Este artigo aborda o tema referente à Síndrome de Asperger e sua relação com o contexto educacional e social, relacionando a importância da arteterapia em sua utilização como forma de desenvolver potencialidades no sujeito, demonstrando que a inclusão do aluno com o espectro autista no âmbito escolar e social é possível, mas que depende de um trabalho conjunto com a família, educador e a própria sociedade.
Introdução
O presente estudo está baseado na pesquisa relativa à área educacional abordando o tema Síndrome de Asperger. Assim sendo, tem como objetivo fazer uma relação da utilização da prática de arte na aprendizagem e interação do mesmo a fim de demonstrar a aplicabilidade da inserção do aluno autista no âmbito escolar e social.
Em 1944, Hans Asperger identificou algumas crianças com características até então não descobertas, caracterizando essa condição de Psicopatologia Autística; desconhecendo o trabalho de Kanner estudado há um ano atrás e quando soube chamou a atenção para algumas semelhanças entre as crianças por ele estudadas e as descritas por Kanner, mas deixava claro que, na sua opinião, tratavam-se de condições diversas.
A Síndrome de Asperger (F84.5) segundo a CID 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão) está caracterizada como “Transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado por uma alteração qualitativa das interações sociais recíprocas, semelhante à observada no autismo, com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Ele se diferencia do autismo essencialmente pelo fato de que não se acompanha de retardo ou deficiência de linguagem ou do desenvolvimento cognitivo. Os sujeitos que apresentam este transtorno são, em geral, muito desajeitados. As anomalias persistem frequentemente na adolescência e idade adulta. O transtorno se acompanha, por vezes, de episódios psicóticos no início da idade adulta.” Nesses casos, podemos observar um atraso na aquisição da linguagem, limitações e irregularidades no uso de gestos, grande interesse em determinada coisa de forma repetitiva, rituais, inteligência normal ou superior à média, porém com sérias dificuldades formais, apresenta também habilidades específicas em áreas restritas, desinteresse na interação com outros, olhar peculiar e rígido e inabilidade motora.
Daremos ênfase ao artifício da utilização de arteterapia e outras técnicas relacionadas à arte, não só no processo de inserção, como também na possibilidade de socialização que esta técnica proporciona ao aluno com a síndrome.
A criança com o espectro autista apresenta características próprias da patologia, tais como introspecção e dificuldade de contato físico, sendo para uma convivência escolar um entrave para sua adaptação.
Buscaremos respostas aos nossos questionamentos no próprio campo de atuação do arteterapeuta e através de literatura específica na área, na tentativa de confluir a teoria com a prática.
Arteterapia
A arteterapia é um processo terapêutico que utiliza qualquer expressão artística (pintura, música, dança, teatro, etc.) a fim de fazer com que o indivíduo entre em contato com seus conteúdos internos e muitas vezes inconscientes. Para ser arte terapeuta não é necessário que o sujeito tenha nenhum domínio ou formação artística ou, no caso do paciente, não é necessário que tenha algum dom específico. Quando o termo arte é usado, não necessariamente significa que tenha que seguir um padrão ideal referente à beleza, até porque o ideal artístico vai se modificando com o passar dos tempos. Segundo Païn, desde o século XIX psiquiatras já tinham interesse nas produções plásticas feitas pelos pacientes psiquiátricos e mais tarde pedagogos inovadores encorajaram a expressão criadora na criança, aplicando métodos de pedagogia ativa. Entre eles citamos Freinet e Montessori (2001 p.13).
Normalmente, em arteterapia com o objetivo terapêutico, o mais usado é a expressão plástica que visa despertar a comunicação verbal ou mesmo estabelecer um tipo de comunicação do paciente/cliente com o trabalho executado.
Num trabalho terapêutico com pacientes patológicos, é importante sabermos que existem dois planos de representação; pode haver dificuldades experimentadas pelo sujeito no processo de construção de uma obra plástica, seja no nível de concepção, organização ou execução, ou a representação do problema mental, onde, através das expressões artísticas, o terapeuta observa uma relação de sofrimento.
Para um início, o trabalho terapêutico deve ser bem primário e livre, isso para que o paciente vá tomando consciência de ser autor da produção. Uma das dificuldades observadas é a anulação que o paciente faz do terapeuta, então é necessário trabalhar de forma a provocar sua falta, ou seja, tornar-se necessário, ajudando-o na simbolização. No trabalho com esse tipo de paciente, primeiramente o terapeuta é conduzido pela doença, para que depois possa entrar com o verdadeiro tratamento.
Necessário entender que a arteterapia deve ser trabalhada junto com outras técnicas, ou seja, existe a importância da transdisciplinaridade, pois não é fácil tratar do SA, é preciso haver por parte do terapeuta tolerância, paciência, amor pelo que faz e ânimo, pois muitas vezes o trabalho pode ser frustrante.
Características e diagnóstico
Existe muita dificuldade em fazer o diagnóstico da síndrome de Asperger (SA), pois o mesmo geralmente é enviado para avaliação com queixas do tipo: hiperatividade, desordem de atenção, problemas comportamentais, distúrbios específicos de aprendizado e até mesmo confundido com altas habilidades, por isso, um bom diagnóstico deve ser feito por um profissional qualificado, baseado no comportamento, anamnese e observações clínicas.
Em vários casos foi observado que havia um interesse por áreas que não coincidiam com a idade, mas o que preocupava a família não era o interesse por determinados assuntos do tipo (calendários, lista telefônica, determinados insetos, etc.), e sim pela intensidade que se tinha pelo assunto escolhido. Observou-se também que algumas crianças aprenderam a ler sozinhas por volta dos três, quatro e seis anos de idade.
O conceito de Espectro Autista admite que algumas condições são variações quantitativas de um mesmo conjunto de sinais e sintomas do autismo clássico. Sendo assim, fala-se numa tríade, como cita Wing, onde fala que a SA é uma continuação do Autismo Infantil, tendo diferença somente nos sinais e sintomas presentes (1983 p170). Essa tríade é formada por: distúrbios de atenção, motricidade e percepção. Essas características já podem ser percebidas em idade precoce, mas pela dificuldade só acabam se evidenciando na idade escolar.
Seu diagnóstico é realizado através da avaliação do quadro clínico. Normalmente, o médico pede exames para investigar condições (possíveis doenças) que têm causas identificáveis e podem apresentar um quadro de SA, como a síndrome X-frágil, fenilcetonúria ou esclerose tuberosa. É válido ressaltar, entretanto, que nenhuma das condições apresenta os sintomas de SA em todas as suas ocorrências.
Segundo Gillberg & Gillberg, os critérios para o diagnóstico da síndrome de Asperger são: prejuízo severo na interação social, sendo que o grau de isolamento não chega a ser tão severo quanto aos autistas clássicos, esse isolamento se dá mais da dificuldade em estabelecer uma relação do que vontade, em alguns casos chega a ser satisfatório, tornando o indivíduo independente e até se destacando em algum aspecto; interesse circunscrito muito limitado, imposição de rotinas ou interesses; problemas de linguagem a despeito de aparente habilidade no aspecto expressivo, mas sendo trabalhado, pode ser desenvolvido, adquirindo um bom vocabulário; fala de forma pedante, utiliza palavras difíceis e frases rebuscadas, utilizando palavras pouco usuais para a idade (esse desempenho é aparente, pois utilizam as palavras e frases de forma estereotipada e repetitiva), pode haver ecolalia, mas não é frequente, sua forma de falar é peculiar com alteração no ritmo, altura e timbre; problemas na comunicação não verbal e desajeitamento motor, sendo que o contato visual é utilizado, mas existe dificuldade em se comunicar pelo olhar. A compreensão fica comprometida e é o que chama a atenção do observador, mesmo assim em alguns casos é observado bom rendimento escolar.
Durante a adolescência, períodos de depressão também foram observados com tentativas de suicídio.
Até então, pensava-se ser uma síndrome que só ocorria com meninos, mas já foi diagnosticada em proporção pequena em algumas meninas.
Igual ao autista clássico, os indivíduos com SA apresentam também movimentos estereotipados enquanto pequenos.
Causas
As causas da SA são desconhecidas. Acreditava-se que a origem estivesse em anormalidades no cérebro, sendo provavelmente de origem genética. Admite-se também que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos na gestação ou no parto.
A ideia de estar relacionada à frieza ou rejeição materna já foi descartada, relegada à categoria de mito há décadas. Recomenda-se, para prevenção do autismo, cuidados gerais durante a gravidez, principalmente na ingestão de produtos químicos.
Segundo Christopher Gillberg, professor de Psiquiatria da Infância na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, atualmente membro do Conselho Sueco de Saúde e Consultor da Associação de Amigos do Autista (AMA), em São Paulo, em sua entrevista à revista Época “alguns casos são atribuídos a drogas teratogênicas (como a talidomida) consumidas pela mulher grávida ou ao excesso de bebida alcoólica na gestação. Metais pesados como chumbo, mercúrio e outros materiais também parecem danificar o cérebro e levar ao autismo. Mas fatores genéticos determinam a maioria dos casos. Um dos pais carrega dois genes envolvidos numa maior susceptibilidade ao distúrbio. O outro cônjuge carrega outros três. O autismo pode ser fruto da combinação infeliz desses genes”. “Hoje sabemos que o autismo é geralmente genético. Não tem nada a ver com o ambiente psicossocial. Antes, a culpa recaía sobre os pais. Acreditava-se que as crianças se tornavam autistas porque não eram amadas. Essa visão tornou-se ultrapassada quando surgiram os estudos genéticos”.
Educação especial adaptada ao autista
O portador da SA tem uma forma cognitiva qualitativamente diferente e incapacidade em funções que normalmente usamos para atingir o aprendizado escolar, isto é, a interpretação social, comunicação verbal e não verbal e imaginação, ou seja, eles precisam ser ensinados de um modo completamente diferente, isto é, a informação deve ser dada visualmente, uma vez que eles a compreendem melhor e têm que ser explicitamente ensinados sobre exatamente o que é esperado deles, já que eles não podem adivinhar nossas intenções. Vale ressaltar que o nível de desenvolvimento e incapacidade não é igual para todos, portanto, por isso a avaliação educacional individual é muito importante para os portadores de SA. Eles têm dificuldades que outras crianças não têm, nas questões de habilidades sociais, o jogo/brincar e a comunicação, por isso precisam de um currículo adaptado e ampliado.
Portanto, os professores precisam de um longo período de especialização, para se tornarem aptos e bons na adaptação de sua comunicação à maneira como as pessoas com o espectro autista pensam, bem como precisam da colaboração dos pais para melhor identificar as dificuldades mais específicas.
A educação especial não é somente aprender os assuntos tradicionais da escola, estes alunos precisam com frequência aprender atividades práticas sociais e autoconfiança.
Estratégias da educação especial
As estratégias de ajuda ao estudante que generalizam o seu conhecimento devem ser incluídas no plano educacional. O material utilizado deve ser muito mais concreto. Alguns alunos podem fazer pouco uso de brinquedos, livros, etc. De modo que o professor precisa desenvolver materiais especialmente adaptados para cada indivíduo.
Não podemos deixar de mencionar a perspectiva da educação especial, pois esta é para toda a vida. Muitos dos estudantes têm uma desvantagem com a qual terão que viver quando adultos também, mesmo que sejam capazes de aprender muitas coisas. O objetivo principal é fazer com que eles possam fazer uso daquilo que aprenderam em tantas situações da vida real quando possível, objetivando uma vida adulta com nível máximo de independência.
Vamos decorrer alguns exemplos de estratégias educacionais baseados no desenvolvimento anormal e estilo cognitivo especial para pessoas com o espectro autista. Citamos diferenças no estilo cognitivo, pois é importante observar tais diferenças. Vejamos, indivíduos com a SA possuem pensamentos literais, concretos; estilo de pensamento visual; pensamento fragmentado; um tipo de estímulo sensorial por vez; fazer as coisas a seu modo; previsibilidade; aqui e agora; conceito de programa superior ao conceito do tempo; engana-se com promessas. O não portador da SA possui um pensamento simbólico; estilo de pensamento verbal; pensamento holístico; coordenação de todas as modalidades sensoriais; adaptação às outras pessoas; improvisação; história: antes e depois; conceito de tempo superior.
O estilo de pensamento
Das pessoas com o espectro autista conduz a um número de dificuldades em sua vida diária. Uma vez que seu desenvolvimento conceitual é tão ligado aos detalhes visuais, têm dificuldade desde generalização, quer dizer, não sabem como usar o conhecimento que adquiriram em novas situações quando algum detalhe parece diferente.
Usando o lado visual como dispositivo substitutivo. Alguma das estratégias visuais para dar respostas tangíveis às importantes questões para uma pessoa com autismo incluem disponibilizar uma programação individual diária, um sistema de trabalho individual, atividades adaptadas individualmente para trabalho independente, obrigações diárias apresentadas visualmente, atividades recreativas e atividades motoras, dando-lhe suporte adicional com orientação visual através do modo como a sala é mobiliada e usada.
Usando o programa diário individual; o propósito deste programa é oferecer à pessoa com SA informação facilmente compreensível sobre o que ele fará, em que ordem fará, o que vem depois de uma atividade ser terminada e onde as várias atividades deverão acontecer. A forma do programa diário, ou como a informação é apresentada, de um lado depende do nível intelectual de cada pessoa, e por outro lado, do modo como ele pensa, ou o conteúdo do seu pensamento.
A forma do programa diário não precisa ser a de objetos somente para uma pessoa, figuras para outra e palavras escritas para uma terceira, pode misturar os tipos ou formas de informação – o único critério é o que faz sentido para a pessoa com a SA. Em espectros autistas temos que trabalhar com uma meta de aprendizagem por vez. Quando tentamos ensinar-lhes a compreensão independente da informação e a habilidade de atuar sobre essa informação sem a oferta de dicas/deixas, não podemos ensinar-lhe a compreensão de figuras e/ou a ler ao mesmo tempo.
Atividades adaptadas individualmente – Para pessoas com SA, deve ser utilizados tarefas especializadas planejadas e um espaço de trabalho adaptado individualmente, para estimular a sua compreensão do conceito de trabalhar e desenvolver habilidades de trabalho. É importante o profissional descobrir que tipo de material e eles gostam e que tipo de tarefas também. Deve haver um sistema de trabalho individual, ou seja, para cada indivíduo é preciso fazer um programa com a quantidade correta de variações, de demandas e de descanso; atividades mentais versus atividades físicas; também precisa descobrir com o tempo o programa deve durar.
A habilidade de comunicação pode ser definida como a habilidade de evitar e receber mensagens inteligíveis. A comunicação pode ser expressiva é como a pessoa pode enviar suas mensagens; comunicação receptiva é como ela entende as mensagens recebidas de outra pessoa. A competência comunicativa também inclui a habilidade de alternar papéis entre iniciar, manter e responder.
As habilidades de comunicação devem ser ensinadas a partir das necessidades que a pessoa experimenta. Assim, algumas situações que encorajem a comunicação incluem colocar comida apetitosa fora do alcance da criança e fazer a pessoa se comunicar para obtê-la, ou fazer o mesmo com um objeto que ela deseje. Uma outra possibilidade é iniciar uma atividade prazerosa, parar e fazer com que a criança/adolescente mostre que ela quer continuar.
É fundamental reunir informações sobre o indivíduo como ponto de partida para a educação adaptada à SA. A descrição da pessoa é recomendada como uma base para o plano de educação individual.
Assim sendo, há uma necessidade da participação, da colaboração dos pais. As dificuldades de conceitualização tornam super difícil para eles poderem compreender que os conhecimentos/habilidades que podem ser usados em diferentes situações e como eles podem ser usados mesmo se a situação não é exatamente a mesma. Logo, o programa educacional deve incluir informações de vários ambientes e estratégias para generalização.
Pensando na SA e sua complexidade, clarifica-nos de modo crucial que o modo de aprendizagem por meio de exposições diretas a estímulos diversos, tanto visuais como auditivos ou táteis nem sempre contribui para sua formação intersocial e desempenho das estruturas cognitivas.
Tratamentos
A gravidade da SA é bastante instável, porque as causas, não sendo as mesmas, podem produzir significativas diferenças individuais no quadro clínico, desta forma, o tratamento e o prognóstico variam de caso a caso.
O transtorno da síndrome em questão é permanente, até o presente momento, não tem cura. Um diagnóstico precoce permite a indicação antecipada de tratamento.
Um tratamento adequado é baseado na consideração das co-morbidades para a realização de atendimento apropriado em função das características particulares do indivíduo.
A terapêutica pressupõe uma equipe transdisciplinar – tratamento médico (pediatra, neurologia, psiquiatra e odontologia) e tratamento não médico (psicologia, fonoaudiologia, pedagogia, terapia ocupacional, fisioterapia e orientação familiar), profissionalizante e inclusão social, uma vez que a intervenção apropriada proporciona uma significativa melhora. Vale salientar que não existe medicação e nem tratamento específico para transtorno dessa síndrome.
A demora no processo de diagnóstico e aceitação é prejudicial ao tratamento, uma vez que a identificação precoce deste transtorno global de desenvolvimento possibilita um atendimento correto e influencia consideravelmente o desenvolvimento e a evolução da criança.
É bem verdade que ainda não existe nenhum medicamento específico para tratá-los, mas pesquisas diversas têm trazido resultados encorajadores como é o caso da fenfluramina, droga que interfere diminuindo o nível de serotonina, um neurotransmissor cerebral. Se ela se mostrar realmente eficaz, será o primeiro tratamento neurofarmacológico específico nesta entidade.
Inclusão
Enfoque atual é fazer com que estas crianças aprendam conceitos básicos para que funcionem o melhor possível dentro da sociedade. As escolas especializadas, atualmente, individualizam o tratamento para cada criança, tornando assim o aprendizado bem mais específico e eficiente.
De forma geral, a integração social de uma pessoa autista não é um empreendimento fácil, porque envolve a tarefa de colocar em um meio social não preparado uma pessoa (autista) de comportamentos estranhos e desconhecidos para todas as outras pessoas.
Muitas pessoas acham que a sociedade deve aprender a conviver com a diferença, mesmo que isto implique algumas vezes em passar por situações constrangedoras. Talvez uma forma de encarar este problema mais claramente seja vê-lo como um processo que envolve a educação tanto da pessoa autista como das demais pessoas envolvidas. Então, importante é começar a selecionar as prioridades e, dentro destas, começar pelas mais fáceis, e por períodos curtos de tempo, incrementando o processo na medida em que ele se desenvolve. É bom lembrar que nível de dificuldade e duração (tempo) são dois fatores de igual importância e devem ser aumentados separadamente.
Dentro de algumas pesquisas verificamos que, de fato, as escolas da rede privada e regular não possuem nenhum preparo para receber estas crianças. A Lei 9394 LDB no seu artigo 59 inciso 2ª “determina que todas as escolas devem receber os alunos portadores de necessidade especial, no entanto esta Lei só está sendo cumprida pelas escolas Municipais e Estaduais, haja vista que as particulares nada fazem para executar a aplicabilidade da Lei ora mencionada.”
Visitação e entrevistas
Inicialmente fica desde já registrado que todas as escolas que tentamos marcar visita demonstraram resistência, o que tornou nosso objetivo em princípio frustrado, mas enquanto pesquisadores utilizamos outros meios para alcançarmos informações sobre a problemática.
Ressaltamos que as escolas especiais não se disponibilizaram a nos receber sob a alegação que não seria ético expor as crianças, ou mesmo falar da pedagogia ou atividades realizadas por eles, pois os pais não iriam gostar se soubessem da visitação. Observamos a falta de preparo, de amor, de tolerância e, sobretudo, falta de paciência.
Por fim, conseguimos marcar uma visita no Instituto Helena Antipoff, onde fomos bem recebidos e incentivados. Neste instituto, a Sra. Léa, professora e coordenadora da sala de leitura, onde envolve várias pesquisas, monografias, teses, filmes, documentários e livros relacionados a todos os portadores de necessidades especiais. A professora Léa nos ajudou relatando sobre o trabalho já executado por ela, pois trabalhou por dois anos com transtornos de conduta, nos mostrou documentários sobre Asperger e outros transtornos referentes, forneceu livros, revistas e ainda passou um vídeo institucional contando a história da instituição e também nos falou da escola de portadores de necessidades que existe ao lado, mas infelizmente não havia nenhuma criança com transtorno de conduta.
Foi possível verificar através de estática e documento que, apesar da lei determinar que a inclusão seja feita pelas escolas regulares, isto na prática não funciona. Ademais, a professora Léa nos informou que não existe nenhuma preparação para as professoras, pedagogas, funcionários em geral da escola regular para receberem os alunos portadores de necessidades especiais. Por isso muitas escolas ainda não conseguem cumprir a Lei.
Segundo informação do instituto, as escolas estaduais têm recebido alguns alunos, mas na verdade sem preparo, e assim o aluno não consegue desenvolver suas potencialidades, pois ficam dentro da escola, mas ao mesmo tempo excluídos da turma.
A prefeitura do Rio de Janeiro, a qual o Instituto pertence, tem investido muito neste aspecto. O instituto toda segunda-feira fecha para que todas as professoras do município que trabalham com os portadores de necessidades especiais, troquem suas vivências e experiências, reunidas cada uma em sua área para que juntas possam buscar soluções para as dificuldades que possivelmente aparecerão. Além desses encontros, as professoras participam de congressos, palestras, e a todo o momento são atendidas pelo Instituto Helena de Antipoff, para reciclagem.
Ficou evidenciado que a utilização da arteterapia é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo com SA, a professora Léa que já trabalhou com esses alunos afirmou que com eles a tolerância, paciência, amor, artes faz com que eles respondam ao processo do trabalho, sendo importante ressaltar que cada indivíduo tem que ser visto como um ser único e que o resultado varia de acordo com suas possibilidades.
A professora Léa por várias vezes firmou a importância da família neste processo, o papel da família é indispensável para que haja de verdade a inclusão na sociedade como um todo. Disse ainda que todo profissional que escolher trabalhar com os portadores especiais, especialmente os com transtornos de conduta, devem ter na alma afinidade, amor, tolerância e determinação, e acima de tudo acreditar que é possível incluí-los.
Com relação às entrevistas, foi colhido depoimentos de 5 mães de Asperger de diversos estados (Goiás, Belém, Rio de Janeiro e etc…) 4 delas estavam com seus filhos em escola especiais, e nos seus depoimentos disseram que encontram dificuldades para colocar os filhos em escola regular, pois as escolas não possuem preparação para recebê-los, todas também relataram seus sofrimentos para que os maridos reconhecessem e admitissem a doença, o relato da mãe de Belém é chocante… Uma única mãe está com sua filha em escola regular, mas tem que pagar um salário extra para que a professora pudesse dar uma atenção especial a sua filha. Todas lutam fazem parte de alguma associação e confessam que têm muita esperança que este quadro mude, percebem que o processo de inclusão deve começar primeiro por nós, pois devemos nos adequar para conviver com o diferente, da mesma forma que eles lutam para se adequar a nós, na verdade a ideia é que deve haver uma troca verdadeira.
Vale salientar que assistimos a um documentário onde uma Asperger conseguiu vencer todas as barreiras, e hoje adulta sai pelo país participando de palestras contando sua experiência de vida, ela hoje conta rindo de suas dificuldades no passado. Este documentário foi nos mostrado pelo Instituto Helena Antipoff e lá também nos foi fornecido um texto que retrata de forma poética o que é ter um filho portador de necessidades especiais. (o texto segue no anexo 1).
Assim podemos dizer que tanto os depoimentos das mães como a visita no Instituto foi muito enriquecedora, ou melhor, nos auxiliou a ilustrar melhor a nossa pesquisa.
Considerações finais
Podemos concluir que crianças portadoras de necessidades especiais, mais especificamente aquelas que são portadoras do SA, enfrentam muitas dificuldades para serem inclusas no âmbito social, com destaque na Rede Regular de Ensino.
Ressaltamos a lei 9304, a lei de diretrizes e base da Educação no seu art. 59 inciso 2º, que especifica a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais (PNE) no âmbito escolar, porém percebemos que esta lei, em se tratando das escolas particulares, torna-se inócua. Uma vez que somente em níveis municipal e estadual ela se torna realidade. Ainda assim, um grande entrave para a inclusão dos PNEs é a falta de políticas práticas que propiciem a capacitação e o preparo dos profissionais que lidam com estes alunos.
No contato com as mães das crianças portadoras da Síndrome de Asperger, percebemos o quanto as mesmas reconhecem a Arteterapia, entre outras poucas alternativas, como facilitadora no trato com suas crianças. “Através da arte meu filho restabeleceu o contato com o mundo externo” (sic) fala da mãe de um aluno. Ficou nítido que também os profissionais que lidam mais diretamente com a arte (arteterapeutas) descrevem que observam nas suas práticas diárias, o “link” que conseguem fazer com a criança portadora de espectros de Autismo. É um excelente canal de comunicação. A mesma não se dá de forma quantitativa e sim mais especificamente em termos de qualidade de vida. São pequenos progressos que levam a grandes vitórias. Através dessas vivências, alcançamos a reflexão que ter um filho com o espectro autista é mergulhar em um mar de incertezas e aflições. Mata-se o sonho de ter um filho saudável, elabora-se esse luto, para posteriormente assumir o novo filho: especial. Elas também se fazem especiais, elas também se refazem enquanto mulheres e são obrigadas a assumir a nova identidade que lhes é imputada. Deixam de lado suas particulares, suas singularidades para assumirem a pluralidade de ser mãe especial.
Crescemos muito com esse trabalho, pois ao nos introduzirmos no universo dessas pessoas, que por muitas das vezes escondem suas identidades, percebemos o quanto de atenção devemos disponibilizá-las quando na posição de profissionais de Saúde mental.
“Ser autista não é vergonhoso, vergonhoso é ter uma postura preconceituosa em relação ao Autismo”.
Referências bibliográficas
GAUDERER, Christian. Autismo e outros atrasos no desenvolvimento – Uma utilização para os que atuam na área: do especialista aos pais. CORDE (Coordenadoria nacional para integração da pessoa portadora de deficiência), Brasília, 1983.
GAUDERER, Christian. Autismo, década de oitenta: informações sobre a doença para leigos. Gazeta de Alagoas, RJ, 1986.
PAÏN, Sara. JARREAU, Gladys. Teoria e Técnica da Arteterapia. Artmed, SP, 2001.
SCHWARTZMAN, José Salomão. Autismo Infantil, São Paulo: Memnon, 1995.
Autor: Soraya Farias
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