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A história da invenção da infância

Descubra como a infância foi inventada. Saiba mais sobre a forma como as crianças eram tratadas ao longo da história e como isso afetou a infância moderna. Clique aqui para obter mais informações detalhadas sobre a invenção da infância.

A história da invenção da infância

Invenção da Infância


Introdução

“SER CRIANÇA NÃO SIGNIFICA TER INFÂNCIA” (POSTMANN)

Neste trabalho, esperamos mostrar várias faces da infância, da criança e de tudo o que se passa com ela. A modernidade e a constituição dos sentimentos de infância.

Na sociedade medieval, o sentimento de infância não existia; as crianças não eram queridas nem odiadas, eram simplesmente inevitáveis.

O sentimento de infância corresponde a uma particularidade infantil, que distingue essencialmente a criança do adulto. Devido a esta não consciência, assim que a criança não mais exigia os cuidados constantes de sua mãe ou ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes.

Os novos sentimentos de infância surgiram no século XVI. A criança, por sua ingenuidade, inocência e graça, tornou-se uma fonte de relaxamento e distração para o adulto. Este sentimento ficou conhecido como a “paparicação” e se originou no seio da família.

O segundo sentimento de infância, ao contrário do primeiro, provém de uma fonte exterior à família: dos eclesiásticos ou dos homens da lei e de um maior número de moralistas no século XVII.

É entre estes moralistas e educadores do século XVII que se forma este novo sentimento de infância que inspirou toda a educação até o século XX, tanto na cidade como no campo, na burguesia como no povo.

Os moralistas recusavam-se a considerar as crianças como brinquedos encantadores. O apego à infância e à sua particularidade não se exprime através da distração e da brincadeira, mas através de interesse psicológico e da preocupação moral.

Vários autores defendem que as concepções nutridas sobre as infâncias nos últimos séculos não se aplicam mais às crianças da contemporaneidade.

Ao abordar o fim da infância nos dias atuais, Postmann defende que “a ideia de infância como uma estrutura social não existiu na Idade Média: surgiu no século dezesseis e está desaparecendo agora”.

No Brasil, país colonizado a partir de 1500, tivemos a vinda dos portugueses, que pouco valorizavam as crianças e que, ao chegarem, passaram a escravizar os índios e, tão logo puderam, trouxeram os negros com o mesmo objetivo.

O contingente majoritário de crianças brasileiras demorou muito mais do que as crianças de outros países a gozar o direito de infância. Diferentemente da história da criança feita no estrangeiro, a nossa não se distingue daquela dos adultos.

Em se tratando do trabalho infantil, a história brasileira mostra que, se nem todas as crianças não tiveram que trabalhar, pelo menos as mais pobres não puderam deixar de fazê-lo.

Hoje, continuamos com um grande número de crianças trabalhando: “em 1995, o Brasil tinha mais de oito milhões de crianças e adolescentes trabalhando. O que se confirma é que os sentimentos de infância, tão propagados na modernidade, não atingiram nem atingem todas as crianças da mesma forma. As infâncias das crianças brasileiras foram e são muitas, e se manifestam diferentemente em cada criança, dependendo da classe social e da economia à qual pertence.


1. Sexualidade Infantil

No início do desenvolvimento da criança, a libido não está diretamente direcionada à área genital, mas ligada a outras regiões, como a boca e a pele, confundindo-se com as necessidades básicas de manutenção da vida – a amamentação, o calor, o toque e o afago.

A necessidade básica de afeto é satisfeita pelo embalo do bebê e o contato com o corpo da mãe. A ternura, que cada indivíduo carrega dentro de si, é recebida da mãe desde os primeiros dias de vida, como um aprendizado de apego. Este será seu potencial para escolhas futuras, envolvendo o amor e a sexualidade.

A sexualidade saudável e satisfeita está influenciada por estes primeiros elos, que têm componentes ligados à libido e relacionados às funções básicas corporais.

O desenvolvimento da criança possibilita a vida em grupo e a descoberta da sexualidade passa a ser feita a dois, a três, a quatro. São os jogos sexuais infantis, brincadeiras com exploração do corpo e das sensações que uma criança pode proporcionar a outra. Embora atividades como correr e lutar com os colegas envolvam todo o corpo, a preocupação da família e da escola geralmente está centrada nas manifestações genitais, daí só reprimirem as brincadeiras de explícito contato genital, como as de “pai e mãe” ou de “médico”. Entretanto, a partir dos seis, sete anos, começa um período de forte identificação sexual e uma separação entre meninos e meninas (clube do bolinha e da luluzinha).


2. Saúde da Criança

Hoje, é desenvolvido no Brasil um projeto que visa unificar os procedimentos dos diversos profissionais que compõem a equipe de saúde, com o objetivo de diminuir a mortalidade infantil, sensibilizando os profissionais envolvidos nas ações básicas da saúde. Tem como objetivos específicos: promover a amamentação; reduzir a incidência das doenças evitáveis; incrementar a reidratação oral; acompanhar o crescimento e o desenvolvimento; fazer o “follow-up” dos prematuros e pacientes com agravo perinatal e observar o acompanhamento à criança desnutrida.

Com uma extensão territorial de 8,5 milhões de km² e com uma população de cerca de 160 milhões de habitantes – dos quais 16 milhões são crianças menores de 5 anos – o Brasil caracteriza-se por grandes diferenças regionais. Divide-se em 5 macrorregiões geográficas – sul, sudeste, nordeste, norte e centro-oeste – que diferem entre si tanto em relação à densidade demográfica quanto às condições sociais, econômicas e de saúde de sua população.

Dentre estas cinco, a região nordeste é a menos desenvolvida, concentrando cerca de 46% da população mais pobre do país e metade dos óbitos infantis, apesar de abrigar cerca de 1/3 da população total e 30% da população de crianças até 5 anos.

2.1. Doenças Mais Comuns

Existem doenças características da criança, principalmente em idade pré-escolar. Para combatê-las, é muito importante respeitar o calendário de vacinação logo após o nascimento. A seguir, conheça os problemas mais comuns na infância e como fazer para preveni-los:

Catapora: Catapora ou varicela é uma doença causada por um vírus do grupo herpes. Normalmente, manifesta-se por febre e pequenas “bolhas” na pele, sendo contagiosa até que todos os ferimentos estejam cicatrizados, em torno de 6 ou 7 dias. O mais provável é que seu filho tenha feito contato com uma criança portadora do vírus cerca de 2 semanas antes. Embora benigna, a catapora é muito incômoda, especialmente quando evolui com grande número de lesões na pele, que podem causar coceira, dor e dificuldades para se alimentar e/ou urinar.

Sarampo: É uma doença contagiosa, causada pelo vírus do sarampo. Devido às grandes campanhas de vacinação, as crianças que receberam as doses da vacina provavelmente nunca desenvolverão a doença, que também pode acometer os adultos. Os sintomas, em geral, são: febre, cansaço, tosse, pequenos pontos brancos na boca e na garganta e manchas vermelhas na face e corpo.

Rubéola: Embora prevenida com a vacina, é uma doença que pode ser muito perigosa. Os primeiros sintomas da doença são dor de garganta, náuseas e vômito. Após o quinto dia, aparecem lesões cutâneas, vermelhidão na pele, gânglios atrás da orelha e nuca.

Importante: nas crianças, o vírus não causa muitos danos, mas se uma mulher grávida for contaminada, há grandes chances do feto ser infectado pela rubéola congênita, causando retardo mental, lesões de pele, hepatite e até autismo.

2.1.1. E também doenças difíceis de prevenir

Diarréia: A diarréia apresenta praticamente os mesmos problemas dos vômitos: perda de líquidos do organismo e incapacidade de substituí-los, já que os líquidos ingeridos pela boca atravessam o tubo digestivo tão rapidamente que não podem ser absorvidos. Às vezes, naturalmente, os vômitos e a diarréia ocorrem simultaneamente, agravando a situação.

Febre: Trata-se de um dos sintomas mais comuns em crianças pequenas e um dos que mais causam preocupação aos pais. Mas a febre não é necessariamente prejudicial: é o modo pelo qual o organismo reage a gérmens invasores.

No caso de certas doenças, como o resfriado comum, a temperatura raramente sobe muito. No caso de outras, porém, pode ocorrer uma febre alta. Preocupe-se com a criança quando ela se mostrar muito sonolenta, tiver dificuldade em acordar, não parecer interessada no que se passa à sua volta e não quiser que ninguém a toque.

Resfriado comum: Os resfriados são doenças infecciosas, transmitidas por outras pessoas. Não são transmitidos por correntes de ar nem por sapatos molhados, nem por excesso ou insuficiência de roupas.

São causados pelos micróbios chamados vírus do resfriado. A pessoa que contrai o vírus de outra torna-se, ela própria, capaz de contagiar outras durante um dia ou dois, antes mesmo de apresentar quaisquer sintomas de resfriado – bem como um ou dois dias depois. É óbvio que, se há possibilidade de apanhar um resfriado através de contágio por uma pessoa que não dá sinal algum de estar doente, torna-se muito difícil evitá-lo.

2.2 Alimentação infantil: mudança de hábito?

O bebê deve ser alimentado com leite humano durante os primeiros seis meses de vida, na medida do possível. Para tanto, é necessário trabalhar junto à mãe desde a fase do pré-natal no sentido de apoiá-la na futura amamentação. As ações de apoio devem continuar durante os meses seguintes. É importante lembrar que a amamentação é mediada pela psiquê e que eventos mediados pelo psiquismo não podem ser prescritos, pois não dependem da vontade do indivíduo. O que se pode fazer, então, é criar situações de apoio à mãe para que amamente.

Não há dúvidas de que as relações entre mães e filhos tenham mudado; afinal, hoje a mulher (mãe) não é mais a mesma, e por conseguinte, os filhos também não são. Entre muitos dos aspectos envolvidos nesta relação, a alimentação infantil continua a ser uma grande preocupação para as mães que querem, acima de tudo, a saúde dos filhos.

E, apesar de tantas mudanças, muitas das dúvidas continuam as mesmas: preocupações com o peso, com as necessidades diárias de nutrientes, com a qualidade da alimentação ou a inapetência dos filhos. Não era e continua não sendo fácil ser mãe. Hoje, por outros motivos. Tirar a mamadeira ficou mais difícil, apresentar alimentos ficou mais difícil, introduzir uma alimentação diversificada ficou quase impossível.

O apelo por produtos industrializados é imensamente maior, o leque de produtos de consumo rápido (e qualidade nutricional duvidosa) é excessivamente convidativo, e para completar, o fast food virou programa quase que obrigatório, muitas vezes não só aos finais de semana (que pena!). Também por conta de tantas mudanças, algumas atitudes que eram certas hoje são motivos de dúvidas. Deixar ou não deixar que o filho coma doces, oferecer ou não frituras, premiar ou não com alimentos, chantagear ou não com chocolates e chicletes.

A verdade é que negar vontades infantis ficou muito mais difícil na medida em que o tempo a ser compartilhado ficou mais curto e os hábitos alimentares sensivelmente alterados. Entre “vitórias e derrotas”, ficam as questões, que por si só já são vitórias da nossa época. E, por que não lembrar e questionar um antigo ditado: “Mãe é padecer no paraíso!!!”.


3. A Função da Leitura na Primeira Infância

A leitura é também uma forma bastante rica do brincar. Os livros, desde os mais simples, trazem um número muito grande de informações à criança, em forma de figuras, cores, texturas, sons, letras, números, formas geométricas e cheiros, enfim, todo tipo de estimulação necessária ao bom desenvolvimento intelectual da criança. Além disso, cada vez mais eles trazem riquíssimas ilustrações que também estimulam a criatividade da criança.

Desde os primeiros meses, é importante colocar livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se familiarizar com eles. Às vezes não percebemos, mas os bebês têm uma capacidade muito grande de observação do mundo à sua volta, e provavelmente já terão visto o papai, a mamãe ou sua babá lendo livros ou folheando revistas, e nos surpreenderão sabendo manuseá-los muito cedo.

Os livros servem, num primeiro momento, para que o bebê tenha acesso a estímulos variados; adiante, vão servir para que escute o adulto contar-lhe histórias, que por mais simples que sejam, lhe ajudarão a começar a relacionar as figuras com seus nomes, ampliando seu vocabulário. Mais adiante um pouco, a criança aprende a conhecer a existência das letras. Aos poucos, ela vai se dando conta de que estas se juntam formando as palavras que o adulto lê, o que já é um início do processo de alfabetização. Já alfabetizadas, o livro é fonte inesgotável de conhecimento e fantasia para a criança.


4. Escola – Como preparar a criança para o primeiro dia de aula?

A entrada da criança na escola vai depender de cada família. O momento adequado para que ela inicie sua escolaridade pode variar, mas de uma maneira geral existem alguns aspectos que precisam ser citados, pois ajudarão os pais a compreender o que se passa na cabeça da criança nesta fase, facilitando o processo de adaptação. Esta fase costuma gerar sentimentos contraditórios por parte dos pais. Apesar de conscientes da escolha feita e orgulhosos por mais uma etapa cumprida, podem sentir-se inseguros e culpados por pensarem estar “abandonando” o filho na escola.

Com o passar do tempo, a confiança na escola vai se firmando e ficará mais fácil confiar o filho aos cuidados da instituição escolhida.

Da mesma forma, a criança também pode alternar a vontade de estar entre outras em um espaço lúdico e rico em materiais e novas descobertas e o medo do desconhecido, natural entre as pessoas.

Ela vai observar, atentamente, as atitudes dos pais para ter alguma referência sobre como deve se comportar. Toda a família deve se preparar para a fase de adaptação, que pode durar poucos dias ou se prolongar por mais algum tempo. Algumas dicas poderão servir nesta etapa:

  • A criança deve ser incentivada a ir à escola: a família deve falar disto com animação.
  • Devem ser evitadas longas explicações que possam gerar insegurança ou desconfiança.
  • É fundamental levar a criança para conhecer a escola antecipadamente e deixá-la se ambientar durante algum tempo, à vontade.
  • É preciso tomar cuidado com as mensagens contraditórias (como, por exemplo, oferecer recompensas pela ida à escola, tratá-lo como “coitadinho” por estar tendo que acordar cedo para sair ou outros motivos quaisquer, etc.)
  • Dar atenção aos deveres de casa de um filho é muito importante. Desta forma, os pais saberão o que a criança está aprendendo e terão mais uma oportunidade de troca com ela.
  • Será muito útil ainda perguntar as novidades na volta da escola, ajudando a fixar os aprendizados e as novas descobertas.


5. Trabalho Infantil

Erradicar o trabalho infantil é hoje um dos principais desafios no Brasil. Embora a lei proíba o trabalho de menores de 16 anos e o País tenha assinado convenções internacionais a esse respeito, estima-se que cerca de 7,7 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, continuem atuando em lavouras, carvoarias, olarias, mercado informal e ambiente doméstico.

Estima-se que haja 400 mil empregadas domésticas menores de 16 anos no País e outros milhares de jovens atuando no mercado informal, distribuindo panfletos, trabalhando com perueiros, servindo no comércio.

A maior parte desses trabalhadores precoces está no Nordeste, empregada em atividades como corte de cana-de-açúcar e fábricas de sizal.

Dadas as condições sociais que prevalecem em boa parte do País, esse não é um problema de fácil solução. Os ganhos dos menores que trabalham quase sempre representam parte substancial da renda familiar já insuficiente. Se essas crianças e jovens deixarem de trabalhar, suas famílias precisarão receber ajuda para que possam encaminhá-los para a escola.

5.1. A Importância desta questão

Além de se impor por questões humanitárias, sociais e legais, a erradicação do trabalho infantil é importante do ponto de vista das negociações internacionais de comércio, pois tem sido cada vez mais frequente a utilização, por parte dos países industrializados, do trabalho infantil nos países emergentes como argumento para justificar medidas contra os produtos exportados por esses países.

5.2. O que proíbe a lei

Em novo esforço para reduzir o trabalho infantil no Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego relacionou 81 atividades que não mais poderão ser exercidas por menores. Abaixo seguem alguns exemplos:

  • Dirigir tratores e máquinas agrícolas
  • Aplicar agrotóxicos
  • Manejar objetos cortantes
  • Colher cítricos
  • Plantar, colher ou trabalhar no beneficiamento e na industrialização de açúcar e sizal.
  • Trabalhar em manguezais e lamaçais ou em serviços que exijam mergulho, etc.

5.3 O Maior exemplo de Trabalho Infantil no Brasil: É a produção de fumo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta sobre a existência de trabalho infantil na produção de tabaco no Brasil. Segundo o relatório da OMS sobre tabaco e direito das crianças, o País é identificado como um dos casos mais sérios do uso de menores de 18 anos para trabalhar no cultivo do fumo.

Como a plantação do fumo é intensiva em mão-de-obra, as famílias acabam incluindo as crianças em todas as etapas do processo para garantir uma maior produtividade”, explica uma especialista da OMS. Segundo o relatório, no Brasil, as empresas que compram a produção de fumo dos agricultores chegaram a pedir que os horários escolares fossem mudados para que as crianças pudessem trabalhar nas plantações.

Apesar de condenar o trabalho infantil no Brasil, a quantidade de crianças no setor é alvo de polêmica. No relatório da OMS, 520 mil crianças trabalhariam no cultivo do fumo. Para o Ministério da Agricultura, esse número não está correto, já que apenas 150 mil famílias produzem fumo no Brasil. A própria OMS reconhece que pode haver um erro. Pelos cálculos, porém, se cada uma dessas 150 mil famílias tivesse 3 crianças no cultivo do produto, o número inicial da OMS não estaria longe da realidade.


6. O Menor “Na Rua” e o Menor “De Rua”

Quando se fala em “menor da rua”, frequentemente se generalizam duas populações diferentes:

  • O “menor na rua” é aquele que passa grande parte do tempo perambulando, vendendo nos semáforos, fazendo biscates, mas que ainda tem algum vínculo familiar, ou seja, tem para onde e para quem voltar, mesmo que não o faça diariamente;
  • O “menor de rua” é aquele que vive nas ruas, faz dela sua casa em todos os momentos, não preserva mais os laços familiares, a ponto de perder o contato definitivamente; organiza-se em grupos, tomando como referência alguns locais públicos como ponto de encontro, e dedicam-se a fazer biscates e pequenos furtos.

É possível, embaçados no contato e no material pesquisado, levantarmos características gerais acerca dessa população:

  • Escolhem locais de movimentos para se instalarem, pois o fluxo de transeuntes lhes permite arrecadar dinheiro de biscates e de pequenos furtos;
  • Dormem pouco e em horários flutuantes;
  • Organizam-se em bandos;
  • Não “pensam” no futuro próximo ou distante;
  • Sabem que são vistos delinquentes em potencial;
  • Deixaram a casa pressionados pela miséria ou pela violência;
  • Muitos não lembram o nome, possuem apenas apelidos;
  • Não valorizam as propriedades alheias, pois não têm desenvolvido o sentido da propriedade pessoal;
  • Desenvolvem gíria própria, muitas vezes incompreensível nos primeiros contatos;
  • Representam uma “seleção da espécie”, pois só os mais fortes sobrevivem nas ruas; e mesmo estes têm saúde precária;
  • Muitos são analfabetos ou possuem escolaridade rudimentar; são emocionalmente instáveis.

Para um dos Centros de seleção e triagem das várias instituições estaduais e nacionais responsáveis pelo bem-estar do menor, são muitas vezes submetidos a procedimentos arbitrários, independentemente de qualquer condenação, enquanto se decide o seu “caso”, o que ocorre mais para livrar a sociedade do incômodo que ele representa do que para dar ao menor uma solução verdadeira. Aí, contrariamente ao que exige a justiça, e longe de ser tutelado pela lei, o menor é considerado culpado até que se prove o contrário.

6.1. A Nova Constituição e o Problema do Menor

Com o advento da nova constituição (1998), os grupos de defesa do menor de rua preparam uma série de leis ordinárias, ao mesmo tempo que atuam as sugestões para as constituintes estaduais e municipais. Uma das insistências é para que se proteja a cidadania do menor, garantindo-lhe um defensor em caso de acusação. Ao contrário dos adultos que têm defesa contraditória (acusação e defesa), o menor está alienado a esse direito. É culpado sempre, pois não tem quem o defenda.

A estimativa é de que em São Paulo existem 600 mil crianças nas ruas; no entanto, ao contrário do que se pensa, só 3% dessa população é constituída de infratores. Estão incluídos nesse percentual menores com pequenos delitos (furtos, porte de drogas, pular catraca do metrô etc.) até aqueles com delitos graves (latrocínio, estupros, homicídios, etc.)

É comum nos delitos graves a presença de um adulto ou de um jovem coordenando a ação e que não raro pode ser identificado como alguém que se tornou infrator na infância ou na adolescência. Essa constatação confirma mais uma vez o “efeito bola de neve” da marginalidade.

Sabemos também que a internação dos infratores nos órgãos mantidos pelo estado (Funabem, Febem), onde menores que cometeram pequenos delitos convivem com menores que cometeram delitos graves, tem se mostrado eficiente em apenas um ponto: o de reforçar a permanência na infração e aperfeiçoar mais seus métodos. Ou seja, quem é internado no início da escalada sai com o repertório completo.

Eu frequentei a avenida Ipiranga desde os 13 anos e dei muita trombada. Minha turma era mesmo da pesada e hoje estão agindo na mão grande (assaltam com armas de fogo). Perdi a conta das vezes que fui e voltei da Febem, mas posso afirmar que aprendi muito com os camaradas nas unidades. Quem não sabe nada sai escolado, pronto para fazer furtos em residências, trombar no centro ou arrancar pertences dos outros.

Vários especialistas e ex-diretores da Febem, por exemplo, têm denunciado que a instituição está falida, na medida em que seu sistema pedagógico repressivo, a ociosidade, a violência e a mistura indiscriminada de internos com diferentes graus de infração propiciam a degeneração do que ainda resta de ser humano nessas crianças e adolescentes. Fator agravante também é a superlotação dos pavilhões, que facilita a promiscuidade, as sevícias e os estupros.

Muitas vezes o menor não cometeu a infração, mas acaba assumindo a responsabilidade, por coação. Os maiores obrigam os menores a assumirem o delito, sob ameaça de serem eliminados pelo bando. Isso porque, segundo nossas leis, o infrator maior de idade é responsabilizado criminalmente, e o menor é apenas encaminhado para a Febem.

O preconceito enfatiza a situação do menor de rua e do menor infrator. Destacamos aqui trechos da entrevista dada à revista Tempo e Presença, em maio de 1986, pela socióloga Maria do Pilar Costa Santos, que foi responsável pela divisão de menores infratores da Febem:

  • Qual é a origem sócio econômica desses menores?
  • Eu diria exclusivamente das classes pobres. A grande exceção é um menino de classe média ir para lá porque fez alguma coisa. Geralmente ele faz as mesmas coisas que os outros fazem, mas os outros, porque são pobres e negros, estão na Febem. Estão lá porque fumam maconha, porque foram apanhados com doses de tóxicos, ou seja lá o que for. E quantos agente sabe que foi para Argentina, Suíça, ou outro lugar. Na verdade, os que estão na Febem são infratores negros e pobres.
  • Qual é o índice de negros entre os internos?
  • Devem ser uns 95%. Negro às vezes é até menos. Agora, “cor de pobre”, aquele pardo, aí são uns 95%.
  • O que isso indica para você?
  • É o que estou dizendo. O cara é pobre e negro? Então o lugar dele é na Febem. O menino de classe média tem a Vara de Família para resolver os seus problemas quando os pais estão se separando; o pobre tem a delegacia de polícia.

E tem outra questão: o menino branco de classe média passeia; o negro e o pobre perambulam. Agora, quem é que perambula? O pobre, o desprezado. O outro passeia pela rua todo arrumado. O que significa isso? Significa a presença acentuada do preconceito de classes mesmo.

Fecha-se aqui o círculo da marginalização. A continuidade poderá ser constatada nas penitenciárias e casas de detenção. Fora, geralmente ficam filhos que, na maioria das vezes, darão continuidade à tragédia dos pais.

” A criança é a mais rica matéria-prima. Abandoná-la à própria sorte ou desassistí-la em suas necessidades de proteção e amparo é crime de lesa-pátria”.

É dever de todos recuperar para a sociedade os menores que o destino marginalizou, para fazer deles cidadãos prestantes e homens e mulheres úteis ao Brasil. Negar-lhes a nossa solidariedade humana, patriótica e cristã é uma irreparável traição nacional.” (Tancredo Neves – 23/09/83)

Ainda em relação ao menor infrator, vale citar a tentativa de reabilitação de jovens egressos da Febem por parte da própria fundação no Programa LA (Liberdade Assistida), que tem um congênere na Pastoral Ecumênica do Menor, a LAC (Liberdade Assistida Comunitária). Os dois projetos visam, através da atuação de um casal responsável e do apoio da comunidade, integrar o menor infrator no mercado de trabalho, estimulá-lo num processo escolar compensatório e acompanhá-lo emocional e educacionalmente, com vistas a uma vida produtiva e sociável. Em geral, esse difícil trabalho conta ainda com a complicada dependência de tóxicos, componente frequente do perfil só infrator.


Considerações Finais

Tendo em vista as pesquisas/estudos apresentados, o grupo chegou à conclusão de que hoje em dia existem muitas crianças que não possuem infância, existe muita falta de amor no mundo, muitas poucas pessoas dão bola para o “Ser criança”, nem todo mundo tem a oportunidade de frequentar uma escola, de fazer uma refeição digna e morar em um lugar limpo, que eles possam chamar de “LAR”. O objetivo do nosso trabalho foi tentar mostrar uma visão geral de todos os assuntos ligados à “criança”, para tentarmos de alguma maneira conscientizar o homem de hoje (nós Pedagogos) de qual seria o verdadeiro significado de “Infância”.

Pois com o rumo que as coisas estão seguindo, fica difícil manter equilíbrio emocional-físico-mental diante desta realidade. Imagina se para nós, ditos “privilegiados”, já é difícil assim, o que resta então para os que não possuem oportunidade de crescer dignamente.

Entendemos também que os métodos e projetos utilizados hoje no Brasil e no Mundo fazem parte de um todo, o qual procura levar à pessoa a buscar um contato mais direto com a criança, dando-lhe mais atenção e assim torná-lo mais sensibilizado, encontrando desta forma a melhor maneira de preservar o pouco que ainda resta de Respeito e Solidariedade dentro de cada ser humano.

Então, concluindo nosso raciocínio, a melhor maneira de um ser humano crescer tranquilo e com dignidade seria o AMOR, a busca constante de bem-estar. Então cada um é livre para simplesmente nos ouvir, ou quem sabe nos ajudar.

Foi um trabalho muito interessante, pois nos mostrou outra realidade, uma realidade que às vezes não queremos ver.


Bibliografia

1) O Ciclo Vital – Lifespan Development

Helen Bee – Ph.D Stanford University

Tradução de Regina Garcez

Editora Artes Médicas Sul Ltda.

Poa/1997

2) Site: www.fundabrinq.org.br

3) Site: www.missaocrianca.org.br

4) Site: www.icr.hcnet.usp.br

5) Site: www.rebidia.org.br/pastoral

6) Site: www.crianca-sa.org.br

7) Almanaque Abril 2002 e 2003

  • Instituição: Ulbra Canoas
  • Autor: Jeanine Costa Godoi


Pedagogia ao Pé da Letra
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