RESUMO DO LIVRO: Ortografia: ensinar e aprender.
Análise crítica das práticas usuais de ensino da ortografia.
Segundo o autor, o ensino de ortografia não evoluiu como os outros aspectos do ensino da Língua Portuguesa. As escolas continuam tendo dificuldades em promover o conhecimento ortográfico a seus alunos, e as avaliações são apenas para identificar se o aluno está escrevendo corretamente. Isso fica claro ao verificarmos que os exercícios se baseiam em ditados. Para uma análise mais aprofundada sobre as práticas pedagógicas, consulte Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica.
O autor nos mostra uma pesquisa feita em Recife para alunos da 2ª a 4ª Série da rede pública, onde se constatou que, entre os professores, a atividade mais usada para o ensino de ortografia é o ditado, e a correção é feita no quadro para que os alunos possam corrigir o que erraram.
Notou-se que os alunos são avaliados apenas como os que fizeram certo e os que fizeram errado, não se preocupando em saber por que o aluno escreveu com uma letra diferente e por que ele achou que se escrevia daquela forma. Diante dos erros, punem os alunos fazendo com que copiem o que escreveram errado quantas vezes acharem necessário. Mesmo nas escolas que reservam horário só para o treino de ortografia, além do ditado, usam-se métodos como cópias, memorização e recitação. O autor nos leva a refletir também sobre os exercícios que aparecem em muitos dos livros didáticos, que possuem tarefas pobres que levam os alunos a memorizar e não a refletir sobre o porquê de se usar R ou RR, por exemplo. Quando o aluno consegue avançar, é por conta própria. O autor lembra ainda que os exercícios que encontramos nos livros didáticos não foram feitos para ajudar o aluno a entender e sim memorizar, e o resultado disso são os mesmos erros acontecendo ano após ano nas séries escolares.
As regras de memorização, segundo o autor, não garantem que o aluno, mesmo reproduzindo-as várias vezes, as compreenda; ele apenas imita o modelo certo. Para mudar essa situação do ensino de ortografia nas escolas, o autor acredita que é preciso mudar a atitude do professor perante o erro do aluno. O erro na escola é visto como ausência de raciocínio, fracasso e falta de atenção, e a punição é o meio de consertar esse erro. Fazem com que o aluno copie a mesma palavra por diversas vezes como garantia de entender a forma correta de escrevê-la. Essa visão mecanicista tem como pensamento que o aluno aprenderá passivamente conforme vai acumulando as informações. Muitos professores ainda acreditam que, se ele ver uma palavra escrita errada na lousa por outro aluno, a forma será impregnada em sua mente. Outros ditam palavras usando fortemente a pronúncia, como se dessa forma os alunos fossem escrever corretamente, mas isso apenas impede-os de refletir.
Definindo princípios norteadores para o ensino de ortografia.
O autor nos apresenta a seguir alguns princípios gerais para o ensino da ortografia.
I – O aluno precisa ter acesso a boas histórias, lendas, poesias, jornais e outros gêneros, pois é defrontando-se com as formas corretas de escrita que o aluno poderá contrastá-las com suas hipóteses, vindo a descobrir o que está por trás do uso de tal ou qual letra. Apenas a leitura destes textos não garante o aprendizado, mas os ajuda a refletir sobre as dificuldades ortográficas.
II – Deve-se mudar as práticas de ensino e o preconceito sobre o erro do aluno. O professor deve criar em sala de aula situações que levam os alunos a refletirem sobre suas dúvidas, levando-os também a organizarem suas reflexões sobre determinada dificuldade ortográfica. Para isso, é fundamental a discussão conjunta com os alunos sobre as formas errôneas que eles próprios produzem.
III – Deve-se colocar metas para que os alunos aprendam ortografia, a fim de orientar o trabalho do professor e facilitar o entendimento aos alunos. Na maioria das escolas, não se tem essa preocupação, já que o ensino ortográfico é visto como tema de verificação. Para definir as metas, devemos colocar algumas questões:
- Quando começar a ensinar ortografia?
- Que metas estabelecer para cada turma e série?
- Como sequenciar o ensino de ortografia?
A seguir, o autor nos responde a essas indagações, mas antes nos informa que as metas a serem alcançadas dependem também do país, da língua, localidade e época histórica. Nos fala que alguns países padronizaram testes para avaliar os conhecimentos dos alunos; esse levantamento é feito por uma amostra representativa da população escolar analisada. Em nosso país, não existe esse teste, mas se o fizéssemos, seriam consideradas de baixo rendimento, já que o aprendizado ortográfico é considerado fraco em nossa população estudantil.
Quando começar a ensinar ortografia?
O autor acha que a criança tem condições de aprender ortografia assim que puder ler e escrever sozinha, e que a curiosidade de saber por que uma letra se escreve com S e não com Z deve ser estimulada e transformada em objeto de discussão, fazendo com que o aluno compreenda os diferentes valores de nosso sistema alfabético.
Que metas estabelecer para cada turma, para cada série
O autor fala que existe uma heterogeneidade de uma turma para outra, de um centro escolar para outro, e cabe ao professor saber o que cada aluno superou de suas dificuldades ortográficas. O ensino mais eficaz é aquele que leva em conta os conhecimentos prévios que possuem e, a partir deles, cria oportunidades para a aprendizagem que virão a viver previamente. Assim, o professor deve sondar seus alunos, descobrindo quais suas dificuldades para então definir metas que possibilitem um rendimento ortográfico. Essa sondagem deve ser feita coletivamente nas escolas, pois assim trará respostas sobre qual a melhor forma de ensinar ortografia.
Como sequenciar o ensino de ortografia?
O autor propõe que a sequenciação a ser trabalhada é a regularidade ou irregularidade das correspondências fonográficas e a frequência de uso das palavras na língua escrita, usando sempre um princípio geral e o bom senso. Ajudar o aprendiz a superar regras e compreendê-las lhe permitirá escrever com segurança as palavras que possui mais dificuldades. É importante a criança reconhecer que, em alguns casos, não há regras e é preciso memorizar a forma correta da palavra.
PRINCÍPIOS RELATIVOS AO ENCAMINHAMENTO DAS SITUAÇÕES DE ENSINO – APRENDIZAGEM
De acordo com o autor, ainda a respeito do planejamento e à condução das situações didáticas que ele defende, chama a atenção para:
I. A reflexão sobre a ortografia deve estar presente em todos os momentos da escrita: ou seja, a reflexão sobre a ortografia deve estar presente no dia a dia escolar e não deve ocorrer somente nos momentos destinados para isso.
II. É preciso não controlar a escrita espontânea dos alunos: ou seja, um ensino que levará o aluno a uma reflexão da escrita não pode censurar a produção espontânea de textos que venham a produzir.
III. É preciso não fazer da nomenclatura gramatical um requisito para a aprendizagem de regras (contextuais e morfológico-gramaticais): ou seja, não devemos exigir de nossos alunos que eles saibam usar termos como “sílaba tônica”, “encontro consonantal”, etc. Afinal, muitas crianças, em seu linguajar, conseguem explicar perfeitamente as regras.
IV. É preciso promover sempre a discussão coletiva dos conhecimentos que as crianças expressam: ou seja, dessa forma a criança vai desenvolvendo a internalização dos conhecimentos ortográficos e vai tomando consciência do que estão pensando sobre as relações letra-som quando escrevem.
V. É preciso fazer o registro escrito das descobertas das crianças – regras, listas de palavras, etc: ou seja, esta é uma forma de materializar as conclusões feitas, sendo assim um agente potencializador para a reflexão ortográfica.
VI. As atividades podem ser desenvolvidas coletivamente, em pequenos grupos ou em duplas: ou seja, este tipo de trabalho de interação entre grupos mostra-se positivo, já que propulsiona o debate, o conflito cognitivo e a cooperação.
VII. Ao definir metas, não podemos deixar de levar em conta a heterogeneidade de rendimento dos alunos: ou seja, cada aluno aprende em seu ritmo, então não podemos “cobrar e esperar” rendimentos exatamente iguais; diante disso, devemos propiciar novas situações de aprendizagem para os alunos com maior dificuldade.
As situações de sistematização do ensino-aprendizagem da ortografia se subdividem em três grupos:
- Atividades de reflexão sobre palavras a partir de textos;
- Atividades de reflexão sobre palavras fora de textos;
- Atividades de revisão das produções.
SITUAÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM I: REFLETINDO SOBRE A ORTOGRAFIA A PARTIR DOS TEXTOS
A seguir, o autor descreve algumas atividades inspiradas em exercícios tradicionais, porém reinventados com a intenção de propiciar a focalização de questões ortográficas e suas respectivas reflexões.
DITADO INTERATIVO
Nesta alternativa, faz-se um novo tipo de ditado, no qual se busca ensinar ortografia refletindo sobre o que se está escrevendo, ao contrário do simples ditado tradicional. Dita-se um texto já conhecido pelos alunos, fazendo-se as devidas pausas para que haja a reflexão.
Deve-se escolher um texto conhecido pelo aluno para que este aluno estabeleça uma interação apropriada; dessa forma, não ocorrerá a escolha de um texto para mero desenvolver de atividades.
Ao se realizar um ditado com a turma, o professor pode trabalhar com a formulação de questões, para que as crianças pensem mais sobre o que está sendo ditado; pode trabalhar os momentos de dúvidas em que os alunos as levantam e a classe reflete junto para chegar a uma conclusão. Com o levantamento de questões que visem solucionar palavras escritas erroneamente, as crianças passam a praticar transgressões (mentais ou escritas), que futuramente serão objetos de reflexão; as transgressões podem se tornar um rico material para que trabalhemos e discutamos com nossa turma.
Ainda nesta linhagem, o autor diz que, com o ditado interativo, o professor pode fazer seleções de palavras que serão discutidas, ou ainda deixar seus alunos decidirem. Na primeira forma, o professor ganha mais chance de focalizar e encaminhar a discussão; na segunda, o aluno desenvolve maior autonomia, em que ele sabe que pode errar antes de escrever.
De modo geral, a flexibilidade na condução do ditado interativo faz com que os alunos possam participar da reflexão ortográfica, colocando seus pontos de vista e assim também usar o dicionário. O autor ainda ressalta que essa forma de trabalhar é algo demorado e trabalhoso, em que não devemos esperar resultados e participação imediata.
RELEITURA COM FOCALIZAÇÃO
Para o autor, durante a releitura coletiva de um texto já conhecido, podemos fazer interrupções para debater certas palavras, lançando questões sobre sua grafia.
Usar um texto desconhecido na realização deste tipo de exercício poderia distorcer o sentido da proposta, afinal, um texto lido pela primeira vez pode gerar confusões e conflitos negativos nos alunos, neste momento.
Ao se reler um texto, podemos incentivar as crianças a focalizar a atenção na grafia das palavras, pois agora, o interesse é adquirir informação sobre ortografia por voltar-se a atenção para o interior das palavras.
Agora, mais que no ditado interativo, fica fácil para o professor controlar as palavras sobre as quais pretende refletir com seus alunos, sempre recorrendo à “chance” se seus alunos levantarem dúvidas e sugestões.
Neste processo, a cada trecho ou frase lida, o professor para e lança questões, estimulando os alunos a elaborar transgressões e debatê-las.
O professor pode selecionar um texto proposital que vise atender os pontos a serem estudados.
O autor cita um exemplo do trabalho com R e RR, em que a professora levanta questionamentos e seus alunos também. Ao final, eles já possuíam autonomia para refletir e levantar suas questões para um posterior debate, gerando assim a construção de conclusões.
REESCRITA COM TRANSGRESSÃO OU CORREÇÃO
Segundo o autor e, de acordo com nossos conhecimentos, quando reescrevemos um texto, buscamos melhorá-lo e até corrigi-lo.
Podemos usar isso de forma que a criança possa refletir sobre as propriedades de nossa norma ortográfica.
Trabalhar com “erros de propósito” mostra-se muito construtivo no desenvolvimento da criança, pois agora ela pode colocar em prática suas reflexões e conclusões.
O autor cita um exemplo baseado no uso de histórias em quadrinhos, em que os personagens falam errado. Assim, as crianças puderam detectar erros como conjugação de verbos, palavras que apareceram sem o R no final, etc. Esta tarefa ainda desencadeou uma discussão sobre as diferentes formas de se falar, baseadas em regiões, cultura e escolaridade, sempre ressaltando que deve-se tomar cuidado ao escrever, pois nem sempre escrevemos da forma que falamos.
Essa proposta foi introduzida com o objetivo de trabalhar a reescrita com correção, sem explicar aos alunos o que de fato deveriam corrigir. A partir disso, foram levantadas inúmeras questões e, dessa forma, foi possível produzir um debate interativo e esclarecedor.
Resumidamente, o autor fala que, quando a escola trabalha com o simples “corrigir erros”, contribui para a manutenção de preconceitos linguísticos, já que não questiona os critérios que levam as pessoas a acreditarem que certas formas de usar a língua são as “únicas” legítimas, enquanto muitas outras formas variantes são tratadas como “erros de português”. Então, devemos trabalhar com nossos alunos do “errado para o certo” e do “certo para o errado”, sempre discutindo e refletindo sobre os pontos, assim as crianças terão uma maior oportunidade de tratar a ortografia como um objeto de conhecimento, e como algo que se aprende/internaliza por meio da reflexão.
SITUAÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM II – ATIVIDADES DE REFLEXÃO SOBRE AS PALAVRAS FORA DE TEXTOS
Segundo o autor, 99% dos casos, a definição da forma ortográfica das palavras em nossa língua não depende do significado que as mesmas assumem num contexto de significação. São poucos os casos, como “conserto” e “concerto” ou “coro” e “couro”, em que a ortografia varia conforme o significado da palavra no conjunto do enunciado.
A análise linguística pressupõe que a língua pode ser tratada como um objeto de conhecimento, não somente como um instrumento de comunicação.
É necessário lembrar que o fato de existir um aprendizado significativo da língua não faz com que devemos ficar presos ao texto como uma única forma de trabalho, pois isso impediria o aprendiz de muitos aspectos da língua que podem estar contidos no repertório de um cidadão letrado.
Segundo o autor, ao criarmos situações de aprendizagem, precisamos ter clareza quanto às dificuldades, se são regulares ou irregulares. Para tais situações, o autor propõe atividades de correspondência que podem ser regulares, para alunos que, embora entendam a diferença entre “pote” e “bote”, por exemplo, têm dificuldade de analisar fonologicamente os segmentos sonoros na hora em que estão escrevendo. Então, o mesmo propõe atividades voltadas à reflexão sobre regularidades diretas, sem dar maiores pistas à criança. Devemos pedir que classifiquem em conjuntos ou colunas “as palavras que têm sons parecidos”. Essas palavras em questão possuem sons parecidos e que causam confusões, por exemplo, as que são escritas com F e V. As mesmas são oferecidas aos alunos em cartelas e são misturadas, tendo o trabalho de colocar várias palavras nas quais as correspondências de letras-sons aparecem no início das palavras (fato, voto, foto, viagem), mas também poderemos incluir no meio das palavras, como (javali, cavalo, afiado, confusão) ou mesmo no final (cova, avó, farofa, tarefa). As palavras, ao serem classificadas, podem ser pesquisadas pelos alunos em jornais, revistas e livros.
Feita a separação dos dois conjuntos, as crianças então passam a discutir se há alguma palavra fora do lugar. Em seguida, pedimos que as crianças produzam outras palavras que possam fazer parte da mesma coluna.
Poucas crianças apresentam esse tipo de dificuldade, porém, se precocemente conseguimos intervir, evitaremos que acumulem experiências de fracasso no âmbito da ortografia.
Quando focamos dificuldades regulares, temos criado sequências de atividades com as quais tentamos levar o aluno a contrastar palavras que contêm letras ou dígrafos que podem ser confundidos, porque competem entre si. As crianças tanto recebem conjuntos de palavras reais ou inventadas que devam classificar, ou seja, organizar em conjunto, e o que vão descobrindo é um recurso fundamental para que tomem consciência da regra focada. Também temos recorrido sistematicamente ao registro escrito, nos cadernos, nos quadros de regras que nós criamos e das descobertas que os alunos vão elaborando.
Porém, essa não é a única forma de apresentar desafios aos alunos. Podemos oferecer a eles cartões, para que, trabalhando em duplas e com palavras soltas, elas possam ler e organizar em conjuntos e transferir para os seus cadernos. Em outra ocasião, colocamos as palavras (que contêm a dificuldade ortográfica enfocada) em caça-palavras e, após o jogo convencional, pedimos que os mesmos separem as palavras caçadas em conjuntos. Neste caso, muitas vezes é necessária a intervenção do professor, por exemplo, quando utilizamos o emprego do R e RR.
Já o uso das palavras inventadas pode causar estranheza numa época em que estamos tão conscientes de que a linguagem é discurso, e de que produzir linguagem está diretamente ligado ao significado. Porém, segundo o autor, essa produção tem o propósito de ajudar o aprendiz a focalizar sua reflexão sobre os aspectos ortográficos regulares. Como ele nunca viu palavras antes, não terá gravado em sua memória nem mesmo o significado para decidir como escrevê-la. Ao lê-la, deverá as correspondências letra-som com cuidado para ver como irá pronunciar a nova palavra. O autor ressalta que o trabalho com as palavras inventadas só fará sentido nas situações de ensino em que se trabalha com o aluno a reflexão sobre as dificuldades ortográficas (contextuais e morfológico-gramaticais).
Geralmente, após alguns encontros em que sistematizamos a reflexão sobre palavras reais e inventadas que as crianças recebem e organizam, ou seja, classificam, mais um desafio é lançado: pedimos que elas escrevam, formem palavras reais com dificuldade ortográfica regular sobre a qual estamos trabalhando. Os modos de desencadear essas atividades são variados, incluindo recordar, anotar livremente palavras que contenham a correspondência som-letra nos contextos, classificados como, por exemplo: R e RR, o qual já citamos anteriormente. O que há de diferente é que a própria criança irá escrever as palavras ao invés de recebê-las ou encontrá-las em jornais e revistas, como já citamos anteriormente.
Em todas essas situações, é importante que o professor esteja alerta para não cair na tentação de ajudar demais os alunos, e não devemos interferir muito nas redações elaboradas pelos alunos, de modo a não termos produtos finais muito sofisticados, caindo então na produção do adulto e não da criança. Todas as regras devem ser discutidas previamente com os alunos a fim de tornar mais prazeroso e estimulante esse aprendizado.
Atividades que envolvem correspondências irregulares
Algumas dificuldades apresentadas pelos alunos podem ser consideradas irregulares. Muitas vezes, as crianças se apropriam de palavras irregulares quanto à sua escrita no dia a dia. Para que possam compreender melhor seus erros perante a ortografia, o autor enfatiza que poderiam ser realizadas atividades que utilizem palavras que muitas vezes são escritas de forma incorreta, para que as crianças percebam que foi um erro próprio dela e que, para essas palavras, não há regras na decisão de qual letra usar, fazendo assim com que, nesse caso, seja preciso utilizar métodos de memorização.
Essa atividade pode ser desenvolvida em formato de listas, organizando melhor as palavras, estando até mesmo relacionadas a outras áreas de conhecimento ou tema que eles estejam estudando. Essas listas devem estar disponíveis aos alunos para uma frequente consulta, pois, como já dito anteriormente, essas palavras necessitam de memorização visual, pois apresentam letra-som irregulares que confundem em momentos de análise sobre que letra deverá ser utilizada para essa ou aquela palavra em questão, proporcionando assim dúvidas frequentes que podem ser apoiadas até mesmo à utilização do dicionário.
Situações de ensino-aprendizagem III: usando o dicionário e revisando as produções infantis
Ao produzirem textos e apresentarem dúvidas sobre a grafia de palavras no dia a dia, os alunos necessitam de um auxílio sobre normas e reflexão sobre a Língua Portuguesa e como deve ser utilizada, não só quando há erros ortográficos, mas também como análise das dificuldades em geral.
A partir de algumas dificuldades consideradas por irregularidades (como explicado no capítulo anterior), o dicionário é um instrumento essencial para o desenvolvimento da língua escrita, porém também pode ser alvo de preconceitos. Muitos consideram o uso do dicionário como sinônimo de “burrice”, porém o que tantos outros não sabem é que, para utilizá-lo bem, é necessário possuir diversos conhecimentos e habilidades, como: sequência das letras; se a palavra procurada realmente corresponde ao que quer escrever (significado); palavras que se apresentam de forma não-flexionadas. Porém, também é necessário compreender que, a partir desses conceitos, o conhecimento envolve o domínio de unidades da língua, processo de formação das palavras e as diferentes funções sintáticas ou pragmáticas das palavras.
Para desenvolver algumas atitudes de antecipação da procura no dicionário, o professor deve fazer seus alunos entenderem sua grande importância. O autor acredita que o dicionário deve estar presente em todas as salas e escolas do país, até mesmo na educação infantil, a fim de promover nos alunos uma reflexão sobre para que seja necessário utilizar um dicionário.
Algumas estratégias podem ajudar o professor quanto ao ensino do uso do dicionário em crianças que já dominam o sistema de escrita alfabética ou que estejam em contato com o ensino da ortografia. Segundo o autor, algumas atividades podem ser propostas, como: lista de animais, nomes, alimentos, etc., em ordem alfabética; jogos com sequência de palavras; criação de um “dicionário da turma”, com palavras selecionadas por eles, porém não adiando o contato com os “dicionários reais” e etc.
Podemos encontrar hoje, no mercado, dicionários voltados para o público infantil, que contenham um vocabulário mais simplificado com ilustrações e formatos que envolvem as crianças. Porém, o professor tem como papel fundamental a construção de atitudes de dúvidas e antecipação que as crianças precisam apresentar perante o dicionário. Assim, durante a produção de escrita textual, a criança terá como tarefa a busca do melhoramento de seu texto através da utilização do dicionário.
Dentre tantas atividades que serão apresentadas aos alunos a fim de se familiarizarem com o dicionário e entenderem a importância da sua utilização, também se faz necessário explicar ao aluno que nem sempre é necessário consultá-lo, porém um dos atos mais importantes no manuseio do dicionário é ler a significação das palavras, ou seja, a definição dos verbetes, para então saber se a palavra procurada corresponde ao seu significado (“homófonas heterógrafas”), ou seja, poder identificar palavras que pronunciamos de forma idêntica, mas escrevemos de forma distinta.
Segundo o autor, o dicionário é uma fonte de saberes e conhecimentos que ajudam na utilização da escrita ortográfica, porém ele deve ser visto também como instrumento de aprendizado, fazendo do professor um mediador de conhecimentos que promovem a curiosidade e a vontade de descobrir, cada vez mais, coisas novas.
Revisando as produções infantis
Ao produzir textos, precisamos pensar sobre como aperfeiçoar o que queremos escrever e como apresentaremos nossas mensagens àqueles que as lerão. Isso também deve ocorrer no pensamento das crianças e, para que elas possam entender o que deve ser feito, surge a disponibilidade de corrigir e revisar o que foi colocado no papel.
Dentro de uma perspectiva de corrigir/revisar para nos comunicarmos melhor, o autor deixa claro que o educador pode direcionar essa correção para o sentido de interagir com o processo ensino-aprendizagem. Assim, ao revisar um texto, você pode estar cada vez mais melhorando sua estrutura, tanto ortográfica como de apresentação, em busca da eficiência na comunicação.
Muitos alunos veem a produção de textos como uma tarefa a ser apresentada à professora em troca de nota, e para que isso não se torne obrigação para o resto da vida, o professor deve proporcionar metodologias que façam o aluno entender essa importância, como no exemplo que o autor nos indica: utilizar um papel diferente para cada etapa da produção, ou seja, utilizar, por exemplo, papel-jornal na primeira versão do texto e, depois de revisado, utilizar, por exemplo, papel-ofício, materializando que escrever é, consequentemente, reescrever.
Vale lembrar a necessidade de saber que revisar não é apenas corrigir os erros ortográficos, mas sim reelaborar o texto a fim de um discurso com intenção comunicativa. O aprendizado da ortografia é um processo complexo e gradual, que se faz necessário ao produzir a escrita.
Segundo o autor, é papel do professor realizar a correção dessas produções em sala de aula, junto aos alunos, sugerindo consultas ao dicionário e até mesmo intervindo nos possíveis erros. Quanto às correções na ausência do aluno, o professor só deverá destacar o que necessita ser revisto para que o próprio aluno possa buscar a correção de suas palavras. Porém, esse professor deve ficar atento quanto à demarcação de muitas palavras no texto; o ideal seria destacar somente dificuldades que a criança ainda não superou, ou seja, as mais urgentes, a fim de ajudá-la na compreensão.
Essa atitude de autocorreção deve ser estimulada sempre e desenvolvida entre os alunos, estimulando a revisão de produções dos colegas de classe e fazendo assim com que o aluno tenha mais cuidado ao escrever um texto, pois ele saberá que seu colega irá corrigi-lo. Vale lembrar que corrigir nem sempre pode ser visto como sinônimo de ensinamento; o ensino é composto de estratégias que estimulem a reflexão sobre dificuldades ortográficas e assim faz com que o aluno analise melhor sobre o que, possivelmente, deve ser “melhorado”.
Segundo o autor, todo ensino deve ser proposto a fim de alcançar objetivos, e no caso da ortografia, o professor precisa estar ciente sobre seu papel de “espelho” para o aluno, e com isso estar sempre aprimorando seus conhecimentos para desenvolver a consciência da importância da busca pelo conhecimento internalizado nos alunos.
Conclusão
O livro nos faz refletir um pouco mais sobre o papel do educador ao mediar um conhecimento tão importante quanto à ortografia. O autor, em diversas vezes, apresenta suas opiniões sobre como esse educador poderia agir diante de tal ensino, proporcionando assim uma análise sobre como deve ser desenvolvido o ensino da ortografia nos alunos, ou seja, “o quê”, “como”, “quando” e “para que” serão utilizados alguns métodos essenciais para sua realização.
Olhando para o que o autor enfatiza em seu livro, podemos pensar sobre a prática como uma conquista de objetivos, ou seja, metas que o educador pretende alcançar no processo ensino-aprendizagem. No ensino da ortografia não é diferente; o que realmente se faz necessário é transformar alunos em futuros leitores e produtores de textos que sejam capazes de compreender que a língua escrita deve ser bem elaborada a partir de alguns métodos de auxílio e de uma visão mais ampla de sua importância para a comunicação.
A partir do que podemos analisar, o educador precisa saber identificar o que seus alunos apresentam por dificuldades e, consequentemente, trabalhar em cima do que realmente é válido a eles, tornando assim as aulas mais enriquecidas e disponíveis para possíveis dúvidas e curiosidades sobre o mundo letrado que surgem através de propósitos reais, pois só assim a língua escrita poderá ser compreendida e utilizada de maneira eficaz por quem está realizando-a e por quem lerá futuramente.
BIBLIOGRAFIA
MORAIS, Artur Gomes. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 2003
Autor: Natália de Carvalho Ferreira
Ótimo resumo me ajudou muito obrigado.