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Atualizado em 10/08/2024

A Literatura de Cordel no Âmbito da Educação Transversal

Descubra como a Literatura de Cordel pode ajudar na educação dos alunos, promovendo o desenvolvimento de habilidades transversais. Conheça vários exemplos de como esta forma de literatura se aplica ao ensino, aprimorando o conhecimento dos alunos.

O estudo da ocupação territorial brasileira mostra uma diversidade regional marcada pela desigualdade, sobre o atendimento aos direitos da cidadania, valorizando diferentes práticas culturais. A formação histórica do Brasil mostra os mecanismos e resistência ao processo de denominação pelos grupos sociais em diferentes momentos. Sendo assim, cabe a cada grupo encontrar uma forma de preservar sua identidade cultural e linguística de forma clandestina.

Os problemas vividos no cotidiano, pela diversidade, são caracterizados por ser um dos potenciais mais férteis de preconceito linguístico. Tipicamente brasileiro, por muito tempo se acreditou que era uma fraqueza social. Contudo, isso faz com que a integração sociolinguística divulgue o tradicionalismo regional das várias formas linguísticas. Como forma de valorizar a identidade de uma região, busca-se levar para a sala de aula um contexto social diferente, através do cordel.

Tratando-se da necessidade de usar temas básicos para a conquista da língua e suas utilidades no cotidiano, procura-se fazer aqui uma análise sobre os estudos dos conceitos da linguagem. Esse projeto tende a multiplicar a inclusão nos currículos de conteúdos que informem sobre a riqueza de suas manifestações culturais e a influência sobre a sociedade como um todo. Neste contexto, deve-se consolidar a participação das escolas numa realidade social local.

O ponto de partida que orienta a construção deste projeto de pesquisa baseia-se no desenvolvimento de atividades interdisciplinares que promovam tanto a aprendizagem de conteúdos significativos quanto à aproximação dos alunos ao cordel. Na prática, essas atividades permitem que o aluno mergulhe no universo literário, mundo esse repleto de personagens, ritmos, temas, imagens, poesia, rimas, entre outros. A proposta surge para que esta forma cultural possa ser apresentada e reconhecida pelos alunos no ensino fundamental, qualquer que seja seu nível intelectual, tendo como plano de fundo o resgate da cultura popular e de seus valores. Levar o Cordel para a sala de aula implica em mostrar a vitalização do gênero cultural como ferramenta didática na educação.

Sabe-se que a escola é o caminho para transformação educacional. Analisando o dia a dia do educando, percebe-se a ausência de autoidentificação com sua realidade regional, não sabendo ele o valor de preservar suas raízes linguísticas, através de suas experiências diárias, levando seu conhecimento para dentro da sala de aula, compartilhando seus pontos de saber e do interpretar a vida utilizando os materiais didáticos, paradidáticos e tecnológicos que a escola oferecer como ferramenta de aprendizagem diferenciada. Podem-se induzir nossos alunos para uma prática de leitura, através da literatura de cordel, que trata de assuntos reais da sua formação diária, sendo ela uma leitura fácil, rápida e de simples interpretação.

Para Freire (2003), a educação ensina, exige a aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. Desta forma, devem-se observar os alunos como seres empenhados em buscar o conhecimento como meio de transformação intelectual e social. Utilizando a literatura de cordel, literatura essa que trabalha o cidadão simples e suas ocorrências do seu habitat, para transmitir casos diferenciados do povo da zona rural e urbana. Transfigurando em palavras faladas numa versão escrita, para compreender o seu próprio povo, busca-se trabalhar a valorização do ambiente geográfico e histórico como meio facilitador da aprendizagem dos discentes numa visão linguística.

O cordel, leitura simples, pode ser utilizado em sala de aula nos estudos sociolinguísticos numa educação transversal? Paulo Freire diz que o aluno, quando se confronta com uma codificação de uma imagem, tomando como base e destacando esse objeto como experiência para formar suas próprias críticas sobre o elemento codificando. O aluno, quando está tendo um conhecimento dos signos através da imagem, logo vem o reconhecimento da junção dos fonemas, que poderá criar novas palavras e dotar palavra, criando combinações de fonemas comuns. Tornando-se um indivíduo pensante, fazendo análise do que seja uma propaganda enganosa, por exemplo: Um março de cigarro, fumados por uma bela moça de biquíni, sorridente e feliz, e que com seu sorriso, sua beleza nada tem a ver com os cigarros, quando um ser transforma sua concepção, a propaganda fica legível ao contexto.

O educador procura de forma clara educar o aluno de modo que ele possa ter um papel ativo na sociedade, tendo-se como base a aprendizagem da leitura e da escrita, descobrindo o mundo de cultura e fantasia. Pode-se afirmar que vivemos em um país onde o indivíduo é oprimido em uma classe de membros inconscientes dos seus direitos como cidadão e o desprezo por si mesmo é outra característica do oprimido, que demonstra a interiorização da opinião dos opressores em que se limita em aprender nada, que são débeis, pregressos, que acabam por convencer de sua própria incapacidade de transformar o aluno em um ser inconsciente de opiniões.

Para ter-se uma conscientização, devemos ter evolução da realidade histórica e cultural de uma sociedade. No qual os valores e o estilo de vida de uma sociedade não dependem do poder econômico, dando ao educador uma visão de estruturação e transformação educativa. Falar da conscientização manifesta-se naturalmente seus próprios métodos de ensino, pois todo o sistema procede de opções de imagens de uma concepção do mundo, de determinados modelos de pensamento críticos. O educador como revolucionário não pode ser aquele que se expressa como ditador, ou seja, o professor ensina os alunos o que são ensinados; o professor sabe tudo, os alunos não sabem; o professor fala e os alunos escutam. Esse método escolar da educação jamais prepara os alunos para se tornarem seres críticos e preparados para a vida. O aluno crítico é fundamental para interagir na sociedade moderna, sendo consciente e capaz de atuar na realidade em que vive.

Este artigo tem como objetivo geral promover o intercâmbio da leitura entre o popular ao erudito, como também mostrar aos estudantes a importância do cordel, como prática de aprendizagem diferenciada. O teatro em cordel, sendo levado para a escola, pode ajudar aos educadores como meio de comunicar aos seus docentes temas educativos relacionados à sociedade, cultura, meio ambiente, saúde, comportamento e até em matérias específicas, aguçando a criatividade dos seus alunos com a didática inovada, transformando seus alunos em seres pensantes e com sede de buscar, de pesquisar coisas novas que possam levar ao amadurecimento intelectual.

Além disso, explicitar a utilização de um método diferenciado das manifestações da língua, numa visão escrita, utilizando o cordel como base de pesquisa. A mesma pode conceder aos discentes a ajuda na solução de problemas encontrados dentro da escola, na sala de aula e até na comunidade onde a instituição está inserida, realizando a novidade do teatro, sendo uma coisa interessante de se ver com temas que se trate do momento e o local que está sendo apresentado, dando soluções com conteúdos que sejam assimilados e transformados num espetáculo, curto, preciso, engraçado e educativo.

Deve-se também usar a literatura de cordel como fonte importante para apontar e valorizar as diferenças regionais existentes no artesanato, na dança, na culinária e na forma de falar (sotaques). Este trabalho é essencial para minimizar e ajudar nas diferenças, às vezes preconceituosas, entre os alunos na sala de aula. Além de mostrar as riquezas existentes na diversidade cultural brasileira.

A metodologia e as práticas pedagógicas aplicadas com literatura de cordel, através dos PCN’s, foram mostradas pelo Prof. Luiz Andrade, que projetou um método diferente de prática de leitura através do cordel na turma da 4ª série do Ensino Fundamental. A pesquisa pretende abordar 02 (dois) conjuntos de indicadores, são eles: 1) situação do ensino da língua portuguesa com utilização da educação transversal na Escola Municipal Padre Possidônio Pinheiro da Rocha, povoado Gameleira; e 2) o posicionamento do desenvolvimento da aprendizagem com a utilização da literatura de cordel como canal de transformação sociolinguístico. Por fim, será feita uma análise comparativa dos resultados obtidos em sala de aula com as ideologias sociolinguísticas de Bagno (2006), que trata dos preconceitos linguísticos regionais. Aplicando também os estudos de Lopes (1994), mostrando a literatura de cordel como base de valorização dos preceitos literários, que torna a educação transversal mais flexível.

A Literatura de Cordel como Instrumento de Transformação na Educação

O currículo escolar determina que os fatores regionais e culturais devam ser analisados de forma isolada. Por isso, investigar a utilização da literatura de cordel como método de trabalho pedagógico estabelece um elo entre os alunos e sua cultura. Como efeito, o estudo que se encontra na sociedade sobre os conhecimentos sociológicos é indispensável à discussão da pluralidade cultural, que abre a compreensão do processo, onde as interações entre fenômenos culturais e as diferenças sociais. Além das diversas contribuições da sociologia, aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm sido desenvolvidos por autores que se ocupam da sociologia da educação e da sociologia do currículo.

Tratando-se de linguagens e representações, o trabalho com diferentes linguagens amplia as possibilidades de se expressar e falar de forma predominante de comunicação na sociedade. Quando se fala de linguagens, abrem-se as possibilidades de transversalização com a língua portuguesa, tendo o valor de diferentes formas de linguagem oral e escrita. Respeitando as manifestações regionais pela possibilidade de contato e integração com a diversidade de línguas e de linguagem presente na vida de crianças e adolescentes no Brasil. Isso significa que conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes horizontes, como também sua complexidade, referindo-se à existência e à estrutura do uso dos dialetos linguísticos. Segundo Freire:

“[…] a educação ou ação cultural para a libertação; em lugar de ser aquela alienante transferência de conhecimento, é o autêntico ato de conhecer, em que os educandos – também educadores – como consciência “intencionada” ao mundo ou como corpos conscientes, se inserem com os educadores – educandos também – na busca de novos conhecimentos, como consequência do ato de reconhecer o conhecimento existente”. (FREIRE, 1984, p.99)

De acordo com Freire, tanto os educandos quanto os educadores transferem conhecimento e, consequentemente, compartilham o aprendizado do seu cotidiano para a transversalidade da educação. Sabe-se que os conhecimentos antropológicos caracterizam os reconhecimentos do valor inerente a cada cultura. Os conhecimentos antropológicos encontram subsídios para entender algumas questões difíceis do tempo que vai ao encontro do terceiro milênio.

De maneira crescente, as novas tecnologias sobre uma aparência de misturas ortográficas e desvios de escrita fazem com que os diferentes grupos sociolinguísticos trabalhem a cultura com ritmos distintos em diferentes regiões. Falar da cultura é tratar das permanências das manifestações, expressando com frequência e atuante, nem sempre percebida, o seu conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo em que o indivíduo está inserido, formando uma concepção nos mesmos códigos diferenciados na infância, introduzindo as modificações na vida adulta, numa forma social.

A cultura tem um código simbólico, que se apresenta com dinâmica, envolvendo todas as manifestações que estão em constantes processos de introdução de novos símbolos e atualizando valores no processo intelectual. Entretanto, o processo de mudança cultural foi entendido como desfiguração da cultura tradicional, assumindo assim um sentido de sobrevivência, estímulo e resistência, tanto valorizando quanto reconhecendo como partes indispensáveis das identidades individuais e sociais. Convém lembrar que a diversidade das sociedades explica-se pela diferença genética de qualquer grupo, mas sim pela cultura, através dos estudos literários e folclóricos que fascinam e inserem na literatura de cordel um panorama popular brasileiro. Desafiando e mobilizando as argúcias riquíssimas do nosso folclore, frisando a igualdade, que a literatura de cordel tem sido estudada e aplicada no mais variado aspecto e análise da linguagem.

Para fins educativos, a literatura de cordel presta um serviço de utilidade pública para informação de calamidades ou de situações emergenciais, orientando campanhas de órgãos públicos ou privados. O ser humano é, ao mesmo tempo, produtor e produto social e cultural, e apresenta um fator de identidade individual, o que pode ser usado para promover respeito por diferentes linguagens, do regional para o nacional.

Através da literatura de cordel, o regionalismo dá um toque especial aos acentos da língua oral nos versos escritos. A percepção do sotaque nordestino em diferentes relações típicas da região, a escola pode mediar esse trabalho da linguagem com expressões típicas de grupos étnicos, fazendo da educação transversal a diferença e dando qualidade em outras formas da prática pedagógica. Visando o cotidiano dos estudantes, ampliando os aspectos voltados para os códigos linguísticos e literários na exploração do saber tradicional. Segundo Linhares apud Lopes:

“A literatura de Cordel teve sucesso, em Portugal, entre os séculos XVI e XVIII. Os textos podiam ser em verso ou prosa, não sendo invulgar tratar-se de peças de teatro, e versavam sobre os mais variados temas. Encontram-se farsas, historietas, contos fantásticos, escritos de fundo histórico moralizantes, etc., não só de autores anônimos, mas também daqueles que, assim, viram a sua obra vendida a preço, como Gil Vicente e Antônio José da Silva, o Judeu. Exemplos conhecidos de literatura de Cordel são histórias de Carlos Magno e os Doze Pares de França, A princesa Magalona, histórias de João de Calais e A Donzela Teodora”. (LINHARES, 2006, p. 325)

Segundo o cordel, a cultura popular brasileira vem se transformando tanto em pesquisas nacionais quanto estrangeiras, dando consistência ao fenômeno cultural de um povo nordestino. Sendo assim, a literatura de cordel vem através de uma linguagem típica de um povo que conserva a sua origem expressiva, dando êxito à sua regionalidade. Os estudiosos lutam para manter a expressão legítima de um povo sofrido, tendo a sua regionalidade e ideologia, refletindo-se em certo climático. Graças à literatura de cordel que se anuncia por poesia, o sofrimento de um povo nordestino pode-se passar por meio da narrativa, resgatando a cultura popular, ou seja, uma expressão da região de um lugar com a sua linguagem popular.

Os meios pelos quais a literatura de cordel chega ao nosso conhecimento são feitos através de jornais propriamente ditos, do rádio, da TV e levados pelos vendedores ambulantes às feiras do interior e mercado. Além de resgatar a cultura de um povo, a literatura de cordel diz respeito a auxiliar a alfabetização, pois se sabe que o nordestino é carente de leitura. A literatura de cordel é um acontecimento de cultura brasileira que vem sendo questionada em universidades, no país e no exterior, vivenciando a própria literatura de cordel, por meio de folhetos ou na apresentação dos cantos, pela televisão, no noticiário do dia a dia.

Em termos simples, cultura no campo etnológico é o modo de viver típico, o estilo de vida comum, o ser, o fazer e o agir de determinado grupo humano, desta ou daquela etnia. Há diferentes posições dos antropólogos de nosso tempo sobre cultura. Para fins didáticos, podemos distinguir quatro tendências:

“Há os que veem cultura como sistema de padrões de comportamento, de modos de organização econômica e política, de tecnologias, em permanente adaptação, em vista do relacionamento dos grupos humanos com seus respectivos ecossistemas; há os que tratam a cultura como um sistema de conhecimento da realidade, como o código mental do grupo, não como um fenômeno material, mas cognitivo; há também os que encaram a cultura como um sistema estrutural, em que o eixo de tudo é a bipolaridade natureza-cultura, tendo como campos privilegiados de sua concretização o mito, a arte, a língua e o parentesco. Por fim, há os que entendem cultura como sistema simbólico de um grupo humano, sistema que só poderá ser apreendido por outro grupo por meio de interpretação e não por mera descrição”. (VANNUCCHI apud LOPES, 2008, p. 119)

Percebe-se que para identificar o cordel em uma ideologia que ele reflete o poeta popular nordestino, típico conservador, dá a sua forma de expressar por meio de uma linguagem e conceitos que ali transparecem com espontaneidade. Dentro da linguagem de cordel, abrangem as diversas características regionais, como a beleza das variedades ecológicas, com seus vales úmidos, suas regiões serranas, sertões, chamada de caatinga, além de sua extensa costa marítima de praias encantadoras. Sendo assim, a literatura de cordel não poderia deixar de ser sensível a essas variações regionais.

Os grandes leitores de cordel são, em sua maioria, pessoas residentes naturais do interior nordestino, que vivenciam a linguagem de cordel, principalmente nos folhetos mais antigos, pois traz uma linguagem coerente à sua realidade e os problemas do homem do campo. Assim, a literatura de cordel guarda no tempo a sua forma como o homem vive no seu “habitat”. Pode-se afirmar que os nossos poetas populares são exatos no que se refere às informações principais dos acontecimentos, como: O ataque de Lampião a Mossoró. Essa literatura é divulgada através dos romanceiros populares, podendo construir todo o episódio por intermédios dos folhetos que tínhamos às mãos.

Para a literatura de cordel ser uma informação de fontes históricas da vida real, constitui fatos precisos da história de um povo nordestino, passando essas informações contidas e transformadas em poesia e canções. Com o passar do tempo, a literatura de cordel foi se aprimorando com novas técnicas, dando mais êxito à poesia e às canções.

Há, entretanto, que a xilografia consiste em aprimorar os folhetos da literatura de cordel, dando mais vida às gravuras. Estas marcam os traços de um povo sofrido pela seca do nordeste. Por mais contraditório que possa parecer, a xilografia nordestina está cada vez mais abrindo uma promissora faixa de poder aquisitivo da classe média, com o custo de produção, está sendo distribuída em edições limitadas.

Markj Curran diz que, quando uma pessoa lê os folhetos de literatura de cordel, se envolve com os fatos abordados na poesia. O leitor pode perceber que o estilo dos versos de cordel é a representação da vida de um povo sofrido que traz as marcas de uma vivência apanhada.

O cordel é a voz do povo com sua magia e do fantástico reino da imaginação, onde entidades e seres místicos circulam lado a lado com figuras reais de cangaceiros, coronéis, boiadeiros, beatos, donzelas, burocratas, polícia e políticos. E a literatura de cordel não é só fantasia, mas sim a realidade existente no sertão nordestino. O poeta de cordel passa o seu ponto de vista sobre a vivência de um povo sofrido através dos seus cantos e poesias.

A característica da notícia transmitida nos folhetos sempre inclui o comentário da época, são autênticos ao seu público, pois o cordel conhece muito bem suas ideias, seus problemas e aspiram as suas opiniões, anseiam as suas esperanças, vivem a sua vida. Já Jorge Amado fala que a literatura de cordel corresponde à informação de comentários críticos de uma sociedade. E a poesia do mesmo povo que concebe e consome a literatura de cordel, ao mesmo tempo transmite as informações para o mundo, no país, no Estado, na cidade, no bairro, e sua interpretação do ponto de vista popular. E ao mesmo tempo faz uma crítica poética à realidade da vida do povo com a sociedade que limita, oprime e explora as populações pobres e trabalhadoras. Dessa forma, a literatura de cordel passa a ser uma forma de educar o povo, mostrando as diferenças sociais e culturais de uma sociedade.

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação do homem no acesso da comunicação, informação, expressando e compartilhando as variedades linguísticas na visão regional brasileira. Assim, considerando os diferentes níveis de conhecimento local e regional, a escola é a promotora dessa inclusão sociolinguística, progressivamente durante o ensino fundamental, sendo capazes de interpretar os diferentes textos e contextos literários nas mais diversas situações. Para Lessa apud Lopes:

“Criações artísticas de ordem popular, pelo imprevisto da imaginação, pela delicadeza da sensibilidade, pelo poder de observação, pela força de expressão, pela intuição poética, pelo arrojo das imagens, pelo sentido de crítica, de protesto e de luta social que muitas vezes apresentam, estão a exigir a atenção dos estudiosos”. (LESSA, 1994, p. 9)

A língua é um sistema de signos histórico e social, o qual possibilita o significado e a realidade do mundo, aprendendo não só palavras, mas também os significados e interpretações do meio e do espaço que cada um convive. Permitindo construir novas maneiras de compreender o mundo com representações sobre o interior do funcionamento das linguagens. A necessidade de atender uma demanda implica numa revisão substantiva das práticas de ensino que tratam a língua como algo sem vida. As práticas da leitura possibilitam ao estudante aprender a diversidade cultural que existe no convívio. Os textos são um conjunto de regras a serem aprendidas, aplicando na sua realidade os textos produzidos, lidos e ouvidos que retratam o seu universo. Formando um elo entre o literário e as formas linguísticas regionais. A literatura de cordel é uma cópia do irreal (lendas, mitos e crenças) e do real (problemas com a violência, drogas e prostituição), trabalhando o cotidiano dos seres humanos em determinados locais ou situações, conforme o poeta popular Zezé de Boquim, na seguinte estrofe do cordel Violência e Juventude:

“[…] Às vezes se vê um jovem
De aspecto adiantado
Na caneta é um doutor
Mas vive sempre drogado
Dizem que isso é avanço
Pois se morrer for descanso
Prefiro viver cansado”.
(SANTOS, 2006, p.4)

O poeta popular, Zezé de Boquim, trabalhou uma situação real, que é o uso das drogas, para mostrar através da linguagem direta as suas consequências e a desmoralização do indivíduo perante a sociedade. Ele trabalhou o meio em que está inserido, o espaço geográfico e as suas sequelas. O cordel envolve uma diversidade de formatos para serem incluídos nas metodologias de ensino da disciplina Língua Portuguesa em sala de aula, utilizando os assuntos atuais e de cunho social. A transversalidade da língua portuguesa pode ser abordada em duas questões: a língua como veículo de representações, concepções e a língua com seu valor sociocultural. Desta forma, sua atitude de instrumentação e intervenção social nos critérios e princípios metodológicos em projetos de estudos e pesquisas. Se adequado à linguagem em instâncias da oralidade, forma-se mais competente tratado na relação entre os interlocutores e a intenção comunicativa.

Estabelecer a motivação em relação a esse aspecto da cultura popular e organizar todo um processo de aplicação e estímulos em direcionamento ao fator principal, que é a apresentação, reconhecimento da origem e fruição da literatura de cordel. A pesquisa mostrou-se de suma importância, tendo em vista que os valores culturais devem ser repassados no processo de ensino e aprendizagem de conteúdos curriculares.

As formas de preconceito da fala não têm nenhuma fundamentação racional, exigindo que se investiguem os valores e convicções da sociolinguística. Se relacionado à ausência de conhecimento e intolerância de um discurso com dimensão ideológica. O qual relaciona as marcas deixadas no contexto com as suas condições de produção, paradoxalmente servindo de formação ideológica. A escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua banal a todos os 160 milhões de brasileiros, independente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização, etc. O fato de no Brasil ser uma região de dialetos diferenciados em que cada uma tem a própria maneira de falar. É preciso que todas as instituições voltadas para a educação e a cultura acabem com esse mito do português no Brasil e passem a distinguir a diferença linguística do nosso país para melhor planejarem o dialeto de variedades não-padrão. Do ponto de vista científico, o falante é completamente competente dessa língua, o indivíduo já nasce com sua própria fala, sem cometer erros, assim só se erra naquilo que é aprendido no seu cotidiano. Segundo Azevedo:

“Qualquer língua expressa à cultura da comunidade que se fala, transmitindo-a através das gerações e fazendo circular no seio dessa comunidade. Por desempenhar tão ampla função, a língua é considerada um autêntico alicerce da estrutura social: além de sua utilidade mais óbvia como instrumento cotidiano da interação humana, ela possibilita a construção de conhecimento e sua armazenagem em arquivos sonoros ou impressos para uso na ciência, na educação, na literatura, no direito, na religião, no lazer, na administração pública, etc”. (AZEVEDO, 2008, p. 11)

É importante ressaltar que uma pessoa tendo pouco uso da leitura poderá trocar x por ch, j por g, s por z, assim por diante, o uso da escrita é codificado, já a fala será utilizada de acordo com o meio em que o indivíduo se encontra, no contexto adequado, com as pessoas certas, no ambiente em que ele se encontra para utilizar uma linguagem formal ou não-formal. Conforme Azevedo, “não é escrever um texto segmentado correto, mas sim ter uma coesão dentro do contexto, acabando com a ideia de que escrever ortograficamente correto”. Cabe ao educador fugir das regras gramaticais e dar ênfase ao conteúdo contido no contexto. Sendo assim, a união de letras do nosso alfabeto que se junta para transmitir em palavras que não são coerentes com o sistema ortográfico, e ao mesmo tempo sem nenhuma interpretação fonética, no qual são possíveis representações de som. E assim se dá o direito de se educar, dar a voz ao outro, reconhecer seus direitos de cada cidadão, ou seja, cada região tem o seu próprio dialeto.

As alterações introduzidas na ortografia da língua portuguesa pelo acordo ortográfico de língua portuguesa, assinado em Lisboa, outubro de 1990, por Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, e posteriormente por Timor Leste. Esse acordo é simplesmente ortográfico, portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. A língua expressa à cultura da comunidade que a fala, transmitindo-a através das gerações envolvidas nessa comunidade, tendo um conflito insuperável entre o ideal de uniformidade de um sistema ortográfico e a realidade oral de uma língua caracterizada pela variação social tanto quanto regional.

Segundo Antônio Houaiss, uma das mais importantes instituições ligadas à língua portuguesa em qualquer forma de comunicação escrita. É fundamental para que todos conheçam as novas regras que vão reger a língua e para quem quer escrever corretamente. Portanto, as línguas são como são em virtude do uso que seus falantes fazem delas, e não de acordos de grupos ou de decretos de governo.

Porém, a língua é muito importante e tem um meio de comunicação que é um patrimônio historicamente construído pelas sociedades que a falam e também, em muitos casos, a escrevem. O estudo da língua pode focalizar uma existência no curso do tempo considerada em sua sincronia, sendo assim sua formação e evolução através da história que pode observá-la em sua diacronia.

A origem do português é o latim, antiga língua falada no Lácio, região central da península Itálica. Em meados do século VIII a.C, Roma foi fundada nessas terras e uma civilização iniciava com o passar do tempo dos séculos. O expansionismo romano atingiu suas fronteiras, atingindo localidades mais e mais distantes.

Considera-se que a história da nossa língua tem início no século VIII, por seu momento que aparecem registros escritos. Antes disso, porém, é possível assinalar dois estágios de sua evolução: uma pré-história quando o idioma, embora falado, não é documentado e uma proto-história, época em que as primeiras palavras do português surgem.

Em relação à ortografia, abrange três ciclos: o da ortografia fonética (do século VIII ao XVI) e o ciclo pseudo-etimológico, que foi do século XVI até 1904. O primeiro ciclo é arcaico, quando a escrita procurava buscar-se na pronúncia, os copistas não grafavam letra que não fossem pronunciadas. Ex: Como o caso do H iniciais. No fim desse ciclo, a influência latina se fez sentir na escrita e começou a distanciar da pronúncia, escreveu-se nocte por noite e bructo por fruto.

No segundo ciclo pseudo-etimológico, a escrita sofreu forte influência greco-latina, pois a grafia do latim passa a ser o modelo da escrita do português, que absorve ortografias clássicas. É o dos RH (como rhomboida) e TH (como em thatro). Já o terceiro ciclo tem a fase simplificada que surgiu com o trabalho foneticista português Gonçalves Viana, publicado em 1904 no livro ortografia nacional, em que desenvolveu uma análise da história interna da língua e estudou as tendências fonéticas. Qualquer uso da língua está sujeito a variações fonéticas, morfológicas, sintáticas e vocabulares. Portanto, sendo falada por uma população tão grande, dispersa por localidades e diversas, a língua portuguesa apresenta diferenças razoáveis entre as variedades brasileiras, europeias e africanas. Sua escrita segue hoje dois sistemas ortográficos, o do Brasil e o de Portugal, adotado nos demais países.

Considerações Finais

Este artigo poderia ser caracterizado como um resgate cultural. Porém, acredita-se que resgate não seria o termo mais adequado, porque nos remete à ideia e traz algo de volta ao seu lugar, ou como definido pelo dicionário de língua portuguesa Aurélio, sinônimo de “restituir”, o que significa “fazer voltar ou retornar” (FERREIRA, 1993), o que não foi o caso, pois até então, a literatura de cordel, assim como outras formas de expressão da cultura popular, não foram introduzidas no contexto escolar.

Da perspectiva apresentada nesse estudo, apresentamos a seguir algumas considerações: a literatura de cordel se tingiu de uma tonalidade político-social, onde o preconceito e a discriminação continuam a subjugar. Ocorre, no entanto, que este cordel que se fez crítica da realidade é entre educador e educando.

Buscou-se enfatizar a necessidade de uma reflexão sobre o cordel que não pare no tempo, que não se limite a exaltar sua produção tradicional sem perceber os rumos que toma a produção contemporânea. Neste sentido, observou-se que a educação é vista nas lentes dos poetas populares. Adquirindo uma outra dimensão, foi discutida a educação brasileira e um dos seus expoentes, Paulo Freire, de maneira crítica, mas com a suavidade que o prisma da poesia desvela. O Cordel diversificou em outras vertentes, coisa que para alguns estudiosos só podemos chamar de cordel o que se prende unicamente à escrita.

É relevante mostrar essa arte aos alunos do ensino fundamental e médio nos seus diversos tipos, tais como: escrita literária, música e repente. A importância de adolescentes entrarem em contato com essa literatura é justamente um alerta para o fato do multiculturalismo e não ficarem presos a formas literárias, bem como conhecerem um pouco do seu país e de sua cultura, não tornando submissos a estereótipos literários que fazem sobre nossa cultura.

Outro expoente maior é dar continuidade ao processo de resgate da literatura de cordel que enfraqueceu no nordeste nas últimas décadas, sobretudo devido ao uso de novas tecnologias pela população que tirou um papel importante do cordel, que era de informar o homem do campo, o qual só tinha acesso à informação, mídia e educação por meio do cordel nas feiras populares do interior. É evidente que a tecnologia trouxe uma nova perspectiva educacional para a região em questão e, de forma alguma, fica a repreensão ao seu uso. Entretanto, devido a outros fatores também, seu uso contribuiu ao longo do tempo para a perda do caráter informativo do cordel nas feiras populares, tornando essa arte mais um meio de expressão, de opinião, de literatura popular.

Levar o cordel para a sala de aula é contextualizar o aluno no meio social e fazer discurso com outras disciplinas como história, geografia e artes. É reafirmar a literatura de cordel como identidade não somente do povo nordestino, mas do povo brasileiro. Por conseguinte, é sempre importante ressaltar que a sociedade contemporânea não valoriza a cultura popular, deixando-a à margem do processo educativo, mascarando, por vezes, sua riqueza, esta perdida no tempo e no esquecimento.

Além disso, a literatura de cordel pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento de habilidades transversais. Para saber mais sobre como a literatura pode ser utilizada na educação, confira A Importância da Leitura.

Por fim, a literatura de cordel é uma forma de arte que não apenas entretém, mas também educa e conscientiza. Ao integrar essa forma de literatura no currículo escolar, os educadores podem promover uma educação mais inclusiva e representativa, que valoriza a diversidade cultural do Brasil.

Para aqueles que desejam explorar mais sobre a literatura de cordel e suas aplicações, é recomendável buscar recursos e materiais que possam enriquecer o aprendizado. Uma boa opção é procurar por livros de cordel que podem ser utilizados em sala de aula.


Este texto foi publicado na categoria Metodologias e Inovação Pedagógica.

 About Pedagogia ao Pé da Letra

Sou pedagoga e professora pós-graduada em educação infantil, me interesso muito pela educação brasileira e principalmente pela qualidade de ensino. Primo muito pela educação infantil como a base de tudo.

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