Na dissertação de Mestrado, nos anos 1979-1981, na UFMG, atingi os objetivos de minha pesquisa sobre Igreja e Ideologias na América Latina. Com base na Filosofia Política – teoria e práxis –, abordei o tipo de reflexão que se coloca sobre a “crítica das ideologias”.
Na história da crítica das ideologias, é possível observar, em geral, duas modalidades metodológicas de crítica bem diferentes. Numa primeira linha de combate, se alinha a crítica de Marx às ideologias. É a crítica científico-revolucionária, produzida à luz da História contra a burguesia em todas as suas instâncias. Não houve espaço, aqui, para um estudo e pesquisa completos dessa filosofia alemã. Limitei-me apenas a alguns tópicos que Marx utiliza na crítica da ideologia burguesa, não nos esquecendo da importância que tiveram os escritos nos quais critica Hegel: Crítica à filosofia do Estado de Hegel (1843); Crítica da dialética hegeliana e da filosofia em geral (último capítulo dos Manuscritos econômico-filosóficos (1843-45); a mesma significação tem A Sagrada Família (1849) e A ideologia alemã (1845-46), onde Marx e Engels desenvolvem sua crítica à filosofia alemã pós-hegeliana.
E, no outro lado da arena, arma-se a crítica hermenêutica de Paul Ricoeur e outros. Exemplos desta crítica são as análises deste filósofo francês em seu escrito Interpretação e ideologias. Nesta obra e em sua experiência filosófica, assumiu a perspectiva hermenêutica pela compreensão de sentido da linguagem. Pela explicitação do horizonte da criatividade cultural e pela interpretação da palavra do passado, revivida no presente e projetada no futuro.
Por enquanto, começo por Marx (1818). Ele tem sua proposta de crítica das ideologias. Propõe uma metodologia cuja dimensão crítica seja objetivamente demonstrável, visando abandonar o terreno da tradição metafísica. Diz ele:
“As premissas do que partimos não constituem bases arbitrárias, nem dogmas; são antes bases reais de que só é possível abstrair no âmbito da imaginação. As nossas premissas são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência, quer se trate daquelas que encontraram já elaboradas, como também aquelas que nasceram de sua própria ação. Estas bases são, portanto, verificáveis por vias puramente empíricas”.
Os “jovens hegelianos” ou “hegelianos de esquerda” possuíam como posição filosófica geral, comum, a crença de que são os pensamentos e os conceitos os fatores determinantes ou fundamentais da vida social. Defendiam o primado da ideia em relação à existência, atribuindo-lhe um caráter incondicionado ou, o que dá no mesmo, uma autonomia plena e absoluta. Desejavam inaugurar um pensamento que, ao mesmo tempo, possuísse uma racionalidade dialética, porém constituísse um real avanço com referência à postura filosófica de Hegel.
De outro lado, a dialética de Marx não é uma simples negação, uma negação que elimina e afasta o negado, sendo desta forma uma mera inversão. Não, a dialética de Marx não é a lógica de Hegel, onde a razão se afirma e se propõe, onde o homem livre se determina, onde a razão se exterioriza pela ação do homem. Ela produz um duplo movimento, simultâneo, de negação e afirmação. Noutros termos, ela é uma negação – que – conserva o negado para afirmá-lo em outro nível.
Com essa nova filosofia dialética e com esse novo método esboçado nas páginas de A ideologia alemã, Marx procura demonstrar o caráter ilusório de uma revolução. Seu autor enfrentou e desafiou criticamente, com uma ruptura epistemológica, a escola filosófica neo-hegeliana. Descobriu nela o pensamento idealista sem poder superar as contradições reais.
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