Todo mundo tem um daqueles dias em que tudo parece dar errado. Seu despertador não funciona, você fica sem gasolina no caminho para o trabalho (para o qual você já estava atrasado), você derrama café na sua mesa e fica preso em um engarrafamento na hora de voltar para casa. No final do dia, só o que você quer fazer é tomar um banho quente e correr para a cama. E neste ponto, muitos de nós recorremos ao verdadeiro e natural método para aliviar o estresse – o choro.
O choro alivia o estresse
Obviamente, experiências mais sérias e traumáticas podem “abrir a torneira” instantaneamente, como nascimentos, mortes, doenças (particularmente em filhos ou pais), infidelidade e crimes violentos. As causas mais comuns do choro, no entanto, são baixos níveis de estresse ou frustração e assistir a algo triste na televisão.
De qualquer forma, nem mesmo os mais “machos” dos homens estão livres das lágrimas. Como seres humanos, estamos sempre propensos a chorar e somos os únicos seres do planeta que derramam lágrimas emocionais (os elefantes e gorilas podem ser exceções, embora ainda não tenham sido comprovadas). Então, a não ser que você seja um crocodilo de água salgada que chora apenas para eliminar o excesso de sal dos olhos, as chances são grandes de que você já tenha chorado muito – e ainda venha a chorar mais ainda.
Já se fala sobre o choro há bastante tempo. Rumores históricos dizem até mesmo que São Francisco de Assis ficou cego por derramar tantas lágrimas. Uma antiga pesquisa sobre esse tema atribuiu essa resposta fisiológica à cremação de entes queridos nos tempos pré-históricos. De acordo com Paul D. MacLean, quando nossos antigos ancestrais cremavam seus mortos, eles eram inundados por emoções, bem como pela fumaça que entrava em seus olhos. MacLean acreditava que esses fatores causavam lágrimas reflexivas e que, com o tempo, acabaram ligadas à morte em nossas psiques.
Neste artigo, você lerá sobre como a sociedade atual percebe o choro e como homens e mulheres diferem tanto física como emocionalmente quando se trata de chorar. Nós também discutiremos a fisiologia por trás do choro, os vários tipos de lágrimas e como o choro pode te ajudar a evitar e diagnosticar problemas de saúde. Para entender melhor a importância da autoestima nas crianças, você pode conferir A Importância da Autoestima nas Crianças.
Piscando os olhos
O que acontece exatamente quando você chora? Um fluido salgado cheio de proteína, água, muco e óleo é liberado da glândula lacrimal na região superior e externa de nosso olho. Em seguida, este fluido, mais conhecido como lágrima, escorre pelo nosso olho, atravessa o rosto e, no caso das mulheres, estraga a maquiagem.
No entanto, nem todas as lágrimas são emocionais. Na verdade, existem três tipos de lágrimas, e todas elas têm diferentes propósitos. As lágrimas basais estão onipresentes em nossos olhos. Essas constantes lágrimas são o que impedem os nossos olhos de secar completamente. O corpo humano produz uma média de 140 a 280 gramas de lágrimas basais por dia. Elas drenam através da cavidade nasal, razão pela qual muitos de nós ficamos com o nariz escorrendo.
O segundo tipo são as lágrimas reflexivas, que servem para proteger o olho humano de algo irritante, como a fumaça, cebolas ou até mesmo um forte vento empoeirado. Para conseguir essa façanha, os nervos sensoriais de sua córnea comunicam essa irritação ao seu tronco cerebral, que, por sua vez, envia hormônios para as glândulas localizadas nas pálpebras. Esses hormônios fazem com que os olhos produzam lágrimas, livrando-os da substância irritante.
O terceiro tipo de lágrimas são as lágrimas emocionais. Tudo começa na parte do cérebro onde a tristeza é registrada. O sistema endócrino é então acionado para que libere hormônios para a área ocular, que então causa a formação de lágrimas. As lágrimas emocionais são comuns entre as pessoas que veem a mãe de Bambi morrer ou sofrem perdas pessoais.
A frase “o choro lava a alma” sugere que chorar pode verdadeiramente fazer com que você se sinta física e emocionalmente melhor. Alguns cientistas concordam com essa teoria, afirmando que o choro lava os produtos químicos acumulados no organismo durante momentos de grande estresse. Esses pesquisadores acreditam que o choro emocional é a forma que o corpo tem de se livrar dessas toxinas.
Na verdade, um estudo coletou tanto lágrimas reflexivas como emocionais (depois de descascar uma cebola e assistir a um filme triste, respectivamente). Quando os cientistas analisaram o conteúdo dessas lágrimas, eles descobriram que elas eram bem diferentes. As lágrimas reflexivas são compostas geralmente por 98% de água, enquanto que vários produtos químicos estão presentes nas lágrimas emocionais.
Em primeiro lugar aparece uma proteína chamada de prolactina, que já é bem conhecida por controlar a produção de leite materno. Hormônios adrenocorticotróficos são também comuns e indicam um alto nível de estresse. A outra substância química encontrada nas lágrimas emocionais é a encefalina-leucina, uma endorfina que reduz a dor e trabalha para melhorar o humor. É claro que muitos cientistas apontam que a pesquisa nessa área ainda é bastante limitada e que outros estudos devem ser realizados antes de que se chegue a alguma conclusão.
A propósito, no Japão, algumas pessoas acreditam que o choro as eleva a um “nível superior”. Elas chegam a criar organizações e clubes do choro, onde assistem a programas de televisão e a filmes que induzem o choro.
As cebolas realmente nos fazem chorar?
As cebolas não estão apenas associadas ao mau hálito – elas podem realmente fazer as pessoas chorar. E o que causa tudo isso são substâncias químicas liberadas no ar durante o processo de cortá-las.
O fator lacrimogênico da cebola é o grande culpado. Quando uma cebola é cortada, essa enzima é liberada da cebola e converte os aminoácidos da cebola em ácidos sulfênicos. O ácido sulfênico então se transforma em uma substância chamada sin-propanetial-S-óxido, que sopra no rosto do “chef” e irrita as glândulas lacrimais de seus olhos, causando a formação de lágrimas reflexivas.
O choro em diferentes idades
Durante nossas primeiras semanas e meses de vida, nós choramos para termos nossas necessidades básicas satisfeitas. Se estamos com fome, sono, sujos ou com gases, choramos para que alguém venha resolver o problema. À medida que os bebês crescem e amadurecem, no entanto, chorar se torna uma forma de comunicação mais específica e para necessidades variadas, por isso torna-se necessário trocar o tom, intensidade e duração do choro.
Os bebês choram para que os satisfaçam
Acredita-se também que os bebês mudam seus objetivos ao chorar por volta dos 10 meses de idade. Nesse momento, eles costumam chorar para chamar a atenção para outros motivos. Alguns especialistas acreditam que esse é o começo do choro manipulativo, por aqui mais conhecido como “manha”. Alguns estudos relatam inclusive que as mulheres, em particular, perpetuam esse comportamento ao longo de suas vidas a fim de manipular os outros de modo que lhes deem exatamente o que querem, como, por exemplo, o perdão, compaixão ou um anel de brilhantes. Há quem discorde.
Após o fim da primeira infância, os pesquisadores acreditam que meninas e meninos choram a mesma quantidade até que cheguem os famosos hormônios da adolescência. Nos meninos, o aumento nos níveis de testosterona faz com que diminuam a quantidade de choro. Já nas meninas, ocorre o oposto, quando os níveis de estrogênio sobem substancialmente durante os primeiros anos da adolescência. Isso é especialmente interessante, considerando a relação entre a proteína prolactina e a produção de leite materno, algo que só ocorre nas mulheres. Talvez seja por isso que as mulheres choram aproximadamente quatro vezes mais do que os homens, de acordo com William Frey, bioquímico e pesquisador, e seu colega Muriel Langseth, ambos autores do livro “Choro: O Mistério das Lágrimas”.
Frey estima que as mulheres têm cerca de 60% a mais de prolactina em seus corpos do que os homens. Ele também acredita que esses níveis elevados fazem com que as mulheres chorem mais porque a proteína acelera o sistema endócrino, que por sua vez torna as pessoas mais suscetíveis ao choro. De acordo com um estudo realizado no qual se avaliou a frequência com que as pessoas choravam, descobriu-se que as mulheres choraram aproximadamente 64 vezes, enquanto que os homens choraram apenas 17 vezes durante um ano. Curiosamente, praticamente todos os envolvidos no estudo subestimaram seus próprios resultados no final desse ano.
As mulheres derramam mais lágrimas do que os homens
Outra teoria desenvolvida para explicar o motivo pelo qual os homens choram menos é porque, em média, eles suam mais e, portanto, acabam liberando algumas dessas toxinas encontradas nas lágrimas emocionais. Com a chegada da idade, no entanto, a mesa vira no que diz respeito ao choro. De acordo com a revista Women’s Health, na meia-idade, os homens começam a chorar mais e se tornam menos agressivos, enquanto que as mulheres experimentam exatamente o oposto. Isso se deve em grande parte aos nossos velhos amigos – testosterona e estrogênio – que começam a declinar nos homens e mulheres, respectivamente, ajudando a equilibrar o jogo.
A frequência não é o único aspecto do choro que varia entre os sexos. De acordo com a revista Women’s Health, normalmente os homens só choram quando sofrem grandes perdas. No resto do tempo, eles apenas ficam bravos quando estão estressados ou frustrados. As mulheres, no entanto, são mais propensas a chorar quando se frustram. Elas também costumam chorar mais alto e com muito mais lágrimas do que os homens. Acredita-se que isso aconteça em função dos homens terem glândulas lacrimais menores do que as mulheres, e por isso eles simplesmente não conseguem produzir o mesmo volume de lágrimas que as mulheres.
Muitos dizem que o choro é um sinal de fraqueza, especialmente nos homens. Um estudo chegou a revelar que as pessoas ficam mais incomodadas com o choro alheio do que com o próprio choro, especialmente se veem algum homem chorando. De acordo com os pesquisadores, isso mostra uma aceitação considerável pelos homens que choram, embora nem todo mundo reconheça. Na verdade, os homens que choram em público costumam ser vistos como sensíveis e cultos. Algumas figuras públicas chegam até mesmo a chorar em público só para ganhar a simpatia dos outros durante um período de crise.
Ponha o choro para fora
Como dito anteriormente, muitas pessoas e até mesmo cientistas acreditam que o choro é benéfico. Frey acredita que o choro pode ser um mecanismo de segurança, pois livra o corpo das toxinas relacionadas ao estresse.
Concorde você ou não com esta teoria, a maioria dos psicólogos acredita que conter suas emoções pode se tornar algo perigoso a longo prazo. Algumas pesquisas indicam até mesmo que sufocar lágrimas emocionais pode aumentar o risco para doenças cardíacas e hipertensão. Outros estudos têm mostrado que pessoas que sofrem de doenças como colite e úlceras tendem a ter uma atitude menos positiva em relação ao choro do que seus homólogos mais saudáveis. Os psicólogos recomendam que as pessoas que sofrem de tristeza e mágoa devem expressar seus sentimentos através da fala e do choro, em vez de tentar manter suas emoções sob controle.
Infelizmente, muitas doenças e condições têm no choro o principal sintoma, ao invés de uma solução. Por exemplo, a depressão pós-parto é um período de muita tristeza vivenciado por 9 entre 16% das mulheres após o parto. Isso pode resultar em choro excessivo, entre outros sintomas.
O aumento no choro também é grande em indivíduos que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, muitas vezes enfrentado por aqueles que vivenciaram crimes violentos ou outra grave situação emocional, como, por exemplo, os soldados quando voltam de uma guerra.
No geral, é importante lembrar que o choro faz parte da composição humana, bem como o riso. Embora você não queira chorar na frente de seu chefe ou de seu ex-namorado que está agora ao lado de sua bela e nova namorada, acredita-se que é sempre melhor emocional e fisicamente “colocar o choro para fora” no lugar de prendê-lo.
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