A DINÂMICA DA AVALIAÇÃO COMO “JULGAMENTO” ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL
INTRODUÇÃO
Avaliar é um processo complexo, geralmente impreciso e inexato. Se fosse para medir um objeto, poderia ser utilizada uma régua ou outro instrumento, mas com a avaliação é diferente, já que não há um instrumento preciso de avaliação. Sendo assim, a avaliação do educando deve ser contínua; só assim a avaliação poderá auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Não se pode, portanto, imputar à avaliação a responsabilidade pelo fracasso escolar, mas não se pode também isentá-la inteiramente dessa responsabilidade, pois ela representa o conjunto de mecanismos através dos quais se sanciona o sucesso ou o insucesso do aluno.
A AVALIAÇÃO ESCOLAR
A avaliação é reconhecidamente um ciclo obrigatório do docente. A avaliação norteia todo o viver da humanidade ao longo da sua trajetória. A exemplo, encontramos citações no Velho e Novo Testamento que determinam o certo e o errado.
Avaliar deriva de valia, que significa valor. Portanto, avaliação corresponde ao ato de determinar o valor de alguma coisa. A todo momento, o ser humano avalia os elementos da realidade que o cercam. A avaliação é uma operação mental que integra o seu próprio pensamento; as avaliações que faz orientam ou reorientam sua conduta. (Céres, 1992, P. 56).
Todo esse processo é permeado de subjetividade, normas e códigos criados pelo homem. Na área da educação, a história se repete. A avaliação vem se constituindo em instrumento de aprovação/reprovação como uma prática para se alçar ou não o saber e a ascensão social.
Com o capitalismo, a escola mudou seu papel em função da mão-de-obra para a indústria. Então, a grande finalidade da escola foi a de preparar o sujeito para a ordem, para a hierarquia, característica da era industrial. E a avaliação ajuda nesse processo de hierarquia, devido a hoje estar sendo usada como instrumento de seleção, na separação dos “aptos” e dos “inaptos”, dos “capazes” e dos “incapazes”.
Segundo LUCKESI (1995), a avaliação tem sua origem na escola moderna com a prática de provas e exames que se sistematizou a partir do século XVI e XVII, com a cristalização da sociedade burguesa.
Dessa forma, a avaliação passou a ser o “selo” do sistema para obter o diploma, e assim perdeu o lugar para o que é mais importante: a aprendizagem.
E dentro de um mundo globalizado, a avaliação é muito desigual, pois nem todos tiveram acesso à escola, e nem da mesma forma, ou seja, nem com a mesma “qualidade”. E a avaliação é a constatação do que o aluno aprendeu, quando o programa foi conduzido até o final de forma adequada.
Segundo LUCKESI (2002, p.43), a avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto. A avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica da ação.
No campo educacional, a avaliação recebe diferentes definições; isso se dá devido à polêmica existente a seu respeito. Uma definição amplamente aceita é a de R. W. TYLER (1981, p.68): “O processo de avaliação consiste essencialmente em determinar em que medida os objetivos educacionais estão sendo realmente alcançados pelo programa do currículo e do ensino”.
A avaliação é algo contínuo e inclusivo; para isso, o professor tem que fazer uma análise diária do aluno, para identificar as dificuldades do seu aluno, e por meio dessa observação retomar os conteúdos para que o aluno consiga alcançar a aprendizagem. A avaliação é um processo e não um fim; tem a intenção de libertar o sujeito, a fim de torná-lo um ser crítico, capaz de atuar na sociedade de forma criativa, contribuindo para sua transformação.
Refere que avaliação é um “ato ou efeito de avaliar (-se). Apreciação, análise. Valor determinado pelos avaliadores. Avaliar é ‘determinar a valia ou valor de Apreciar ou estimar o merecimento de Calcular, estimar, computar. Fazer a apreciação, ajuizar: avaliar as causas, de merecimentos.” Ferreira (1995, p.205).
A observação contínua do desempenho escolar durante todo o ano é tão importante quanto à avaliação concentrada em provas e trabalhos de forma individual ou em grupo. Focar a avaliação em um momento exato implica em não permitir que o indivíduo manifeste o que de fato aprendeu.
Para o professor, a avaliação será uma forma de reflexão sobre sua prática; já para o aluno, será uma forma de consciência das suas conquistas e dificuldades. A avaliação não deve ser uma forma de julgamento, mas sim de planejamento, e devem ser levados em conta do aluno tais aspectos: cognitivo, crítico e construtivo, sócio-emocional, questionador e interpretativo.
Na avaliação escolar, é necessário que se estabeleçam expectativas de aprendizagem dos alunos em consequência do ensino, que devem se expressar nos objetivos, nos critérios de avaliação propostos e na definição do que será considerado como testemunho das aprendizagens. Do contraste entre os critérios de avaliação e os indicadores expressos na produção dos alunos surgirá o juízo de valor, que se constitui a essência da avaliação” (Parâmetros curriculares nacionais, pág.58).
E a avaliação, sendo contínua, não deve ser decidida em um bimestre, trimestre ou semestre, mas deve ser algo diário e de forma clara para o aluno, ou seja, algo transparente entre o docente e o aluno, daí seu aspecto ser de diagnóstico. Dessa forma, a avaliação serve para nos convencer que uma nota não deriva de uma eventual prova semanal, bimestral ou semestral. A nota é resultado de uma convivência entre aluno e professor, de forma satisfatória ou insatisfatória, lembrando que a avaliação insatisfatória não significa reprovação com conotação de promoção ou de deter.
A nota, no meio escolar, é um julgamento de aproveitamento de estudos, expresso em números, mas uma nota dez, por exemplo, não é garantia de uma qualidade virtuosa.
“A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como um conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno. Possibilita conhecer o quanto ele se aproxima ou não da expectativa de aprendizagem que o professor tem em determinados momentos da escolaridade, em função da intervenção pedagógica realizada. Portanto, a avaliação das aprendizagens só pode acontecer se forem relacionadas com as oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar” (parâmetros curriculares nacionais, pág.55).
Se o sistema escolar brasileiro funcionasse plenamente, todos os alunos passariam normalmente de uma série a outra até concluírem a escolaridade obrigatória. Infelizmente, isso não acontece, pois quase a metade das crianças que iniciam o Ensino Fundamental é reprovada já na primeira série. O que não está correto e um dos elementos que pode contribuir para mudar esta situação é o professor, que muitas vezes não usa o método correto de avaliar os alunos.
Segundo a lei nº 5692/71, a verificação do rendimento escolar deve compreender a avaliação do aproveitamento e a apuração da assiduidade.
Na avaliação do aproveitamento, a ser expressa em notas ou menções, prevalecem os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os resultados obtidos durante o período letivo, sobre os da prova final. Praticamente na maioria das vezes, os alunos são avaliados por notas ou menções, onde eles são enquadrados em uma escala. E esse enquadramento quase sempre traz consequências negativas, tanto para o desenvolvimento pessoal do aluno quanto para o desenvolvimento social do grupo.
Para SORDI (1995), a prática de avaliação é um ato dinâmico onde o professor e o aluno assumem o seu papel, de modo co-participativo, através da implementação do diálogo e da interação respeitosa, comprometendo-se com a construção do conhecimento e a formação de um profissional competente. É um ato essencialmente político, expressando concepções de Homem-Mundo-Educação.
A atribuição de notas ou menções leva o aluno a estudar apenas para não ser reprovado. Neste caso, há uma grave distorção, pois o aluno deve estudar para aprender e realizar-se pessoal e socialmente.
Para LUCKESI (1995), “A sociedade que exige o controle e o enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos para o ‘equilíbrio social’ pratica a avaliação escolar dentro do modelo liberal conservador-autoritário, utilizando a avaliação escolar como um instrumento disciplinador de condutas cognitivas e sociais”.
A avaliação é vista como um instrumento de “medo” (controle social); a maioria dos professores utiliza as provas como uma tortura prévia, ou seja, os alunos são conduzidos a estudarem em busca de uma nota, e não de um saber, dessa forma, o estabelecimento do ensino está estruturado com bases nas provas e exames.
“Avaliar é cedo ou tarde, criar hierarquias de excelência, em função das quais se decidirão a progressão no curso seguido, a seleção no início do secundário, a orientação para diversos tipos de estudos, a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, frequentemente, a contratação. Avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e no mundo, valorizar formas e normas de excelência, definir um aluno modelo, aplicado e dócil para uns, imaginativo e autônomo para outros” (Philippe Perrenoud, 1999).
Essas ações podem provocar nos avaliados alguns problemas pedagógicos, psicológicos e sociológicos. A aprendizagem, nesse contexto, deixa de ser algo prazeroso e passa a ser desmotivador, contribuindo para a seletividade social (exigência do sistema econômico vigente).
OS RUMOS DA AVALIAÇÃO
É importante que a perspectiva da avaliação seja definida claramente a cada momento da avaliação, para que se possa alcançar o máximo de objetividade possível. É necessário que o professor olhe por todos os ângulos, pois os alunos têm desempenhos diferentes; ou seja, o professor tem que olhar os diferentes códigos, como: o verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico.
Apesar de a avaliação ser boa parte da responsabilidade do professor, os alunos também são responsáveis por ela. A autoavaliação é uma situação de aprendizagem em que o aluno desenvolve estratégias de análise e interpretação de suas produções e dos diferentes procedimentos para se avaliar. É importante porque ajuda na autonomia do aluno, mas essa só será constituída com a ajuda do professor.
“A conquista dos objetivos propostos para o ensino fundamental depende de uma prática educativa que tenha como eixo a formação de um cidadão autônomo e participativo.” (parâmetros curriculares nacionais, pág.61).
Sendo assim, o aluno precisa estar inserido em um processo educativo que valorize mais ações como: reflexão, participação e cumprimento de responsabilidade. Assim, o aluno estará construindo seus próprios conhecimentos e começará a posicionar-se, ou seja, a tornar-se autônomo.
Essa autonomia irá depender de outros suportes materiais, emocionais e intelectuais. O professor será de grande importância nesses suportes, principalmente no início da escolaridade, através, por exemplo, do tempo no momento de passar as atividades, a resolução de conflitos, trabalhos em grupo e individuais também, entre outras coisas.
RENDIMENTO ESCOLAR
De acordo com o artigo 24, inciso V, da lei 9394/96, a verificação de rendimento escolar observará os seguintes critérios:
- Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;
- Possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
- Possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;
- Aproveitamento de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos.
A lei, como vimos, usa a expressão “verificação do rendimento escolar”. Verificar, numa de suas acepções, quer dizer: comprovar; já a palavra rendimento pode ser entendida como: eficiência. Dessa maneira, de acordo com a lei, cabe à escola comprovar a eficiência dos seus alunos nas atividades escolares, ou seja, avaliar o êxito por eles alcançado no processo de ensino-aprendizagem.
Para impedir uma forma generalizada da avaliação, o processo deve proceder a uma avaliação contínua. É nesse sentido que César Coll propõe três modalidades de avaliação: avaliação inicial, avaliação formativa e avaliação somatória:
AVALIAÇÃO INICIAL
O que avaliar?
Os esquemas de conhecimento relevantes para o novo material ou situação de aprendizagem.
Quando avaliar?
No início de uma nova fase de aprendizagem.
Como avaliar?
Consulta e interpretação do histórico escolar do aluno. Registro e interpretação das respostas e comportamento dos alunos ante perguntas e situações relativas ao novo material de aprendizagem.
AVALIAÇÃO FORMATIVA
O que avaliar?
Os progressos, dificuldades, bloqueios, etc., que marcam o processo de aprendizagem.
Quando avaliar?
Durante o processo de aprendizagem.
Como avaliar?
Observação sistemática e pautada do processo de aprendizagem. Registro das observações em planilhas de acompanhamento. Interpretação das observações.
AVALIAÇÃO SOMATÓRIA
O que avaliar?
Os tipos e graus de aprendizagem que estipulam os objetivos (finais, de nível ou didáticos) a propósito dos conteúdos selecionados.
Quando avaliar?
No final de uma etapa de aprendizagem.
Como avaliar?
Observação, registro e interpretação das respostas e comportamento dos alunos a perguntas e situações que exigem a utilização dos conteúdos aprendidos.
APROVAÇÃO OU REPROVAÇÃO?
A avaliação não tem por finalidade aprovar ou reprovar ninguém, mas sim ajudar o aluno a prosseguir nos seus estudos.
“Nas escolas que adotam a progressão regular por série, a lei possibilita, no ensino fundamental, o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem” (artigo 32).
Para que ocorra uma aprovação ou reprovação, é preciso uma análise do professor para saber as dificuldades do seu aluno; isso ajudará nos próximos ciclos. Se a avaliação está a serviço da aprendizagem, a decisão de aprovar ou reprovar não deve ser a expressão de um “castigo”, nem no quanto se aprendeu ou deixou de aprender com os conteúdos propostos.
A reprovação, além de causar prejuízos na sociedade, de forma financeira, também causa prejuízos para a instituição escolar, já que está ocupando as vagas de outros alunos.
Isso também é algo muito sério, que tem repercussões negativas que ultrapassam a vida escolar do aluno; o aluno pode desenvolver um auto-conceito negativo que o leve a abandonar os estudos, e com isso irá enfrentar uma luta com desvantagens na vida profissional.
Cabe aos professores dar todas as oportunidades aos alunos, recolher o máximo de informação acerca de cada caso, através de conversas com os pais, os colegas, outros professores, etc. O objetivo é ajudar no crescimento do aluno.
Seja qual for a decisão, de reprovar ou aprovar um aluno, a mesma deve ser acompanhada por uma ajuda do educador, para assim, conseguir garantir a qualidade das aprendizagens e o desenvolvimento das capacidades esperadas.
VERIFICAÇÃO OU AVALIAÇÃO
A tomada de decisão é uma tomada de posição; na avaliação da aprendizagem, refere-se à decisão do que fazer com o aluno, quando a sua aprendizagem se manifesta satisfatória ou insatisfatória. Ao se desrespeitar esta etapa, o ato de avaliar não completará seu ciclo constitutivo.
HOFFMANN (1993) entende avaliação como uma ação provocativa do professor, desafiando o aluno a refletir sobre as experiências vividas, a formular e reformular hipóteses, direcionando para um saber enriquecido.
A diferença principal entre verificação e avaliação é que a primeira é um ato estático e a segunda é um processo dinâmico que reencaminha a ação.
O termo verificação é referido por LUCKESI (1995) como aquele que emerge das determinações da conduta de buscar “ver se algo é assim mesmo”, investigar a verdade de alguma coisa. O processo de verificar compreende a observação, obtenção, análise e síntese dos dados ou informações que delimitam o ato com o qual se está trabalhando, encerrando-se com a configuração do objeto ou ato de investigação.
QUALIDADE E QUANTIDADE
Segundo a lei apresentada acima, a avaliação de aproveitamento deve dar ênfase aos aspectos qualitativos que aos quantitativos. Esse ponto é importante, mas tem sido mal interpretado; por exemplo, em muitas escolas a quantidade, entendida como acumulação de conhecimentos, principalmente através da memorização, continua a ter mais peso que os aspectos qualitativos. Em outras escolas, entende-se por aspecto qualitativo simplesmente o comportamento do aluno: se ele fica quieto, não conversa, atende ao professor, recebe um conceito elevado. Evidentemente, não é assim que devem ser interpretados os aspectos qualitativos; eles estão relacionados aos objetivos da educação e do ensino.
O juízo de qualidade está fundamentado sobre os dados relevantes da realidade, a partir de caracteres do objeto (propriedades físicas); que no caso da aprendizagem são as condutas aprendidas e manifestadas pelos alunos. Se estas propriedades físicas não estiverem no processo de avaliação, pode-se cair no arbitrarismo, ou seja, o professor qualifica ou desqualifica gratuitamente o aluno.
LUCKESI (1995, p.69) entende “avaliação como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão”. Estes são os elementos que compõem a compreensão constitutiva da avaliação.
Portanto, para avaliar o aproveitamento, é preciso que o professor tenha muito cuidado, pois ele está avaliando pessoas. Ao atribuir uma nota ou uma menção, o professor deve sempre se perguntar: será que estou dando mais importância aos aspectos qualitativos? Será que estou levando em consideração todos os aspectos qualitativos?
A média, então, é realizada a partir da quantidade e não da qualidade, não garantindo o mínimo de conhecimento (LUCKESI, 1995).
PERÍODO LETIVO E PROVA
Os resultados do período letivo devem prevalecer sobre os resultados das provas. A maioria das escolas divide o ano letivo em quatro bimestres e atribui uma nota no final de cada um; até aqui tudo bem, só que a lei ordena que deve-se levar mais em conta o que o aluno produziu durante o período do que o resultado obtido por ele na prova. No entanto, muitas vezes ocorre o contrário, ficando a prova com peso maior.
APURAÇÃO DA ASSIDUIDADE
A lei determina que tenha como aprovado quanto à assiduidade:
- O aluno de frequência igual ou superior a 75% em cada disciplina, área de estudo ou atividade.
- O aluno de frequência inferior a 75% que tenha obtido aproveitamento superior a 80% da escala de notas adotadas pelo estabelecimento.
A avaliação de atitudes (assiduidade, pontualidade, relacionamento, etc.) não deveria ser incorporada no processo avaliativo através de mecanismos artificiais como nota, mas sim com estratégias, pois as atitudes poderão influenciar na formação e, consequentemente, na postura profissional.
A “CONFERIDA” NA ESCOLA
É um fato que os alunos “colam”, e os docentes não podem negar ou fazer vista grossa. Os alunos na educação infantil enxergam a cola; no ensino fundamental exercitam a cola; no ensino médio habituam-se a cola; e no nível superior aperfeiçoam a cola.
É preciso mostrar às crianças desde cedo que na vida a competência cognitiva não é tão determinante na conquista de uma vaga no mercado de trabalho. Os mercados de trabalho querem pessoas competentes, mas que sejam também solidárias com os outros funcionários.
O papel do educador é educar, modificar o comportamento do aluno, fazer avançá-lo não só em aspectos quantitativos, mas também qualitativos, isto é, os valores e princípios de um bom ensino.
LUCKESI (1995), quando diz que o erro pode ser utilizado como fonte de virtude, sendo que o professor deve estar “aberto” para observar o acontecimento como acontecimento e não como erro. O insucesso deve servir de trampolim para o sucesso; nesse contexto, não significa erro. A compreensão do erro é o passo fundamental para a sua superação, servindo para reorientar seu entendimento e a prática. O erro não deve ser fonte de castigo, mas sim um suporte para sua compreensão, retirando dele os mais significativos benefícios.
Se existe entre o docente e o aluno uma avaliação com transparência, não é preciso o professor perseguir métodos de cola, e sim conscientizar os seus alunos que o conhecimento cognitivo não deve ser levado como uma única garantia de sucesso na vida.
Para HOFFMANN (1996, P.66) “Quando a finalidade é seletiva, o instrumento de avaliação é constatativo, prova irrevogável. Mas as tarefas, na escola, deveriam ter o caráter problematizador e dialógico, momentos de trocas de ideias entre educadores e educandos na busca de um conhecimento gradativamente aprofundado”.
A SOCIEDADE E A AVALIAÇÃO
A prática avaliativa é orientada por valores e princípios vindos das perspectivas e crenças dos grupos dominantes na sociedade. Essa prática faz surgir a seletividade e o domínio, fazendo com que uma grande parcela das pessoas que procuram a escola, através de repetências ou outros mecanismos eliminadores, não consiga obter as credenciais e os títulos que a capacitem a competir por melhores condições de trabalho e de vida numa sociedade cada vez mais capitalista. A conclusão se dá gerando um fluxo de alunos nas séries e nos graus nas escolas brasileiras.
“Toda ação avaliativa implica na comparação do que está sendo avaliado com uma escala de valores, estabelecida a partir de critérios e padrões socialmente construídos. Os atos concretos de escolha dos homens estão naturalmente relacionados com sua atitude valorativa geral, assim como os seus juízos estão ligados à sua imagem de mundo. É a partir do conflito de valores heterogêneos que a sociedade pode mudar e que sempre é possível decidir a partir do conhecimento das alternativas históricas.” (Heller, 1985).
Pelo fato de a avaliação responder a uma necessidade de conhecer (é própria da intencionalidade formativa que a caracteriza), os agentes sociais precisam da avaliação para saber, com nitidez e clareza, como funciona o sistema educativo, sistema social, afinal.
Não tanto por razões econômicas – o dinheiro da educação pública provém do Estado – mas sim pelo direito ao conhecimento que ampara a cidadania em uma sociedade democrática.
APRENDENDO COM A AVALIAÇÃO
Quem ensina precisa continuar aprendendo com e sobre sua prática de ensino. Quem aprende precisa continuar aprendendo sempre, para garantir um nível de habilitação que estimule e, ao mesmo tempo, concretize o seu progresso contínuo. A singular certeza que o professor tem é a incerteza na qual se move. Se alguma coisa deve distinguir a profissão docente, é o seu estado de abertura constante para aprendizagem contínua. A docência não é um estado ao qual se chega, e sim um caminho que é feito. É necessário destacar a importância que as novas formas de conceber a avaliação e as práticas que inspiram possam ter na reflexão e na profissionalização do professor.
Cada docente convive e compartilha sua dedicação com um determinado grupo de alunos durante um tempo prolongado. Somente no caso em que a relação é limitada à explicação do conteúdo da matéria de estudo em questão, e que todo o processo seja articulado em torno dela, a co-participação estará oblíqua e pobre em suas possibilidades de desenvolvimento pessoal mútuo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos professores, principalmente do ensino fundamental, sentem muita dificuldade em avaliar um aluno, mesmo com os aspectos qualitativos e a assiduidade; eles são “obrigados” a atribuir uma nota que representará todo envolvimento, desenvolvimento, aprendizagem e todos os aspectos que o aluno desenvolveu na sala de aula.
Essa é uma tarefa difícil, pois avaliar um aluno através de uma nota é muito subjetivo, ou seja, não é uma resposta exata ao desenvolvimento do aluno.
A avaliação provoca sempre reações também negativas, pois se tem por desconfortável a posição do aluno; se ele tira 9 ou 10, ele está na posição dos melhores, e o contrário acontece se tirar uma nota desagradável, sendo que os padrões considerados desejáveis, os “melhores”, sempre são poucos. Além disso, o desenvolvimento do aluno não limita-se a uma nota; por isso, a mesma não deveria ser feita em apenas um dia, onde o professor entrega uma seleção de perguntas, que dependendo da resposta levará o aluno a ser considerado aprovado ou não.
O processo avaliativo deve ser contínuo, ou seja, dia a dia.
Mas, na maioria das vezes, não acontece isso, pois os professores acabam se acostumando ao método avaliativo tradicional.
REFERÊNCIAS
WERNECK, Hamilton. Prova, provão, camisa de força da educação: uma crítica mordaz aos sistemas de avaliação crivada de humor e propostas. Petrópolis, Rio de Janeiro, editora: vozes, 1995.
PERRENOUD, Philippe, Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas, Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do processo ensino-aprendizagem, editora: Ática, São Paulo, 2000.
LIMA, Adriana de Oliveira. Avaliação Escolar, julgamento x construção, editora: Vozes, Petrópolis, 1999.
SARMENTO, Diva Chaves (org.). O discurso e a prática da avaliação na escola. Campinas: Pontes; Juiz de Fora, EDUFJF, 1997.
ESTEBAN, Maria Teresa (org). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos; Editora: DPEA, Rio de Janeiro, 2002.
AUTORA: Joice Santos Lima
A autora é aluna de graduação do 5º período do curso de Letras/Português noturno da Universidade Tiradentes, Aracaju/SE. O presente trabalho é resultado de prática investigativa na forma de pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica.
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