“ O Lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta e toda criação. “ ( Santo Agostinho)
RESUMO: Neste artigo, apresentarei os resultados de uma pesquisa monográfica onde foram analisadas as propostas do Lúdico no espaço escolar como facilitador da aprendizagem.
Palavras-chave: Lúdico, aprendizagem, professor, prática reflexiva.
“ O Lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta e toda criação. “ ( Santo Agostinho)
1. INTRODUÇÃO:
O surgimento da ideia de pesquisar sobre o Lúdico ocorreu a partir da disciplina Teoria e Prática de Recreação e Jogos, que foi ministrada na Universidade no 5º período, em julho de 2002, ideia que veio a ser fortalecida no processo do curso.
Os acadêmicos do curso de Pedagogia foram levados a perceber que o Lúdico pode estar presente também em sala de aula, sendo uma importante metodologia no processo ensino-aprendizagem, pois até então, resumiam o Lúdico somente às aulas de Recreação e Educação Física.
Essa pesquisa teve como objetivo geral:
- Verificar o espaço e as relações do Lúdico como facilitador da aprendizagem na sala de aula.
E como objetivos específicos:
- Verificar como os professores percebem o Lúdico, quais suas concepções;
- Analisar como o Lúdico é utilizado no plano de trabalho e na prática de sala de aula;
- Verificar se há uma relação de interdisciplinaridade ou algum tipo de integração com a Educação Física;
- Examinar a contribuição do Lúdico para o rendimento do aluno na aprendizagem;
A realização desta pesquisa justificou-se pelo fato de que, apesar das várias propostas e ações existentes no âmbito da Educação, como projetos educacionais, simpósios, seminários e programas de governo, percebe-se que os resultados continuam insatisfatórios, o que demonstra a necessidade de mudanças no contexto educacional. Sendo assim, o professor torna-se um dos principais, senão o mais importante protagonista dessa mudança. Portanto, sua formação e sua prática têm sido motivos de estudos.
O professor interessado em promover mudanças poderá encontrar na proposta do Lúdico uma importante metodologia que contribuirá para diminuir os altos índices de fracasso escolar e evasão verificados nas escolas, porém este não foi o objeto de nosso estudo.
Gadotti (1993, p. 80) comprova e discute a má qualidade do ensino no Brasil em relação a outros países:
“Há 30 anos venho acompanhando a situação da escola e a deterioração que se deu de forma acentuada no nosso país e na América Latina. Contudo, na América Latina, o Chile, a Argentina, o México, ao lado de outros países como o Uruguai e a Costa Rica, conseguiram avançar muito mais do que o Brasil. O grau de escolaridade é muito maior nesses países. No Chile, o analfabetismo é de apenas 2%, na Argentina, 3% e no México 5%, não se comparando com os índices de 30% no Brasil”.
Diante desse quadro, a utilização de atividades lúdicas nas escolas pode contribuir para uma melhoria nos resultados obtidos pelos alunos. Claro que atividades de cunho lúdico não abarcariam toda a complexidade que envolve o processo educativo, mas poderiam auxiliar na busca de melhores resultados por parte dos educadores interessados em promover mudanças. Estas atividades seriam mediadoras de avanços e contribuiriam para tornar a sala de aula um ambiente alegre e favorável.
O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência, a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõem resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo, ela não é lúdica, não é prazerosa.
Snyders (S/D) defende a alegria na escola, vendo-a não só como necessária, mas como possível.
“A maior parte das crianças em situação de fracasso são as de classe popular e elas precisam ter prazer em estudar; do contrário, desistirão, abandonarão a escola, se puderem. (…)
Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades de ordem física e econômica, mais a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria não pode ser uma alegria que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo ao prazer. A alegria deve ser prioridade para aqueles que sofrem mais fora da escola. (…)
Estudos demonstram que, através de atividades lúdicas, o educando explora muito mais sua criatividade, melhora sua conduta no processo de ensino-aprendizagem e sua autoestima.
O indivíduo criativo é um elemento importante para o funcionamento efetivo da sociedade, pois é ele quem faz descobertas, inventa e promove mudanças.
O referencial teórico dessa pesquisa teve como base as teorias críticas da educação.
Libâneo (1996, p. 39) nos diz:
“A função da pedagogia dos conteúdos é dar um passo à frente no papel transformador da escola, mas a partir de condições existentes. Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares que tenham ressonância na vida dos alunos”.
A escola passou a difundir um ensino enciclopédico, imaginando que quanto mais conteúdos passassem, mais os alunos se desenvolveriam, o que não é verdade. Para serem assimiladas, as informações devem fazer sentido. Isso se dá quando elas incidem no que Vygotsky (2001, p. 25) chamou de zona de desenvolvimento proximal, a distância entre aquilo que a criança sabe fazer sozinha (o desenvolvimento real) e o que é capaz de realizar com ajuda de alguém mais experiente (o desenvolvimento potencial). Assim, o bom ensino é o que incide na zona proximal.
No entanto, o sentido verdadeiro da educação lúdica só estará garantido se o professor estiver preparado para realizá-lo e tiver um profundo conhecimento sobre os fundamentos da mesma.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA:
Para confrontar o embasamento teórico adquirido através da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma pesquisa de campo, através de um questionário que os acadêmicos do curso de Pedagogia do PROHACAP-UNIR responderam. Esses alunos/professores vieram de várias localidades diferentes, num total de vinte e dois municípios.
Os acadêmicos concentravam-se nos pólos de Porto Velho, Ariquemes e Rolim de Moura, para o período de aulas da Universidade.
Tivemos um total de 267 respondentes, onde todas as respostas foram consideradas.
Procuramos destacar nas falas dos sujeitos pesquisados qual o espaço que as atividades lúdicas têm na escola, na sala de aula, no plano de trabalho dos professores, e ainda, se os sujeitos pesquisados têm uma atitude reflexiva diante de sua prática docente.
Por se tratar de um questionário aberto, optou-se pela categorização das respostas, no sentido de valorizá-las, pois às vezes vinham comentários dos pesquisados e isso enriqueceu a pesquisa.
O tempo de atuação de cada professor variou de 5 a 30 anos de profissão. Diante disso, pode-se afirmar que o PROHACAP foi um diferencial importante, uma vez que contribuiu para o crescimento desses profissionais, em destaque os mais antigos que só agora obtiveram o conhecimento teórico. Em relação à série que lecionam, houve um equilíbrio entre os profissionais que atuam nas séries iniciais, o que nos permite pensar que isso, de certa forma, refletiu com sucesso nos ambientes das salas de aula.
3. RESULTADOS DA PESQUISA:
Quando os respondentes foram perguntados como percebiam o Lúdico, obtivemos as seguintes respostas:
“O lúdico deve estar em todos os momentos presentes, porque torna o aprendizado mais prazeroso, utilizando vários jogos e brincadeiras na sala de aula. Ao integrar com a Educação Física, deve-se planejar, pensar atividades integradas que todos os alunos participem.”
“O lúdico em sala de aula pode e deve ser trabalhado em todas as atividades, pois é uma maneira de aprender/ensinar que desperta prazer e assim a aprendizagem se realiza.”
“A partir do momento que participei da disciplina de Educação Física, despertou em mim várias formas de trabalhar com meus alunos, porque antes não tinha noção. Hoje vejo como o lúdico é importante.”
“Eu dificilmente utilizo atividades lúdicas por falta de saber mais sobre o assunto.’
Observa-se nas falas dos entrevistados uma percepção de lúdico. Reconhecem seus benefícios na aprendizagem das crianças, mas não apresentam uma aplicabilidade concreta.
Relatam, porém, que após terem cursado a disciplina de Recreação e Jogos na Universidade, perceberam de certa forma o caráter epistemológico do lúdico e do afeto como metodologias em sala de aula, ou seja, admitem uma nova concepção do lúdico e o seu espaço.
É a influência da teoria no processo de formação como elemento gerador de mudança de concepção.
Nas respostas a seguir, foi possível identificar o espaço e a lacuna existente quanto à utilização do lúdico:
“Pretendo agora, após fazer a disciplina de Recreação e Jogos, utilizar o lúdico como uma forma de aprendizagem, brincando, trabalhando mente e físico juntos.”
“Percebo um bom complemento e utilizo até mesmo para ensinar conteúdos.”
“O lúdico está presente na vida dos alunos e na sala de aula. Através de jogos, música, dança, mímica. Eu faço integração com a Educação Física, basta querer trabalhar de forma integrada. Oportunidade existe, vai depender da criatividade de cada um.”
O lúdico é visto e realizado de maneira improvisada, ocasional, sendo assim ineficaz e sazonal.
Reconhecida sua importância biológica e psicológica, o lúdico deve ter sua finalidade e utilidade prática definida.
Em nenhum momento é citado pelos professores que em seus planos de trabalho há tempo para pesquisa, excursões, porém admitem, no discurso, sua importância.
Pode-se observar também uma mudança, uma atitude reflexiva na fala do professor, que antes não sabia, não tinha ideia, mas propõe-se a mudar após terem feito a disciplina de Recreação e Jogos na Universidade.
Quando perguntados se há alguma relação de interdisciplinaridade ou algum tipo de integração com a Educação Física, destacamos as seguintes falas:
“A junção entre a prática de Educação Física e sala de aula percebe-se mais evolução na aprendizagem, principalmente das crianças mais tímidas.”
“Após estudar a disciplina de Recreação e Jogos, descobri a grande importância do lúdico em sala de aula. Antes não usava. Há integração com a Educação Física.”
“O lúdico é uma realidade na sala de aula onde trabalho, acredito que facilita a aprendizagem e desenvolve suas capacidades criadoras e cognitivas. No contexto educacional, a Educação Física é integrada totalmente com o lúdico.”
“Através do lúdico podemos trabalhar vários conteúdos, principalmente a Educação Física. Percebi que isso é possível depois de ter feito a disciplina de Recreação e Jogos. É possível trabalhar de maneira integrada o que antes não acontecia.”
Mais uma vez observa-se nas falas uma mudança de concepção e disposição para mudança de atitude a partir do conhecimento teórico adquirido no seu processo de formação, porém, não se tem a garantia da associação teoria e prática na sala de aula.
Assim, isso nos permite assegurar que os entrevistados reconhecem que a pedagogia através do jogo oferece algumas vantagens: a ludicidade, a cooperação, a participação, enfim, promovem a alegria, prazer e motivação. Diante disso, seria necessário que esses benefícios fossem reconhecidos e colocados verdadeiramente em prática. Essa integração é perfeitamente viável.
As afirmativas a partir das respostas, quando perguntados sobre a contribuição do Lúdico, não caracterizam que seja decorrente da prática:
“Hoje posso ver o lúdico como uma forma prazerosa para o educando. Faz com que a criança desperte o raciocínio e o gosto pelo estudar. Muitas vezes há atividades relacionadas com a Educação Física.”
“A criança aprende melhor brincando. Quando se trabalha de forma lúdica, há um aproveitamento maior das aulas e um maior aprendizado por parte dos alunos.”
“Uso bastante o lúdico, como brincadeiras, jogos, danças, teatro, com isto os alunos se desenvolvem sem perder seu tempo de infância.”
Nas falas dos entrevistados, todos reconhecem os benefícios do lúdico para os alunos. Porém, se o lúdico tivesse seu espaço na sala de aula, teríamos uma possibilidade de não ter tantos problemas de indisciplina e evasão escolar na escola. O que se propõe é que o mesmo prazer que a criança tem ao sair para o recreio, ao ir às aulas de Educação Física ou na hora da saída, esse mesmo prazer esteja na sala de aula como um espaço de construção e diálogo.
4. CONCLUSÃO:
Com base nos objetivos da pesquisa, nos dados e resultados obtidos e no referencial teórico, foi possível chegar às seguintes conclusões:
A formação oportuniza ao professor não só o saber da sua sala de aula, mas também conhecer as questões da educação, as diversas práticas analisadas na perspectiva histórico-sócio-cultural.
Nossa pesquisa foi feita com alunos-professores que estavam no processo de formação, obtendo grande representatividade pelo número de respondentes, provenientes de várias localidades.
A pesquisa possibilitou-nos verificar a distância que existe entre o discurso e a prática concreta em sala de aula. Os respondentes admitiram uma mudança de atitude após terem tido o conhecimento teórico no processo de formação. Vale ressaltar que, se não houver uma continuidade nos estudos, não haverá uma contínua construção do conhecimento.
Em nenhuma das 267 respostas houve uma opinião negativa em relação ao Lúdico. No entanto, não apresentam uma aplicabilidade concreta.
Não estou aqui apenas concluindo um trabalho, ele mostra alguns pontos de partida. Nesse sentido, sugiro a possibilidade da escola rever o seu projeto político pedagógico, contemplando o Lúdico e as relações do mesmo na escola; a possibilidade de que no projeto político pedagógico, a formação do professor se dê numa perspectiva de formação continuada. Essa pesquisa foi de uma representatividade excepcional, não só pelo grande crescimento proporcionado, mas também como quebra de paradigmas, pois ensinar e aprender podem estar de mãos dadas com o prazer e a satisfação intelectual.
Conclui-se que o papel do pedagogo e do professor é de fundamental importância para a difusão e aplicação de recursos lúdicos. O professor, ao se conscientizar das vantagens do lúdico, adequará a determinadas situações de ensino, utilizando-as de acordo com suas necessidades. O pedagogo, como pesquisador, estará em busca de ações educativas eficazes.
Assim, o aprendizado se daria em um ambiente mais agradável, pontuado pela coragem de professores e pedagogos que não têm medo de sonhar.
5. REFERÊNCIAS:
GADOTTI, Moacir. A organização do trabalho na escola: alguns pressupostos.
São Paulo: Ed. ÁTICA, 1993.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: A pedagogia crítico social dos conteúdos. 14ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
PELLEGRINI, Denise. Grandes pensadores: Vygotsky. Revista Nova Escola. Ed. 139, jan./fev. 2001.
Para entender melhor a pedagogia crítica, confira o resumo do livro Pedagogia do Oprimido.
Explore opções de brinquedos educativos que podem ajudar no desenvolvimento da criança.
Saiba mais sobre a relação entre educação e democracia no resumo do livro Escola e Democracia.
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