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Atualizado em 10/08/2024

Desenvolvimento do Pensamento na Educação Infantil através da Filosofia

Aprenda os conceitos básicos da filosofia para melhorar o desenvolvimento do pensamento na educação infantil. Descubra como os princípios das discussões filosóficas podem ajudar a preparar as crianças para um futuro de sucesso. Confira agora!


A FILOSOFIA E O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
1. O QUE É FILOSOFIA E QUAL SUA UTILIDADE NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
1.1. O QUE É A FILOSOFIA?
1.2. COMO NASCEU A FILOSOFIA?
1.1.2. Mito e filosofia
1.3. PHILOS E SHOFIA
2. CONTEXTO HISTÓRICO DA PEDAGOGIA NA GRÉCIA CLÁSSICA
2.1. INTRODUÇÃO
2.2.1. Etimologia da palavra pedagogia
2.2.2. Passagem da cultura dos nobres guerreiros para cultura das letras
2.2.3. A educação de Esparta
2.2.4. A educação de Atenas
3. CAPACIDADE E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1. PIAGET E A TEORIA DA PSICOGENÉTICA
3.1.1. Estágio pré-operatório
3.2. VYGOTSKY E O SOCIOINTERACIONISMO
4. A FILOSOFIA COMO VEÍCULO PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA

INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 impôs a necessidade de um novo olhar à infância, bem como a concretização de novas ações das instituições de educação infantil em razão do reconhecimento da criança como sujeito de direitos e da importância da educação infantil no desenvolvimento do ser humano.

Partindo da necessidade de se criar mecanismos que desenvolvam nos educandos o gosto pelo saber, pela descoberta, pela leitura, questionei-me quanto a partir de quando, de qual idade esse fato era relevante na educação de nossas crianças.

A maioria das pesquisas analisadas diz que essa questão deve ser refletida e aplicada desde a educação infantil, mas de que modo está sendo feita? Como nossas crianças estão chegando ao ensino fundamental?

Pensando nisso, atentei-me para o fato de a filosofia ser uma poderosa ferramenta no desenvolvimento dessas habilidades, uma vez que se traduz em toda produção de pensamento e seus conceitos nos colocam em condição de pensadores críticos e reflexivos, o que nos leva à posterior autonomia.

Uma das diretrizes propostas pela política nacional de educação infantil baseia-se no seguinte princípio: O currículo de educação infantil deve levar em conta, na sua concepção e administração, o grau de desenvolvimento da criança, a diversidade social e cultural das populações infantis e os conhecimentos que se pretendem universalizar.

Sendo a filosofia um poderoso veículo de desenvolvimento do pensamento, porque não se valer dela desde os primeiros anos da educação infantil? Será que de alguma forma esse fato e essa nova modalidade de aprendizagem no currículo não modificaria o quadro do ingresso e permanência de nossas crianças no ensino fundamental?

Os resultados de avaliações como SARESP, SAEB e PROVA BRASIL têm mostrado como nossas crianças têm dificuldades em produzir e interpretar até os mais simples textos, situações problemas, entre outras, e as pesquisas mostram que dominar esse tipo de conteúdo seria fundamental para o bom desempenho nos demais campos de atividades.

Com toda minha experiência de sala de aula, vejo que há entre nossas crianças um desinteresse muito grande pelo conhecimento, não existe gosto pelo saber, não existe esforço em entender. Vivemos em uma cultura em que as gerações de agora querem tudo pronto, tudo na mão. Se existe esforço em compreender, logo desistem, às vezes, sem ao menos tentar. A criança lê a proposta feita pela professora e, ao invés de pensar e refletir sobre como resolver, quer também que a professora responda o que e como deve fazer.

Esse quadro e as reflexões sobre o tema me levam a crer que o exercício da inteligência deve ser um hábito que deve ser praticado desde muito cedo, para que quando nossas crianças chegarem ao ensino fundamental, elas já tenham familiaridade e gosto pelo saber, pelo pensar, o que auxiliará em suas descobertas, autonomia e exercício da cidadania. Essa monografia é um convite a uma nova descoberta, a reflexões e pensamentos por um caminho pouco desvendado na tentativa de encontrar uma solução possível dentro de um campo das ciências humanas até agora explorado apenas por outros níveis de ensino, pois pouco se tem dele na educação infantil.

1 O QUE É FILOSOFIA E QUAL SUA UTILIDADE NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

É a inteligência que vê, é a inteligência que escuta, todo o resto é surdo e cego. Epicarmo

Para começarmos toda essa nossa pesquisa, utilizaremos a filosofia como suporte que proporcionará questionamentos que serão úteis para o desenvolvimento cognitivo. Poderíamos definir filosofia dessa forma, como uma faculdade pela qual tende a manter viva a curiosidade da infância. Quando se pensa em filosofia, logo vêm àquelas recordações da criança que não cessam de admirar e de se espantar diante de um mundo que parece renascer novo a cada aurora.

1.1 O QUE É A FILOSOFIA?

O que é a filosofia? É uma palavra complexa, não é fácil responder a uma simples pergunta. Temos em mente que todas as atividades da razão ou do espírito têm seu objeto determinado do qual se ocupam, ou melhor, ser plenamente realizado. Para melhor compreensão, vemos que a astronomia tem por finalidade estudar os corpos celestes; a biologia se encarrega dos organismos vivos; a sociologia tende aos estudos dos grupos sociais. Agora voltamos àquela velha questão que nos intriga: qual é o objeto da filosofia?

Por ser tão abrangente, não seria melhor começarmos dizendo o que não é o objeto da filosofia, pois, se reduzimos a filosofia aos nossos dados sensitivos ou algo particular, não estaríamos reduzindo-a à experiência?

Quando falamos da experiência em relação à filosofia, queremos dizer o seguinte: tudo o que presenciamos por meio da experiência não somente como particular, mas ainda como lei universal, é objeto das diversas ciências. Para que esse argumento fique claro, é bom falarmos que a filosofia considera todos os objetos da experiência, o que acontece é que ela não se limita à experiência. A filosofia é muito mais um modo diverso e inconfundível de entrar em contato com a experiência, é uma tentativa de ultrapassar a experiência imediata, para colher algo maior e mais aprofundado.

Como foi falado da relação da filosofia com a experiência, vale lembrar que os primeiros filósofos eram considerados como cientistas, porém, sempre tiveram a consciência de que a filosofia vai muito além dos dados empíricos.

Sobre este assunto, Parmênides vai contrapor a via experiência, mutável e falaciosa, à via da razão, verdadeira e estável. Todavia, em Parmênides, fazer filosofia significa refutar, ou melhor, destruir com argumentos incontestáveis as afirmações da experiência:

Conseqüentemente, o ser é também imutável e imóvel, porque tanto a mobilidade quanto a mudança pressupõem um não-ser para o qual deveria se mover ou no qual deveria se transformar. Assim, o ser de Parmênides é todo igual, pois o ser se amalgama como ser, sendo impensável um mais de ser ou um menos de ser, que pressuporiam uma incidência do não-ser.

Como vimos, Parmênides exagera a tal ponto o contraste entre experiência e filosofia que sua filosofia não será capaz de explicar a experiência. Todavia, Parmênides considera que o conhecimento filosófico é sempre meta-empírica. Ou seja, para a filosofia, ultrapassa todo conhecimento que é fornecido pela experiência.

Em Sócrates, iremos entender a filosofia como introspecção. A sua definição exprime-se no famoso lema “conhece-te a ti mesmo”, isto é, torna-te consciente de tua ignorância, como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou daimonion.

Segundo Reale, o daimonion socrático era a voz divina que lhe vetava determinadas coisas: ele o interpretava como uma espécie de sortilégio, que o salvou várias vezes dos perigos ou das experiências negativas. Cabe-me fazer isto, fazer filosofia e exortar os homens a cuidarem da alma.

Conhece-te a ti mesmo, lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objeto de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.

Em Platão, a filosofia tomará novo rumo, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela filosofia e pela política. Todo seu pensamento irá respaldar nas necessidades do Estado. Para Platão, a vida de Atenas é a prova viva do que mostrava Sócrates ao denunciar, com suas perguntas, o falso saber dos homens, sobretudo no que se refere aos valores humanos. A respeito desse questionamento, Platão irá escrever sua obra magna, A República, nessa obra o autor descreverá o modelo perfeito de Estado e qual sua finalidade com aqueles que dela fazem parte, como se percebe em Platão, fica clara sua preocupação com as leis de sua época.

Em meio a essas críticas onde circulavam os sofistas, Platão diz que a verdadeira filosofia recusa a solução dos sofistas, para os quais a justiça e a injustiça não passam de convenções. Suas indignações a respeito dos sofistas estavam relacionadas às suas lições que tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade de discursos primorosos, porém, vazios de conteúdo. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seriam utilizados na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Assim como Sócrates, Platão diz que a finalidade da filosofia não é enganar e tão pouco obter status, é antes de tudo, formar cidadãos equilibrados capazes de distinguir o bem do mal.

Por fim, em Aristóteles, a filosofia estará relacionada à ciência filosófica da realidade. Isso fez com que, para Aristóteles, a palavra filosofia fosse, mais que o nome de uma ciência, o título de um problema. Por isso, chamou Aristóteles a filosofia de epistéme, a ciência que se busca. Aristóteles parte da ideia de que a filosofia há de ser um saber teorético. Sua busca está voltada para o caráter racional que há de adotar esse saber teorético que a filosofia já vinha sendo. O que busca formalmente é, pois, sua forma racional.

Nesse ponto, Aristóteles reafirma claramente que não apenas cada um de nós é alma, mas também é a parte mais elevada da alma. Se a alma racional é a parte dominante e melhor, parece que cada um é, sobretudo, intelecto. Assim, Aristóteles eleva os valores da alma como valores supremos que são depositados na filosofia por via da razão.

Segundo (LÚCIA & HELENA), é a filosofia que dá distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade; retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la.

Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a situação dada e não escolhida. Pela transcendência, o homem surge como ser de projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino. Apesar de tantas definições para a filosofia, o seu principal objeto que é comum é a verdade que do grego Aletheia e do latim Veritá.

Diante de nossa pesquisa, o que ficou claro é que antes de qualquer coisa o filósofo é, portanto, o amante da sabedoria. Se temos o amante que vai de encontro à sabedoria, desde então ocuparemos nossos olhares ao nascimento da filosofia.

1.2 COMO NASCEU A FILOSOFIA

1.1.2 Mito e filosofia

O mito foi a primeira explicação que os gregos utilizaram para dar nome à existência das coisas no universo, seus fundamentos estavam baseados nas narrativas mitológicas. Mesmo que a linguagem mitológica tenha sido superada diante do pensamento filosófico grego, na passagem da descrição mitológica para descrição racional, o mito penetrou narrativo, ou seja, constatamos em muitos autores que a forma que se encontra para descrever a realidade ainda é voltada ao conhecimento da mitologia como explicação, seja ela na filosofia, na religião ou até mesmo nas ciências. Vejamos esta definição:

A mitologia exprimia na forma divina e celestial todo conjunto de relações, quer dos homens entre si, quer entre si, quer entre o homem e a natureza. Assim como os deuses são criadores do mundo, o rei é o criador da ordem social, o regulador do ciclo da natureza. O universo divino, as relações sociais e o ritmo da natureza confundem-se, submetidos ao comando do rei. Por isso, a mitologia apenas narra a secessão de fenômenos divinos, naturais e humanos. Ela os explica, pois a explicação já está dada pelo poder real.

Portanto, na passagem do mito à razão há continuidade no uso comum de certas estruturas de explicação. Embora existam esses aspectos de continuidade, a filosofia surge como algo muito diferente, pois resulta de uma ruptura quanto à atitude diante do saber recebido. Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. Embora no mito todo esse cenário tende a dar uma outra explicação, a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos.

Por fim, observamos que o desaparecimento do rei divino altera esse cenário. A polis surge como criação da vontade humana. Os acontecimentos do mundo, antes considerados realizações dos deuses, perdem a base de compreensão. Tornam-se problemas. Para resolvê-los, o homem deve servir-se do meio que ele próprio desenvolveu ao criar a polis: logos, a razão.

1.3 PHILOS & SOFHIA

Quando se dá a passagem da consciência mítica para racional, aparecem os primeiros sábios que do grego têm por nome sofhos. O filósofo Pitágoras do século VI a.C. e também matemático, usou da palavra filosofia (fhilos e sofhia) para dar significado amor à sabedoria. A respeito da palavra filosofia, Pitágoras dá exemplo interessante quando compara a filosofia aos jogos que eram praticados na Grécia. Em sua comparação, ele diz o seguinte:

Alguns aspiravam à glória e ao nobre prêmio de uma coroa com os exercícios do corpo; outros eram levados pelo desejo de obter ganhos vantajosos com as vendas e compras; havia também certo tipo de homens, os mais nobres, que não buscavam aplausos ou lucros, mas vinham somente para ver e observar com esmero tudo o que se fazia e de que modo era feito.

Assim também nós, que chegamos, por assim dizer, de outra cidade a um mercado aglomerado, nesta vida como se de outra vida, alguns tornamo-nos escravos da glória, outros, do dinheiro; há, porém, alguns que têm estas coisas em pouca conta e estudam amorosamente a natureza. Pitágoras chamava a esses de amantes da sabedoria, isto é, filósofos: e como nos jogos o sinal de nobreza consistia em ser espectador sem buscar qualquer vantagem, assim também na vida a contemplação e o conhecimento da natureza superam de longe todas as outras ocupações.

Em sua definição, o filósofo é, portanto, aquele que almeja a sabedoria, ou melhor, amante da sabedoria. O trabalho filosófico é essencialmente teórico, mas isso não significa que a filosofia esteja à margem do mundo, nem que constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado, com determinado conteúdo, ou que seja um conjunto de conhecimentos estabelecidos de vez por todas. Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a capacidade de problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como sua busca.

Aristóteles intuiu que a filosofia significa ver, conhecer desinteressadamente, anterior e independente de toda ação. Talvez nossa época esteja muito distante de tal modo de compreender a filosofia, dado que avalia e valoriza tudo em termos de ação e de utilidade. Mas a filosofia não pode adaptar-se a essa prevalência e preponderância da prática, sem que anulem a si mesma. Ser filósofo significa reconhecer o primado do teórico sobre o prático, mas primado não significa exclusão. A filosofia é um saber que não exclui a ação, antes a requer, guia e ilumina. Fica claro que o desinteresse do filósofo, de resto, não é um pressuposto, mas um resultado. Somente com exercícios constantes, o filósofo consegue se elevar acima das preocupações contingentes e dos cálculos utilitaristas.

2. CONTEXTO HISTÓRICO DA PEDAGOGIA NA GRÉCIA CLÁSSICA

2.1 INTRODUÇÃO

Para darmos embasamento ao que é pedagogia, nada melhor que nos adentrarmos sobre o alicerce da educação da Grécia, pois, ao penetrarmos nossa pesquisa, veremos que na educação da Grécia houve diversas formas de representação. Em nosso primeiro passo, diante da pesquisa bibliográfica, verificaremos que a pedagogia percorreu diversos caminhos em sua forma de ser aplicada. Alguns utilizavam para guerra, outros para música, mas seu auge maior foi quando a pedagogia voltou-se para assuntos da polis (Cidade). A Grécia é considerada como o berço da pedagogia.

Portanto, neste capítulo iremos desvendar qual a importância da pedagogia na formação do povo grego e as contribuições que ela trouxe até os dias de hoje. Para melhor compreendermos, veremos a etimologia da palavra no seguinte tópico.

2.2.1 Etimologia da palavra pedagogia

A palavra pedagogia é de origem grega (Pedagogia), em sua raiz tem como essência a arte de guiar a criança, assim era denominada pelos gregos. Ao darmos continuidade à nossa pesquisa, nos deparamos que ela também tem sinônimo de ciência da educação. Para aprofundarmos ainda mais, percorremos nossos olhares no dicionário, vejamos como é abrangente a palavra pedagogia:

  • Teoria e ciência da educação e do ensino
  • Conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático
  • O estudo dos ideais de educação, segundo uma determinada concepção de vida, dos meios (processos e técnicos) mais eficientes para efetivar estes ideais
  • Profissão ou prática de ensinar

Como podemos observar, o fenômeno da educação é essencialmente humano, e isso se dá devido à especialização, ou melhor, pelas vias da aprendizagem, e é aí que entra a função do pedagogo, pois, na cultura grega, o pedagogo tinha como princípio conduzir a criança a refletir desde já sua importância enquanto ser humano, por isso era necessário no desenvolvimento intelectual da criança.

Além do conhecimento, o trabalho do pedagogo é fazer com que a criança comece a criar a característica do seu eu, o eu é que nos remete ao mundo exterior, ou seja, ao mundo das experiências. É então nesse momento de formação que a criança, em companhia do pedagogo, vai desenvolver sua personalidade de acordo com sua evolução e maturidade para o anseio da sociedade. Para aprofundarmos ainda mais, vejamos o que esta citação tem a nos dizer:

A pedagogia é uma teoria que objetiva refletir sobre sistemas e procedimentos de educação. Sem dúvida, a pedagogia é uma ciência do homem, mas possui um âmbito específico, diferente das outras ciências, trata-se da educação do homem. É uma ciência autônoma, embora requerendo um aporte interdisciplinar. Entre todas as disciplinas, a filosofia é a que mais contribui à ciência pedagógica.

Refletindo sobre a citação acima, podemos perceber que o problema da pedagogia está envolto ao sistema de educação. A preocupação é como deve ser aplicada no cotidiano da criança, como ciência do ser humano, ela tem uma particularidade que a difere das demais ciências, por estar em contínuo desenvolvimento na formação educacional do homem. Sendo uma ciência autônoma, a pedagogia ainda abrange as demais ciências, desse modo acaba adquirindo um suporte interdisciplinar.

Na adversidade das ciências, é na filosofia que a pedagogia vai encontrar uma amiga para seu desenvolvimento como ciência pedagógica.

Como ciência educacional, a pedagogia abrange três aspectos fundamentais: pessoal, social e cultural. A finalidade educativa consiste, em primeiro lugar, na realização da personalidade entendida como afirmação da individualidade e originalidade de cada um e também, na capacidade de participação na vida social. Dando continuidade sobre a história da pedagogia, no tópico seguinte iremos ver os dois modos de educação que eram empregados nas cidades de Esparta e Atenas.

2.2.2 Passagem da cultura dos nobres guerreiros para cultura das letras

Todo conceito de educação pelo qual podemos dizer (pedagogia-professor-escola) só se desenvolveu plenamente no período helenístico que vai do século III ao II Antes de Cristo. A passagem da cultura dos nobres guerreiros para a cultura dos letrados se deu quando a educação tornou-se parte da orientação na formação intelectual do sujeito que fazia parte da polis. Mas é bom lembrar que o papel militar não tenha sido deixado de lado, o que aconteceu é que ele apenas passou a ter papel mais reduzido.

A Grécia achava-se dividida em Cidade-Estado, das quais as mais conhecidas são as antagônicas Esparta e Atenas.

2.2.3 A educação de Esparta

Esparta ocupava o fértil vale do rio Eurotas, na região da Lacônia ao sudeste da península do Peloponeso. No século VII a.C, Esparta travou uma guerra com Missênia. Essa guerra teve por motivo básico o desejo de Esparta de se apoderar das terras férteis dessa região, que eram as melhores de todo o Peloponeso. Além dessa conquista, Esparta, em sua forma ainda rude, começa a perceber a importância da educação na formação dos seus guerreiros. Vejamos como essa educação surgiu de início em Esparta:

Por volta do século IX, o legislador Licurgo organiza o Estado e a educação. De início, os costumes não são tão rudes, e a formação militar é entremeada com a esportiva e a musical. Com o tempo e, sobretudo no século IV a.C., quando Esparta derrota Atenas, o rigor da educação se assemelha à vida de caserna.

Diante da citação acima, podemos perceber o quanto a educação vai tomando parte da linguagem do povo de Esparta. É nesse período de transição que a educação vai-se tomando gosto, até os sete anos a criança fica sob tutela dos seus pais e, depois desse período, a criança não fica mais na tutela da família. A partir de então, toda educação passa a ser responsabilidade do Estado. É a partir daí que entra o papel do pedagogo na formação da criança para as necessidades do Estado.

2.2.4 A educação de Atenas

Atenas passou pelo mesmo processo que Esparta em suas fases de desenvolvimento; enquanto Esparta se deteve na fase guerreira e autoritária, Atenas priorizava a formação intelectual, sem deixar de lado a educação física, que não fica reduzida apenas a uma simples destreza corporal, mas que, além do mais, se debruçava nas preocupações morais e estéticas.

As escolas

As escolas eram, na maioria, estabelecimentos particulares que forneciam uma instrução básica que tinha, de forma geral, um aspecto mais artístico que literário e mais esportivo que intelectual.

A educação física

A educação física, com o desenvolvimento da polis, depois que a guerra passou a não ser uma forma interessante da aquisição de bens e exercício de poder por implicar muitos riscos. Nem por isso a sociedade perdeu o seu caráter guerreiro. Ocorreu uma transposição da glória antes obtida no campo de batalha para a glória obtida na prática dos esportes. Só que essa glória deixou de ser individual e tornou-se coletiva, da polis.

Dessa forma, a educação física passou a ocupar espaço privilegiado na educação da criança e do jovem, tendo em vista que os preparava para as disputas (atletismo, boxe, corrida etc.). Nesta fase, o responsável era o pedótriba, o treinador de crianças, quem orientava o exercício dessas atividades.

A importância da música

Paralelamente à prática do esporte, era cultivado outro elemento, mais espiritual e intelectual, de suma importância na educação do homem grego: a música. A casa do citarista, o mestre de música, era um outro local necessariamente frequentado pelos jovens aprendizes – aspecto um tanto curioso, uma vez que as imagens mais difundidas dos gregos antigos são as de políticos e filósofos.

A escrita

Além do pedótriba e citarista, havia também o gramático, aquele que ensinava as letras. Pode-se questionar, entretanto, como havia uma cultura literária se a escrita tinha surgido tão recentemente (na época arcaica, VIII a.C.) depois de um longo período de obscuridade.

Como vimos na primeira parte de sua cultura, Atenas aparece com forma simples de escola e a educação deixa de ficar restrita à família. Só a partir dos sete anos é que começava a educação propriamente dita, que compreendia a educação física, a música e a alfabetização. O pedótriba era o responsável por orientar a educação física na palestra onde os exercícios físicos eram praticados.

3. CAPACIDADE E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Vimos nos capítulos anteriores como se deu a evolução do pensamento filosófico na Grécia antiga até o surgimento da pedagogia e a criação das escolas. Toda essa reflexão anterior nos auxiliará a compreender melhor o contexto da educação atual e a aplicação da filosofia no cotidiano escolar, mais especificamente na educação infantil. Vejamos o que o autor Matew Lipman, em interpretação ao livro VII da obra A República de Platão, tem a nos dizer:

Pode-se prontamente conjecturar, portanto, que Platão estava condenando no livro sétimo da República não era a prática da filosofia pelas crianças enquanto tal, mas a redução da filosofia aos exercícios sofísticos na dialética ou retórica, cujos efeitos sobre as crianças seriam particularmente devastadores e desmoralizantes.

Ainda nessa página, o autor diz que Sócrates jamais estabeleceu um limite de idade para se fazer filosofia, uma vez que a idade não é impedimento desde que exista habilidade em refletir corajosamente sobre o que se considera importante.

Para descobrirmos como trabalhar com a referida habilidade no ser a ser educado, precisaremos antes de um olhar atento sobre as teorias de Piaget e Vygotsky, no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo das crianças, para assim compreender o modo como se dá o desenvolvimento da inteligência e aquisição do conhecimento nessa faixa etária e assim utilizar a filosofia como ferramenta de intervenção no desenvolvimento do pensamento. Para tanto, faremos uma breve reflexão sobre a história da educação infantil e da criança enquanto cidadão de direitos até os dias atuais.

Para compreender a importância da educação infantil na formação cidadã da criança e na construção de uma sociedade democrática, é preciso antes um olhar voltado para a questão histórico-social e o contexto no qual se deu essa passagem evolutiva.

A criança antigamente era vista como um adulto em miniatura. Ao observar pinturas e contextos históricos, fica evidente em seus trajes e maneiras de se comportarem representadas pelas telas, como eram vistas e o que lhes era cobrado em termos de educação. Nas pinturas dos séculos passados, as crianças são representadas com trajes como os dos adultos, em ocasiões em que eles estavam e se portavam como tais, logo lhes era cobrado e esperado que tivessem comportamento de adulto.

Segundo Kramer, a ideia de infância aparece com a sociedade capitalista urbano-industrial, quando se modifica o papel social desempenhado pela criança na comunidade. Segundo a autora:

A ideia de infância não existiu sempre e da mesma maneira. Ao contrário, ela aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que se mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo, assim que ultrapassava o período da alta mortalidade, na sociedade burguesa, ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma atuação futura.

Esse conceito de infância é, pois, determinado historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade.

Até chegar a essa concepção de infância, a criança, a mulher e a família passaram por várias transformações sócio-históricas, ocorridas entre os séculos XVII e XX. Junto com essas modificações, foi criado o ordenamento legal que rege a educação infantil, a Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 1990), a Lei Orgânica da Assistência Social (1993) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei 9.394/96 que trouxe contribuições à prática pedagógica, uma vez que mudou toda a visão que se tinha de criança e, consequentemente, de educação para essa faixa etária que até então era apenas assistencialista. O fato de a criança ter passado a ser vista como cidadã de direitos e capacidades mudou toda a concepção que se tinha a respeito das necessidades dessa faixa etária e a regulação desse direito proporcionou a especialização nessa área, aprimorando-se as práticas e as instituições, possibilitando assim o desenvolvimento integral da criança, além da proteção e assistência.

Analisando ainda toda essa passagem sócio-histórica-evolutiva que se deu até chegarmos à concepção que se tem de criança hoje, veremos ainda que muitos foram os teóricos que contribuíram para essas mudanças, dentre eles estão João Amós Comênio (1592-1670), Jean Jacques Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), Friedrich Froebel (1782-1852), criador dos jardins de infância, Ovide Decroly (1871-1932) que defendia um ensino voltado para o intelecto, uma educação para o pensar, Jean Piaget (1896-1980) e Lev Semenovich Vygotsky (1896-1943), esses dois últimos, objeto de nossa pesquisa pelo campo da aquisição do conhecimento.

3.1 PIAGET E A TEORIA PSICOGENÉTICA

Jean Piaget foi um biólogo suíço, nasceu em Neuchâtel no dia nove de agosto do ano de 1896.

Pesquisou o processo de aquisição do conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança, desenvolvendo uma teoria do conhecimento conhecida como teoria da epistemologia genética, em grande parte, baseada em estudos e observações dos próprios filhos.

Piaget organizou em fases e estágios o desenvolvimento e o processo de aquisição do conhecimento pelas crianças e sua teoria foi revolucionária no estudo do pensamento e da linguagem nas crianças.

Até Piaget, todos os estudos feitos a esse respeito eram para apontar dificuldades e deficiências do raciocínio infantil em comparação com os dos adultos. Piaget concentrou-se nas características distintivas do pensamento das crianças, naquilo que elas têm e não naquilo que lhes falta.

Vygotsky faz menção a esse fato em Pensamento e Linguagem. Vejamos:

A psicologia deve muito a Jean Piaget. Não é exagero afirmar que ele revolucionou o estudo da linguagem e do pensamento das crianças. Piaget desenvolveu o método clínico de investigação das ideias infantis, que vem sendo amplamente utilizado desde a sua criação. Foi o primeiro pesquisador a estudar sistematicamente a percepção e a lógica infantis; além do mais, trouxe para o seu objeto de estudo uma nova abordagem, de amplitude e ousadia incomuns.

Como vimos na citação acima, a obra de Piaget é de suma importância para esse trabalho e para qualquer outro que tenha como um de seus objetivos analisar o processo de aquisição de conhecimento das crianças. Para seguirmos adiante no tocante a desvendar esse tema, é necessário conhecer e refletir sobre a teoria desse importante teórico para que tenhamos bases sólidas para interpretar e compreender o contexto e a situação da criança da educação infantil e assim saber o que e como a criança pode aprender e se desenvolver.

Piaget dividiu o processo pelo qual se dá a aquisição do conhecimento primeiramente em quatro estágios, são eles:

  • Sensório-Motor (de 0 a 2 anos) Quando a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas para assimilar o meio. Nesse estágio, sua inteligência é prática e as noções de tempo e espaço são construídas pela ação. Sem representação ou pensamento, seu contato com o meio é direto e imediato.
  • Pré-Operatório (de 2 a 7 anos) Também chamado de estágio da Inteligência Simbólica, se caracteriza pela interiorização de esquemas de ação construídas no estágio anterior. Nesse período, a criança é egocêntrica e pode agir por simulação. Como ela não aceita a ideia do acaso, tudo deve ter uma explicação (é a fase dos por quês). Apesar de possuir percepção global, como ainda não consegue discriminar detalhes, se deixa levar por aparências, sem relacionar fatos.
  • Operatório-Concreto (de 7 a 11 anos) Ocorre o desenvolvimento das noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, etc. A criança é capaz de relacionar aspectos diferentes e abstrair dados da realidade. No entanto, ela não se limita à representação imediata, já que ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração.
  • Operatório-Formal (de 12 anos em diante) Nesse estágio, a representação não se limita ao imediato, nem às relações previamente existentes. Isso permite a abstração. A criança é capaz de buscar soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade, o que comprova que suas estruturas cognitivas alcançaram o nível mais elevado de desenvolvimento e se tornaram aptas para aplicar o raciocínio lógico em todas as classes de problemas.

Como vimos na síntese acima, Piaget descreve em sua teoria cada um dos estágios pelos quais passa a criança até o desenvolvimento completo de seu pensamento, mas essa pesquisa voltará seu olhar mais cuidadoso para apenas um desses quatro estágios, o pré-operatório, o qual se refere à faixa etária a ser trabalhada, no caso a educação infantil e o período, segundo a teoria da psicogenética, que tornaria possível trabalhar a filosofia com as crianças.

Ainda nesse trabalho de Piaget, há referência sobre o processo de aquisição de conhecimento, que se dá através de uma concepção construtivista da formação da inteligência. A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, ao provocarem desequilíbrios, resultam em acomodação ou assimilação, que por sua vez geram a construção de esquemas ou conhecimento. Dessa forma, sempre que o equilíbrio é rompido, o indivíduo age sobre o que o afetou, para se adaptar e se organizar, visando o reequilíbrio. No caso de uma criança, quando ela não consegue assimilar um estímulo, há uma tentativa de acomodação e, após, uma assimilação que restabelece o equilíbrio.

3.1.1 Estágio pré-operatório

Para entendermos como será possível utilizar-se da filosofia como ferramenta para o desenvolvimento do pensamento crítico das crianças na educação infantil, com o fim de desenvolver uma educação para o pensar, antes faremos uma breve reflexão sobre como a produção e o desenvolvimento da inteligência se dá no período dos 2 até os 7 anos, denominado por Piaget de período pré-operatório.

No início dessa fase, a criança passa a desenvolver a linguagem e o pensamento, esse fato caracteriza-se em um processo de maturação, o que traz para seu desenvolvimento uma grande mudança. É também nesse período que ela passa a se utilizar de símbolos e representações e surgem os primeiros pensamentos.

No meio desse estágio, por volta dos quatro anos, há uma evolução ainda maior no que diz respeito à linguagem e ao pensamento da criança, como descreveu Piaget em seu livro Psicologia da Inteligência:

A partir dos 4 anos de idade, por outro lado, breves experiências que se façam com o sujeito, fazendo-o manipular os objetos sobre os quais essas experiências recaem, permitem obter respostas singulares e acompanhar a conversação. Esse fato por si só já constitui índice de uma nova estruturação. Com efeito, de 4 a 7 anos, assiste-se a uma coordenação paulatina das relações representativas; portanto, há uma conceptualização crescente que, da fase simbólica ou pré-conceptual, leva a criança ao limiar das opções.

Com base na reflexão sobre esses dados, podemos concluir que certos ensinamentos deverão ser apresentados às crianças em momentos oportunos, pois o sucesso de seu aprendizado depende do grau de maturidade que ela se encontra. No caso da educação infantil, já é possível trabalhar com o desenvolvimento do pensamento crítico nas crianças a partir dos 4 anos de idade, momento da vida escolar em que a criança se encontra no jardim. À criança a partir dessa idade já consegue organizar o pensamento e fazer associações, apesar de só pensar concretamente, portanto, se houver uma adaptação da linguagem utilizada no ensino, o desenvolvimento da iniciação de uma educação pautada no pensamento será possível.

3.2 VYGOTSKY E O SOCIOINTERACIONISMO

Outro teórico que muito contribuiu para a compreensão de como se dá a aquisição do conhecimento, também de grande relevância para o trabalho dos educadores e profissionais da educação, uma vez que nos dá fundamentação e embasamento na aplicação das metodologias, foi Vygotsky, com sua teoria sócio-interacionista.

Lev Semenovich Vygotsky foi um professor e pesquisador russo, nascido no dia 17 de novembro de 1896 em Orsha, na Bielorrússia. Faleceu aos trinta e sete anos ao contrair tuberculose e sua morte prematura interrompeu diversos trabalhos.

Sua principal teoria tem como base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico. Em seus estudos sobre o desenvolvimento intelectual, o que nos interessa em particular como educador, atribui a aquisição de conhecimento e desenvolvimento do pensamento a um processo de interação social, a um processo de troca e observações mediado sempre pelo outro. Segundo sua teoria, o ser modifica o ambiente e é modificado por ele e o conhecimento se dá pela interação com os objetos e observação e interação com o outro que é também mediador desse processo.

Assim como Piaget, Vygotsky não formulou uma teoria pedagógica, embora seu pensamento com ênfase no aprendizado ressalte a importância da instituição escolar na formação do conhecimento. Para ele, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente.

Vygotsky também formulou em sua teoria os conceitos de zona real e zona proximal, que são de suma importância para uma melhor compreensão do processo de aquisição do conhecimento segundo sua teoria. Vejamos a citação a seguir:

Vygotsky mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente, puxando dela um novo conhecimento. Todo aprendizado amplia o universo mental do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as estruturas cognitivas das crianças. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico.

Esse breve olhar sobre a teoria de Vygotsky deixa claro a importância do outro no processo de aquisição do conhecimento, da importância da interação, esta somente viável pelo convívio social, que tem como espaço privilegiado as instituições de educação. Todo esse processo de mediação, interação e, consequentemente, produção de conhecimento, é possibilitado dentro da escola, pela vivência que o aluno terá lá dentro e pela mediação do professor e dos colegas.

Com isso, podemos concluir que a educação não se faz só e sim na socialização com o meio e com o outro e na observação. Dentro da escola, pela vivência que o aluno terá lá dentro e pela mediação do professor e dos colegas. Com isso, podemos concluir que a educação não se faz só e sim na socialização com o meio e com o outro e na observação.

4. A FILOSOFIA COMO VEÍCULO PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Depois de voltarmos nossos olhares sobre as teorias de dois dos mais importantes teóricos da educação na atualidade, com suas pesquisas voltadas para o desvendar do processo de aquisição do conhecimento, desenvolvimento do pensamento e da inteligência no ser humano, mais especificamente na criança, podemos tecer algumas considerações a respeito de como se utilizar da filosofia para auxiliar nesse processo.

A filosofia é pouco explorada nessa faixa etária, poucos e quase raros são os textos, pesquisas e publicações dedicadas a esse tema e as que existem nos remetem a refletir sobre o porquê não se utilizar dessa ferramenta, uma vez que tudo o que se tem a respeito evidencia infinitos benefícios.

Um dos poucos teóricos que voltou seu olhar para essa questão, a filosofia para os pequenos, foi Matew Lipman, que em um trecho de sua obra intitulada A filosofia vai à escola, tece a seguinte consideração:

Um exemplo de como a educação abastece os estudantes essencialmente com ferramentas é o uso de critérios. Hoje em dia, é comumente aceito que uma sociedade democrática consiste em cidadãos que estão aparelhados para avaliar até que ponto as instituições dessa sociedade estão funcionando bem. Tal avaliação necessariamente requer cidadãos que tenham facilidade em empregar critérios.

A verdade é que quase ao mesmo tempo em que as crianças começam a falar, as crianças citam razões, dentre as quais estão as intenções e critérios que elas empregam para propósitos avaliativos. É, portanto, possível dar às crianças uma prática sistemática no emprego de critérios no decorrer de sua escolaridade, de modo que na época em que estiverem prontas para a cidadania ativa, elas estarão muito bem preparadas para realizar o gênero de avaliação das instituições que cidadãos democráticos têm de saber fazer.

Analisando a citação acima, podemos refletir a respeito de que tipo de formação a escola se preocupa em dar aos alunos. Se fizermos uma pesquisa de campo com os envolvidos no processo educacional, todos serão unânimes em dizer que educamos de modo a formar cidadãos críticos, reflexivos e autônomos. Se esse é um fato e a escolaridade começa ainda na educação infantil, então não devemos adiar o início dessa formação para o ensino fundamental. Essas reflexões nos levam a crer que se houver uma mudança nessa concepção e os saberes necessários às crianças forem introduzidos ainda na educação infantil, elas terão maior facilidade de compreensão nas séries seguintes.

Se formamos cidadãos para uma atuação no futuro, na maioridade civil, devemos então incitá-los à reflexão desde os primeiros contatos nas instituições de ensino, utilizando-se da filosofia para que eles venham a compreender e tomar consciência do eu, de valores como a justiça e a liberdade e a primazia da verdade.

Na filosofia existe uma vasta literatura que, se for reproduzida e produzida como degraus para alcançar as fronteiras menos acessíveis de nossa herança humanística, formaremos cidadãos mais aptos a desempenharem seu papel na sociedade, a fazer valer os seus direitos, a cumprir seus deveres, a serem solidários, entre outros valores tão escassos em nossa atual sociedade.

A filosofia não só pode auxiliar no processo de desenvolvimento do cidadão, como também do desenvolvimento do intelecto, uma vez que os colocará em constante estado de reflexão, observação, questionamentos e refutação. Em um primeiro momento, no caso da educação infantil, isso se daria com o objetivo de exercício da inteligência, mas posteriormente, com certeza, auxiliaria em toda a produção e compreensão desse estudante em sua escolaridade posterior.

É possível trabalhar a filosofia com crianças na educação infantil utilizando inicialmente os princípios de três filósofos importantes na história da humanidade, os quais tinham suas teorias norteadas por princípios fundamentais para a vida do homem, são eles: Sócrates, cuja filosofia era “conhece-te a ti mesmo”, o que nos remete à reflexão e à ética; Platão, com sua filosofia voltada para a polis, para a justiça e a busca da verdade, nos serviria de fundamentação para os conceitos de cidadania e, por fim, Aristóteles, com o olhar voltado para os valores e o intelecto.

CONCLUSÃO

A referente pesquisa consiste em uma tentativa de olhar de modo diferente um tema até então utilizado apenas na fase adulta. Tema esse de grande potencial para o desenvolvimento do pensamento em todas as fases da vida do homem. Esperamos que essa pesquisa incite ainda mais nossa curiosidade em descobrir novos meios de melhorar cada vez mais a educação de nossas crianças e quem sabe, até dar um novo rumo ou olhar a ela.

Sabemos que para que haja mudanças, é preciso estar aberto a elas, ser ousado, não temer os desafios e nunca desistir de buscar meios de melhorar sempre.

Para que exista uma modificação no modo de pensar a educação, é antes preciso que a mudança comece por nós. Para realizarmos uma educação para o pensar, não basta só o estudo, a apreensão do conteúdo ou a análise das obras a respeito do tema, é necessário que antes, nós a aprendamos, que nós a exercitemos e façamos da reflexão algo constante em nossas vidas. Só assim, poderemos aplicar esses conceitos de forma confiante e eficiente.

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Autor: RENATA CRISTINA DA SILVA


Este texto foi publicado na categoria Educação Inclusiva e Especial.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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