Educação: meio de disseminação da cultura, do conhecimento e elemento básico do desenvolvimento comportamental humano
A Educação é o caminho mais importante para disseminar a cultura, o conhecimento e o desenvolvimento comportamental humano. Saiba mais sobre os benefícios da Educação e descubra como usá-la a seu favor.
A educação é um processo que envolve diversos âmbitos da vida de cada indivíduo, sendo estes determinantes para a formação do mesmo. Atualmente, no entanto, o processo educacional está, erroneamente, restrito às instituições de ensino, ao passo que cada ser humano deveria aprender com seu cotidiano, incluindo os instantes destinados à escola, mas não exclusivamente a mesma.
No processo educacional há uma constante, na qual este se concentra: a aprendizagem. O termo “aprender” sem dificuldades é outro dos diversos equívocos cometidos pelos que o empregam. Estes consideram que aprender algo diz respeito ao instante em que os mesmos são capazes de fazer alguma coisa que antes não faziam.
Porém, para a Psicologia, a definição de aprendizagem, enquanto fator fundamental no processo educacional, não se constitui tão simplificadamente. As possibilidades de se apreender alguma coisa são diversas, isto é, existem diversos fatores que influenciam na apresentação de um comportamento até então desconhecido ao indivíduo. E, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (1996), diferentes situações e processos não podem ser generalizados num só conceito. Em vista disso, a aprendizagem, enquanto processo, passou a ser objeto de investigação da psicologia.
O processo de aprendizagem, a partir de alguns estudos, revela algumas questões, cujas respostas têm provocado algumas controvérsias entre os que o estudam. Dentre outras, destacam-se:
- Quais os limites da aprendizagem?
- Qual a participação do aprendiz no processo?
- Qual a natureza da aprendizagem?
- Há ou não motivação subjacente ao processo?
Ante essas incógnitas, formaram-se inúmeras teorias da aprendizagem. Dessa forma, tais teorias poderiam ser divididas, de maneira genérica, em duas categorias: as teorias do condicionamento, “que definem a aprendizagem pelas suas consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças propulsoras da aprendizagem”; e as teorias cognitivistas, estas “definem a aprendizagem como um processo de relação do sujeito com o mundo externo e que tem consequências no plano da organização interna do conhecimento (organização cognitiva)” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1996, p. 100).
De acordo com as teorias de condicionamento, a aprendizagem é a conexão entre o estímulo e a resposta. Ao passo que, para a teoria cognitivista, a aprendizagem é um elemento oriundo de uma comunicação com o mundo e o que se produz sob a forma de uma riqueza de conteúdos cognitivos.
“O indivíduo adquire assim um número crescente de novas ações como a forma de inserção em seu meio” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1996, p. 100).
A partir de diversas concepções sobre o processo “educacional”, alguns teóricos desenvolveram teorias sobre o ensino, buscando analisar e sistematizar o processo de organização das condições para aprendizagem.
Vale destacar a contribuição de Jerome Bruner. Este concebeu o processo supramencionado como “captar as relações entre os fatos”, adquirindo novas informações, adequando-as a novas situações.
Um dos fatores que norteiam o processo educativo refere-se à motivação. Esta continua sendo um complexo tema para a Psicologia.
“Atribuímos a motivação tanto à facilidade quanto à dificuldade de aprender. Atribuímos as condições motivadoras ao sucesso ou ao processo dos professores ao tentar ensinar algo a seus alunos. E, apesar de dificilmente detectarmos o motivo que subjaz a algum tipo de comportamento, sabemos que sempre há algum” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1996, p. 106).
A motivação, afirmam autores, constitui um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto, e que mobiliza o organismo para a ação em busca da satisfação da necessidade. Quando ocorre o oposto, fala-se em frustração.
Em todos os campos da vida nos quais implicam o processo educativo, está presente o processo de motivação. Sendo este uma das principais preocupações das instituições de ensino: um motivo para os alunos quererem aprender. Eis o desafio: criar a necessidade e apresentar um objeto adequado para sua satisfação.
Faz-se mister, agora, relevar a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Nesta perspectiva, vale ressaltar a visão vigotskyana sobre esta.
Para Vigotsky, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o nascimento humano. Existe entre os dois processos supracitados uma unidade, mas não uma coincidência ou identidade. Segundo o teórico, o processo de desenvolvimento é mais lento e progride atrás do processo de aprendizagem.
Por outro lado, esta relação tem sido vista sob três aspectos, dos quais Vigotsky discorda em absoluto.
A primeira posição desvincula o aprendizado do desenvolvimento, considerando-os como processos independentes. Aqui, o desenvolvimento é visto como precondição da aprendizagem, mas nunca como resultado dela. A segunda visão postula que aprendizagem é desenvolvimento. Este último é visto como a aprendizagem de hábitos e condutas. Por fim, a terceira concepção, que procura combinar as outras duas, entende que o desenvolvimento se baseia em dois processos diferentes, embora relacionados, e que cada um influencia o outro.
Na teoria vigotskyana, um aspecto vital à aprendizagem é o fato de que ela desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar quando o indivíduo interage com seu meio – social e ambiental – numa troca recíproca de informações.
“Na visão de Vigotsky, o processo de ensino-aprendizagem tem um grande valor, pois se compõe de conteúdos organizados e transmitidos numa relação social que tem como finalidade o desenvolvimento das capacidades humanas e, portanto, a interação do homem em sua cultura e em sua sociedade” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1996, p. 110).
O processo de ensino e aprendizagem tem por uma de suas finalidades a aquisição do conhecimento. Nesse sentido, a reflexão sobre a natureza do conhecimento humano deu origem a uma série de problemas filosóficos, que constituem o assunto da teoria do conhecimento, ou Epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como deveriam ser resolvidos.
Outros problemas da teoria do conhecimento poderiam designar-se, apropriadamente, por metafísicos, tendo em vista que abrangem certas questões sobre as maneiras como as coisas parecem. As aparências que as coisas apresentam quando percebemos parecem ser subjetivas na medida em que dependem, para a sua existência e natureza, do estado do cérebro. É nesse campo que se estabelecem as questões ligadas às verdades, dogmas, crenças, valores, entre outros aspectos de cunho não-material.
E quanto a esses aspectos subjetivos, vale ponderar as questões ligadas à cultura e interação social. A definição exata sobre o que é Cultura e a dimensão que esta atinge constitui ainda uma incógnita, para a qual surgem constantemente proposições tentando elucidá-la. Mas, buscar uma resposta única, absoluta e definitiva, será uma decepção constante, porque, por vezes, as proposições são divergentes, contraditórias, além de, com frequência, pretenderem ser exclusivas, isto é, as verdades únicas.
Uma das explanações acerca da cultura que se põe de forma satisfatória, sob a visão de Laraia (1999), afirma que a expressão cultura vem do termo germânico Kultur, que era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1932-1917) no vocábulo inglês Culture, que, tomado em seu amplo sentido etnográfico, é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos de uma sociedade.
A apropriação desses aspectos constitui um processo que perpassa por toda a vida, ainda que em alguns momentos ocorra com maior intensidade, como na infância. Isso ocorre, sobretudo, a partir da relação que o indivíduo vai manter com o grupo de indivíduos do qual faz parte e com o meio que o circunda.
A escola, nesse contexto, entra como um dos principais, se não o principal, elemento difusor desses valores, crenças, costumes, hábitos, etc., que, por sua vez, vão se solidificando nas relações interpessoais e na interação com o meio social.
De forma sintética, fica exposto que a cultura, em sentido amplo, diz respeito a todo conjunto de obras humanas. É esse elemento que distingue o homem de outros animais. Nessa perspectiva, a cultura de qualquer sociedade se constitui da soma total e organização de ideias, reações emocionais condicionadas agregadas aos padrões de comportamento habitual que os membros dessa sociedade adquirem pela instrução ou pela imitação de que todos, em maior ou em menor intensidade, participam.
A apropriação desses aspectos da cultura se consolida através de mecanismos de aprendizagem, tanto no âmbito da educação formal, como na sociedade e nas relações estabelecidas entre os seres humanos. É esse “se apropriar” que vai configurar a identidade, por conseguinte, contribuir para a produção da cultura.
Bibliografia
BOCK, Ana M. Bahia. FURTADO, Odair. TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 9 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1996.
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Cultural e saber do povo: uma perspectiva antropológica. In: Revista do Tempo Brasileiro. nº 147. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, out.- dez, pp. 69-78.
LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. 12ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
Autor: Ronald Bello da Silva