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Atualizado em 09/08/2024

A Capoeira da Escola: Uma Abordagem Crítica Acerca da Cultura Afro-Brasileira

Este artigo explora a capoeira como uma manifestação da cultura afro-brasileira, discutindo sua importância na formação de identidades e na construção de relações sociais, além de abordar aspectos históricos, antropológicos e educacionais.

A Capoeira da Escola: Uma Abordagem Crítica Acerca da Cultura Afro-Brasileira


“As sinergias musculares que caracterizam fisiologicamente o movimento humano serão tanto mais ricas quanto mais trouxerem no seu bojo uma expressão significativa da própria vida. Caso contrário, tornam-se gestos mecânicos em nada diferentes de que é capaz um robô ou outra máquina qualquer “…

João Paulo Subirá Medina


Resumo

O ensino da capoeira, como conteúdo curricular nas aulas de educação física, tem provocado alguns questionamentos e polêmica entre a “família” escolar. Provavelmente, reflexo de uma sociedade impregnada de valores e pré-conceitos que torna essa prática esquecida (ou excluída) por pensamentos racistas e até mesmo machistas.

A capoeira, na proposta aqui apresentada, dentro de uma perspectiva crítica, busca identificar sua relevância educacional como um todo, saindo de um conceito restrito, referindo-se apenas à técnica, para um conceito mais amplo. Para uma discussão mais aprofundada sobre a importância da capoeira na educação, consulte Educação em Linha.

Contudo, este estudo busca tematizar a capoeira da escola, e não a capoeira na escola, pois a inserção deste conteúdo, enquanto objetivos educacionais, deve propor uma visão mais ampliada, sem enfatizar apenas a técnica dos gestos em relação a um padrão preestabelecido, mas exercitá-la com objetivos críticos.


1- Introdução

O ensino da capoeira, como conteúdo curricular nas aulas de educação física, tem provocado alguns questionamentos e polêmica entre a “família” escolar. Provavelmente, reflexo de uma sociedade impregnada de valores e pré-conceitos que torna essa prática esquecida (ou excluída) por pensamentos racistas e até mesmo machistas.

Alguns estudiosos como Antônio Chizzotti, coordenador do curso de pós-graduação em educação da PUC-SP, e Maria José Feres, secretária de Educação Fundamental do Ministério da Educação, mostram-se preocupados com este assunto, principalmente no que diz respeito à lei federal que obriga as escolas de Ensino Fundamental e Médio – públicas e privadas – a incluir no currículo, como tema transversal, a História e Cultura Afro-Brasileira. Será que a criação de leis é a maneira correta de levar esse tipo de questão para as aulas?

Afirma Chizzotti (2003) que a inclusão não deve ser um tema imposto, deve-se brotar dos docentes e apresentar um aspecto não formal, pois, do contrário, dificultaria essa abordagem dentro da escola.

Segundo Cabral (2003), o próprio governo mostra-se preconceituoso no que diz respeito à diversidade cultural. Afirma também que, assim como os afrodescendentes, todas as pessoas têm o direito de ter suas tradições e culturas estudadas na escola; o problema é a falta de formação dos professores e a ausência de materiais de apoio atualizados.

Neste sentido, o estudo a ser desenvolvido busca tematizar e redimensionar a capoeira dentro do espaço escolar através de uma perspectiva crítico-educacional. O trabalho tenta (re)construir um novo sentido da capoeira, metodológica e pedagogicamente estruturado, cujo ensino não estará voltado a uma prática puramente técnica, mas com responsabilidades culturais e sociais.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

O presente trabalho apresenta como objetivo geral a importância da capoeira, como conteúdo nas aulas de Educação Física, nas escolas estaduais de ensino regular de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental.

1.1.2 Objetivo Específico

Redimensionar o processo de ensino-aprendizagem da capoeira, enquanto conteúdo escolar.

Incentivar, através da capoeira, a valorização da cultura afro-brasileira e o compromisso com o processo histórico, buscando promover a igualdade entre as raças, sem opressão e discriminação, pela construção de uma sociedade mais justa, livre e democrática.

1.2 Justificativa

A capoeira, enquanto conteúdo curricular nas aulas de educação física, nesta proposta aqui abordada, atenta-se à necessidade da valorização da cultura afro-brasileira, cuja intenção didático-metodológica é (re)construir um novo sentido, uma nova visão acerca da capoeira, com expectativas educacionais e “formadora” do cidadão.

Como forma de oferecer subsídios concretos à prática da capoeira na escola, a proposta do ensino da capoeira de 5ª a 8ª séries não se concretiza de forma aleatória. Foi necessário levar em consideração, nesta fase, alguns elementos que norteiam o universo cultural desses alunos – como racismo, machismo – etc.

O estudo proposto provém da necessidade de desenvolver, de forma crítica, uma metodologia do ensino da capoeira nas escolas com valores e procedimentos pedagogicamente estruturados, com o intuito de promoção humana e valorização da cultura afro-brasileira.


2- Revisão de Literatura

2.1- A Capoeira e Sua Origem

Segundo Falcão (1996), a capoeira é uma manifestação da cultura popular brasileira que reúne características bem peculiares: mista de luta, jogo, dança, praticada ao som de instrumentos musicais (berimbau, pandeiro e atabaque), palmas e cânticos. É um excepcional sistema de autodefesa e treinamento físico, destacando-se entre as modalidades desportivas por ser a única originalmente brasileira e fundamentada em nossas tradições culturais.

Não sabemos ao certo a origem da capoeira; alguns pesquisadores acreditam ter vindo da África. Outros afirmam ter sido criada no Brasil pelos escravos na sua luta pela ânsia de liberdade.

Estudos científicos, como o clássico “Capoeira Angola” — Ensaio Sócio-Etnográfico (Rego -1968), procuram comprovar que ela é brasileira. Até porque nenhum pesquisador conseguiu encontrar nada de concreto que levasse a crer que a capoeira fosse africana. O que se sabe é que na África existia “O Jogo de Zebra”, ou N’Golo. Uma dança que era praticada com bastante violência. Esse jogo fazia parte de um ritual de passagem da infância para a vida adulta, onde os negros lutavam em um pequeno recinto e os vencedores poderiam desposar as meninas da tribo, que ficavam “mocinhas”, sem o pagamento dos dotes tradicional.

Passos (1992) alega que o grande motivo pelo qual não conseguimos provas documentais para resolver a polêmica se a capoeira é africana ou brasileira é o fato de Rui Barbosa, então ministro da fazenda do governo de Deodoro da Fonseca, ter mandado queimar todos os documentos com relação à escravidão no Brasil. Ato que praticou dizendo ser necessário para apagar da memória da nação o fato de o país ter sido, anos antes, escravocrata. No entanto, sabemos haver outras razões, dentre elas, evitar o pagamento de indenizações aos senhores de engenho e aos escravos libertos.

O nome “capoeira”, segundo Alencar e Soares (1880) citado por Falcão (1996), deu-se em função do seguinte: os escravos, ao fugirem para as matas, tinham nos seus encalços esses famigerados Capitães do Mato, enviados pelos senhores; os escravos em fuga reagiam e os atacavam, nas clareiras de mato ralo, cujo nome é capoeira – propunha, também, que o vocábulo vinha do tupi caa-apuam-era, dando-lhes, com os pés, mãos e cabeças surras ou até mesmo matando-os. Porém, os que sobreviviam voltavam para os seus patrões indignados. Estes perguntavam: “Cadê os negros?” E a resposta era: “Eles nos pegaram na capoeira”. Referindo-se ao local onde foram vencidos.

Para Rego (1968), a capoeira no meio das matas era praticada como luta mortal. Já nas fazendas, era praticada como brinquedo inofensivo, pois ela estava sendo feita sob os olhares dos senhores de engenho. Naquele momento, se transformou em dança. Para disfarçarem a luta, utilizavam a ginga, a base de qualquer “capoeirista”; e é dela que saem todos os golpes. Esse disfarce foi fundamental para a sobrevivência dos escravos, pois a capoeira é, principalmente, na sua origem, uma luta de resistência.

Segundo Passos (1992), é costume dividir a capoeira em três períodos: escravidão, marginalidade e ensino nas academias. Esta visão tenta mostrar em poucas palavras uma visão panorâmica cujo maior mérito é ressaltar a força, a capacidade de adaptação e sobrevivência, e a resistência da capoeira.

No período escravidão, a capoeira, uma espécie de luta, teria se disfarçado em dança para iludir e contornar a proibição de sua prática por parte dos feitores e senhores de engenho.

No marginalidade, após a abolição da escravatura, em 1888, ex-escravos capoeiristas não teriam encontrado lugar na sociedade e caíram na marginalidade, levando consigo a capoeira, que foi proibida por lei.

No último período, academias, na década de 1930, foi revogada a lei que proibia a prática da capoeira e abriram-se as primeiras academias em Salvador; a capoeira saiu das ruas – e da marginalidade – e começou a ser ensinada e praticada em recinto fechado.

Para Passos (1996), por volta de 1719, os escravos fugitivos que buscavam proteção nos quilombos – uma espécie de forte – criaram uma luta para se defender dos brancos. Inspirados nos movimentos dos animais, os escravos adaptaram alguns “golpes”, como o “pulo do macaco”, o “bote do lobo”, a “cabeçada do touro”, o “coice do cavalo”, à mecânica humana. Os senhores de engenho que observavam a manifestação dos escravos, quando em dias de folga, chamavam-na de “brincadeira dos angolas”, ou “vadiação dos angolas”, por serem os negros “bantus” procedentes de Angola os que mais se davam à prática daquela atividade.

Passos (1996) nos fala que, com características de dança e com seu aspecto lúdico, aquela manifestação muitas vezes deixava transparecer o seu poder de luta. A velocidade dos movimentos e a destreza com a qual esses eram executados colocavam em risco a integridade física dos próprios escravos, bem como a integridade física e moral dos seus opressores. Um escravo machucado traria prejuízo ao seu dono e um escravizado agredido ou morto seria uma ofensa aos grandes senhores, e a prática da capoeira foi proibida.

2.2- A Dança, O Jogo, A Luta

“vadiação, brincadeira, são outros nomes com que os negros designavam na Bahia o jogo de capoeira. Capoeira se luta, joga e dança, é algo que se faz entre amigos e companheiros.” (SODRÉ, 1988: 202)

Não se pode dizer que a capoeira é só luta, ou só dança, ou só jogo. Na verdade, estas três atividades se misturam e interpenetram. Para Falcão (1996), a capoeira é ao mesmo tempo luta, dança e jogo, embora seu praticante seja definido como jogador e não lutador ou dançarino. Entre os capoeiristas, “jogar capoeira” é mais usual do que “lutar capoeira”. Na roda de capoeira, o jogador é livre para jogar como e quando quiser, sem a pretensão de obter qualquer lucro. A capoeira “jogada” consegue atender à necessidade de fantasia, justiça e estética, despertando o gosto pelo inesperado, pelo imprevisível.

Segundo Passos (1992), o jogo, na capoeira, representa uma constante negociação (sobretudo corporal) em que cada capoeirista procura ampliar cada vez mais o seu volume. Por mais que se pretenda minuciosa, a descrição dos expedientes gerados em um jogo de capoeira jamais refletirá a riqueza dos fatos em si.

A dança, na capoeira, segundo Reis (1997), se expressa no gingado centrado nos quadris. No acompanhamento do ritmo do berimbau, os capoeiristas descrevem círculos imaginários dentro da roda, tendo a luta e o jogo também como uma forma de dança, remetendo a capoeira situada entre o lúdico e o combativo.

Afirma Falcão (1996) que a capoeira, enquanto luta, remonta às suas origens. O “jogo e a dança” contribuem para uma dissimulação do aspecto “luta” na prática da capoeira, à medida que não acontece o confronto direto, mas uma constante simulação de ataques e defesas, mediadas pela “ginga” numa interação dança-luta-jogo. Neste sentido, o capoeirista mais competente é aquele que mostra que poderia acertar um golpe, mas não o faz, com isso possibilita a beleza e a continuidade da própria luta-dança-jogo.

Tendo em vista esta tríade (luta-jogo-dança), a capoeira deve ser vivenciada e analisada a partir de uma dimensão mais ampliada. O principal desafio dos futuros capoeiristas não deve ser “lutar” contra o “camarada”, individualmente, como acontecia antigamente. O capoeirista deve lutar contra qualquer tipo de opressão, discriminação e pela construção de uma sociedade mais justa, livre e democrática.

2.3 – A Musicalidade

Outro aspecto importante do ensino da capoeira na escola é a questão da musicalidade. A variedade instrumental e rítmica existente na capoeira é rica e, por isso, se torna um ótimo conteúdo a ser trabalhado no meio escolar. Segundo Falcão (1996), esse contato com a música leva o aluno a explorar o universo da música, identificando a origem e função dos instrumentos e dos cânticos na capoeira.

Afirma Passos (1992) que a capoeira apresenta em todo seu contexto musical: instrumentos como o berimbau, o caxixi, o pandeiro, o atabaque, o reco-reco e o agogô. Uma outra forma rítmica da capoeira são as palmas.

Falcão (1996) afirma que os cânticos que constituem-se em elementos dinâmicos dão à capoeira uma peculiaridade notável e a tornam como a única luta no mundo em que seus lutadores se confrontam ao som de cânticos executados pelos demais componentes. Classificam-se em ladainhas, chulas ou quadras e corridos. Durante a ladainha, não se deve jogar e é cantada ao toque de angola. Os corridos são cantos curtos, geralmente formados com um verso apenas, em que o coro deve repetir a frase do “puxador”.

2.4 – A Capoeira e seu Referencial Lúdico

“a diversão traz consigo a medida do

homem: ela também eleva à esfera da consciência ou

ao plano da ação, certas distinções fundamentais para

o comportamento humano”. (FERNANDES, 2001p. 57)

Para Tavares (1964), citado por Falcão (1996), a capoeira sempre apresentou característica festeira, lúdica; isto é notório desde o seu surgimento. Por isso, pode-se dizer que a ludicidade constitui um dos elementos de destaque da capoeira. Rego (1968) enfatiza este fato ao afirmar que os negros de Angola, os primeiros e mais numerosos dentre os escravos, eram férteis em recursos e manhas. Tinham manias por festas, pelo reluzente e pelo ornamental.

Rego (1968) mostra a ideia do vínculo entre ludicidade e luta como componentes da capoeira:

“primitivamente a capoeira era folguedo que os negros

inventaram, para os instantes de folga e divertirem a

si e aos demais nas festas de largo, sem, contudo,

deixarem de utilizá-la como luta, no momento preciso para sua defesa”(REGO1968: 359).

Tendo em vista essas considerações e, para um melhor desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem da capoeira, pode-se dizer que a questão do lúdico, além de estar presente no contexto histórico da capoeira, deve fazer parte, também, da proposta pedagógica no processo de ensino-aprendizagem da mesma.

2.5- O Compromisso com a Historicidade

O ensino da capoeira, como conteúdo curricular nas escolas, abordado neste estudo, requer um compromisso com o seu processo histórico. Métodos que enfatizam apenas o técnico e a performance não fazem sentido quando trabalhados unicamente.

Para Falcão (1996), a capoeira deve ser vivenciada e analisada a partir de suas próprias mudanças, de sua leitura histórica, de seus condicionantes, de modo a permitir o desvelamento de suas contradições.

Segundo Vieira (1995), períodos e fatos históricos, como a escravidão no Brasil e os regimes autoritários de Getúlio Vargas, estão intimamente relacionados com a capoeira.

Assim, esses fatos históricos reatualizados através de cantigas e rituais, ao serem trabalhados pedagogicamente pelo professor, podem configurar-se como um importantíssimo elemento no processo de entendimento da realidade sócio-histórica brasileira.

Afirma Falcão (1996) que um dos caminhos para exercitar essa reatualização histórica é uma consistente análise crítica da capoeira em sua trajetória. Não no sentido de sua realização apenas pelo viés do espetáculo, retornando à sua gênese, mas no sentido de compreendê-la melhor e ampliar os horizontes para a mesma.

2.6- A Capoeira e a Educação Física Escolar: uma proposta crítico-educacional

O ensino da capoeira nas escolas, como conteúdo curricular nas aulas de educação física, é uma proposta relativamente recente que vem provocando alguns questionamentos e polêmicas entre estudiosos da educação, acadêmicos e capoeiristas. Ao ser abordada em um outro contexto, com objetivos educacionais, a capoeira necessita incorporar códigos e valores diferentes daqueles vivenciados na sua origem e nas “academias de capoeira”. O que se pretende e torna-se um grande desafio, nas escolas, é essa transmutação da capoeira, pedagogicamente estruturada com finalidades crítico-reflexivas, rompendo com os preconceitos – racial e machista.

No que diz respeito à cultura afro-brasileira, importantes conquistas na educação foram alcançadas. Primeiro foram os “Parâmetros Nacionais Curriculares” (PCNs), que orientam a promoção da igualdade em um dos temas transversais, Pluralidade Cultural. Uma outra conquista significativa para o ensino foi a lei federal nº 10.639, cujo documento determina que a história da África seja tratada em perspectiva positiva, não privilegiando somente as denúncias e misérias que atingem o continente. Mas, será que a criação de leis é a maneira correta de levar esse tipo de questão para as aulas?

Afirma Chizzotti (2003) que a inclusão não deve ser um tema imposto, deve-se brotar dos docentes e apresentar um aspecto não formal, pois, do contrário, dificultaria essa abordagem dentro da escola.

Segundo Cabral (2003), o próprio governo mostra-se preconceituoso no que diz respeito à diversidade cultural. Afirma também que, assim como os afrodescendentes, todas as pessoas têm o direito de ter suas tradições e culturas estudadas na escola; o problema é a falta de formação dos professores e a ausência de materiais de apoio atualizados.

Nesta perspectiva, ficam notórios alguns erros sobre o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, como, por exemplo, abordar a historicidade a partir da escravidão; em vez de aprofundar-se nas causas e consequências da dispersão dos africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão. Assim, nós educadores devemos reconhecer a existência do racismo no Brasil e a necessidade da valorização e respeito aos negros e à cultura afro-brasileira.

Este estudo busca tematizar a capoeira da escola, e não a capoeira na escola, pois a inserção deste conteúdo, enquanto objetivos educacionais, deve propor uma visão mais ampliada, em uma perspectiva crítica, levando em consideração:

“que o ensino deve estar em sintonia com o projeto político –pedagógico de transformação social materializado pela instituição escolar, mesmo considerando que nem a escola, nem a capoeira têm poderes para transformar radicalmente a realidade social”. (FALCÃO, 2003, p.56)

Nesse sentido, a capoeira será tratada, nesta pesquisa, como um processo e não simplesmente como um produto. Esse pressuposto requer do educador um compromisso político, considerando que não basta ter um caminho e saber caminhar, mas uma formação sólida científica e técnica para que bons resultados no meio educacional sejam alcançados.

Para Frigério (1989), a referência principal do ensino-aprendizagem da capoeira na escola, dentro dessa perspectiva, é o aluno e não a capoeira por ele praticada (obviamente sem negá-la). Dessa forma, o ensino da capoeira, como conteúdo curricular, não tem o compromisso de aperfeiçoar a técnica dos gestos em relação a um padrão preestabelecido, mas exercitá-la com objetivos críticos.

Desse modo, o que mais importa, na visão de Frigério (1989), é o aluno e suas relações com o conteúdo proposto. O educador deve mediar essa relação, onde professor e aluno identificarão seus elementos centrais. A partir daí, professores e alunos elaborarão juntos um plano de entendimentos, onde decidirão estratégias e os diferentes papéis que cada participante assumirá no processo.

Portanto, a capoeira escolar, tendo como princípio a pedagogia da luta, não se trata de uma reprodução de modelos. Em vez de copiar gestos, rituais e fundamentos, o processo de ensino/aprendizagem apresenta como desafio a ampliação de conhecimentos em relação à capoeira e ao mundo, através de uma abordagem crítica que questiona a adaptação e a submissão e visa ao esclarecimento, à autonomia e à competência.


3 – Metodologia

O presente estudo foi elaborado a partir de uma pesquisa realizada através de uma revisão bibliográfica sobre o tema: “A Capoeira da Escola: uma abordagem crítica acerca da cultura Afro-Brasileira”, mediante consulta de livros e revistas.


4- Conclusão

No decorrer da pesquisa sobre a “capoeira da escola”, ficou notório a relevância do conteúdo na busca de construir um sentido mais amplo acerca da capoeira e seu processo de ensino/aprendizagem. Deste modo, observa-se a importância em instigar algumas questões como: a forma do ensino da capoeira na escola, o que deve ser privilegiado dentro do conteúdo, qual o papel da capoeira na escola e como deve ser a questão da avaliação.

Contudo, o profissional deve ter um grande conhecimento do assunto, sobretudo científico, para que sua metodologia de ensino se fundamente no sentido de poder ampliar e redimensionar a capoeira, dentro de uma visão crítica, a fim de almejar uma sociabilização justa, fraterna e igualitária.


5 – Referências

ALMEIDA, Raimundo César Alves. A Saga do Mestre Bimba, Salvador BA: editora Ginga Associação de Capoeira, 2002.

FALCÃO, José Luiz Cirqueira. A escolarização da capoeira, Brasília DF: Royal Court Editora, 1996.

FRIGÉRIO, Alejandro. Capoeira: de arte negra a esporte branco. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio de Janeiro: v.4, n.10, p.85-98, jun.1989.

KUNZ, Elenor. Didática da Educação Física 1. 3ª ed. Ijuí RS: Editora Unijuí, 2003.

MEDINA, João Paulo Subirá. A Educação Física cuida do corpo…e mente. 6ª ed. Campinas: editora Papirus, 1993.

PASSOS, Nestor Sezefredo. Capoeira: Os fundamentos da malícia. 8ª ed. Rio de Janeiro RJ: editora Record, 2001.

REIS, Letícia Vidor de Souza. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo SP: editora Publisher Brasil, 1997.

CHIZZOTTI, Antônio. Deve ser obrigatório o ensino da História Afro-Brasileira? Revista Nova Escola: Abril, nª177, nov. 2004. p. 47-53

CABRAL, Jecinaldo. Deve ser obrigatório o ensino da história Afro-Brasileira? Revista Nova Escola: Abril, nª177, nov. 2004. p. 47-53

  • Tema: Capoeira na Escola e a Cultura Afro-Brasileira
  • Instituição: E.E. José Dias Pedorsa
  • Autor: Marlene Aparecida Viana Abreu

Este texto foi publicado na categoria Cultura e Expressão Artística.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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