Escola Infantil. Para que te quero?
Por um bom período da história da humanidade, não houve nenhuma instituição responsável por compartilhar esta responsabilidade pela criança com seus pais e com a comunidade da qual estes faziam parte.
O surgimento das instituições de educação infantil esteve de certa forma relacionado ao nascimento da escola e do pensamento pedagógico moderno, que pode ser localizado entre os séculos XVI e XVII.
A igreja teve um papel importante na alfabetização, para garantir que seus fiéis tivessem um mínimo de domínio da leitura e da escrita. Com a implantação da sociedade industrial, também passaram a ser feitas novas exigências educativas.
As creches e pré-escolas surgiram depois das escolas e o seu aparecimento tem sido muito associado ao trabalho materno fora do lar, a partir da revolução industrial.
Defendiam ideias de que proporcionar educação era, em alguns casos, uma forma de proteger a criança das influências negativas do seu meio e preservar-lhe a inocência; em outros, era preciso afastar a criança da ameaça da exploração. Em outros ainda, a educação dada às crianças tinha por objetivo eliminar as suas inclinações para a preguiça e a vagabundagem, que eram consideradas “características” das crianças pobres. O que se pode perceber é que existiram para justificar o surgimento das escolas infantis uma série de ideias sobre o que constituía uma “natureza infantil”.
E então pra quê?
A educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos complementares e indissociáveis: educar e cuidar. O que tem se verificado na prática é que tanto os cuidados como a educação têm sido entendidos de forma muito estreita.
Cuidar tem significado, na maioria das vezes, realizar as atividades voltadas para os cuidados primários: higiene, sono, alimentação. Prover ambientes acolhedores, seguros, alegres, instigadores, com adultos preparados.
Cuidar inclui preocupações que vão desde a organização dos horários de funcionamento da creche, compatíveis com a jornada de trabalho dos responsáveis pela criança, passando pela organização do espaço, pela atenção aos materiais que são oferecidos, como brinquedos, pelo respeito às manifestações da criança (de querer estar sozinha, de ter direito aos seus ritmos, ao seu “jeitão”) até a consideração de que a creche não é um instrumento de controle da família, para dar apenas alguns exemplos.
Quando se trata das crianças de classes populares, muitas vezes a prática tem se voltado para as atividades que têm por objetivo educar para a submissão, o disciplinamento, o silêncio, a obediência. De outro lado, de forma igualmente perversa, também ocorrem experiências voltadas para o que chamo de “escolarização precoce”.
A dimensão educativa tem desconhecido um modo atual de ver as crianças: como sujeitos que vivem momentos em que predominam o sonho, a fantasia, a afetividade, a brincadeira, as manifestações de caráter subjetivo. A infância passa a ser nada mais do que um momento de passagem, que precisa ser apressado como, aliás, tudo em nossa vida.
Enquanto se mantiver a confusão de papéis que vê na família ou na escola os modelos a serem seguidos, quem perde é a criança.
A educação infantil como um percurso ou caminhada (ou isto, ou aquilo…)
Nos últimos três ou quatro séculos, a criança passou a ter uma importância como nunca havia ocorrido antes e ela começou a ser descrita, estudada, a ter o seu desenvolvimento previsto, como se ele ocorresse sempre do mesmo jeito e na mesma sequência (de forma linear e progressiva).
A criança não cria a partir do nada, mas de significados que fazem parte da linguagem e do patrimônio cultural do seu grupo.
A responsabilidade pela entrada da criança no universo cultural que ela compartilha com seu grupo social tem, cada vez mais, envolvido outros sujeitos e instituições fora da família.
Este processo de constituição dos sujeitos no mundo da cultura é o que chamamos de educação – o fenômeno pelo qual a criança “mas também os jovens e adultos” passa não apenas a absorver a cultura do seu grupo, mas também a produzi-la e ativamente transformá-la. A forma como as instituições escolares, entre as creches e pré-escolas, se organizam para produzir esses processos é o currículo.
Conhecimento: o domínio de informações e o desenvolvimento do raciocínio, de formas de pensar, que a gente quer cada vez mais complexas, aperfeiçoadas, abstratas.
A experiência que a criança vive na escola infantil é muito mais completa e complexa. Nela, a criança desenvolve modos de pensar, mas também se torna um ser que sente de uma determinada maneira. Também é preciso destacar que a criança neste período se torna cada vez mais capaz do domínio das operações com o próprio corpo, um sujeito que faz coisas, desenvolve habilidades, destrezas, que se expressa de variadas formas, que se manifesta como um ser ativo e criativo.
A escola infantil
Os princípios originais da educação infantil eram: que as crianças pudessem estar ao ar livre tanto quanto possível e aprender “quando sua curiosidade as levasse a fazer perguntas”, dançar e cantar e não serem “aborrecidas com livros”. Que elas fossem educadas e treinadas sem punições ou temor, que nenhuma restrição necessária lhes fosse imposta e que lhes fosse ensinado somente “o que pudessem entender”. A escola infantil trouxe uma abordagem humana e inovadora para a educação de crianças pequenas no início do século XIX.
O jardim de infância de Froebel proporcionava educação simbólica baseada numa filosofia ligada à unidade entre o homem, Deus e a natureza.
Os dons de Froebel são materiais educativos para manipulação. Os dons eram conjuntos de pequenos materiais manipuláveis para serem usados pelas crianças de formas preestabelecidas. O primeiro conjunto era uma série de seis bolas feitas de cordão, cada uma de uma cor. Durante a manipulação, pouca atenção era dada às propriedades físicas dos objetos, pois as sensações e percepções do mundo real não eram consideradas importantes.
As ocupações de Froebel são atividades manuais. As canções e jogos de mãe são canções e brincadeiras para criança. Criadas especialmente por Froebel, eram inspiradas nas brincadeiras das mães camponesas com seus filhos pequenos e nas atividades do mundo social e natural. Logo, as instituições de treinamento para jardineiras começaram a atrair um grande número de jovens alemãs.
De acordo com Hill, o conteúdo do programa dos jardins deveria estar relacionado à vida das crianças no momento, e não à das crianças de outra cultura e outra geração. Elas deveriam adquirir o conhecimento da civilização, usando suas experiências pessoais como meio de atingir a compreensão. Hill propôs o uso de experiências concretas e de jogos de sala de aula baseados nas atividades naturais da infância. As crianças deveriam ficar livres para reconstruir sua própria realidade.
Alguns dos elementos de Froebel que esses educadores apoiavam e incluíam:
- O conceito do desenvolvimento da infância. O desenvolvimento era visto como um processo de expansão, e a educação tem lugar à medida que o organismo se expande;
- Educação como auto-atividade. Froebel sugere que a educação para crianças pequenas deveria diferir em forma de conteúdo da oferecida a crianças mais velhas;
- O valor educacional de brincar. Froebel via o brinquedo como uma atividade importante para o amadurecimento e o aprendizado da criança, onde se podiam observar as reproduções simbólicas das atividades adultas. O uso da brincadeira na educação da criança pequena ainda é apoiado pelos educadores.
A maternagem é uma forma de educação que responde às necessidades sociais, físicas, intelectuais e emocionais de cada criança.
O método Montessori
O método Montessori é uma forma de auto-educação centrada no treinamento sensorial. A dra. Maria Montessori, criadora dessa nova instituição educacional, tentava afastar-se da educação italiana tradicional. Montessori iniciou seu trabalho como médica lidando primariamente com crianças deficientes mentais. Impressionada por seu estudo do trabalho de educadores como os de Seguin, ela começou a modificar e a usar alguns de seus métodos e materiais.
A população alvo e os métodos básicos da escola montessoriana e do material eram os mesmos: ambos trabalhavam com os filhos dos pobres, foram influenciados pelo trabalho de Seguin e enfatizavam a educação sensorial.
As creches
A primeira creche (que literalmente significa “manjedoura”) foi criada em Paris em 1844 para ajudar as mães trabalhadoras, combater a mortalidade infantil e ensinar hábitos de higiene. As creches são um produto da Revolução Industrial.
Rousseau e as novas ideias sobre a educação
Defendeu a ideia de que a verdadeira finalidade da educação é ensinar a criança a viver e a aprender a exercer a liberdade. A criança era um ser de características próprias, não só as suas ideias, seus interesses e suas vestimentas tinham de ser diferentes dos adultos. Também o relacionamento rígido mantido pelos adultos em relação a elas precisava ser modificado.
Cada fase da vida – infância, adolescência, juventude e maturidade – foi concebida como portadora de características próprias, respeitando a individualidade de cada um.
“A bondade e a felicidade do indivíduo são mais essenciais que o desenvolvimento de seu talento. Colocando as necessidades e os interesses do indivíduo acima da sociedade organizada, Rousseau inverteu a ordem universal. Na sociedade ideal e natural, onde a natureza conserva sua simplicidade e inocência originais, todos os indivíduos seriam educados juntos e participariam de interesses comuns.”
Mostrou que a criança devia fazer, sem ajuda dos outros, aquilo que é capaz de fazer por si mesma.
Afirmou que a educação não vem de fora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza.
Pestalozzi e os fundamentos psicológicos da educação
João Pestalozzi (1746-1827). Ninguém acreditou mais que Pestalozzi no poder da educação para aperfeiçoar o indivíduo e a sociedade. Com seu entusiasmo, reis e governantes passaram a pensar na educação do povo.
O lar era para ele a melhor instituição de educação, base para a formação política, moral e religiosa. E a instituição educacional deveria se aproximar de uma casa bem organizada.
Na instituição de Pestalozzi, que contava com meninos e jovens, mestre e alunos permaneciam juntos o dia inteiro. O dia escolar intenso e variado: Das 8 às 17 horas, as atividades, organizadas, eram desenvolvidas de maneira flexível. A organização da escola era simples, sendo que ficavam numa turma os que tinham menos de oito anos; noutra, a classe inferior ficavam meninos de oito a onze anos e na superior, os de onze a dezoito anos.
Pestalozzi condenava a coerção, as recompensas e punições. Problemas disciplinares eram discutidos à noite.
Dava-se à memória um enorme valor, os professores não possuíam habitação. Os poderes infantis brotam de dentro para fora; a graduação deve ser respeitada; o método deve seguir a natureza; o professor é comparado ao jardineiro que providencia as condições para a planta crescer; a impressão sensorial é fundamental e os sentidos devem estar em contato direto com os objetos; a mente é ativa.
Froebel e o surgimento do primeiro Jardim de Infância
Friedrich Froebel (1782-1852). Suas ideias reformularam a educação. Inspirou-se no amor à criança e à natureza. A essência de sua pedagogia são as ideias de atividade e liberdade.
Decroly e a escola para a vida
Ovide Decroly (1871-1932). Interessou-se especialmente (mas não apenas) pelas crianças chamadas “retardadas” e “anormais”. Com o seu método dos centros de interesse, rompeu com a rigidez dos programas de ensino do seu tempo. Segundo ele, a criança deve ser criança e não um adulto em potencial.
Nos centros de interesse, a criança passava por três momentos: o da observação, o da associação e o da expressão.
A seriação de elementos não era obrigatória. De algo simples para a criança, como comer, poderia surgir o estudo da alimentação.
Para Decroly, a sala de aula está em toda parte: na cozinha, no jardim, no museu, no campo, na oficina, na fazenda, na loja, na excursão, nas viagens…
Montessori e as “casas das crianças”
Maria Montessori (1870-1952). Mudou os rumos da educação tradicional, que privilegiava a formação intelectual. Emprestou um sentido vivo e ativo à educação. Destacou-se pela criação de Casas de Crianças, instituições de educação e vida e não apenas lugares de instrução.
O papel da concentração
A concentração também é muito trabalhada. Toda tarefa é precedida de uma preparação. O trabalho se desenvolve e o seu ciclo se completa no íntimo do sujeito.
As ciências e as histórias
O estudo da história deve ser vinculado à evolução global da Terra. A criança deve ir percebendo gradativamente as manifestações do homem; na natureza e na cultura, tudo está relacionado.
Muitas têm sido as críticas ao sistema montessoriano, entre elas o fato de não favorecer o contato e a discussão dos problemas da realidade vivida pela criança.
Piaget e os estágios de desenvolvimento da criança
Jean Piaget, sua preocupação mais forte foi o sujeito epistêmico, estudou a evolução do pensamento até a adolescência. Processo de interação indivíduo-ambiente.
“A preocupação central de Piaget dirige-se à elaboração de uma teoria do conhecimento, que possa explicar como o organismo conhece o mundo. A fundação do desenvolvimento não consiste em produzir estruturas lógicas que permitam ao indivíduo atuar sobre o mundo de formas cada vez mais flexíveis e complexas.”
O desenvolvimento da inteligência
O processo de desenvolvimento da inteligência, segundo Piaget, leva-nos a alguns conceitos fundamentais:
- A hereditariedade.
- A adaptação.
- Os esquemas.
- A equilibração.
Quatro estágios de desenvolvimento
I – Estágio sensório-motor (0 a 2 anos).
II – Estágio pré-operacional (2 a 6 anos).
III – Estágio de operações concretas (7 a 11 anos).
IV – Estágio das operações formais (12 anos em diante).
Autor: Douglas Leichtweis Vieira
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