consciência da consciência de algo é igual a consciência de algo, em sentença matemática: I (I (X)) = I (X).
Os gregos desconheciam a cisão sujeito-objeto; para eles nossos pensamentos e a racionalidade das coisas eram idênticos, assim como a linguagem e o sentido das próprias coisas são idênticos. Somos parte de um só e mesmo Kósmos, de um só e mesmo mundo, de um só e mesmo lógos.
Assim, Parmênides foi o primeiro filósofo a afirmar que o mundo percebido por nossos sentidos é um mundo ilusório, feito de aparências. Foi também ele o primeiro a contrapor a esse mundo mutável a ideia de um mundo permanente puro, isto é, sem presença de dados oferecidos pela experiência sensorial ou sensível – aparece para isso como abertura de um novo caminho, a via da verdade contra a via da opinião.
Surge a ideia de caminho correto, do caminho certo para a investigação, caminho verdadeiro: ódos, de onde nascerá a palavra filosófico-científica, por excelência, méthodos, método, caminho correto, percurso feito obedecendo a regras e normas intelectuais. Não só a sabedoria racional ou filosófica se torna o ideal novo contra o antigo ideal religioso, mas também toma o lugar da religião; para dizer aquilo que é e negar o que não é, segundo as necessidades lógicas do puro pensamento.
Em suma, deve-se considerar que a realidade que nos cerca não é, e que nós mesmos, com nossa vida mutável e nossas opiniões instáveis, não somos. Somente o Ser, em sua luminosidade pura e imobilidade perene, é.
II – A LÓGICA NO PENSAMENTO DE HERÁCLITO DE ÉFESO
Sob o ângulo de Heráclito, a missão do sábio, ou filósofo, é exatamente oposta pela concebida por Parmênides. Em vez de rumar para a pureza sublime do Ser imóvel, seguindo a exigência da Lógica da Identidade, afastado das aparências e da mudança, o sábio deveria mergulhar no Devir para conhecer sua lei. O Devir é o lógos, é o Ser, o pensar, o dizer.
Heráclito comparava a physis ou o princípio eterno que está na origem da Natureza e em suas transformações com o fogo “Este mundo, nenhum deus nem homem algum o produziu, mas sempre foi, e será um fogo eterno e vivo, que hora se acende e hora se apaga”. Para ele o fogo era o símbolo da agitação do Devir, com seus constantes altibaixos. O Devir é o movimento do mundo, ou ainda, a passagem contínua de seu estado atual ao seu contrário.
“Tudo ocorre”, dizia Heráclito, o princípio fundamental do mundo é o Devir, o movimento. A Natureza não é estática, mas sim um “fluxo perpétuo”. “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois como as águas, nós mesmos já somos outro”. Assim, para Heráclito a realidade é a harmonia entre os contrários, que não param de se transformar uns nos outros e são os que mantêm o fluxo do movimento. A contrariedade é repleta de vida e de força geradora. “A guerra é o pai de todas as coisas, o rei de todas as coisas”.
Assim, a propósito, com a Lógica I chegamos à conclusão de que pelo menos cada um de nós, per si, existe, mas acreditamos um pouco além disso, à exceção de uns poucos de fingidores cépticos, cremos que outras coisas e pessoas realmente também existam. Portanto, é válido o princípio de pelo menos dois, há o conhecimento do eu e do outro. Chamaremos este modo, contraface do pensar da identidade, pensar da Diferença, governada pela lógica do mesmo nome, ou Lógica D.
Lembramos aqui que as considerações de Heráclito representam contundentemente a expressão da Lógica da Diferença. Há a tomada da consciência da eterna luta entre Ser e Devir, o uno e o múltiplo. Porém, mais um passo é dado: coloca-se o problema de saber como o homem ou o humano se situa no interior desta guerra de contrários que é o mundo ou o Ser.
À semelhança do que foi visto no caso da lógica I, os números 1, 0, -1, são os valores próprios agora do operador D, que assim representam os seus valores de verdade. O 1 representa o verdadeiro e, por simetria, -1 representa o falso. E o zero, em uma situação intermediária entre -1 e 1, só pode mesmo representar os dois ao mesmo tempo, isto é, o sobredeterminado ou paradoxal, ou então, nenhum dos dois, o subdeterminado ou indeterminado.
Para negar o 1, o faço com o -1; na hora de negar o -1, o faço com o 1; porém para que eu negue o zero, que direi? Caso eu negue o zero com o zero estarei permitindo a proliferação do indefinido, sempre fugindo. Estarei mesmo não dizendo nada. O correto é decidir, ou por 1 ou por -1. Se negando o zero caio no verdadeiro, é porque de certo modo eu já estava no âmbito do verdadeiro, precisamente na parte do verdadeiro que era também falso, ou seja, paradoxal ou paraconsistente. Caso a negação do zero seja posta falsa, é porque o zero já se encontrava por fora do verdadeiro, porém, também aquém do falso, ou seja, indeterminado ou paracompleta.
Além de Heráclito, vão ser encontradas mais recentemente outras manifestações no sentido de uma Lógica da Diferença, em especial na sua variante paraconsistente, em Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e outros.
III – O CONFRONTO DA LÓGICA NO ELEATISMO E NO HERACLITISMO
Se a revolução parmenideana consiste na descoberta das exigências intelectuais ao pensamento e na sua identidade com o Ser, a revolução heraclitiana consiste em exigir que o conhecimento do Kósmos seja antecipado do conhecimento da alma, isto é, da natureza de uma parte do todo, parte que é de mesma essência que o todo e está submetida à mesma lei que ele. Conhecer não é somente pensar, mas também uma sabedoria prática, a prudência (phrónesis), isto é, o agir sabiamente e por virtude, pois o caráter ou a índole de alguém, aquilo que os gregos chamam éthos, é o destino deste alguém e só conhecendo nosso destino, conhecemos nosso caráter, nosso éthos, nossa alma.
Heráclito e Parmênides estão em pólos opostos. O que é Ser para Heráclito (o Devir, a lógica da diferença) é Não-Ser para Parmênides, o que é Ser para Parmênides, a identidade estável e imóvel, é ilusão para Heráclito. O que é essencial para Parmênides é o conhecimento do Ser; o que é essencial para Heráclito é o autoconhecimento do homem.
O século V a.C vê, assim, surgirem filosofias ou cosmologias que já não podiam pensar com a mesma ingenuidade com que pensavam os antecessores de Parmênides e de Heráclito, mas que não podiam aceitar a interdição eleata de investigar o mundo que vemos e no qual vivemos, pois, reduzido ao seu núcleo duro, o eleatismo se limita a conceder que pensemos e digamos apenas e exclusivamente que o Ser é e o não-Ser não é. Seria o mundo visível apenas ilusão, mera “opinião de mortais”.
IV – A DIALÉTICA PLATÔNICA
Em sua obra, Platão “encontrou” uma resolução para o impasse criado pelos pensamentos antagônicos de Heráclito e Parmênides, através de sua “nova” lógica.
Não foram poucas as vezes em que o homem se defrontou com o problema de algo que era convenientemente captado, ora pela lógica da identidade, ora pela lógica da diferença. E Platão pode ser considerado o exemplo mais antigo e famoso.
O problema de Platão era tentar descobrir como adequadamente pensar um símbolo, representando um conceito ou ideia. Ou seja, sintetizar o mesmo, mas que já é ao mesmo tempo diferente, por exemplo: o significante mesa é sempre o mesmo, embora se aplique para diversas e até bem diferentes mesas. Logo, conclui ele, relutando um pouco, que o símbolo só podia ser adequadamente pensado por um pensar conjunto da identidade e da diferença. E este pensar síntese do pensar da identidade e da diferença, veio a se chamar pensar dialético e a lógica correspondente, lógica dialética ou, simplesmente, Lógica I/D.
Assim, Platão constrói seu sistema lógico-filosófico, dando razão a Heráclito no que se refere ao mundo sensível, mutável e contraditório, isto é, na existência de pelo menos dois, lei implícita na lógica da diferença. Heráclito estaria certo no que diz respeito ao mundo de nossas opiniões, sensações e percepções: o mundo natural ou material seria o devir permanente.
No entanto, dizia Platão, esse mundo é uma aparência, é uma cópia ou sombra do mundo verdadeiro e real, e nesse, Parmênides é quem tem razão. O mundo é o das essências imutáveis (que Platão chama de mundo inteligível), sem contradições nem oposições, sem transformação, onde nenhum ser passa para seu contraditório. Mas como conhecer as essências e abandonar as aparências? Através de um método do pensamento e da linguagem chamado dialética.
Em grego, a palavra dia quer dizer dois, duplo: o sufixo lética deriva-se de logos e do verbo legin. A dialética pode ser entendida em sentido mais restrito como um diálogo ou uma conversa em que os interlocutores possuem opiniões contrárias à mesma ideia ou ao mesmo pensamento sobre aquilo que conversam. E segundo Platão, devem passar de imagens contraditórias a conceitos idênticos para todos os pensantes.
A dialética platônica entendida deste modo é um procedimento intelectual e linguístico que parte de alguma coisa que deve ser separada ou dividida em dois ou duas partes contrárias ou opostas, de modo que se conheça sua contradição e se possa determinar qual dos contrários é verdadeiro e qual é falso. A cada divisão surge um par de contrários, que devem ser separados e novamente divididos, até que se chegue a um termo indivisível, isto é, não formado por nenhuma oposição ou contradição e que será a ideia verdadeira ou a essência da coisa investigada. Partindo de sensações, imagens, opiniões contraditórias sobre alguma coisa, a dialética vai separando os opostos em pares, mostrando que um dos termos é aparência e ilusão e o outro, verdadeiro ou essência.
A dialética é um debate, uma discussão, um diálogo entre opiniões contrárias para que o pensamento e a linguagem passem da contradição entre as aparências à identidade de uma essência. Superar os contraditórios e chegar ao que é sempre idêntico a si mesmo é a tarefa da discussão dialética, que revela o mundo sensível como heraclitiano (a luta dos contrários, a mudança incessante, a lógica D) e o mundo inteligível como parmenideano (a identidade perene de cada ideia consigo mesma).
Platão trabalha com a síntese dialética generalizada. Ou seja, opera o pensamento articulando as duas lógicas fundamentais (identidade e diferença), tantas vezes quanto queira, alternando-as. Dessa maneira, a síntese dialética generalizada, formalmente, é a própria operação de identidade quando ela opera depois da diferença, sendo, entretanto, completamente inerte quando o faz antes. Vemos, portanto, que a identidade afeta a diferença, mas não o contrário; I/D tem de ficar assim mesmo interseção se tratar-se de algo novo, da identidade recuperada depois da diferença instaurada; D/I não cria nada de novo, pois a diferença após a identidade é algo que vai de si; ela podia, preliminarmente, ser diferença de outra coisa que não da identidade? Obedece ao princípio de no máximo um, ou em outras palavras: princípio do segundo excluído, pois que só admite um, isto é, a um todo a que se refere, a uma totalidade.
A dialética, em sentido mais amplo, é, pois, a lógica capaz de dar conta do que é essencialmente um, mas se diz de múltiplas coisas, como o simbólico, seja uma palavra, seja um signo pictórico. Foi justamente a lógica I/D, aquela que Platão precisou para poder pensar o simbólico, conceito ou ideia, porque é capaz de dar conta do que, ao mesmo tempo, se conserva e transforma. À semelhança do que também ocorreu com a história, na qual Hegel precisou pensar dialeticamente.
O simbólico participa do um e do múltiplo, a história do mesmo e do outro, e ambos participam do idêntico (I) e do diferente (D). É relevante ver que não se trata de uma mistura arbitrária das lógicas fundamentais, porque na síntese dialética o idêntico de origem desaparece, embora venha a ser recuperado no resultado final, que de algum modo é uno. Da mesma maneira, os que se opunham, que eram um e outro, passam agora a ser apenas um, embora deixando inoculada no uno/trino sintético a potência transformadora dos opostos.
Como já vimos, a dialética é a lógica que pensa a absoluta totalidade. Não quer dizer que aí não haja evento, não ocorram mudanças, mas estas só advêm de modo imanente, interseção força de um “motor interno”. A lógica I/D tem como valor próprio de verdade; isto é, o princípio que a governa apenas o número 1, o qual corresponde à totalidade. Para a sentença matemática H(Y) = Y, H=1.
Na dialética platônica, aquela de sentido mais restrito, na verdade é intrínseca a lógica correspondente, e a convivência dos contrários é uma tensão transformadora, geradora de movimento. Na dialética, em seu primeiro ciclo, observa-se uma posição inicial I, lugar da tese, uma posição contraposta D, lugar da antítese. A tensão entre elas se resolve ascendendo-se a uma terceira posição I/D, lugar da síntese dialética. Mas esta síntese assume simultaneamente a posição de tese, trazendo já em si o germe de sua negação, dando ensejo à abertura de um novo ciclo dialético. Com o tempo consubstancia-se uma antítese, que em confronto com a tese (antiga síntese) provocará o surgimento de uma síntese dialética, e assim indefinidamente.
A dialética é:
- A arte de conduzir uma discussão para captar as contradições e os desvios que perturbam o caminho de chegada a uma definição coerente e universal sobre uma coisa;
- O método científico para desenvolver o conhecimento por meio de perguntas e respostas; isto é, para buscar aquilo que não se sabe;
- O método para aprender intelectual e conceitualmente uma realidade, captando sua essência ou forma ou ideia;
- O método pelo qual o lógos (a razão ou o pensamento) entra em contato direto com o seu objeto, que nada possui de sensível ou empírico;
- Uma atividade que se realiza em duas etapas: a primeira, inferior, opera com as contradições das opiniões e crenças; a segunda, superior ou verdadeira dialética, opera desfazendo as hipóteses para alcançar o incondicionamento, a ideia pura, captando o lógos de uma essência, isto é, a forma ou ideia;
- Difere da matemática porque esta, além de operar hipotética e dedutivamente, opera com relações entre elementos, enquanto a dialética superior alcança a essência mesma da coisa;
- Como verdadeira dialética ou dialética superior, uma atividade que somente pode ser exercitada por aqueles que conhecem matemática, pois seu ponto de partida são as hipóteses ou proposições matemáticas (par, ímpar, linha, ponto, sólido, superfície, axioma, postulados, teoremas);
- Sobretudo, a dialética é uma técnica perfeita da alma, comparável à medicina para o corpo. Uma técnica é um saber especializado capaz de concretizar algo que existia apenas potencialmente numa coisa qualquer. A medicina é a técnica que concretiza a possibilidade de saúde para um corpo doente; a dialética é a técnica que concretiza a possibilidade do conhecimento verdadeiro para a alma ignorante. A téchne concretiza uma dýnamis. A dýnamis (potencialidade) da alma é o conhecimento; a dialética, a téchne que atualiza o que era apenas possibilidade. Por isso, a dialética difere da retórica, pois em vez de violentar a alma, opera para que se realize plenamente.
V – DA COSMOLOGIA À METAFÍSICA/ ARTICULANDO-SE AS LÓGICAS
Até aqui consideramos que a lógica tinha como missão fundamental a teorização acerca dos modos efetivos de pensar, e para ilustrar foram usados os exemplos de Heráclito, Parmênides e finalmente Platão. Começando por Parmênides, que afirmava a unidade do Ser, correspondemos à lógica I, segundo Heráclito o Devir correspondemos à lógica D e Platão que articulou ambos os pensamentos acima subsumindo a lógica I/D, ou seja, a síntese das duas lógicas fundamentais.
Todas, a rigor, são ontológicas, isto é, de estrita correspondência entre ser e pensar (lógica), enunciada no primeiro plano lógico-transcendental (I) e no lógico-dialético (I/D).
O pensamento de Heráclito fundamentado na cosmologia ocupava-se com o mundo que percebemos e no qual vivemos. Entretanto, ao introduzir a diferença entre perceber e pensar, ou seja, perceber as aparências e pensar o Ser, único e idêntico a si mesmo, Parmênides preparou o caminho para a metafísica que se consolidaria com Platão e, sucedendo-o, mais tarde, seu discípulo Aristóteles.
Portanto, para Platão conseguir pensar o símbolo era preciso revolucionar, trazendo uma lógica surpreendente: a Dialética.
BIBLIOGRAFIA:
– Morente, G., Fundamentos de Filosofia, S.Paulo, Ed. Mestre Jou, 1964
– Marcondes, D., Dicionário Básico de Filosofia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1989
– Chauí, M., Introdução à História da Filosofia, S.Paulo, Ed. Brasiliense, 1994
– Chauí, M., Convite à Filosofia, S.Paulo, Ed Àtica, 1994
– Watanabe, L., Primeira Filosofia, S. Paulo, Ed. Brasiliense, 1985
– Barbosa, M.C., As Lógicas Ressuscitadas Segundo Luiz Sérgio Coelho Sampaio, S. Paulo, Makro Books, 1998
Autor: Elisa Parente Palmeira
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