O conceito atual de deficiência mental vê cada indivíduo de forma global e funcional, o que significa transpor o conjunto de condições apresentado por ele para a sua interação com o ambiente em que se encontra. Esta nova abordagem tem como base as práticas e concepções daqueles cuja atividade ou vida diária está diretamente vinculada à deficiência mental: os profissionais, os pais, amigos e os próprios deficientes.
A deficiência mental não é uma característica absoluta, cujo funcionamento intelectual é limitado, mas sim uma expressão de sua interação com ambientes sem mecanismos adequados de apoio que lhes possibilitem explorar plenamente suas potencialidades.
Como é o diagnóstico?
A deficiência mental é uma condição que envolve diversos fatores e o seu diagnóstico é estabelecido, segundo critérios e testes psicodiagnósticos específicos, que focalizam a investigação cuidadosa dos aspectos médicos, psicológicos e sociais do indivíduo, visando identificar os tipos de apoio necessários para o amplo desenvolvimento de suas potencialidades. Para este trabalho, é indispensável o envolvimento de equipe multidisciplinar, composta por profissionais de várias especialidades médicas, como Pediatria, Neurologia, Psiquiatria e Genética, assim como por Assistentes Sociais, Psicólogos, Fonoaudiólogos e por profissionais que realizam exames complementares de laboratório.
Todo esse processo é realizado dentro de uma abordagem que substitui a rotulagem dos indivíduos por uma sistemática de investigação que leva a descrições personalizadas das limitações, potencialidades e necessidades de apoio. Os mecanismos de apoio que se identificam são os que efetivamente possibilitam aos portadores da deficiência mental a minimização de suas dificuldades.
Como melhorar a qualidade de vida?
O objetivo principal dos apoios é possibilitar ao indivíduo uma qualidade de vida satisfatória, representada pelo mesmo conjunto de fatores e relações, com acesso às mesmas oportunidades, para pessoas com ou sem deficiências. Estaremos melhorando a nossa própria qualidade de vida, sempre, quando melhorarmos a de todos aqueles à nossa volta.
Quais são as causas?
Com referência às causas específicas da deficiência mental, é importante sublinhar a necessidade de identificá-las claramente. Poderia ser concluído que, à medida que os apoios necessários são independentes das causas, não seria necessária a investigação diagnóstica. Isto representa um grave erro, pois a causa em si pode ser tratável, como na fenilcetonúria, uma anormalidade do metabolismo, que pode ser detectada precocemente no Teste do Pezinho, e que, com tratamento dietético específico iniciado nos primeiros meses de vida, dará à criança uma oportunidade de viver normalmente.
Informações a respeito de determinadas doenças são fundamentais para que sejam estabelecidas e avaliadas medidas de prevenção, como, por exemplo, os programas existentes de diagnóstico precoce e tratamento daquelas doenças que são detectadas pelo Teste do Pezinho. Não se previne aquilo que não se conhece.
Há até quase duas décadas, acreditava-se que a deficiência mental era causada por processos apenas biológicos ou apenas psicossociais, sem que se explicasse, no entanto, por qual motivo pessoas com doenças semelhantes apresentavam desempenhos diferentes. Por que entre duas crianças portadoras da Síndrome de Down, por exemplo, uma conseguia ser alfabetizada e a outra não? Além disso, trabalhos científicos, publicados na década de 80, mostraram mais de uma causa para acima de 50% dos casos de deficiência mental. Atualmente, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, há ainda, cerca de 30% dos casos de deficiência mental sem causa biológica definida.
É ainda mais complicado separar as causas da deficiência mental, devendo-se incluir aspectos biológicos e ambientais que podem afetar a gravidez, o parto, ou o período de maior desenvolvimento do sistema nervoso central, e que podem ou não provocar anormalidades prolongadas, ou até permanentes, no desenvolvimento integral do indivíduo. Estes fatores podem ser biomédicos, como por exemplo, as síndromes de origem genética, ou condições ligadas à desnutrição protéico-calórica, ou infecções do sistema nervoso central, dentre outros. Podem ser de origem social, os chamados “estímulos” oferecidos pelo contato interpessoal, na família e na comunidade, ou a fatores comportamentais maternos, potencialmente prejudiciais, como o uso de álcool durante a gravidez. Ou, em último grupo, aqueles relacionados à disponibilidade e qualidade do apoio educacional. É impossível negar a interatividade desses fatores.
Como se faz a prevenção?
Os fatores de risco podem, também, interagir em diferentes gerações da mesma família, pois podem estar presentes nos pais da criança com deficiência mental, na própria criança, ou em ambos. É essencial considerar esta interatividade de fatores e de gerações quando se aborda a prevenção da deficiência mental.
Devemos disseminar informações que estimulem ou desenvolvam ações voltadas para três níveis de prevenção, consistindo da prevenção primária, com ações que devem ocorrer antes do início da condição, como no caso de se evitar a síndrome alcoólica fetal; da prevenção secundária, que visa diminuir a duração ou reverter o impacto de problemas existentes, que pode ser exemplificada pelo tratamento com medicamentos específicos para o hipotireoidismo congênito. Por último, há a prevenção terciária, que busca limitar as consequências adversas da condição existente ou melhorar o nível funcional do indivíduo, representado, por exemplo, pelo trabalho de estimulação precoce desenvolvido com crianças portadoras de paralisia cerebral. A deficiência mental é uma condição sociologicamente determinada, que descreve as relações entre as capacidades do indivíduo e as demandas e expectativas de seu meio ambiente. É preciso também abandonar a ideia de que a prevenção só pode ocorrer antes do nascimento: a prevenção deve ser estabelecida durante toda a vida, pois sempre há algo que pode ser feito.
Fonte: Sentidos | Dr. Marcelo Gomes, neuropediatra
Texto adaptado para divulgação no site do Instituto Indianópolis.
Texto adaptado para divulgação no site do Instituto Indianópolis.
Fonte: Construir e Incluir
Além disso, é importante considerar a inclusão de recursos que podem auxiliar no desenvolvimento de crianças com deficiência mental. Por exemplo, brinquedos e materiais específicos podem ser muito úteis. Você pode encontrar opções interessantes para estimular o aprendizado e a interação social.
A deficiência mental é uma condição que pode ser abordada de forma multidisciplinar, e a colaboração entre profissionais de diversas áreas é essencial para garantir um suporte adequado. A educação inclusiva é um caminho que pode ser trilhado para promover a igualdade de oportunidades e a valorização das potencialidades de cada indivíduo.
Escreva um comentário