A Depressão Infantil com Implicações nos Distúrbios da Aprendizagem
INTRODUÇÃO
Há 40 anos muitos médicos duvidaram da existência de transtornos depressivos em crianças, por que estas eram consideradas como portadoras de “estruturas de personalidades imaturas” e de imaturidade cognitiva tais problemas.
O termo depressão tem sido utilizado de forma genérica e muitas vezes distorcido. Além de a depressão envolver fatores afetivos, apresenta também componentes cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Na criança, a literatura sugere também a presença de tais alterações, e o que se percebe é que na infância a depressão normalmente vem associada a outras dificuldades, principalmente, problemas de comportamento e problemas escolares.
A associação entre depressão infantil e rendimento escolar tem sido avaliada por alguns autores. Esses estudos revelam que a incidência de depressão parece aumentar entre as crianças com problemas escolares (Soares, 2003; Wright – Strawderman & Watson, 1992; Stevenson & Romney 1984). A dificuldade da família e dos educadores em reconhecer os sintomas de depressão na criança agrava essa situação, pois muitas vezes, o professor não identifica corretamente esses sintomas em seus alunos e estes acabam não recebendo orientação e tratamento adequado.
Embora as crianças com sintomas depressivos apresentem dificuldades escolares, alguns autores (Colbert e Cols. 1992; Brumaback, Jackoway &Weinberg, 1992), tem observado que essas crianças são capazes intelectualmente. Essa constatação sugere que o baixo rendimento pode ser conseqüência da depressão em função da falta de interesse e motivação da criança em participar de atividades escolares, bem como sua tendência para sentimento de autodesvalorização.
Assim sendo, o presente estudo tem como objetivo avaliar a relação entre sintomas de depressão e rendimento escolar de uma escola pública. Cabe ressaltar que no presente estudo serão investigados os sintomas depressivos isolados.
CAPÍTULO 1: DEPRESSÃO INFANTIL: ESSA DOENÇA QUE QUASE NINGUÉM VÊ.
Historicamente, os primeiros relatos sobre Transtornos Afetivos ocorreram antes da era cristã, pelos egípcios, sumerianos e filósofos gregos. Contudo, nestes escritos não havia referencias a crianças e adolescentes.
Robert Burton (1691) descreveu casos de crianças melancólicas; descreveu-as como muito tristes, desesperançosas, não vislumbrando prazer em suas vidas. O autor fez referência a problemas familiares e sociais associados. Em 1863, Kalbum descreveu uma forma crônica de melancolia.
A partir desses estudos, vários outros se destacaram. Emil Kraepelin (1921), E. Bleuler (1934), Kasamin (1931), Anthony e Scott (1960), apesar de considerarem rara a ocorrência de transtorno afetivo em crianças, observaram e descreveram alguns casos infantis; observaram também que adultos com quadro de transtorno afetivo, já desenvolviam o quadro quando crianças.
Verztman (1995,) pesquisou a história e descobriu que havia pouco sobre a história do conceito da depressão na psiquiatria; havia apenas referências de quando ainda eram confundidos conceitos de melancolia, dentre outros. O autor fala de como o assunto vem sendo tratado ao longo do tempo e coloca a passagem de Hamilton (1988): “tanto mania quanto depressão era conhecida dos antigos gregos, embora eles tenham usado estas palavras com significados diferentes do uso atual. De acordo com suas teorias, humor, ais de doença, eles nomearam estes estados depressivos de melancolia, significando bile negra”. Segundo Verztman (1995) é muito pouco provável que os antigos gregos usassem o termo depressão, esse vocábulo e seus conceitos aparecem com força nos escritos psiquiátricos da metade do século XIX, depois de Pinel e Esquirol.
Verztman diz que (p. 62): “a palavra depressão implica numa mudança de olhar sobre os antigos melancólicos e produz novas formas de aproximação deste objeto”.
Para Pinel (1976), a melancolia deveria ser incluída no campo das alienações mentais. A fundamental distinção de Pinel era entre a melancolia como idéia fixa, restrita a faculdades psíquicas isoladas, e a mania ou delírio geral, a qual se estendia a um conjunto de entendimento. Já com Esquirol (1976) surge o termo “lipomania”. Com isso ele especificou mais a particularidade da melancolia, e fez com que fosse ainda aceita pela tradição médica, ao mesmo tempo em que a colocava, definitivamente, no campo das alienações mentais.
Segundo João (1987), desde o antigo testamento são relatados situações com sintomas depressivos. Hipócrates, o pai da medicina (séc. IV a.C.), reconhecia quatro tipos de temperamento, um deles seria o melancólico que mais tarde receberia o nome de depressão. Para ele, o que definia o humor melancólico seria a conduta química da bílis negra, ele diz também que a depressão pode ser vista sob três aspectos: intensidade (leve, moderada ou grave), duração (aguda, recorrente ou crônica) e qualidade (retardada ou agitada).
1.2 CONCEITO
A Depressão Infantil é um transtorno do humor capaz de comprometer o desenvolvimento da criança e interferir em seu processo de maturidade psicológica e social.
Apesar de inexistir uma definição consensual da depressão infantil, pode-se afirmar que se trata de uma perturbação orgânica que envolve variáveis biológicas, psicológicas e sociais. (Adanez, 1995). Do ponto de vista biológico, a depressão é encarada como uma possível disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética, a anormalidade e/ou falha em áreas cerebrais específicas. Trata-se da depressão classificada como endógena, ou seja, aquela geneticamente transmitida. Desde a perspectiva psicológica, a depressão pode estar associada a algum aspecto comprometido da personalidade, baixa autoestima e autoconfiança. No âmbito social, a depressão pode ser vista como uma inadaptação ou um apelo ao socorro, bem como uma possível conseqüência da violentação de mecanismos culturais, familiar, escolar, etc. (Barreto, 1993). As variáveis psicológicas e sociais caracterizam a depressão classificada como exógena, ou seja, a que é resultante de problemas psicológicas e/ou ambientais (Amaral & Barbosa 1990).
O termo depressão tem sido empregado para descrever tanto um estado afetivo normal quanto uma tristeza aparente ou um sintoma ou transtornos associados. A tristeza constitui uma resposta às situações de perda, derrota ou outros desapontamentos. As situações de perda podem, por meio do retraimento, causar danos cognitivos, fisiológicos e comportamentais. De acordo com Scivolletto e Col. (1994), o termo humor é definido pelo DSM IV (American Psychiatric Association, 1994), como emoção pervasiva e mantida que, em extremos, marca o colorido da percepção do mundo pelo indivíduo.
A depressão é uma doença do organismo como um todo, que compromete o físico, o humor e, em conseqüência, o pensamento; altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a disposição e o prazer com a vida. Segundo Bellone (2002), ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre o que vivenciou ou fez.
Dessa forma Camon (1999) acrescenta que a própria historicidade de cada pessoa irá configurar situações específicas de dor e sofrimento que, alojadas à intensidade do envolvimento emocional com a pessoa que provocou o luto, reunirão características e determinantes bastantes especificas a cada caso.
CAPÍTULO 2: PAIS E PROFESSORES IGNORAM SINTOMAS DA DEPRESSÃO INFANTIL.
Sinais de tristeza, sonolência, sentimento de culpa e de rejeição, indisposição para atividades físicas são alguns indicadores de que um individuo pode estar sofrendo de depressão. E o que ainda é pior é constatar que na maioria das vezes esses fatos passam despercebidos tanto pelos pais dessas crianças quanto pelos professores, como conclui a psicóloga Mìriam Cruvinel.
Ela diz que um dos fatores mais críticos, indicando que a criança começa a manifestar sinais de depressão, é quando seu rendimento escolar cai e passa a não apresentar resultados satisfatórios dentro da sala de aula.
O que o estudo de Miriam tem mostrado é que tanto professores quanto os pais de alunos revelam dificuldades (ou desconhecem a questão por completo) para identificar, de maneira precoce, quando uma criança apresenta problemas que possam se caracterizar um processo de depressão infantil, em casa ou na escola.
2.1 QUANDO OS PAIS SE SEPARAM
Segundo a pesquisadora, autora da dissertação de mestrado Depressão infantil rendimento escolar e estratégias de aprendizagem em alunos do Ensino Fundamental, apresentada na Faculdade de Educação (FE), sob a orientação da professora Evely Boruchovith, a depressão infantil pode provocar na criança, ou no adolescente, pensamentos ou tentativas de suicídio, quando o seu quadro clínico não for detectado com precisão por um especialista da área. O pessimismo, caracterizado por pensamentos negativos e pela desesperança, é uma outra característica na depressão. Inúmeros são os fatores que contribuem para que a depressão se instale na criança. Um deles é de causa biológica,quando a criança tem maiores possibilidades de vir a desenvolver um quadro depressivo, cujos pais têm ou tiveram períodos. A psicóloga Miriam Cruvinel: pesquisa com 169 crianças de ambos os sexos de depressão. Entre os agentes externos, como denomina a pesquisadora, o mais importante deles todos talvez seja a separação dos pais.
É quando a criança passa a ter a sensação de abandono, de estar só e de traição, conta Miriam. Mas também os atritos familiares, entre irmãos, o isolamento social, criança solitária, rejeitada pelos amigos, além de questões escolares, associados aos problemas econômicos dos pais, cobrança exagerada em relação ao desenvolvimento escolar, são os fatores que mais contribuem para que a criança venha a desenvolver um quadro de depressão aguda. No entanto, Miriam explica que o suicídio em crianças é raro. Estreitados laços afetivos, estimulando-os em seu desenvolvimento psicossocial e criar o hábito do diálogo com os filhos, podem ser boas alternativas para evitar o problema dentro e fora de casa.
A pesquisadora explica ainda que a depressão infantil, embora passe por um processo de expansão, já dispõe de tratamentos eficazes. .Esse tratamento, com psicoterapia, é feito por um profissional da área, no caso um psicólogo. A uma criança, dificilmente lhe é indicada uma medicação, a não ser que seja uma depressão muito severa, que chega a atrapalhar todo o andamento da vida dela. Geralmente é uma psicoterapia, por meio da qual o foco de tratamento não seria apenas a criança, mas também a família toda. Mesmo porque acreditamos que parte dessa depressão ocorre em função de fatores ambientais, onde a família está inserida, diz Miriam.
2.2 SINAIS E SINTOMAS
A Depressão Infantil nos traduz, invariavelmente por tristeza e outros sintomas típicos. A diferença entre os momentos nos quais as crianças podem estar tristes ou aborrecidas, com quaisquer fatores vivenciais que as molestem e a depressão verdadeira está, principalmente, no tempo e na motivação para esse sentimento. A depressão infantil tem sido cada vez mais observada devido em parte, à atualização conceitual e atenção médica crescente sobre esta doença.
Apesar da depressão, tanto no adulto quanto na criança, ter como modelo de diagnósticos a conhecida constelação de sintomas, decorrente da tríade sofrimento moral, a inibição psíquica global e no estreitamento do campo vivencial, as diferentes características pessoais e as diferentes situações vivenciais entre o adulto e a criança farão com que os sintomas secundários decorrentes básicos sejam bem diferentes. O sofrimento moral, por exemplo, responsável pela baixa auto-estima, no adulto pode apresentar como um sentimento de culpa, e, na criança, como ciúme patológico do irmão mais novo.
Na criança é mais comum a depressão ser acompanhada também de sintomas físicos, tais como fadiga, perda de apetite, diminuição da atividade, queixas inespecíficas, tais como cefaléias, lombalgia, dor nas pernas, náuseas, vômitos, cólicas intestinais, vista escura, tonturas, etc. na esfera do comportamento, a Depressão na Infância pode causar deterioração nas relações com os demais, familiares e colegas, perda de interesse por pessoas e isolamento. As alterações cognitivas da depressão Infantil, principalmente relacionadas à atenção, raciocínio e memória interferem sobremaneira no rendimento escolar.
Os sintomas mais freqüentes da Depressão na infância costumam ser o seguinte: insônia, choro, baixa auto-concentração, fatiga, irritabilidade, rebeldia, tiques, medos, lentidão psicomotora, anorexia, problemas de memória, desesperança, ideações e tentativas de suicídio. A tristeza pode ou não estar presente.
Hoje em dia a constelação sintomática atribuída à depressão infantil tem contribuído, sobremaneira, para a elaboração do diagnostico e, por causa disso, cada vez mais os distúrbios do comportamento da criança estão sendo relacionados a uma maneira depressiva de viver.
A expressão clinica da depressão na infância é bastante variável. Baseando-se nas tabelas para diagnostico, revistas por José Carlos Martins, podemos compor a seguinte listagem de critérios:
2.2.1 Sinais e sintomas sugestivos da depressão infantil:
1- Mudanças de humor significativas;
2- Diminuição da atividade e do interesse;
3- Queda no rendimento escolar, perda de atenção;
4- Distúrbios do sono;
5- Aparecimento de condutas agressivas;
6- Auto-depreciação;
7- Perda de energia física e mental;
8- Queixas somáticas;
9- Fobia escolar;
10- Perda ou aumento de peso;
11- Cansaço matinal;
12- Aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil);
13- Negativismo e pessimismo;
14- Sentimento de rejeição;
15- Idéias mórbidas sobre a vida;
16- Enurese e encoprese (urina e defeca na cama);
17- Condutas anti-sociais e destrutivas;
18- Ansiedade e hipocondria.
Não é obrigatório que a criança depressiva complete todos os itens da lista acima para se fazer o diagnóstico. Ela deve satisfazer um número suficiente importante de itens para despertar a necessidade de atenção especializada. Dependendo da intensidade da depressão, pode haver substancial desinteresse pelas atividades rotineiras, queda no rendimento escolar, diminuição da atenção e hipersensibilidade emocional. Surgem ainda preocupações típicas de adulto, tais como, a respeito da saúde e estabilidade dos pais, medo de separação e da morte e grande ansiedade.
Além disso, tendo em vista a característica da maioria das depressões na infância, alguns autores começam a pensar neste diagnóstico para outras patologias bem definidas, como é o caso do Déficit de Atenção por Hiperatividade, para certos casos de Distúrbios de Conduta (notadamente a rebeldia, oposição e a agressividade) e para os Transtornos Fóbico-Ansioso. Supõe-se haver uma intima relação entre todos esses quadros citados e, principalmente na ansiedade da infância, quer seja como co-morbidade ou como manifestações clínicas atípicas da Depressão Infantil.
2.3 QUADRO CLÍNICO
Em crianças pré-escolares (idade até 6 a 7 anos), a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como fadiga e tontura. Goodyer cita que aproximadamente 70% dos casos se depressão maior em crianças apresentam queixas físicas. As queixas de sintomas físicos são seguidas por ansiedade (especialmente ansiedade de separação), fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.
Alguns autores ainda citam, com menor freqüência, a ocorrência de enurese e encoprese, fisionomia triste, comunicação deficiente, choro freqüente, movimentos repetitivos e auto e heteroagressividade na forma de comportamento agressivo e destrutivo. O prazer de brincar ou ir para a pré escola diminui ou desaparece e as aquisições de habilidades sociais próprias da idade não ocorrem naturalmente. Embora a maioria dos autores afirme que neste período ocorrem ideação ou tentativas de suicídio, Shafii e Shaffi destacam que o comportamento autodestrutivo na forma de bater a cabeça severa e repetidamente, morder-se, engolir objetos perigosos e a propensão de acidentes pode ser um equivalente suicida em crianças que não verbalizam emoções. Entretanto, a ideação suicida nesta faixa etária é considerada de ocorrência rara, podendo ocorrer em casos especiais.
Quanto às famílias, estudos norte-americanos realizados com crianças pré-escolares com depressão encontraram freqüentemente pais também com depressão e envolvidos em graves problemas sociais.
Em crianças escolares (idade entre 6 a 7 anos até 12 anos), o humor depressivo já pode ser verbalizado e é freqüentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. Apresentam aparência triste, choro fácil, apatia, fadiga, isolamento, declínio ou desempenho escolar fraco, podendo chegar a recusa escolar, ansiedade de separação, fobias e desejo de morrer. Também podem relatar concentração fraca, queixas somáticas, perda de peso insônia e sintomas psicóticos humor-congruente (alucinações auditivas depreciativas e menos freqüentes, delírios de culpa e pecado). O declínio no desempenho pode dever-se à fraca concentração ou interesse, próprios do quadro depressivo. É comum a criança não ter amigos, dizer que os colegas não gostam dela ou apresentar um apego exclusivo e excessivo a animais. Inabilidade em se divertir (anedomia), pobre relacionamento com seus pares e baixa autoestima, se descrevendo como estúpidas, bobas ou impopulares também podem estar presentes.
É importante destacar que os professores são freqüentemente os primeiros a perceber as modificações decorrentes da depressão nessas crianças. Em pesquisa sobre o rendimento escolar em crianças…
Tanto em crianças pré-escolares como nas escolares a depressão pode tornar-se clara através da observação dos temas das fantasias, desejos, sonhos, brincadeiras e jogos, com os conteúdos predominantes de fracasso, frustração, destruição, ferimentos, perdas ou abandonos, culpa, excesso de autocríticas e morte.
2.3.1 Episódios Depressivos
Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão: leve, moderado ou grave, o paciente apresenta rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral a fadiga acentuada, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral, problemas de sono e diminuição de apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da autoconfiança e freqüentemente, idéias de culpabilidade e/ou indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode acompanhar-se de sintomas ditos “somáticos” – por exemplo, perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora acentuada, agitação, perda do apetite, perda de peso e perda da libido.
O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.
Inclui: episódios isolados de uma depressão: psicogênica; reativa; reação depressiva.
Exclui: quando associados com transtornos de conduta; transtornos de adaptação; transtornos de depressão recorrente.
 Episódio Depressivo Leve
Geralmente estão presentes ao menos dois ou três dos sintomas citados anteriormente. O paciente usualmente sofre com a presença desses sintomas, mas provavelmente será capaz de desempenhar a maior parte das atividades.
 Episódio Depressivo Moderado
Geralmente estão presentes ao quatro ou mais dos sintomas citados anteriormente. O paciente aparentemente tem muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina.
 Episódio Depressivo Grave Sem Sintomas Psicóticos
Episódios no qual vários dos sintomas são acentuados e angustiantes, tipicamente a perda da auto-estima e idéias de desvalia ou culpa. As idéias e os atos suicidas são comuns e observa-se em geral uma série de sintomas “somáticos”.
 Episódio Depressivo Grave com Sintomas Psicóticos
Episódio depressivo correspondente à descrição de um episódio grave, mas acompanhado de alucinações, idéias delirantes, de uma lentidão psicomotora ou de estupor de tal gravidade que todas as atividades sociais normais tornam-se impossíveis; pode existir o risco de morrer por suicídio, de desidratação ou de desnutrição. As alucinações e os delírios podem não corresponder ao caráter dominante do distúrbio afetivo.
 Transtorno Depressivo Recorrente
Transtorno caracterizado pela ocorrência repetida de episódios depressivos correspondentes à descrição de um episódio depressivo na ausência de todo antecedente de episódios independentes de exaltação de humor e de aumento de energia (mania). O Transtorno pode, contudo, comportar breves episódios caracterizados por um ligeiro aumento de humor e de atividade (hipomania), sucedendo imediatamente a um episódio depressivo, e por vezes precipitados por um tratamento antidepressivo. As formas mais graves do transtorno depressivo recorrente apresentam numerosos pontos comuns com os conceitos anteriores de depressão maníaco-depressiva, melancolia, depressão vital e depressão endógena. O primeiro episódio pode ocorrer em qualquer idade, da infância à senilidade, sendo que o início pode ser agudo ou insidioso e a duração variável de algumas semanas e alguns meses.
O risco de ocorrência de um episódio maníaco não pode jamais ser completamente descartado em um paciente com transtorno depressivo recorrente, qualquer que seja o número de episódios depressivos apresentados. Em caso de ocorrência de um episódio maníaco, o diagnóstico deve ser alterado pelo de transtorno bipolar.
 Distimia
(incluída nos transtornos de humor (afetivos) persistentes)
Rebaixamento crônico do humor, que persiste ao menos por vários anos, mas cuja gravidade não é suficiente ou na qual os episódios individuais são muito curtos para responder aos critérios de transtorno depressivo recorrente grave, moderado ou leve.
 Ansiedade Generalizada
Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre exclusivamente, nem de modo preferencial, numa situação determinada (a ansiedade é “flutuante”). Os sintomas essenciais são variáveis, mas compreendem nervosismo persistente, tremores, tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico. Medos de que o paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar doente ou sofrer um acidente é freqüentemente expressos.
 Transtorno Muito Ansioso e Depressivo
Esta categoria deve ser utilizada quando o sujeito apresenta ao mesmo tempo sintomas ansiosos e sintomas depressivos, sem predominância nítida de uns ou de outros, e sem que a intensidade de uns ou de outros seja suficiente para justificar um diagnóstico isolado. Quando os sintomas ansiosos e depressivos estão presentes simultaneamente com uma intensidade suficiente para justificar diagnósticos isolados, os dois diagnósticos devem ser anotados e não se faz um diagnóstico de transtorno misto ansioso e depressivo.
 Distúrbios da Atividade e da Atenção
Síndrome/Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade
Transtorno de hiperatividade e déficit de atenção
Exclui: transtorno hipercinético associado a transtorno de conduta.
2.4 POSSÍVEIS CAUSAS
Quanto à tentativa de explicar o porquê da depressão, Moreno e Moreno destacam algumas teorias psicológicas.
Na teoria psicanalista, Freud e Abraham teorizam que a depressão era devido à perda imaginária ou real do objeto amado…
O modelo de estressores de vida assume que estes mesmos ou mudanças ambientais que requerem adaptação causem depressão. Weller & Weller, 1991, colocam que os sintomas depressivos na infância seriam na maioria das vezes, uma reação à desordem familiar, pois são encontradas alta incidência de agressividade dos pais, disciplinas punitivas, discórdia marital, e rejeição nas famílias de crianças deprimidas.
No modelo de reforçamento comportamental, é proposto que comportamentos e sentimentos depressivos são causados pôr reforçadores positivos insuficientes e inadequados.
No modelo de desamparo aprendido, o deprimido percebe seu comportamento como independente de reforçadores. Esta percepção leva-o à desesperança e posteriormente a desistir de tudo. O desamparo é devido à déficitis motivacionais, cognitivos e emocionais.
No modelo de distorção cognitiva, a visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro, seria a causa básica da depressão. Entretanto, não está claro se estas distorções cognitivas constituem essência ou são resultados da depressão. É necessário mais estudos para validação desta teoria.
Seriam causas:
Orgânicas:
 Quadro infeccioso;
 Acidentes;
 Doenças físicas.
Psicológicas:
 Qualidade de relacionamentos;
 Ambiente familiar, que pode traduzir questões como:
 Rejeição: a falta de amor autêntico leva a criança a comportamentos anti-sociais, e a sentimentos de inferioridade, não se sente aceita individualmente (excesso de comparações) e manifesta crises emocionais e de depressão.
 Carência afetiva: ausência de diálogo, separação dos pais, competição e comparação entre irmãos, castigos indevidos e injustificados, internações.
 Super proteção: criança excessivamente protegida, sem chances de criar, se fragiliza.
 Fator sócio-econômico: modificação padrão ou exigência da participação na renda familiar;
 Outros fatores: morte, falência, desemprego familiar doenças graves na família.
2.5 TIPOS DE DEPRESSÃO
Lippi (1991) destaca a existência de três dimensões através das quais o ser humano exterioriza a sua conduta. Assim a depressão, sendo uma conduta, pode ser classificada como:
 Depressão Biogenética → Estado depressivo orgânico na criança. Estas crianças manifestam, principalmente por ocasião da idade escolar, uma sintomatologia francamente depressiva, independente de pertencerem elas a ambientes aparentemente saudáveis e harmônicos. A história progressiva dessas crianças revela, muitas vezes, terem sido bebês com distúrbios do sono, choros em demasia, agitados e insatisfeitos. O temperamento das crianças portadoras de depressão biogenética carrega uma base de humor depressivo como um patrimônio constitucional. As crianças têm uma impressão de lassidão, seu olhar é triste e sua mímica é inexpressiva, todo esforço lhes é penoso, inclusive o intelectual. Por causa disso normalmente vão mal na escola, suas escritas são apagadas e tímidas, seus desenhos são tristes. Não convivem bem com seu grupo de iguais, isolam-se e não raras vezes são encontradas chorando.
Não é raro encontrarmos na família um ambiente favorecedor de depressão, normalmente com um dos genitores portando um temperamento distímico (depressivo por natureza). Elas, entretanto, freqüentemente se recusam a dormir em casa de amigos, como é comum na meninice, tem um comportamento adesivo junto aos pais como uma “sombra” pela casa, apresentam um discurso de adulto cheio de preocupações acerca de infortúnios imaginários, tem dificuldades no adormecer pedindo para que alguém fique com elas até a conciliação do sono. Estas crianças sofrem antecipadamente de ausência de um dos pais.
 Depressão Relacional → Situam-se aqui as manifestações relacionadas, predominantemente, com o meio ambiente; trata-se pois, de uma Reação Depressiva em resposta às solicitações do ambiente. Os estressores psicossociais determinam na criança sentimentos depressivos que se revertem com a subtração do estressor. Podemos apontar como uma das primeiras manifestações desta depressão relacional na criança a ANGÚSTIA DO 8º MÊS, tão bem descrita por Spitz. Neste período do desenvolvimento infantil a criança passa a distinguir o mundo objectual como sendo composto de elementos dispares: bons e maus; feios e bonitos; prazerosos ou sofríveis. Não sorri mais qualquer estímulo, pode recusar baixar o olhar, manifestar timidez e mesmo gritar. Portanto, dependendo predominantemente do ambiente, a criança nesta fase pode manifestar maior ou menor angustia. Esta DEPRESSÃO RELACIONAL é considerada por alguns autores sob a denominação de ESTADOS DEPRESSIVOS NO LACTENTE.
Segundo Melamie Klein, trata-se de um acontecimento filosófico do desenvolvimento chamado de POSIÇÃO DEPRESSIVA. Devido à característica filosófica desse fenômeno, Ree afirma que ela não chega a evoluir posteriormente para uma DEPRESSÃO no adulto e, ainda devido ao fato de ser filosófica, não deveria ser incluída no capitulo das depressões infantis. Este entendimento não é compartilhado por Mahler, segundo o qual, se esta Reação Depressiva for muito intensa e muito demorada poderá contribuir para a formação de um humor básico depressivo e uma tendência afetiva à Depressão. Resultaria num traço depressivo constitucional, porém não necessariamente hereditário. Durante este estado depressivo do lactente, a criança manifesta uma sintomatologia que sugere a Reação de Alarme da síndrome de Adaptação ou Estresse, podendo sobrevir uma série de alterações somáticas, viscerais e da ritmicidade vital.
 Depressão Psicogenética → Nestes casos, a DEPRESSÃO desenvolve-se diante de um processo psicológico conseqüente à estados conflituosos, valendo-se da convocação de mecanismos de defesa psicológicos e elaboração psíquica de perdas e frustrações. Nos estados conflituosos pode estruturar-se uma patologia de nível neurótico com uma fenomelogia emocional freqüentemente redutível, ou seja, com relações de compreensão casual. DEPRESSÕES ONTOGENÉTICAS, PSICOGENÉTICAS ou PSICOLÓGICAS, são sinônimas e, contrariamente à DEPRESSÃO ENDÓGENA, sugerem uma participação predominantemente ambiental sem que, no entanto, seja dispensável uma determinada inclinação da personalidade. Ajuriaguerra cita a posição de J. Sandres e W. G. Jofle, segundo os quais, as crianças portadoras de uma sintomatologia depressiva, segundo os quais, as crianças apesar das soloicitações ambientais, uma natureza biológica susceptível como base do sofrimento. Conforme suas próprias palavras, seria uma Resposta Afetiva de Base cujo conceito muito se aproxima daquilo de Kurt Schneider quer dizer com Reação Vivencial Anormal, ou seja, uma franca desproporcionalidade entre os sentimentos manifestados e a vivência causadora. Trata-se de uma espécie de facilidade constitucional em adoecer mediante as frustrações proporcionadas pela vida, sobrevindo daí o mal estar depressivo pôr um período e uma intensidade maiores que os esperados. Constituem as crianças com baixo nível de tolerância às frustrações.
2.6 TRATAMENTO
De acordo com os teóricos estudados, os distúrbios afetivos, entre eles a depressão e a distimia, podem ser tratados com sucesso através de medicamentos psicotrópicos, porém necessitam também da psicoterapia associada.
2.6.1 Tratamento farmacológico:
No tratamento medicamentoso, segundo Assumpção, as drogas mais utilizadas são: os antidepressivos tricíclicos – imipramina (mais utilizada), amitriptilina e a nortriptilina.
Ainda com utilização pouco descrita em crianças, os receptadores de serotonina – fluoxetina, norfluexetina, sertralina, paroxetina e fluvoxamina – também podem ser usados.
De acordo com Ferrari (4), são necessárias algumas características para a indicação deste tratamento:
1. Sintomatologia depressiva muito intensa com sintomas severos como lentidão motora importante, distúrbios graves da vida instintiva, afeto depressivo e dor moral intensa.
2. Semelhança com o quadro clínico do adulto ou mesmo do adolescente.
3. Risco de suicídio.
2.6.2 Tratamento psicoterápico:
De acordo com Ferrari, a psicoterapia em crianças deprimidas visa reduzir os sintomas, e, em particular, aliviar o sofrimento, favorecendo uma independência sadia da criança, reduzindo a probabilidade de recidivas e aumentando sua capacidade de lidar com problemas futuros.
Emy Gut (1989) desenvolveu um modelo de cinco estágios do trabalho com depressão:
1. Estabelecer o que foi perdido. Investigar com o paciente o que foi que ele perdeu.
2. Trabalhar o sentimento de fracasso que o paciente experimenta, pôr não ter sido capaz de salvar aquilo que foi perdido. Teve uma perda e o sentimento de fracasso porque não conseguiu evitar a perda.
3. Dar ênfase quanto à auto-estima. O paciente sente-se culpado, com medo, vergonha, ódio, amargura. É preciso procurar o que perdeu e de que forma o paciente se sente fracassado – recuperar sua auto-estima. Este é o momento em que o paciente tem ódio pôr si mesmo (os suicidas estão neste estágio).
4. Mostrar a necessidade de prosseguir sem o que foi perdido. A depressão aparece e se mantém ativada até que a função do luto seja reestruturada de uma forma propícia para as novas circunstâncias da vida. O paciente está desintegrado e com o objetivo de reintegração – é preciso achar uma outra estrutura sem aquilo que foi perdido.
5. Neste estágio, é trabalhado com o paciente, o fato de que ele pode viver com sucesso sem aquilo que foi perdido.
Na psicoterapia busca-se sempre restabelecer e reestruturar o EU (ego), através da busca do que foi perdido, bem como a elaboração dessa perda.
Atualmente, a Teoria Cognitiva tem sido usada com bastante êxito nos casos de Síndrome Depressiva.
CAPÍTULO 3: DEPRESSÃO INFANTIL E RENDIMENTO ESCOLAR
3.1 DISTÚRBIO DA APRENDIZAGEM
Conforme afirmam Barbosa e Lucena (1995), a escola é um local bastante favorável à realização de estudos epidemiológicos. O comportamento depressivo na infância ocorrerá, muito provavelmente, no contexto educacional, sendo o baixo rendimento escolar um dos principais sinais do surgimento de um possível quadro depressivo.
Também deve ser ressaltada a importância do diagnostico para a família da criança, visto que a depressão pode acarretar problemas no seu repertório comportamental, variando desde extrema irritabilidade à obediência excessiva, podendo ainda ocorrer uma instabilidade significativa com relação a esses comportamentos (Barbosa e Lucena, 1995).
Na infância, a depressão, de acordo com Barbosa (1987), aparece como algo camuflado, disfarçado, apresentando-se mais freqüentemente sob a forma de inquietação, rebeldia, preocupações somáticas e hipocondríacas, fugas, condutas anti-sociais e impulsividade, sem falar no debito do desenvolvimento da aprendizagem. É na escola que, muitas vezes, os sujeitos manifestam os primeiros sinais depressivos, notadamente na apresentação de extremas dificuldades no rendimento escolar, no desempenho cógnito, na matricidade, na socialização entre colegas, na oscilação do humor e na participação de atividades extraclasses, entre outros.
Além de a depressão infantil contribuir no rendimento escolar, algumas investigações têm mostrado que os sintomas depressivos também afetam os hábitos dos alunos (Palladino e Cols. 2001; Pekrun, Goetz, Titez e Perry, 2002).
A incidência de problemas emocionais, mais especificamente depressão, ocorre com certa freqüência em crianças de séries escolares iniciais e normalmente estão associados a outras dificuldades de comportamento ou acadêmicas. Segundo Fonseca, Rebelo, Ferreira, Sanches, Pires e Gregório (1998) os problemas psicológicos infantis não devem ser considerados como um fenômeno transitório e sem gravidade, já que dados sugerem que essas dificuldades podem apresentar uma grande estabilidade temporal e ainda contribuem para afetar negativamente o processo de desenvolvimento da criança como um todo.
A relação entre depressão infantil e rendimento escolar tem sido investigada por alguns autores (Colbert & cols., 1982; Livingston, 1985; Hall & Haws, 1989; Mokros, Poznanski & Merrick, 1989; Weinberg, Mclean, Snider, Nuckols, Rintelmann, Erwin & Brumback, 1989; Nunes, 1990; Wright-Strawderman & Watson, 1992; Feshbach & Feshbach, 1997; Pérez e Urquijo, 2001; Sommerhalder & Stela, 2001). No Brasil, apesar da maioria dos estudos acerca desse tema serem realizados no ambiente escolar, são poucos aqueles que relacionam a depressão ao rendimento escolar do aluno. Os resultados desses estudos sugerem que a depressão na criança pode prejudicar seu rendimento na escola, bem como o aproveitamento acadêmico. Crianças com história de depressão apresentam um desempenho acadêmico abaixo do esperado (Feshbach & Feshbach, 1997). Sommerhalder e Stela (2001) descrevem que, na criança deprimida, as funções cognitivas como atenção, concentração, memória e raciocínio encontram-se alteradas, o que interfere no desempenho escolar, uma vez que na sala de aula, a criança com sintomas de depressão normalmente mostra-se desinteressada pelas atividades, apresenta dificuldade em permanecer atenta nas tarefas e esse comportamento interfere de forma negativa na aprendizagem dessas crianças.
Os estudos demonstram que a incidência de sintomas depressivos em crianças com dificuldades escolares é considerada alta principalmente quando comparada com a taxa de prevalência de sintomatologia de Os estudos demonstram que a incidência de sintomas depressivos em crianças com dificuldades escolares é considerada alta principalmente quando comparada com a taxa de prevalência de sintomatologia de depressão na população infantil sem dificuldades de aprendizagem (Hall & Haws, 1989; Wright-Strawderman & Watson 1992; Colbert & cols., 1982).
Wright-Strawderman e Watson (1992) avaliaram 53 crianças de 3ª, 4ª e 5ª série, de 8 a 11 anos, com o objetivo de conhecer a incidência de sintomatologia depressiva em sujeitos com dificuldade de aprendizagem. Os resultados indicaram que 35,85% dessas crianças apresentavam sintomatologia depressiva, não apresentando diferença significativa quanto ao sexo. Outro estudo (Hall & Haws, 1989) procurou identificar o nível de depressão em uma amostra de 100 alunos de 4ª, 5ª e 6ª série, divididos em dois grupos: 50 alunos com dificuldade de aprendizagem e 50 alunos sem dificuldade de aprendizagem. As crianças com dificuldades de aprendizagem apresentavam escores significativamente mais altos de depressão.
Weinberg e cols. (1989) também investigaram a relação entre problemas escolares e depressão. Encontraram alta incidência (35 %) de depressão em crianças entre 6 e 15 anos com dificuldade de aprendizagem.
Colbert e cols. (1982) avaliou 282 crianças de 6 a 14 anos e 54 % dos sujeitos apresentavam depressão, segundo os critérios do DSM III. As crianças com depressão apresentavam um baixo rendimento escolar, embora eram crianças capazes intelectualmente e sem dificuldades específicas de aprendizagem. Os autores concluem que a dificuldade de aprendizagem desses sujeitos pode ser resultante da falta de energia e dificuldade de concentração, sintomas característicos do quadro depressivo.
A partir da constatação de que sintomas depressivos podem estar associados ao baixo rendimento escolar e fracasso acadêmico, alguns autores têm sugerido a relação entre depressão e baixo nível de inteligência (Brumback, Jackoway & Weinberg, 1980). Essa hipótese ainda tem sido bastante controvertida. Em alguns estudos que objetivaram verificar nível intelectual de deprimidos e não deprimidos, não foram encontradas diferenças significativas quanto ao desempenho nos subtestes de inteligência – WISC (Brumback & cols., 1980; Mokros & cols., 1989). Diante desse resultado, concluiu-se que a falta de diferença no desempenho no teste de inteligência entre grupo de deprimidos e grupo de não deprimidos sugere que o baixo rendimento escolar pode ser resultado da depressão em si e não de um déficit intelectual.
Nesse caso, os problemas escolares estariam atuando como uma possível expressão da de pressão, diretamente relacionada a falta de interesse da criança em participar das tarefas escolares e em função dos sentimentos de auto desvalorização (Brumback & cols., 1980).
Mokros e cols. (1989) consideram que as dificuldades de aprendizagem podem ser confundidas com sintomas de uma desordem afetiva como a depressão. Uma criança pode, na verdade, apresentar uma desordem afetiva e ser diagnosticada como tendo dificuldades de aprendizagem. Os autores recomendam ao profissional que tem diante de si uma criança com dificuldade de aprendizagem, avaliar também a possibilidade dessa criança apresentar sintomas depressivos (citando Hunt e Cohen).
Weinberg e cols. (1989) enfatizam que quando depressão e dificuldades escolares ocorrem em uma mesma criança, é importante considerar se a depressão é primária e, portanto causa da dificuldade escolar ou se é secundária, ou seja, a depressão enquanto resultado do fracasso escolar, pois somente depois dessa avaliação é possível a indicação da terapêutica mais apropriada.
Em síntese, os estudos descritos sugerem que crianças com dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar apresentam mais sintomas depressivos do que crianças sem dificuldades escolares. O declínio no desempenho escolar ocorre com muita freqüência na criança deprimida e alguns autores sugerem que esse comportamento pode ser visto como um sinal ou um indicador de distúrbio depressivo (Bandim & cols., 1995). Os dados revelam ainda a complexidade do diagnóstico, a dificuldade de profissionais na identificação de ambos os problemas (depressão e dificuldade de aprendizagem) e a necessidade de um olhar cauteloso e crítico diante da criança, já que um diagnóstico incorreto implica em orientação, encaminhamento e intervenção inadequada (Colbert & cols. 1982).
3.2 DEPRESSÃO INFANTIL: algumas implicações educacionais.
Sem a intenção de desconsiderar a gama de aspectos que interferem no processo de aprendizagem, atualmente, não há dúvida que os fatores internos podem promover ou inibir o desempenho escolar. Os problemas emocionais podem conduzir a futuras formas de inadaptação tanto em nível individual, como em nível escolar e social, uma vez que tais dificuldades não são tão passageiras e leves como antes se acreditava ser (Fonseca & cols., 1998). Daí a necessidade de, no contexto educacional, se olhar o aluno em sua totalidade, considerando suas características de personalidade, seu estado emocional, suas crenças e cognições frente a aprendizagem (Fierro, 1996).
A relação entre depressão infantil e dificuldade de aprendizagem tem recebido atenção especial na literatura internacional. Livingston (1985) afirma que conhecer esta associação pode ser muito importante para aqueles que trabalham com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem.
Colbert e cols. (1982) concluí em seu estudo que o professor possui muita dificuldade para identificar a criança com sintomas de depressão principalmente devido a sua similaridade com outros problemas, o que contribui para tornar a orientação e encaminhamento mais tardio, o que certamente prejudica o desenvolvimento da criança. Há também aqueles que confundem os dois problemas e terminam por diagnosticar uma criança com depressão como tendo dificuldade de aprendizagem, o que também acarreta em intervenções inadequadas e incorretas.
Os sintomas de depressão podem se manifestar de diferentes formas no ambiente escolar. O professor deve estar alerto a alguns sinais indicativos e pensar na possibilidade de depressão diante de uma criança que revela uma expressão de tristeza, ou mudança no nível de atividade, diminuição no rendimento escolar, fracasso em terminar suas tarefas escolares, isolamento social, agressividade ou verbalizações como: “Eu não posso fazer isso” (Livingston, 1985).
Ainda não está claro a relação causal entre depressão e dificuldade de aprendizagem. Mais precisamente, não se tem dados científicos suficientes para afirmar se a dificuldade de aprendizagem é um fator de risco para depressão ou se sintomas depressivos acarretariam uma dificuldade de aprendizagem. A hipótese de que crianças com dificuldade de aprendizagem seriam fortes candidatas a depressão é fortemente defendida por Seligman e cols. (apud Hall & Haws, 1989). Uma criança com uma limitação cognitiva dificilmente alcança um nível de desempenho esperado, não sendo reconhecida e elogiada pelos colegas e professores, ao passo que seus amigos recebem reconhecimento e elogios pelo desempenho alcançado (Hall & Haws, 1989). Na verdade, a criança com dificuldades na escola percebe sua dificuldade, pois não consegue atingir as suas expectativas e nem as expectativas dos outros, gerando sentimentos negativos de frustração, inferioridade e incapacidade.
Por outro lado existem autores que acreditam que a depressão pode induzir ou piorar uma dificuldade de aprendizagem (Colbert & cols., 1982; Livingston, 1985; Mokros & cols., 1989). Livingston (1985) coloca que essa afirmação poderia ser sustentada mediante a confirmação de duas hipóteses: a primeira é que existe uma relação temporal entre o início da depressão na criança seguido de uma piora ou declínio do seu rendimento escolar. E a segunda, estaria relacionada ao sucesso no tratamento da depressão acompanhado pela melhora no desempenho escolar. Nesse caso, a dificuldade de aprendizagem seria decorrente da falta de interesse e energia da criança, falta de atenção e concentração (Colbert & cols., 1982). A dificuldade de aprendizagem consistiria em uma manifestação da depressão em si, em função da não participação do aluno nas atividades escolares e também pelos sentimentos negativos de auto-depreciação (Brumback & cols., 1980).
Tal discussão se revela extremamente relevante, pois a relação causal entre esses dois fenômenos conduz a implicações políticas e educacionais distintas. Apesar de ainda se fazer necessário inúmeras pesquisas a fim de clarificar essa questão, alguns pontos já são evidentes. Livingston (1985) reforça que os educadores precisam estar informados a respeito da depressão infantil e que os professores precisam ficar atentos a alguns sinais apresentados pela criança e sugere ainda o desenvolvimento de mais pesquisas na área.
Quanto à população brasileira ainda existem muitas lacunas e dúvidas. Diante desse quadro, faz-se necessário cada vez mais pesquisas que aumentem o conhecimento acerca da incidência da depressão infantil no Brasil e principalmente que dados provenientes de estudos mais sistemáticos sejam traduzidos em informações úteis a serem compartilhadas com educadores, pois somente assim estes terão as ferramentas necessárias para melhor compreender a depressão e suas relações com a aprendizagem. Além disso, acredita-se que o fato de se conhecer melhor a depressão infantil e suas características, possibilita o encaminhamento precoce, bem como uma atuação preventiva por parte daqueles envolvidos com a criança.
3.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
Algumas vezes o educando apresenta desempenhos que sugerem um distúrbio de aprendizagem, ou seja, apresenta baixo rendimento nas atividades acadêmicas e, também, uma desordem emocional. Porém nem sempre essa dificuldade de aprendizagem está relacionada com a depressão, podendo ser causada então por outros fatores.
Sejam considerados como origem ou uma decorrência, os problemas emocionais se constituem em comportamentos incompatíveis com o ato de aprender e, por esta razão, precisam ser tratados.
Ambos os aspectos, desempenho acadêmico e problemas emocionais, determinam o comportamento da criança e, por isso, são de interesse tanto da psicologia como da educação.
Provavelmente a maioria dos profissionais envolvidos com educação já se deparou com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Em alguns casos o problema destes alunos foi resolvido na própria escola. Em outros um professor particular se mostrou eficaz.
Há, entretanto, alunos cujos problemas persistem depois destas interferências. Nestes casos, a intervenção de especialistas é necessária. São os encaminhamentos feitos a fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos ou médicos, e é o professor que vai ser o principal identificador destes problemas, encaminhando ou não o educando para o especialista necessário.
Será fácil perceber a necessidade do envolvimento de todos estes especialistas se nos lembrarmos da grande diversidade de fatores que podem ser responsáveis por estas dificuldades.
Dentre estes fatores, podemos citar:
• os problemas emocionais;
• os problemas orgânicos (audição, fala e visão);
• os hábitos de estudo inadequados;
• a falta de motivação;
• os problemas de relacionamento com o professor e/ou com os colegas;
• a falta de atenção às explicações dos professores;
• as deficiências intelectuais;
• as carências ambientais etc.
Assim sendo, dependendo do fator predominante na dificuldade que o aluno apresenta, um ou outro profissional pode ser o mais indicado.
No entanto, nem sempre é fácil decidir-se pelo melhor encaminhamento. Por um lado, a identificação exata da dificuldade apresentada é bastante complexa. Apesar desta dificuldade, uma avaliação cuidadosa de cada caso é imprescindível e dela dependerá a escolha do profissional adequado. Um encaminhamento precoce maximiza a chance de sucesso do atendimento e poupa a criança do desgaste de passar de consultório em consultório. É preciso saber se os educandos sentem-se inferiorizadas por precisar de ajuda extra-escolar, e a passagem por vários especialistas acentua a auto-imagem negativa que essas crianças acabam por desenvolver.
Considera-se que uma criança tenha distúrbio de aprendizagem quando:
1. Não apresenta um desempenho compatível com sua idade quando lhe são fornecidas experiências de aprendizagem apropriadas.
2. Apresenta discrepância entre seu desempenho e sua habilidade intelectual em uma ou mais das seguintes áreas:
a) expressão oral e escrita;
b) compreensão de ordens orais;
c) habilidade de leitura e compreensão;
d) cálculo e raciocínio matemático.
Além disso, costuma-se considerar quatro critérios adicionais no diagnóstico de distúrbios de aprendizagem. Para que a criança possa ser incluída neste grupo, ela deverá:
1. Apresentar problemas de aprendizagem em uma ou mais áreas acadêmicas.
2. Apresentar uma discrepância significativa entre seu potencial e seu desempenho real.
3. Apresentar um desempenho irregular, isto é, a criança tem um desempenho satisfatório e insatisfatório alternadamente, no mesmo tipo de tarefa, ou consegue realizar tarefas mais complexas sem conseguir solucionar outras mais fáceis e relacionadas com aquelas.
4. O problema de aprendizagem não é devido a deficiências visuais, auditivas, nem a carências ambientais ou culturais, nem a problemas emocionais.
É necessário, contudo, que os professores saibam, pelo menos, identificar a existência de determinado problema e que saibam, sobretudo, encaminhá-los para a recuperação adequada. É preciso que os professores se conscientizem de que nenhum aluno apresenta baixo rendimento porque quer. Há sempre uma razão para isso acontecer.
3.4 DEPRESSÃO E OS PROBLEMAS EMOCIONAIS NA ESCOLA
Como exemplo de condição emocional intrínseca está os problemas psíquicos inerentes à própria pessoa, próprias do desenvolvimento da personalidade, dos traços herdados e das características pessoais de cada um. Incluem-se aqui os quadros associados aos traços ansiosos da personalidade, como por exemplo, a Ansiedade de Separação na Infância, os Transtornos Obsessivo-Compulsivos, o Autismo Infantil, a Deficiência Mental, Déficit de Atenção. Incluem-se também os quadros associados aos traços depressivos da personalidade, como é o caso da Depressão na Adolescência, Depressão Infantil, e outros mais sérios, associados à propensão aos quadros psicóticos, como a Psicose Infantil, Psicose na Adolescência e associados aos transtornos de personalidade, a exemplo dos Transtornos de Conduta, entre outros.
Entre as questões externas à personalidade capazes de se traduzirem em problemas emocionais, encontram-se as dificuldades adaptativas da Adolescência e Puberdade, do Abuso Sexual Infantil, os problemas relativos à Criança Adotada, à Gravidez na Adolescência, à Violência Doméstica, aos problemas das separações conjugais dos pais, morte na família, doenças graves, etc.
O preparo e bom senso do professor é o elemento chave para que essas questões possam ser melhor abordadas. A problemática varia de acordo com cada etapa da escolarização e, principalmente, de acordo com os traços pessoais de personalidade de cada aluno. De um modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as novidades, as exigências adaptativas, uma nova escola ou, simplesmente, a adaptação à adolescência.
As crianças e adolescentes como ocorrem em qualquer outra faixa etária, reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida. É exatamente nessas fases de provação afetiva e emocional que vêem à tona as características da personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas.
Erram alguns professores menos avisados, ao considerar que todas as crianças devessem sentir e reagir da mesma maneira aos estímulos e às situações ou, o que é pior, acreditar que submetendo indistintamente todos alunos às mais diversas situações, quaisquer dificuldades adaptativas, sensibilidades afetivas, traços de retraimento e introversão se corrigiriam diante desses “desafios” ou diante da possibilidade do ridículo. Na realidade podem piorar muito o sentimento de inferioridade, a ponto da criança não mais querer freqüentar aquela classe ou, em casos mais graves, não querer mais ir à escola.
Para as crianças menores, por exemplo, existem as ameaças ou a ridicularização pelas mais velhas, e esse sentimento de ridicularização é tão mais contundente quanto mais retraída e introvertida é a criança. Já, para os adolescentes, as ameaças de ansiedade geradas em ambiente intraclasse são o desempenho aquém da média nos times esportivos, nos trabalhos em grupo, as diferenças sócio-econômicas entre os colegas, as diferenças no estilo e nas possibilidades de vida, no vestuário, etc.
Como se sabe, a escola é um universo de circunstâncias pessoais e existenciais que requerem do educador (professor, dirigente ou staff escolar), ao menos uma boa dose de bom senso, quando não, uma abordagem direta com alunos que acabam demandando uma atuação muito além do posicionamento pedagógico e metodológico da prática escolar.
O tão mal afamado “aluno-problema”, pode ser reflexo de algum transtorno emocional, muitas vezes advindo de relações familiares conturbadas, de situações trágicas ou transtornos do desenvolvimento, e esse tipo de estigmatização docente passa a ser um fardo a mais, mais um dilema e aflição emocional agravante. Para esses casos, o conhecimento e sensibilidade dos professores podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes conturbados.
Veja a seguir alguns eventos que podem ter ocasionado uma suposta depressão do aluno:
1. Perda de um dos pais (morte ou divórcio)
2. Urinar na sala de aula
3. Perder-se; ser deixado sozinho
4. Ser ameaçado por crianças mais velhas
5. Ser o último do time
6. Ser ridicularizado na classe
7. Brigas dos pais
8. Mudar de classe ou de escola
9. Ir ao dentista/hospital
10. Testes e exames
11. Levar um boletim ruim para casa
12. Quebrar ou perder coisas
13. Ser diferente (sotaque ou roupas)
14. Novo bebê na família
15. Apresentar-se em público
16. Chegar atrasado à escola
A partir dessa lista, podemos ver alguns fatores aflitivos do dia-a-dia dos alunos. Por exemplo, observe-se que urinar na sala de aula é a segunda maior preocupação e, por comparação, um novo bebê na família aparece em 14º lugar. Isso sugere que, para uma criança ou adolescente em idade escolar, as coisas que a depreciam diante de seus colegas podem provocar níveis mais elevados de frustração, estresse, ansiedade ou depressão.
O mesmo fenômeno pode acontecer com as minorias étnicas ou dos alunos culturalmente diferentes, como por exemplo, portadoras de sotaque. Evidentemente não devemos nunca esquecer que algumas crianças são mais vulneráveis a transtornos emocionais do que outras.
As variáveis ambientais, particularmente aquelas que dizem respeito ao funcionamento familiar, também podem influenciar muito a resposta das crianças e adolescentes aos estressores escolares e, conseqüentemente, ao surgimento de algum transtorno emocional. Há uma espécie de efeito de proteção exercido pelos bons relacionamentos familiares que se estende até a adolescência.
Algumas crianças consideram a escola como um refúgio dos problemas familiares, pois, tanto o ambiente escolar quanto os professores, continuam constantes em sua vida durante esse período de grande reviravolta existencial. Mesmo assim, nem sempre esses alunos aceitarão conversar a respeito das dificuldades que enfrentam em casa (neste caso, a separação). Novamente, serão as alterações em seu desempenho e comportamento que denunciarão a existência de problemas emocionais.
A sensação de solidão, tristeza e a dificuldade de concentração na escola, tudo isso contribui para uma depressão infantil ou da adolescência, complicando muito o inter-relacionamento pessoal e o rendimento escolar. Pode haver dificuldade de concentração, motivação insuficiente para completar tarefas, comportamento agressivos com os colegas e faltas em excesso. Não se afasta, nesses casos, a necessidade dos professores orientarem algum ou ambos os pais para a procura de ajuda especializada para o aluno.
METODOLOGIA:
Local da Pesquisa:
O estudo foi desenvolvido na Escola Estadual Benedito Marinho da Costa, na cidade de Nova Floresta – Paraíba.
Sujeitos da pesquisa:
Foi realizada com alunos do programa Acelera Brasil. Participaram do estudo 50 crianças de oito à quatorze anos de ambos os sexos.
Tempo da pesquisa:
A pesquisa foi desenvolvida no mês de março de 2008.
Instrumento da pesquisa:
A pesquisa desenvolveu-se através de um questionário inspirado no instrumento ESDM-P, (ver anexo). Escala de Sintomatologia para professores, que é um instrumento de medida da depressão infantil composto por 22 itens seguidos por uma escala tipo Likert variando de 1 (quase nunca) a 3 (quase sempre), cuja apuração é objetiva e realizada através da soma das respostas.
O questionário foi aplicado junto às professoras dos respectivos sujeitos. Cada professora tinha a liberdade de escolher os alunos mais próximos a si, facilitando, assim, a resolução dos itens e tornando as informações mais fidedignas.
Os dados deste estudo foram analisados quantitativamente, a tabulação e digitação dos dados foram feitas através do Microsoft Excel 2007 e organizados em gráfico, no que se reflete a criança apresentar ou não prevalência à depressão.
O escore final de cada sujeito foi obtido através do somatório das respostas fornecidas pelos professores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram observadas cinqüenta crianças de oito a quatorze anos, as quais, dezesseis apresentaram, possivelmente, algum dos sintomas referentes ao questionário.
Figura 1: Distribuição dos escolares segundo a idade e o escore final.
Observa-se que os valores mais freqüentes na amostra estudada estão no intervalo compreendido entre 10 e 13 anos, tal resultado revelou que 16 crianças em idade escolar têm, possivelmente, sintomas indicativos de prevalência à depressão. Desses 16 casos dez são meninos e seis meninas. Embora alguns estudos indiquem a existência de diferenças entre os sexos, quanto ao fenômeno da prevalência à depressão infantil, na presente pesquisa não se observou diferenças significativas entre os sexos.
A prevalência de sintomatologia depressiva encontrada nesse estudo mostra que algumas crianças têm, possivelmente, uma depressão.
As crianças dessa pesquisa, como já foi descrito, participavam do programa Acelera Brasil, as quais estavam com dois ou mais anos de atraso escolar. Os aspectos que interferiram no processo de aprendizagem dessas crianças foram possivelmente, a dificuldade no rendimento escolar, as reprovações, inadaptação no meio escolar, evasão, dentre outros.
Entre os fatores mais comuns relacionados à depressão infantil, predominaram os de fracasso escolar, hiperatividade, sentimento de rejeição, agressividade e isolamento. Esses fatores podem ser ocasionados por problemas no repertório comportamental da criança, que pode ser explicado por uma dificuldade em estabelecer contato ou ser assertiva com outras pessoas em seu meio.
Neste sentido, faz-se necessário ressaltar que o relacionamento familiar é muito importante para que a criança estabeleça seu primeiro repertório comportamental, no qual os pais irão estabelecer um bom vínculo com a criança, oferecendo-lhe uma boa educação, podendo controlar os comportamentos de punição e recompensa, de crenças e valores, sabendo dizer não na hora certa, para que a criança aprenda que nem sempre ela terá o que quer e como quer. Este é um fator de extrema relevância para que uma criança não desenvolva sintomas depressivos.
Em síntese a pesquisa confirma dados da literatura no sentido de que parece confirmar que os alunos com tal sintoma, apresentam um rendimento escolar baixo. Resultados semelhantes também foram encontrados em estudos prévios, que confirmaram a idéia de que os fatores afetivos afetam negativamente a aprendizagem do aluno. Palladino e cols.(2000) verificaram que o monitoramento da compreensão e conhecimento estratégico apresenta uma correlação negativa com sentimentos depressivos.
A depressão atinge de 4 a 8 crianças em cada cem. Estudos mostram que os fatores de risco da doença aumentam a cada geração desde 1940. Violência urbana, excesso de atividades na agenda diária e falta de espaço para o lazer são os principais fatores.
Cada vez mais os médicos estão convencidos da necessidade de valorizar o que os meninos e meninas dizem sentir. ““Pediatras, pais e professores precisam estar atentos às queixas de comportamento das crianças”, diz a Regina Reis, professora da Universidade Federal Fluminense. De fato, o sintoma que deve chamar a atenção para suspeita de depressão infantil é a mudança de atitude da criança, assim como, alterações no apetite, no estado de ânimo, retraimento social, irritabilidade, medo, tiques nervosos…
O modelo biológico estuda a depressão enquanto doença e enfatiza o papel de fatores bioquímicos e genéticos no aparecimento de sintomas. Um trabalho de Weissman (1987), com crianças cujos pais apresentavam um quadro de depressão é citado por Chabrol (1990). Os dados revelaram que para essas crianças os sintomas depressivos aparecem mais cedo, ou seja, por volta de 12 anos e 7 meses, enquanto que para aquelas cujos pais não apresentavam depressão, o primeiro episódio depressivo surgiria mais tarde, por volta de 16 anos e oito meses.
O modelo comportamental de depressão enfatiza o papel da aprendizagem e das interações com o ambiente. A depressão, de acordo com esse pressuposto, é vista como conseqüência da diminuição de comportamentos adaptados (contato social, interesse pelas atividades e pelas pessoas) e um aumento na freqüência de comportamentos de esquiva e fuga de estímulos vistos como aversivos (tristeza, choro). De acordo com essa teoria, a aquisição de comportamentos depressivos ocorreria mediante a aprendizagem, por meio de mecanismos de condicionamento pavloviano, skinneriano ou aprendizagem social (Chabrol, 1990).
Cabe ressaltar que dificilmente apenas um modelo ou uma única teoria seria suficiente para explicar um fenômeno tão complexo como a depressão, um transtorno que acarreta em inúmeras alterações ao indivíduo. A depressão, sem dúvida, integra fatores sócio-familiares, psicológicos e biológicos, onde as diferentes teorias não se excluem, mas se completam, contribuindo não somente para uma maior compreensão da natureza multicausal deste transtorno, mas também para a concepção do sujeito em sua totalidade bio-psico-social.
No Brasil, ainda são escassos os estudos sobre a depressão na criança. Assim como na literatura internacional, os estudos epidemiológicos brasileiros mostram que a incidência de depressão, na criança, tem se revelado bastante variável. Todavia, apesar dessa diversidade, os estudos confirmam a existência de depressão nessa população.
Esses estudos revelam o quanto pode variar a incidência dos sintomas de depressão e ainda os resultados sugerem que a incidência tende a se elevar na adolescência e parece não haver diferença significativa entre meninos e meninas até esta fase. Na adolescência, essa porcentagem se eleva e as meninas parecem sofrer mais depressão do que os meninos (Soares, 1993).
Com o objetivo de conhecer dados epidemiológicos da depressão e caracterizar o perfil de sintomas depressivos, Bandim e cols. (1995) avaliaram 32 crianças com idade variando entre 6 a 14 anos e que preenchiam os critérios do DSM-III-R para Depressão Maior, Distimia e Distúrbio de ajustamento com humor deprimido. A maioria das crianças receberam o diagnóstico de distimia, seguido pelo distúrbio de ajustamento e por último depressão maior. Nesse estudo, a maior parte das crianças com alteração de humor eram do sexo masculino e tinham entre 11 e 14 anos de idade. Os autores apontam a importância em se observar sinais indicadores que poderiam facilitar a identificação de distúrbios depressivos, como: queda no rendimento escolar, tristeza e disforia.
Apesar de extremamente importante do ponto de vista preventivo, os estudos com crianças em idade pré escolar são ainda mais escassos em nossa realidade. A taxa de prevalência encontrada em crianças de 5 e 6 anos no estudo de Andriola e Cavalcante (1997) foi de 3,9%., não revelando diferenças significativas em relação ao gênero. Estudos em fases iniciais da infância são muito relevantes, uma vez que se os sintomas depressivos não forem identificados podem causar uma série de dificuldades como a baixa auto-estima, queda no rendimento escolar e problemas na interação social, no futuro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Conclui-se que a escola oferece um ambiente propício para a avaliação emocional das crianças e adolescentes por ser um espaço social relativamente fechado, intermediário entre a família e a sociedade. É na escola onde o desempenho dos alunos pode ser avaliado e onde eles podem ser comparados estatisticamente com seus pares, com seu grupo etário e social.
Com algum preparo e sensibilidade o professor estaria mais apetrechado do que os próprios pediatras, dispondo de maior oportunidade para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento das crianças.
Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as conseqüências emocionais de suas vivências sociais e familiares. Educar é ajudar o educando a descobrir a si mesmo.
Cabe ao educador incitar o educando a um caminho de busca contínua, condição para que as descobertas durem tanto quanto a própria vida. Este caminho precisa ter um começo, mas jamais deveria findar. É descobrindo-se e ao mundo, outra vez e sempre, que se pode experimentar uma vida autêntica. Por isso, a primeira tarefa do educador não é suprir de informações. É instigar o educando à busca de seu verdadeiro ser.
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Autor: Renally Flaízy de Araújo Oliveira
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