As grandes competições esportivas da atualidade constituem indiscutivelmente um fenômeno mundial, e enquanto tal são mais um produto da globalização. Não apenas os tradicionais Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo de futebol, mas um conjunto cada vez maior de competições esportivas (mesmo algumas de âmbito jurídico estritamente nacional, como os campeonatos da liga norte-americana de basquetebol, a NBA), atingem atualmente um vastíssimo público telespectador. Em praticamente todas as nações do planeta, centenas de milhões de indivíduos compartilham as imagens e signos desta poderosa e crescente indústria do entretenimento. Segundo Augustin (1995:3), verifica-se a conformação de uma verdadeira malha mundial, dotada de milhares de equipamentos esportivos, que atravessa países, expande-se pelas cidades e pelo campo, e que atua intensamente na cultura e nas representações dos lugares.
Os esportes são, portanto, um componente fundamental da modernidade, e entendemos que é em seu contexto histórico que pode ser melhor compreendido, isto é, como um produto da sociedade industrial capitalista. Nobert Elias (1992:40), um dos maiores estudiosos da expansão do fenômeno esportivo na era moderna, lançou uma indagação fundamental: que espécie de sociedade é esta onde cada vez mais pessoas utilizam parte de seu tempo na assistência ou participação de confrontos regulados de habilidades corporais a que chamamos desporto? E buscou a resposta na macroestrutura social, no amplo conjunto de transformações morais e comportamentais que denominou “processo civilizacional”. Pretendemos assim conceituar e contextualizar os esportes modernos a partir de reflexões que evidenciam seus nexos com a ordem burguesa ascendente: o processo de transição, nos séculos XVIII e XIX, dos jogos tradicionais para estas formas de competição atlética que denominamos esporte. Um breve reprisar da trajetória do corpo e de suas representações no ocidente se faz necessário neste momento.
Mas a educação física está assumindo um novo papel na vida moderna do ser humano, hoje ele se preocupa muito mais com o real significado de saúde inserido na realidade da educação física.
O papel da educação física na vida moderna
Segundo o clássico estudo de Johan Huizinga (1996), o elemento lúdico é uma dimensão própria da existência humana, que nos acompanha desde tempos imemoriais, muito antes portanto do advento da chamada civilização. A apropriação deste espírito lúdico e de várias de suas manifestações culturais, por estruturas organizadas com base na competição e na busca da melhor performance, é um processo que se instala mais efetivamente na Europa do final do século XVIII. Neste contexto, é impulsionado pela consolidação de um ideário de valorização da atividade muscular, com vistas ao aprimoramento físico-mental-espiritual do novo Homem, concebido pelos ideais iluministas.
É neste sentido que na segunda metade do século XVIII, torna-se habitual nos colégios ingleses a prática de jogos viris – que frequentemente exigem maior empenho muscular que propriamente habilidades mais nobres como destreza e equilíbrio – extraídos e reelaborados pelos jovens a partir de jogos da tradição popular, como o folk football. A elite agora iniciava-se em práticas esportivas diferentes daquelas consideradas próprias da nobreza: a esgrima, a equitação, a caça, o arco, o salto, etc (Dunning & Sheard, 1979:1-3). Tal mudança comportamental se insere no movimento crescente de resgate de valores clássicos que encontram a melhor tradução em mens sana in corpore sano, e constitui a base para a criação dos “esportes modernos”.
Este movimento tem raízes remotas. Richard Sennett (1997) assinala a profunda transição do uso do corpo, transcorrida entre o Império Romano e o medievo: da orgia pública pagã às renúncias corporais do espaço cristão. Foi justamente o imperador romano Teodósio no ano de 349, portanto já em plena vigência da hegemonia cristã, que proibiu a continuidade dos Jogos Olímpicos, que então existiam há mais de mil anos. O corpo deveria resignar-se aos imperativos da alma, que se quer purificar através do controle severo dos impulsos carnais. Entretanto, com o advento da era renascentista, os estudos sobre o corpo, a biomecânica, e toda uma filosofia de apoio à “educação física” começam a se expandir, ocupando mentes privilegiadas como Leonardo da Vinci, Montaigne e Francis Bacon, que estabeleceram exercícios físicos como ideal de uma educação cortesã (Oliveira, 1994:36-7). E assim, alguns ideais greco-romanos relacionados ao uso do corpo são retomados, instaurando-se uma nova fase de desenvolvimento da cultura física.
Importante registrar que em 1830 a educação física encontra-se plenamente inserida nas public schools inglesas, e com ela, o incentivo oficial à prática de tradicionais jogos populares que, submetidos a uma crescente regulamentação, resultarão na “invenção” de diversas modalidades esportivas de ampla aceitação mundial posterior, como o futebol, o rugby e o cricket. Neste sentido, entre 1820 e 1870, as escolas públicas inglesas funcionaram como “laboratórios de invenção dos esportes modernos” (Augustin, 1995:20). Registre-se ainda que o próprio termo sportman sofreu neste período significativa alteração. Até 1856, designava o indivíduo que se comportava de forma serena e alegre diante dos problemas cotidianos; alguém que vive bem, sem maiores preocupações. A partir de então, tal vocábulo incorpora uma nova acepção que, com o tempo, tornar-se-á predominante: alguém com disposição física apurada, capaz de realizar façanhas difíceis, como por exemplo “escalar penhascos”.
A literatura acadêmica consagrou a expressão esportes modernos para diferenciá-los das atividades assemelhadas que existiam na Antiguidade. Algumas das modalidades esportivas atuais, como o basquetebol e o voleibol, foram de fato criadas neste contexto mais recente, mas muitas outras são resultado da evolução de práticas lúdicas de origem muito remota, tais como o futebol, o rugby, o pugilismo e várias formas de corrida. Portanto, o que difere mais precisamente os esportes modernos dos anteriores não é propriamente o conjunto de modalidades praticadas, mas sim a natureza e a finalidade destas. Os esportes modernos, em resumo, apresentam grande estrutura jurídico-organizacional, estatuto internacional, regras precisas, aperfeiçoamento constante dos atletas em busca de records, e realizam-se em espaços especificamente elaborados para tal fim, com medições e formas precisas (Elias & Dunning, 1985; Dunning & Sheard, 1979). O individualismo e a competitividade extrema vão distanciando os esportes modernos de sua matriz remota, isto é, o clássico espírito olímpico grego (Augustin, 1995:16-9).
Neste processo articulado de difusão dos exercícios físicos e de gestação dos esportes modernos, pelo menos três fatores merecem breve alusão. Primeiramente, o ambiente que envolveu a primeira Revolução Industrial, com o advento de máquinas, maior velocidade de produção e sobretudo a generalização do trabalho em equipe – a crescente divisão técnica de tarefas no interior de uma unidade produtiva – o que estimulou a burguesia a promover os esportes praticados coletivamente, como instrumento de uma pedagogia da sociedade industrial nascente. Em segundo lugar, a revolução newtoniana, responsável pela “imposição” de uma consciência da medição precisa do tempo. A quantificação do tempo conduziu à valorização dos records, e permitiu dotar os tradicionais jogos populares de um confinamento temporal que caracteriza os esportes modernos (Bale, 1989:43 e 71). E finalmente, devemos recordar um dos princípios fundamentais da ética protestante: a valorização do trabalho e do esforço individual, em detrimento da atitude majoritariamente sedentária e contemplativa difundida pelo catolicismo.
Os esportes modernos foram codificados, majoritariamente, na segunda metade do século XIX, e imediatamente encontraram grande difusão pelas redes internacionais de comércio e dominação imperialista. Ao longo do século XX, a expansão do chamado tempo livre e do consumo de serviços de lazer propiciou o crescimento constante dos esportes, seja como prática saudável, seja como espetáculo. E assim os esportes contaram com fortes políticas nacionais de apoio no pós-guerra (“esporte para todos”) tanto no bloco socialista quanto no âmbito da expansão do Welfare State (Coy & Kenion, 1969; Riordan, 1978). No contexto da “guerra fria”, os Jogos Olímpicos constituíram importante canal de sublimação de conflitos entre os dois blocos internacionais de poder.
Neste final do século XX, os esportes vivenciam novo “boom”, agora já não tanto articulado a interesses geopolíticos e nacionalistas, mas sobretudo a uma poderosa engrenagem de publicidade em escala planetária, as “estratégias globais de marketing de grandes corporações transnacionais” (Proni, 1998). Empresas como Nike, Coca-Cola e Adidas (para citar apenas algumas) investem maciçamente em atletas, clubes, federações e competições, ao mesmo tempo em que as redes internacionais de TV pagam cada vez mais caro pela transmissão de eventos esportivos. Os esportes tornaram-se uma indústria vigorosa, a movimentar anualmente bilhões de dólares, de forma que Chris Gratton (1998) a considera como a que vem exibindo o mais rápido crescimento dentro da próspera indústria mundial do entretenimento, que engloba outras atividades em plena expansão como o turismo. Este último comparece recentemente na geografia brasileira com certa assiduidade, gerando publicações e eventos acadêmicos exclusivamente voltados para o tema. Quanto aos esportes, o cenário é bastante diferente, mas, acreditamos, apresenta-se como abordagem viável e promissora, conforme a argumentação que desenvolveremos a seguir.
A importância da Educação Física
O ser humano desde sempre defendeu a apologia da saúde.
Como um meio ou como um fim, não assume verdadeira relevância nas considerações que pretendemos tecer.
O objetivo que preside a este trabalho, enuncia-se como a preocupação de fazer sentir à população quotidiana, a necessidade do movimento corporal como fator implicativo na luta pelo bem-estar existencial.
Na verdade, a partir da referência bíblica acima citada podemos inferir que o próprio Criador realça a importância da saúde para o incremento da relação Deus – Homem. Na sua palavra, podemos compreender que o que quer que promova a saúde, fomentará o desenvolvimento de um espírito robusto e de um caráter bem equilibrado. O filósofo grego Aristóteles refere que a formação do corpo, para que será, senão para servir a alma! Sem saúde, ninguém pode compreender distintamente as suas obrigações para consigo mesmo, com seus semelhantes ou com o seu Criador. Portanto, a saúde deve ser tão fielmente considerada como o caráter.
Desde que o espírito e a alma encontram expressão mediante o corpo, tanto o vigor mental como o espiritual dependem em grande parte da atividade física.
Já Ellen White (em “Ciência do bom viver”), asserçava que “a atividade física é uma lei do nosso ser” e que os juízos de valor atribuídos à saúde dos indivíduos dependem em larga medida do movimento a que o indivíduo expõe o seu corpo.
Esta posição é hoje corroborada por inúmeros estudos feitos em áreas como as ciências de desporto e as ciências médicas.
Todavia, a proeminência do movimento na educação humana pode ser constatada em tempos civilizacionais mais antigos. Desde os tempos antigos o homem teve especiais cuidados com o seu corpo.
Aludindo, de forma superficial, à cultura da antiguidade grega, considerada como o período que mais contribuiu para a edificação da sociedade moderna, e os dias de hoje, no que respeita à influência da educação física na sociedade, podemos tecer algumas considerações pertinentes.
O mundo ocidental foi beber a Atenas as origens do pensamento atual. Surge-nos já um conceito de educação liberal, humanista, misto de uma conjunção de vários fatores: desenvolvimento harmonioso, quer do corpo quer da alma, numa perspectiva estética, artística, de procura da beleza.
O próprio termo PAIDEIA designava o caráter da educação pela formação integral e consciente do cidadão, num efetivo intercâmbio de influências indivíduo – comunidade, como deixa transparecer uma máxima da época – “FORÇA, SABEDORIA, BELEZA.”
A educação grega assentava na realidade física e cognitiva. Quer o espírito quer o corpo, necessitavam de treino, de permanente cultivo. A educação física, muitas vezes cognominada de ginástica e de exercício físico pelos gregos, foi, portanto, um precioso instrumento dessa cultura integral. Mais do que desenvolver a capacidade atlética, o que se desejava era a perfeição do movimento. Só assim se concretiza o ideal grego, que pretendia transformar os erros e vícios, para a permanente melhoria do povo ateniense. Integrava exercícios físicos, higiene e formação do caráter e cultivo do valor.
O próprio Estado contribuiu de forma indubitável para a exequibilidade desta mentalidade ao permitir e estatuir a proliferação de vários ginásios, dos quais se destacam pela influência que tiveram, a Academia e o Liceu, de Platão e Aristóteles, respectivamente.
Na verdade, a cultura da antiguidade, à qual chamamos helenismo, tinha também como motivação para a importância que outorgava à educação física, o elevado nível relacional que se evidenciava entre a educação física e a medicina. Platão referia a existência de uma arte cujas partes são a educação física e a medicina, na qual cai, na verdade, a manutenção do organismo. Tal era a sua conexidade que eram frequentemente englobadas na mesma ciência.
De fato, o complexo que indiretamente conduzia à felicidade, e de forma direta à saúde, compunha-se no mundo antigo do Sanatório, do Stadium e do Santuário.
Seguramente que este discurso pode parecer um pouco romanceado, mas se compararmos com a realidade dos nossos dias, será encarado de outra forma.
A máxima hodierna é antagônica da tricotomia da antiguidade. O sedentarismo atual opõe-se ao stadium, ao movimento; o stress ao santuário; a superalimentação ao sanatório. Os três «S» do mundo moderno contra os três «S» da antiguidade. Por quê?
Porque o homem é um ser biocultural. Ele é cultura e faz a sua cultura.
Todos os processos que o homem fizer despoletar irão influenciar o seu modus vivendi, a uma cultura antiga que preconizava o precioso, o belo, a perfeição; opõe-se hoje a tríplice mensagem da eficácia, do progresso e do rendimento.
Esta realidade é, segundo inúmeros autores, fruto de um processo que se desencadeou com a revolução industrial e que teve o seu apogeu em Inglaterra, na segunda metade do século passado.
Desde os últimos 50 anos até aos dias de hoje, pouco tempo passou, mas o mundo mudou. Não nos referimos às alterações de ordem política que deram origem a uma nova ordem geo – política no mundo. Referimo-nos sobretudo a mudanças estruturais, nos hábitos, nos costumes e nos estilos de vida das sociedades. Enfim, surgiu uma nova cultura.
A introdução da automização, da mecanização e da robotização alterou a tecnologia da maior parte dos processos de produção. Em consequência disso, alterou-se o caráter de trabalho; profissões associadas a grandes exigências corporais tornam-se cada vez mais raras. Contudo, a diminuição da percentagem de trabalho corporal não faz diminuir – bem pelo contrário! – a necessidade de desenvolver um nível elevado de capacidade de rendimento corporal. Porém, a modificação do caráter de trabalho, assim como uma melhoria da qualidade de vida conduzem a uma carga corporal reduzida e à sua insuficiência da atividade motora. Estes dois fatores, conjugados com o ritmo acelerado da vida, integram-se na cadeia causal de condições adstritas a muitas doenças, sobretudo do sistema cardiovascular.
Principais ideias da Educação Física como promoção da saúde
No ano de 1994, os autores lançam a sua proposta em forma de artigo, editado pela Revista da Associação dos Professores de EF de Londrina (APEF), com o título: Sugestões de Conteúdos Programáticos para Programas de EF escolar direcionados à promoção da saúde, proposta esta constituída de 5 momentos: 1) conceituação do termo saúde dentro do contexto didático-pedagógico, 2) análise das diferentes tendências dos programas de EF escolar nas últimas décadas, 3) proposição dos objetivos para os programas de EF escolar direcionados à promoção da saúde, 4) sugestões de conteúdo programático para os programas de EF escolar direcionadas à promoção da saúde; 5) a utilização da administração de testes motores nos programas de EF escolar direcionados à promoção da saúde.
Em suas considerações iniciais, os autores destacam que, embora os jovens raramente apresentem sintomas de doenças crônico-degenerativas, esta não pode ser uma garantia de que não vá ocorrer no futuro. Por este motivo, a adoção de hábitos saudáveis necessita ser assumida ainda na escola para evitar no futuro possíveis distúrbios degenerativos (p. 4).
Os autores alertam para a necessidade de se repensar os programas de EF escolar. E para isso, seus argumentos são que para critérios de saúde satisfatórios, não mais de 15% das crianças e adolescentes conseguem apresentar as exigências motoras mínimas, sendo que 13-15% já demonstram índices de adiposidade bastante comprometedores. Assim, a escola de forma geral e a EF de forma específica deve criar mecanismos alternativos que levem os educandos a perceberem a importância de se adotar um estilo de vida saudável. (p. 4).
Para isso, propõem dois desafios a serem alcançados pela EF escolar:
- fornecimento de oportunidades para que os educandos tornem-se ativos fisicamente;
- proporcionar experiências educativas que viabilizem aos educandos a adoção de um estilo de vida ativo ao longo de toda a sua existência.
Os autores, ao conceituar saúde, valem-se da definição sintetizada na Conferência Internacional sobre Exercício, Aptidão e Saúde de 1988. De acordo com esta “moderna” definição, saúde é uma condição humana com dimensões física, social e psicológica, cada uma caracterizada por um contínuum com pólos positivos e negativos. Sendo a saúde positiva associada à capacidade de apreciar a vida e resistir aos desafios do cotidiano e não meramente a ausência de doenças, enquanto que a saúde negativa está associada com a morbidade e no extremo à mortalidade (p. 5).
Dessa forma, segundo os autores (p.5), parece evidente que o estado de ser saudável não é algo estático: pelo contrário, torna-se necessário adquiri-lo e reconstruí-lo de forma individualizada constantemente ao longo da vida, apontando para o fato de que a saúde é educável, podendo ser tratada em um contexto didático-pedagógico.
Citando Bento (1991), Guedes e Guedes afirmam que a inclusão de determinadas disciplinas pertencentes à área do ensino no currículo escolar deve-se alicerçar na valorização e relevância de seus objetivos em direção a uma formação integral e consistente dos educandos, despertando nos mesmos a consciência para a necessidade de se adequar ao momento histórico em que vivem, fazendo com que sejam portadores de uma capacidade crítica e reflexiva ajustada a uma sociedade moderna e democrática, em que as atividades motoras passam a adquirir grande relevância na medida em que torna-se necessário de alguma forma compensar os efeitos nocivos do estilo de vida provocado pela sociedade moderna (p.6).
Segundo os autores, a EF enquanto parte de um currículo, deve ater-se à essência de sua função e não se deixar levar por formulações e objetivos alicerçados em elevadas pretensões, supostamente direcionadas à formação de cidadãos dotados de extraordinárias pseudo competências social, cultural e política, pois, se assim o fizerem, não serão capazes de contribuir para levarem os educandos futuramente a apresentarem uma vida produtiva, criativa e bem sucedida (p.6). Alertando que a EF deve ser encarada pelos professores no meio escolar como uma disciplina concreta, de uma escola concreta, para alunos concretos, cidadãos de um mundo concreto. Sendo que ao fazerem sugestões para a EF escolar realizam uma crítica à tendência da EF esportiva na escola e as propostas pedagógicas da EF que têm como objetivo trabalhar com elevadas doses de intelectualismo (p.7).
De acordo com Guedes e Guedes (p.7), o tempo livre de nossas crianças e adolescentes resume-se a brincadeiras passivas sem nenhum envolvimento motor, ou ainda que não é recomendável viver em sociedades onde mais que 40% das causas de mortes são provocadas por um estilo de vida pouco saudável em termos de hábitos de atividades motoras e alimentação. Por isso, é preciso que a escola assuma sua função educacional, intervindo decisivamente na tentativa de procurar modificar a atual realidade.
Os autores propõem como conteúdo programático para a Educação Física escolar no ensino fundamental e médio, elementos que deverão nortear a atuação dos professores em unidades de ensino. Nestas unidades, o professor em princípio deverá ser capaz de diagnosticar e acompanhar os níveis de crescimentos, composição corporal e desempenho motor dos educandos, assim como ser detentor de conhecimentos sobre o funcionamento morfo-funcional do organismo humano.
O conhecimento priorizado para a formação dos educandos deverá estar relacionado a atividades que possam permitir aos mesmos a aquisição de hábitos saudáveis de vida, que serão adquiridos valendo-se da prática regular de atividades físicas (brincadeiras recreativas, jogos e competições esportivas). Mas, segundo os autores, o objetivo das mesmas será a aquisição e manutenção da aptidão física, que virá por meio da formação do hábito da prática regular de exercícios físicos, que deverá se prolongar para além dos anos de escolarização.
Contradições e ambiguidades de um discurso voltado para a promoção da saúde
Para iniciarmos a análise do que chamamos de “lacunas” e “silêncios” dentro da proposta de Guedes e Guedes, gostaríamos de comentar a forma com que os autores se utilizam do termo crianças e adolescentes. Utilizam-se destes termos sem se darem conta que criança e adolescente são conceitos e como tal, são abstrações que buscam homogeneizar uma realidade heterogênea.
Estes conceitos, quando não contextualizados, ficam sem condição de informar que crianças e adolescentes seriam estas, criando assim classes homogêneas e universais, distantes das condições objetivas de vida em que estão inseridas, restando perguntar, se os 13 e 15% a que Guedes e Guedes estão se referindo como portadores das exigências motoras satisfatórias, são as crianças e adolescentes filhos da classe patronal, ou da classe assalariada e/ou sub-assalariada? Oliveira (1994, p.163) citando Charlot lembra que a criança do proletariado e a criança da burguesia não vivem sua condição de criança de maneira semelhante. Então como esperar que apresentem as mesmas características?
Queremos salientar que o sentimento de infância, criança e adolescência é relativamente novo, remontando apenas 4 séculos, mas 4 séculos que serviram para universalizar estes conceitos para todas as classes sociais, mesmo que em algumas regiões e lugares específicos (lugar de toda pobreza), não haja essa passagem gradual de uma condição para outra e certas responsabilidades e necessidades atribuídas ao adulto sejam assumidas bem mais cedo.
Quanto às exigências motoras mínimas satisfatórias, pergunta-se: quem exige? Baseado em quais parâmetros? Com que finalidade? Satisfatórias para quem? Se não podemos considerar que existem crianças e adolescentes com as mesmas características, como esperar que apresentem os mesmos padrões motores exigidos como mínimos? Farinatti (1995, p.17), quanto às exigências motoras mínimas estabelecidas para a saúde satisfatória, questiona o mesmo fato, pois Guedes e Guedes não detalham quais exigências seriam estas.
E os outros 75% de jovens que não conseguem atingir as exigências motoras mínimas exigidas? Farinatti (1995, p.17) também não compreende até que ponto, estes 13 a 15% de crianças e adolescentes relatados por Guedes e Guedes seriam representativos das crianças brasileiras, pois suas amostras compreendem apenas a região de Londrina.
Na sua proposta, os autores (p. 4, 12 e 13) pretendem que os professores de EF criem mecanismos que levem os educandos a perceber a importância de adotar um estilo de vida saudável; mas, como adotar um estilo de vida saudável quando as condições de vida da maioria não permitem que tenham acesso a uma alimentação balanceada e a um sistema de saúde que possa atender suas necessidades mínimas?
O “moderno” conceito utilizado por Guedes e Guedes, para definir o que é saúde, ainda não deixa de ser uma concepção vaga de abordar o problema saúde-doença, pois não leva em conta as condições concretas de existência das pessoas que possuem saúde e das que não as possuem, pois segundo Dejours, citado por Maia (1997, p.256), ter saúde é ter condições concretas de prevenir ou tratar doenças e não apenas não estar doente.
Quanto à proposta de Guedes e Guedes (p.5) de individualizar a busca da saúde, entendendo-a como uma responsabilidade individual, leva a entender que se um indivíduo esforçar-se ele se tornará saudável, mas caso não consiga ele será o único responsável. Outra possibilidade de compreensão seria que, se a busca da saúde passa a ser uma busca individualizada, todas as formas de lutar/buscar essa saúde também serão individualizadas; um problema que é social passa a ser enfrentado individualmente, e não coletivamente, entendemos assim que, esta proposta retira a possibilidade de se entender que saúde-doença é também um problema social.
Maia (1996, p.76) refere-se a Guedes e Guedes como autores alinhados a uma vaga interpretação sobre o que seja saúde, pois continuam a reforçar a ideia de que é a ignorância da população brasileira, principalmente de crianças e adolescentes, a responsável pelo seu próprio perfil de saúde, pois, consideram que muitos sintomas não são nada mais que uma consequência [natural] de estágios mais avançados de maus hábitos de saúde (grifos do autor).
Retornando à análise da proposta de Guedes e Guedes (p.6), de certa forma fica a impressão de que há uma relação direta de causa e efeito entre saúde-doença e atividade física. Por exemplo, pratico atividade física terei saúde; não pratico atividade física terei doenças. Isto pode ser evidenciado quando os autores orientam que se faça atividade física para compensar os efeitos nocivos provocados pelo estilo de vida da moderna sociedade (p. 6), ou seja, no lugar de buscar eliminar as causas que provocam os efeitos nocivos, busca-se formas de se adaptar aos efeitos. Ataca-se os efeitos e não as causas, deixando entender que o problema está em mim e não fora de mim.
Quando os autores (p. 6) referem-se que o professor de EF deve ater-se à essência de sua função, percebe-se o caráter funcionalista/instrumental que buscam atribuir à EF, que juntamente com as demais disciplinas escolares tiveram historicamente a função de transmitir um irrisório conhecimento, disciplinando, escondendo, fragmentando e justificando as desigualdades sociais.
Guedes e Guedes (p. 6) enfatizam que não se pode querer transformar/mudar a sociedade através da escola, e ao mesmo tempo se contradizem ao anunciar que a escola deve assumir sua função corrigindo as falhas da sociedade, procurando modificar a atual realidade (p.8). Mas, há que se perceber que a atual realidade a qual os autores referem-se, não é a realidade representada pelas mazelas sociais decorrentes do regime capitalista, e sim a falsa realidade de que o indivíduo é o responsável exclusivo pelo seu estado de saúde ou doença.
Na busca de uma “nova” proposta pedagógica para a Educação Física, Guedes e Guedes (p.7) criticam as pedagogias que buscam atuar de modo a dar aos educandos altas doses de intelectualismo. Fazem a crítica por perceberem que estas não têm como principal foco de atenção/atuação os aspectos anátomo-fisiológicos do movimento humano, mas sim uma ótica de transformação dos valores, o que não deve ser, conforme Guedes e Guedes, a função do professor de EF. Mas qual é a função do professor? Em nossa opinião, dependerá basicamente de quais ideologias (v) impulsionam sua prática pedagógica. Libertadora, por buscar meios que possam fornecer aos educandos o instrumental necessário para lançar um olhar crítico sobre a realidade objetiva, tratando o conhecimento proposto não como um conteúdo a-histórico, mas como saberes construídos, ou contrário como uma prática pedagógica que circunscreve-se dentro do que conhecemos como pedagogias tradicionais, apresentando em grande parte ingenuamente ou inconscientemente o conhecimento como algo sem um contexto histórico ou sem uma intencionalidade geradora. Quanto à função do professor, acreditamos que, se sua atuação acontecer sem levar em conta que o ser humano é fruto de inúmeras determinações que vão desde o nível biológico ao sócio-histórico-cultural, estará apenas refletindo uma visão unilateral da realidade e a tão pretendida formação integral do educando nunca ocorrerá verdadeiramente.
Como foi mencionado acima, Guedes e Guedes afirmam que o contexto escolar em que o educando está inserido deve objetivar a formação integral, (vi) capacitando-o a ter consciência crítica. (vii) Mas pergunto: como é possível levar o educando a essa consciência crítica sem altas doses de esforço intelectual?
Lendo o discurso de Guedes e Guedes, pode-se entender que eles sugerem (p.7) aos professores não desvalorizar os fundamentos biológicos próprios da EF em favor de pedagogias que buscam dar aos educandos um instrumental teórico de compreensão e transformação dos valores sócio-culturais envolvidos nas práticas corporais, pelo fato de estas, em sua visão, darem-se com elevadas doses de intelectualismo. Tal proposição pode receber por analogia, a mesma crítica que Saviani (1989, p.125) faz a Adam Smith (economista do século XVIII), que até aceitava a formação intelectual dos trabalhadores, mas porém que esta fosse em doses homeopáticas. Percebemos nestes autores a mesma preocupação, quer dizer, os educandos têm que ter instrução, mas apenas aquele mínimo necessário para futuramente participarem do processo de produção baseado no capitalismo.
Entendemos que na proposta apresentada por Guedes e Guedes (1994) o conhecimento priorizado à formação dos educandos, está relacionado basicamente com a instrumentalização do corpo, movimento humano com base nas exigências do mercado, sendo a busca da saúde funcional, dará aos educandos oportunidades de apresentarem uma vida produtiva, criativa e bem sucedida (p. 6), que neste caso será dentro do modo capitalista de produção.
Quando afirmam (p. 7), a exigência de uma EF concreta, para alunos concretos, de uma escola concreta em um mundo concreto, demonstram possuir uma visão de mundo idealizada, no qual todos são iguais, sem diferenças de classes, não conseguindo desse modo, contextualizar o estado concreto de dominantes e dominados explícito nas relações sociais.
Quando os autores (p. 8) dizem que não é recomendável viver em uma sociedade onde mais de 40% de pessoas morrem de causas provocadas por falta de uma atividade motora programada, esquecem-se ou omitem-se de informar a porcentagem de pessoas que são alijadas da dita sociedade por excesso de atividade motora. Referindo-se às mortes causadas por maus hábitos alimentares, ocultam as mortes causadas pela fome, desnutrição e doenças infecto-parasitárias. Acreditamos também que não é recomendável viver em um sistema político em que o número de anos de estudo para uma grande maioria é de 3 anos e 9 meses, só superior ao do Haiti, que, todavia, apresenta renda per capita cinco vezes menor (Folha de São Paulo, 4 de maio de 1997, p. 15), e em um país em que o índice de analfabetismo, considerada a população de 7 anos ou mais, está na faixa de 13,7%, o que equivale a 20.876.744 pessoas que não sabem ler ou escrever (Saviani, 1997. p. 55).
Importância da atividade física
A atividade física realizada com regularidade é uma das principais bases para a manutenção da saúde em qualquer idade, junto à correta alimentação e ao estado emocional equilibrado.
Historicamente, o Homem sempre foi muito ativo, podendo-se afirmar que desde o seu aparecimento, há dois milhões de anos, viveu mais de 99% deste tempo como nômade, vivendo da caça e da agricultura. Somente há pouco mais de um século sua atividade física passou a apresentar mudanças muito importantes.
A Revolução Industrial, iniciada em fins do século passado, levou o Homem do campo para as cidades e passou a favorecer uma vida com menor atividade física, com tendência ao sedentarismo. O ser humano foi preparado para um tipo de vida extremamente ativa do ponto de vista físico e a vida moderna mudou radicalmente esta perspectiva.
Este fato trouxe importantes implicações sobre o padrão de doenças e também na associação entre hábitos de vida e saúde. A verificação destes fatos e a identificação dos seus inúmeros fatores negativos trouxeram uma volta da atividade física nos últimos 30 anos, na forma de exercícios organizados, como caminhadas, ciclismo, etc., demonstrando uma clara tendência à volta do Homem ao comportamento de seus ancestrais.
Na realidade, a prática de exercícios foi introduzida pela civilização grega com o nome de ginástica, que se caracterizava por exercícios disciplinados e tinham a finalidade de desenvolver a destreza, a beleza e a força. Os exercícios incluíam a corrida, os saltos, a natação, o arremesso de peso e o levantamento de peso.
Na Grécia antiga, a aptidão física era muito valorizada e este costume foi mantido pelos romanos após a conquista da Grécia. No mundo moderno, os jogos olímpicos popularizaram as atividades físicas.
A nossa saúde está relacionada diretamente à nossa atividade física. Pessoas com hábitos sedentários possuem menor aptidão física, isto é, menor capacidade para executar exercícios físicos. Por outro lado, nossas características de estrutura muscular e de nossas articulações, da constituição de nosso corpo ou de nossa capacidade cardiorrespiratória, determinam também os limites de nossa aptidão física.
A mudança de nossa aptidão física é feita através de condicionamento físico. Um programa de condicionamento físico deve sempre levar em conta nossos hábitos e nossas características físicas e evidentemente, deve ser orientado cuidadosamente do ponto de vista médico.
Na terceira idade, a atividade física é fundamental, tanto para as funções cardiovasculares e pulmonares como também na manutenção da saúde mental.
Toda atividade física realizada na terceira idade deve ser feita sob controle médico, principalmente naquelas pessoas não habituadas a exercícios regulares. Muitas vezes há necessidade de se realizar testes cardíacos para avaliação da função cardiovascular, como o teste ergométrico.
É recomendado que todo programa de exercícios deva ser feito com regularidade e continuidade, não devendo serem realizados exercícios físicos de modo esporádico. Por outro lado, a atividade física exagerada é sempre prejudicial. Um bom programa de atividade física deve ser realizado no mínimo 2 a 3 vezes semanais, por 40 a 60 minutos de cada vez.
A caminhada é o melhor exercício para qualquer idade. A corrida também é muito benéfica, mas leva a mais riscos de lesões em articulações devido aos impactos. O ideal seria combinar vários tipos de atividades e sempre realizá-las com prazer. A combinação de caminhada com natação, por exemplo, é excelente.
Em várias situações, a atividade física produz uma melhora na capacidade da pessoa, sendo muito útil em determinadas moléstias, como por exemplo, no enfisema pulmonar e no diabetes. O controle da pressão alta fica mais fácil quando são realizados exercícios regulares.
São nas doenças das coronárias que a atividade física atinge importância vital, principalmente no que diz respeito à profilaxia do infarto do miocárdio. Exercícios regulares fortalecem o músculo cardíaco e melhoram a circulação coronariana.
Observa-se que a pessoa que faz exercícios regulares tem menores chances de desenvolver diabetes com a idade, e o processo de osteoporose tem sua velocidade diminuída.
O exercício regular atua de maneira eficaz sobre a tensão emocional, a angústia e a depressão. Após o exercício, há sensação de bem-estar e até de euforia, produzindo aumento na auto-estima.
Várias situações exigem a utilização de exercícios físicos especializados. A imobilização do idoso devida a uma fratura, por exemplo, deve ser sempre de curta duração e seguida de exercícios apropriados.
A fisioterapia neurológica está indicada na reabilitação de paralisias, neurites, no tratamento da doença de Parkinson, etc. A fisioterapia respiratória muitas vezes é medida salvadora na recuperação de complicações pulmonares do paciente acamado.
Informações estatísticas mostram claramente que o idoso que pratica com regularidade exercícios apresenta melhor expectativa de vida do que aquele de vida sedentária.
Considerações finais
Se antes dos anos 80 a EF tinha como principais paradigmas orientadores da atuação pedagógica, o modelo do esporte de rendimento e a busca da saúde via aptidão física, a partir dessa mesma década esse modelo hegemônico de atuação da EF passa a não ser mais aceito como absoluto, o que fez com que alguns pesquisadores percebessem a EF dentro de uma crise de identidade (Caparroz, 1997).
O modelo que até então legitimava a EF como disciplina escolar passa a ser contestado, o que leva alguns pesquisadores, a partir desse momento, a buscar novos pressupostos que pudessem orientar não só a pesquisa dentro da EF, mas também a sua prática pedagógica (Daolio, 1997).
Desse modo, passa a se questionar não só o modelo que legitimava a EF na escola, mas também o que era entendido como sua especificidade.
Daolio (1997) ao entrevistar algumas das personalidades da EF da década de 80, “revela” o fato de que foi o questionamento ao modelo de sociedade brasileira e a crítica ao paradigma científico vigente naquela época que deu à EF as ferramentas possíveis para que ela crescesse academicamente. Não é de estranhar-se que os defensores da EF como promotora de saúde via aptidão física tenham mudado seus discursos, agora diferente, pois passaram a assumir um viés pedagógico para este tema.
Della Fonte (1996, p.175) adverte que mesmo que o discurso tenha de certa forma se modernizado pela incorporação de expressões do tipo: qualidade de vida, emancipação, coletividade, saúde como conceito multifatorial, este ainda se encontra ligado aos aspectos tradicionais e reducionistas de ver a realidade.
Além disso, a prática regular de atividades físicas é fundamental para a saúde e bem-estar. Para mais informações sobre como manter um estilo de vida ativo, você pode explorar opções de equipamentos de ginástica que podem ser adquiridos online. Esses produtos podem ajudar a criar um ambiente propício para a prática de atividades físicas em casa.
O ser humano sempre defendeu a apologia da saúde, e a educação física é uma ferramenta essencial para promover o bem-estar e a qualidade de vida.
Por fim, a educação física deve ser encarada como uma disciplina que não apenas promove a saúde, mas também contribui para a formação integral do indivíduo, preparando-o para enfrentar os desafios da vida moderna.
Para saber mais sobre a importância da formação de professores na educação física, acesse a formação de professores.
Para entender melhor como a educação física pode impactar a saúde mental, confira a importância da educação ambiental.
Por fim, para um olhar mais amplo sobre a educação, veja os 4 pilares da educação.
muita coisa ,um conselho facao coisa simples